sábado, 16 de abril de 2011

Análise de Contos de Aprendiz da Prof. Mara Rute




Lembre-se esse material não substitui a leitura do livro, mas servirá para você relembrar as histórias.

Espero que elas contribuam com seu sonho de chegar a universidade.

Acredito em você.





A salvação da alma



É a história de uma relação de afetividade e brigas, coisa comum entre irmãos. O autor começa por dizer que eram cinco irmãos e brigavam muito. Mas declara: Isto não quer dizer que nos detestássemos. Pelo contrário. Depois ressalta a figura do irmão mais velho como o protetor, mas que também exercia autoridade. Inclusive há no texto uma clara hierarquia de poder entre os irmãos.

Com a chegada das missões naquele lugar tão pequeno, todos, sendo por último as crianças, foram se confessar e o irmão do narrador Tito ficou tão comovido que decidiu ter uma mudança de vida.

Escuta uma coisa....Estou com vontade de mudar de vida (...)Olha: de hoje em diante não brigo mais com você.

Porque nosso narrador duvidasse e depois porque Tito queria convencê-lo e também convencer-se de tal mudança, resolveu deixar que o outro irmão lhe ofendesse ou lhe contraria-se prometendo que não faria nenhuma retaliação.

A princípio o irmão mais novo que também queria se corrigir, não quis fazer nada até que para purificação da alma de seu irmão pediu:

Bem, se você quer mesmo isso....Então vamos fazer uma coisa. Eu subo nas suas costas e você me leva até em casa, como um animal. Tá certo? E exigiu mais, na verdade considerou talvez, não mais para atender o irmão mais por deleitação pessoal, que a cada cinqüenta passo o irmão dissesse " sou burro e quero capim! "

Mas, o narrador, depois do triunfo de montar o irmão, percebeu que não era tão bom quanto ele tinha imaginado estar sentado naquela posição e apesar de gostar de ouvir tal frase o ato não tinha as delícias imaginadas. Quando resolveu "estimular" o animal. Quando bateu na virilha do irmão a dor foi tão grande e ambos rolaram pelo chão para a briga de sempre... Disse o irmão:

Toma desgraçado!Toma cachorro! Era assim que você queria ajudar a salvar a minha alma? Toma, bandido!

O narrador diz que eles não puderam comungar no dia seguinte.





O sorvete



O narrador diz que quando ele chegou ao colégio por volta de 1916 a cidade tinha cerca de cinqüenta mil habitantes, uma confeitaria na rua principal, alguns cafés, bares e um cinema. E que todos percebiam a diferença entre os tipos da cidade e os tipos do interior. Ele era do interior.

Conta que na escola interna eles podiam sair aos domingos com horário certo para voltar e que a penalidade pelo atraso era grande que ninguém se arvorava a não cumprir .

Depois o conto se concentra na amizade entre ele e Joel, amigos desde antes do colégio interno (O narrador via em Joel mais que um companheiro mas alguém que era como seu protetor).

Depois conta dos costumeiros domingos em que eles sempre iam a pé para economizar dinheiro, almoçavam na casa de parentes e iam ao cinema, mas nesse domingo específico, passando pela confeitaria ele viu , escrito no quadro negro " Hoje - delicioso sorvete de ABACAXI - especialidade da casa! - HOJE.

Segundo o narrador a inscrição o emocionou intensamente e percebeu que a Joel também - meninos do interior que nunca haviam provado aquela delícia. Ele teve então a idéia de abandonar a ida ao cinema por aquela aventura. Mesmo sabendo que a vontade de Joel era a mesma percebeu que seu amigo, o líder, não quis permitir que a rotina fosse quebrada, em partes para não perder a sua autoridade. O narrador diz porém que não houve graça no cinema e Joel teve a idéia de saírem para provar o tal sorvete.

Foram à confeitaria, templo misterioso onde se ocultava, na parte dos fundos,...a essência imanente à coisa ou palavra sorvete. Segundo o narrador crianças de cinco anos desprezarão sua narrativa mas diz que naquele momento era encantador para dois meninos do interior prestes a provar uma delícia que vivia em seu imaginário.



