Humanidade Desumana
Os avanços feitos pelo homem alteram profundamente o espaço que o circunda. Salienta-se, no entanto, que tais alterações não têm a mesma repercussão no íntimo do ser humano. Nesse contexto, a disparidade existente na distribuição de melhorias sócio-tecnológicas caracteriza o descompasso da evolução humana.
As fogueiras medievais foram extintas e as práticas de tortura e escravidão foram criminalizadas. Indubitavelmente, os problemas que afligem a Humanidade mudaram, e isso se deve, entre outros fatores, a uma ampliação dos direitos e a um fortalecimento da democracia, frutos de pressões ora populares, ora elitistas. Todavia, as crianças de rua e os portadores de deficiências, por exemplo, são incluídos no principio da isonomia social e continuam excluídos de diversos segmentos da sociedade. O progresso social, portanto, nem sempre é universal e raramente sensibiliza a maioria.
A mesma dualidade pode ser encontrada nos avanços tecnológicos. Ao se constatar que o aumento da produtividade agrícola, por exemplo, não acaba com a desnutrição, percebe-se novamente que por mais extraordinárias que sejam as criações, o criador – Homem – quase nada muda. Dessa forma, doenças há muito conhecidas continuam vitimando porque suas vacinas são monopolizadas, e latifundiários enriquecem com suas modernas plantações enquanto crianças morrem de fome.
Não se pode, nesse sentido, confundir os avanços feitos pelo Homem com os avanços sobre ele feitos. As grandes descobertas científicas, assim como as melhorias político-sociais, não surtem o mesmo efeito no âmago de cada ser componente da Humanidade. Mudam-se os meios de transporte, as condições de habitação e comunicação, mudam-se as economias e legislações. Contudo, quem se maravilha com os largos passos dados pela Humanidade, não deve esquecer que, em relação à sua humanidade, ela ainda engatinha.
Daniel é um futuro médico, estudante do Sêneca em Vitória da Conquista. Tenho orgulho de ser professora dele.
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