Mas, as meias esferas (de sorvete) traziam talvez em si o germe da decepção que logo os assaltou. Era gelado demais e não havia nele nada do sabor familiar do abacaxi.

O narrador passa um tempo tentando descobrir uma forma de livrar-se daquele objeto de difícil transporte e conservação e imagina que o garçom irá recriminá-lo quando decide revelar a Joel seu desconforto. Seu amigo, movido pelos valores de reputação e honra lhe diz:

Acabe com isso se não quer ficar desmoralizado.

Ele diz que mastigou com muito sacrifício as últimas porções daquela matéria atroz quando Joel olhou-o de novo em aprovação.

Para o narrador a vida é um combate.

O desfecho é quando o garçom se aproxima, Joel vai pagar e descobre que o dinheiro não era o suficiente.







A doida

A doida habitava um chalé no centro do jardim maltratado. E como de costume, os três garotos desceram manhã cedo, para o banho e a pega de passarinho. Só com essa intenção. Mas era bom passar pela casa da doida e provocá-la. Apesar de recriminados pelas mães (que no passado deviam fazer o mesmo) os meninos persistiam na suas ações inclusive porque achavam o argumento familiar pouco plausível já que dizer que os doidos não gozavam dos mesmos benefícios que um normal era privilégio de gente adulta e não os comovia.

Nunca tinham visto a cara da doida apenas ouviam histórias sobre o motivo da sua loucura. Uns diziam que ela foi rejeitada pelo marido em plena noite de núpcias e outros que o pai, já velho, a expulsou por sentir um gosto diferente no café (veneno). O fato é que há muito ela vivia ali e dizer coisas como "pedir a bênção à doida" ou "jantar em casa da doida" fazia parte da cultura do local. Vale lembrar que toda cidade tem seus doidos e quase toda família os tem.

Como num dia normal os três garotos atiraram pedra na casa da doida que porém, parecia, dessa vez, não ter percebido a agressão. Quando o terceiro menino do grupo resolveu ( sem ter o acompanhamento dos colegas) invadir o jardim. Ficou apreensivo de pisar no chão inimigo e cada vez que avançava percebia que não passava de um jardim e uma casa como as outras, só que abandonada. Depois de entrar na casa deu de cara com a doida: era simplesmente uma velha, jogada no catre preto de solteiro, atrás da barricada de móveis. E que pequenininha! O corpo sob a coberta formava uma elevação minúscula. Miúda , escura, desse sujo que o tempo deposita na pele, manchando-a. E parecia ter medo. (...) Talvez pedisse água.(...) ele encheu o copo pela metade, estendendo-o. A doida parecia aprovar com a cabeça, e suas mãos queriam segurar sozinhas, mas foi preciso que o menino a ajudasse a beber.

Segundo o narrador ele nunca tinha visto ninguém morrer, principalmente pela proteção da família que evitava que ele visse, mas naquele momento um sentimento de responsabilidade se apoderou dele que não teve coragem de deixar a velha nem mesmo para buscar ajuda temendo que ela morresse sozinha. Isso se lembrando da fala de sua mãe de que ninguém no mundo deve morrer em completo abandono.

Abriu a janela e sentou-se a beira da cama para pegar-lhe a mão e esperar o que iria acontecer.





Presépio

Dasdores é uma menina que na véspera do natal fica dividida entre ir a missa-do-galo e poder ver o namorado, ou armar o presépio, tarefa que só ela poderia realizar e que lhe foi designada por sua tia.

Ver o namorado era muito importante já que naquele tempo a moça não deveria sair de casa, salvo para rezar ou visitar os parentes.

O conto ainda diz que a família atarefava muito Dasdores para que ela (assim era a educação da época) não tivesse tempo de encher a cabeça com outras coisas. Mas era um engano supor que isso funcionava porque mesmo tendo tantas tarefas para fazer seu coração sempre voava para o sobrado da outra rua, em que, fumando ou alisando o cabelo com brilhantina, estava Abelardo.

O texto diz que existem muitas maneiras de amar mais a mais ardilosa é a secreta e, enquanto a menina corria para terminar o presépio, ela via o relógio a dizer "agarra-me, agarra-me" como a voz do tempo e, ainda recebeu suas amigas com quem deveria se encontrar duas horas depois para irem a igreja.

O conto aproveita a menina e suas reflexões para tecer algumas, a exemplo:

Quando alguém dispõe apenas de alguns minutos para fazer algo de muito importante e que exige não somente largo espaço de tempo mas também uma calma dominadora (...) se esse alguém é nervoso,sua vontade se concentra, numa excitação aguda, e o trabalho começa a surgir, perfeito, de circunstâncias adversas. Dasdores não pertence a essa raça torturada e criadora; figura no ramo também delicado, mas importante , dos fantasistas.

Também o narrador desse conto tece opiniões sobre Dasdores:

Dasdores não o saboreia por inteiro (a armação do presépio). Ou nele se insinuou o prazer da missa? Ou um sentimento de culpa, ao mistura o sagrado ao profano, dando Talvez! Preferência a esse último, pois no fundo da caminha de palha suas mãos acariciavam o Menino, mas o que a pele queria sentir - sentia, Deus me perdoe - era um calor humano, já sabeis de quem.

Também o narrador sugere que vai mudar o curso da história - mas como Machado de Assis, não faz:

Aqui desejaria, porque o mundo é cruel e as histórias também costumam sê-lo, acelerar o ritmo da narrativa... prover Dasdores com muitos braços....mas seria preciso atribuir-lhe não braços, e sim outra natureza.

Também faz uma interessante reflexão sobre o relógio e a vida:

Se nos esquecemos dele, talvez pule meia hora.

A vida é variada demais para caber em instantes tão curtos.

E o conto termina com Dasdores armando o presépio com o pensamento em Abelardo.

Mas Dasdores continua, calma e preocupada, cismaramenta e repartida , juntando na imaginação os dois deuses, colocando os pastores na posição devida e peculiar à adoração, decifrando os olhos de Abelardo, as mãos de Abelardo, o mistério prestigiosos do ser de Abelardo(...), apele morena de Jesus, e aquele cigarro - quem botou! - ardendo na areia do presépio, e que Abelardo fumava na outra rua.





Câmara e Cadeia



A história se passa numa cidade pobre onde uns grupos de vereadores estão discutindo o orçamento para o ano de 1920 e, com os recursos escassos tentam criar novos impostos. O texto denúncia que apesar da população ter elegido nove vereadores apenas cinco compareceram a reunião dos quais apenas dois discutiam os problemas do povo e dos dois, só um defendia de fato os interesses da comunidade. Valdemar, o professor do ginásio único de fato a realizar seu trabalho, um pouco cansado afasta-se e vai para os fundos dos prédio respirar um ar menos oficial quando vê lá embaixo a cadeia. Essa ficava abaixo da câmara e essa visão lhe permitiu refletir sobre como, desde criança, era normal ver os presos ali, mas agora avalia a condição em que vive esses homens:

Sabia da miséria deles (...) que viviam debaixo de seus pés homens humilhados e se amontoavam na semi escuridão e na unidade. Se sente mal de saber que apenas uma simples tábua os separava,

Nesse momento ele ouve um rumor na sala das sessões era um preso que havia fugido lá debaixo não com a intenção de fazer mal algum apenas porque esse não agüentava mais e estava cansado daquele lugar. Forçou o cadeado e subiu as escadas. O homem, quando convidado a sentar-se numa cadeira (tentativa dos vereadores de acalmá-lo até a chegada da polícia que tardava) o jovem de seus 25 anos admira-se de ter quase dois anos sem saber o que é uma cadeira. E apresenta sua visão da cadeia:

Ah! Moço, se o senhor vivesse naquele chiqueiro....Não é só porcaria. É uma porção de coisas. Por mais que a gente trabalhe, o tempo não passa. Então de noite, no escuro, nem avalia(...) Já pensou em viver dez, vinte anos numa sala, sempre com as mesmas pessoas? (...) Mesmo sendo com sua família o senhor suportava? Se ao menos dessem uma cela para cada um de nós como fazem com as doidas e as mulheres da vida. Não. É tudo embolado (...) Eu já nem sei mais os erros que carrego nas minhas costas...Além dos meu, é claro.

Além da condição do preso há no conto uma discussão de ordem filosofal:

- Então o senhor não sabe o que vai fazer um cristão quando fica livre da grade? Que faz um passarinho fora da gaiola?

- Às vezes não sabe mais voar, e é pego de novo - disse o vereador.

Mas o preso voltou a rir.

- É, pode ser. Mas sempre é bom experimentar, não acha? Olhe, se eu não experimentasse o cadeado...



E por fim, quando o vereador Valdemar disse ao preso que não havia jeito, ele deveria ser preso já que o mesmo tinha confessado que fugiu e que o fato dele não ter escolhido sair pela porta da rua o obrigava...o preso foge e os vereadores não vão atrás. Apenas Valdemar fez menção num gesto apenas formal.





Beira-Rio



É a história sobre um lugar de opressão ao trabalhador construído pela Companhia que ali instalava uma grande indústria dividida entre trabalhadores que quase não recebiam salário (esse ficava pelas compras no armazém) e os diretores e técnicos que tinham acesso a coisas melhores.

O conto diz que aquele era um lugar triste, sem esgotos, escolas para crianças e nem mesmo o essencial para esquecer toda aquela tristeza: a cachaça. Ali o álcool e o jogo foram rigorosamente proibido para os trabalhadores.

Até que um dia surge em Capitão (assim era o nome do lugar) o negro Simplício da Costa que vendia sua cachaça e outras coisas que, para o povo do lugar, era menos importante, tudo isso com licença do governo para negociar.

A mudança de humor dos trabalhadores colocou em alerta os administradores da companhia que desconfiaram do uso proibido da bebida. Descoberta a situação, depois de ter o negro expulso dois homens de confiança do diretor, aparece no comércio do negro, a polícia. A mando da companhia os soldados destroem o comércio do negro e o expulsa dizendo que a licença do governo não tinha valor naquele lugar.

Em síntese esse conto é uma história construída de opressão ao trabalhador e ao negro onde o álcool aparece como aquele que não sendo uma das coisas boas da vida pelo menos tem o poder de ajudar a imaginar coisas boas e esquecer as coisas ruins. O fim é o negro indo embora sem nada, mas também sem reclamar como se já estivesse acostumado àqueles desmandos.





Meu companheiro



Essa é a história de amor entre o homem (já adulto) e um cachorro. É impossível não estabelecer uma relação com Baleia (personagem do Vidas Secas). Lembrando que aqui o cachorro, apesar de para a personagem parecer excepcional, não tem os atributos humanos que tem Baleia.

A história começa com o encontro entre o dono e o cachorro comprado (apesar do narrador não gostar de usar essa palavra por ter afeto pelo animal ) por cinco mil réis . Segundo ele o cachorro não era bonito, não era de raça (normal por aquela paragens), mas a escolha veio do olhar carinhoso que o cachorro deu para ele.

Depois, convenceu Margarida (sua esposa que não gostava de bichos) a ficar com o animal que foi logo chamado de Pirolito (em homenagem a música "pirulito que bate bate" sempre cantada na casa da vizinha) e, porque o rabinho do cachorro fazia assim. Além de evitar problemas com a escolha do nome pelos filhos.

O cachorro logo virou propriedade de Juquinha, o filho mais novo porque esse também era propriedade de todos. Em seguida ele vai contar das peripécias do cachorro e de coisas que esse fazia que o tornava especial. Como o fato de aprender tudo por esforço próprio por mais que tentassem lhe ensinar, o fato de correr pela casa e parar em frente ao retrato do avô de Motinha ( o homem que conta a história)ou espreguiçar-se piscando um olho.

Motinha diz que adquiriu o hábito de conversar com o cachorro e que esse era às vezes sarcástico e positivo, outras vezes realista. Depois ele se dirige ao leitor:

Já estão percebendo que o cão falava comigo tudo que eu queria, mas acrescento: tudo que não queria, também (...) Servia-me de consciência, então? Talvez - e isso é comum aos tímidos e aos preguiçosos.

Também afirma que o cachorro lhe induzia ao erro como era o caso de alertá-lo para esconder-se diante de uma visita indesejada e latir depois fazendo a visita ouvir a voz do narrador quando pedia para o cachorro parar.

A questão é: apesar de toda essa relação o cachorro fugiu. Mas o autor considera um absurdo já que cachorro feliz não foge. Mas, considerado que Pirolito não era lógico, essa podia ser uma alternativa.

Mas o autor termina o conto assim:

Aqui me vem uma suspeita miserável, que eu repilo... Margarida - tão boa, tão afetuosa - não gostava de animais, por causa dos meninos, segundo dizia. Ciúme de mim nunca teve. Seria possível?... Não. Muitas pessoas também somem de repente, sem a menos explicação, e nunca se sabe.



Obs.: Lembre-se também da relação de afeto entre cachorros que até andam em fila em Estamira.



Flor, telefone, moça



O autor começa a história alertando que apesar de às vezes seus textos serem inventivos essa história era real:

Não, não é conto. Sou apenas um sujeito que escuta algumas vezes, que outras não escutam, e vai passando. Naquele dia escutei, certamente porque era a amiga quem falava, e é doce ouvir os amigos, ainda quando não falem, porque amigo tem o dom de fazer compreender até sem sinais. Até sem olhos.

E tal história é contada com o alerta de que se trata de uma história triste e que as pessoas não acreditariam nela, ao que diz o narrador:

Quem sabe? Tudo depende da pessoa que conta, como do jeito de contar. Há dias em que não depende nem disso: estamos possuídos de universal credulidade.

Mas vamos a história:

Uma moça (segundo o narrador suas formas físicas e sua idade não interessam para a história) morava perto do cemitério, logo, querendo ou não querendo essa tomava conhecimento da morte. Acompanhava os enterros de pobres e ricos, observava os que chegavam sem as flores e via como era triste. Terminou por, mesmo tendo o mar a cinco minutos de sua casa, mesmo sendo uma moça da capital, a passear pelo cemitério e deve ter sido ( O NARRADOR NEM A PERSONAGEM TEM CERTEZA) lá que, numa tarde, ela apanhou uma flor. A situação não foi significativa para a personagem que não se lembrava do túmulo de onde havia tirado, tão pouco do que havia feito com tal flor.

O fato é que depois de voltar para casa o telefone tocou. Ela atendeu e ouviu uma voz que não conseguiu detectar se de homem ou mulher apenas percebia que era de interurbano (distante) que dizia:

- Quedê a flor que você tirou de minha sepultura?

A princípio a menina imaginou ser um trote e em cada ligação recebida ela respondia à altura com coisas do tipo "está comigo, vem buscar","esta é fraquinha, não sabe outra". O fato é que a voz não parou e, aborrecida a menina avisou a família que se empenhou em descobrir quem realizava tal trote, desde verificando nas redondezas quem usava o telefone no tal momento, até indo a companhia telefônica, ligando para os números vizinhos para detectar tal voz e indo a polícia. Nesse tempo a menina já não atendia mais o telefone e ensimesmou-se, perdeu o apetite e coragem , andava pálida e sem ânimo para sair ou trabalhar. Já em desespero o irmão verificou cinco covas com flores no lugar onde a irmã tinha passeado naquela tarde e a mãe comprou cinco ramalhetes colossais e foi depositá-los, mas a voz não se deixou consolar ou subornar. Ela queria a flor que tinha nascido de sua terra. Nem mesmo a sessão de espiritismo para tentar falar com a alma resolveu. Segundo o narrador era possível que os poderes sobrenaturais se recusassem a cooperar ou eles seriam impotentes no caso de tamanho desespero ou desejo.

O fato é que a família ficou entre ser alguém que houvesse perdido toda a noção de misericórdia ou se sendo morto não poderiam fazer nada para vencê-lo, e o que é pior, a flor não existia para ser dada. E como bem alertou o contador da história de que essa era uma história triste , a moça morreu no fim de alguns meses, exausta. Mas como para tudo há esperança diz a história que a voz parou de pedir.





A baronesa



Essa é a história da morte da baronesa. O narrador diz que era uma boa senhora antiqüíssima completamente surda e ausente que andava com o auxílio de uma bengala. Era um pouco chata e teimava em contar casos do império e conversas sobre bailes idos .

Vivia num apartamento que unia móveis modernos a objetos remotos como bolinhas de cânfora e gorgorão de seda. Sobre esses bens não havia interesse ( não encantava a família pentes de monograma ou vestidos oficiais já gastos). O que interessava eram suas jóias de um século morto. Algumas já tinham sido distribuídas pela baronesa como presentes de casamento ou batizado. Outras (inexplicavelmente) desapareciam.

Quando o senador anunciou a morte da baronesa Luís engoliu o pão com geléia e correu para avisar a Renato. A pressa deles não estava relacionada à afetividade que sentiam pela velha, mas em serem os primeiros a tomar posse de suas jóias. O conto diz que elas eram o interesse de grande parte da família que viam a possibilidade de convertê-las em um bom dinheiro ou em alguma coisa de moderno.

Quando Renato se aproximou da baronesa os braços estavam nus, os dedos vazios. Tinham chegado antes. Renato, porém consegue ainda alguma coisa que depois de arrancar das orelhas da velha a todo custo sai desesperado do quarto( a velha cai) e lá fora conversa com o Luis:

Acho que ela morreu foi do colar... Você se lembra que ele dava três voltas folgadas? Cada vez que um da turma precisava de grana, chegava perto da velha, no sono, e arrancava uma conta. O colar foi diminuindo, diminuindo. Na última vez que eu vi a baronesa, ele dava só uma volta, e olhe lá.

E depois de dividir o que encontraram Renato volta para os braços de mais uma de suas amantes.

E o narrador diz:

Assim acabou o Segundo Reinado.





O gerente

A abertura da história é uma citação bíblica que já prenuncia a relatividade do ocorrido: "Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade?

Essa é uma das claras histórias construídas com a influencia machadiana. O autor já começa apresentando o burguês Samuel e a parte do episódio de sua vida que nos interessa: Era um homem que comia os dedos de senhoras; não de senhoritas. Eis pelo menos o que ele se dizia dele, por aquela época.

Então o narrador diz da trajetória de Samuel um sujeito que veio ainda jovem de Sergipe, arranjou um modesto emprego graças a ajuda de um deputado federal e estudou à noite. Tinha respeito pelo governo sem se envolver, não se distinguia - era igual a muitos, não havia se casado mais cultivava muito a arte de cortejar.

O conto afirma que apesar de ser um homem muito educado infringia sempre a etiqueta para beijar a mão de senhoras. E quando isso ocorria, as mulheres tinham seus dedos arrancados. Foram vários casos até que os salões começassem a sussurrar sobre. Então as mulheres, ao serem cumprimentadas por Samuel, de instinto, recuavam os dedos. Quando tal fato ocorreu com a viúva Mendes uma mulher fresca e agradável. Virou caso de polícia e ele foi afastado da empresa. A viúva negou que Samuel a tivesse mordido mas ele foi enviado para São Paulo.

Tendo saudades do Rio de Janeiro vai a cidade para resolver um problema da empresa quando recebe o telefonema de uma mulher misteriosa que se recorda de cada um de seus galanteios. É notável que a não lembrança de Samuel é fruto do hábito de dizer coisas agradáveis a uma mulher sem dar a isso importância. Por não ter nada para fazer ou alguém para ver (tinha se afastado de todos da sociedade do Rio)aceita o convite. Teve a surpresa de ser a mulher misteriosa Deolinda - a viúva Mendes que estava sem braço por causa da mordida que infeccionou e ela teve que amputar.

Desconcertado ele passeia com a viúva que se declara e diz não se importar com o fato dele tê-la mordido. Não ouvimos da boca de Samuel a comprovação de tal feito e a história termina com Deolinda sendo levada para sua casa bêbada e:

Samuel ergueu as mãos até os lábios, devagar, com extremo cuidado e gentileza. Muito tempo durou o contato.Pela manhã regressara a São Paulo, sem liquidar o negócio.

Numa sugestão de que talvez ele a tivesse mordido novamente.





Nossa amiga



Essa é a história de uma menina que não era é bastante alta para chegar ao botão da companhia e se chamava Luci Machado da Silva. O narrador conta nessa história sua peripécias e sua inteligência. Veja o trecho:

Qual é a sua casa?

Esta.

E a outra e onde veio?

Também.

Quantas casas você tem?

Esta e aquela.

De qual você gosta mais?

Que é que você vai me dar?

Nada.

Gosto da outra.

Tem aqui essa pessegada, esta bananinha...

Gosto desta casa! Gosto de você.

Como toda criança, Luci tinha medo de bruxa ( nessa história de chamava Catarina) e sua mãe tentava fazê-la ter medo do velho que sempre povoa o imaginário infantil. O texto conta que para tomar banho e trocar o vestido era preciso que sua mãe anunciasse que ela iria a uma festa.

O autor termina dizendo que o que marca essa menina inteligente é sua capacidade de reproduzir o discurso do adulto e que quando brincam com seu filho imaginário ela consegue desfazê-lo como num passe de mágica. Segundo ele assim também desejariam aquelas mães da bíblia que tiveram seus filhos mortos por Herodes, quando esse, intentando matar o menino Jesus, ordenou tirar a vida de todas as crianças com menos de 2 anos:

Assim pudesse a mãe antiga tornar invisível seu filho, ante os soldados de Herodes.





Miguel e seu furto

Segundo o texto nascemos proporcionados às nossas ações, e estas, quando deflagram, encontram sua medida em nosso ser. No caso de Miguel, esse nascera fadado a grandes experimentos. Tudo isso porque seu porte era varonil, seu rosto radioso, e toda a sua pessoa destilava confiança em si mesmo, e tranqüila identificação com o mundo. No entanto Miguel não tinha mais que isso. Era só aparência. Não desenvolveu nenhuma aptidão. No entanto essa sua promessa do "vir a ser" levou Miguel a viver muito tempo de favores e da simpatia coletiva. Quando os que lhe ajudavam tiveram má sorte e a simpatia andava escassa pelo mundo, Miguel se viu sozinho, sem dinheiro e sem programa, exatamente naquela circunstância em que as pessoas pensam em suicídio.

Miguel um dia lendo os jornais percebeu como roubar era uma coisa natural, as pessoas estavam roubando tudo, quando lhe veio a seguinte idéia: Apropriar-se de algo considerável, imenso, esmagador, que sua própria extensão fosse insuscetível de ser escondido embora não de ser capturado. Falando claro, Miguel resolveu chamar a si, senão o próprio mar onde elas navegam.

Miguel então roubou o mar ( lembrar que furtar não é só pegar o objeto - lembre-se por exemplo que apesar de ser ACM por muito tempo dono da Bahia - isso era ideológico, ele não pegou Salvador, por exemplo, e colocou num cofre)

O dono ganhou muito dinheiro com novas taxas proibiu passeios e banhos no mar. Várias foram as tentativas frustradas de resgate do mar , além do mais a população esquecia de preocupar-se com seus problemas para importar-se com os conflitos na China.

Até que um dia o inesperado aconteceu:

Um menino de sete anos atirou-se ao mar...então outro menino, criando coragem, botou o dedão n'água... Raparigas em flor...mulheres maduras... E recomeçou a alegria do litoral....o mar estava livre. Vieram as autoridades, lavraram termos de recuperação.

Ou seja, quem resgatou o mar foi alguém não preso a uma ideologia de posse dita pela mídia e sociedade. Muitas vezes não resgatamos as coisas simplesmente porque não tentamos fazê-la - perceba que essa temática é próxima do conto câmara e cadeia.

O conto termina dizendo que ninguém cogitou prender Miguel visto que esse era "bonzinho" e rico. E a história termina:

Depositou a fortuna em bancos e passou a dedicar-se a coleção de conchinhas, lembrança discreta e nostálgica de sua propriedade oceânica.





Conversa de velho com criança

A história começa com o narrador no bonde. Segundo ele quando o bonde ia pôr-se em movimento, o senhor idoso subiu com a criança. E depois de observar a menina que ia sentada e o senhor que se esforçava para segurar compras, guarda-chuva e a si mesmo, questionou-se se aquela era uma relação de avô e neta ou, simplesmente, amigo e amiga. Segundo o narrador o fato é que eram íntimos.

Pelo fato dos nomes não coincidirem e pela ausência de respeito na forma como a menina chamava o velho. Concluiu que eram amigos , mas o autor faz a seguinte reflexão:

A ausência de respeito era argumento contra o parentesco e a favor da amizade. Mas os pais de hoje prescindem do respeito em benefício da camaradagem. Os avós devem ter-se modernizado também.

E termina por dizer:

O bonde parou. Ferreira, Maria de Lourdes, guarda-chuva e embrulhos desceram pausadamente, atravessaram a rua, entraram pela primeira porta aberta...

Meu pai dizia que os amigos são para ocasiões

Deixando o leitor e ele mesmo sem saber ao certo qual era o grau que unia aqueles dois no entanto deixando claramente uma reflexão sobre amizade e outra sobre as formas de tratamento modernas.





Extraordinária conversa com uma senhora de minhas relações

O narrador dessa história começa refletindo sobre o ônibus como marca da modernidade que é de certa forma uma espécie de prisão. Eis suas reflexões:

O ônibus repleto não convidava a entrar...o corredor exíguo fora, pelo planejamento, destinado à circulação. Exigências sociais converteram-no em veículo à parte, de capacidade maior que a do outro, onde teoricamente há poltronas, ocupadas desde o começo dos séculos por seres privilegiados. Ali pois me plantei, agarrado a uma argola, símbolo da moderna escravidão urbana...

A calça num cabide solto no espaço teria o direito de ondular ao sabor da viração, como num quadro de Salvador Dalí; mas o homem em condições similares deve manter compostura e mostrar-se afável e atento a uma senhora estabelecida.

O fato é que nesse dia, nesse ônibus, cheio uma senhora lhe abriu o sorriso como se o conhecesse, o narrador não se lembrava dela mas por certo ela devia conhecê-lo já que hoje em dia não desperdiçamos sorrisos com desconhecidos. e, enquanto ele estava em pé teve oportunidade de ver entre aquele vestido algo que o leitor já está a imaginar. O narrador se surpreendeu muito com a cena por considerar que a beleza tem suas horas, exige preparação, impõe um rito, e nada havia ali no cotidiano daquele ônibus que me prevenisse da irrupção da beleza...

A linda mulher lhe dirigiu um Como vai? Que ele respondeu qualquer coisa já que essa frase que não significa nada nem pede resposta coerente.

Segundo o narrador dessa conversa lembra-se apenas daquela visão de beleza vista entre o vestido e o sorriso e termina por concluir que sequer considerou aquilo uma conversa.mas que esta lhe pareceu a conversa mais extraordinária de quantas, até o dia presente, ele teve com senhoras.



Um escritor nasce e morre



Segundo o narrador ele morava numa cidade pequena e foi na escola de Turmalinas que ele(escritor) nasceu. Foi numa sala de 3 ano na aula de geografia que ele sentiu pela primeira vez a necessidade de escrever. Escreveu sobre uma viagem de Turmalinas até o Pólo Norte. Quando a professora pegou o papel disse:

- Continue Juquita. Você será um grande escritor.

Depois o escritor conta da felicidade daquela cidade em ver seu nome em jornais. Sua mudança para a cidade grande, suas publicações (amada pelos companheiros e odiada pelos críticos).

Segundo ele, não escrevia para nada. Era um "artista puro". Depois foi vendo seus amigos procurarem outras alternativas e ele foi permanecendo até quando:

Risquei um fósforo... e na lâmpada que minhas mãos em concha formavam percebi que eu tinha feito trinta anos. Então morri. Dou minha palavra de honra que morri, estou morto, bem morto.