domingo, 1 de janeiro de 2012

QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO SELECIONADAS PELA PROF. MARA RUTE


Primeiras Palavras: 

Não são só romances obrigatórios que são cobrados na prova da UESC então que tal treinar umas questões de interpretação. Só confira o Gabarito depois tá. 
Mara Rute Lima 




Chegou e eu esperei ainda. Afinal, fui levado à sua presença. Ao lado, em uma mesa mais baixa, lá estava o Capitão Viveiros, o tal escrivão, muito solene, com a pena atrás da orelha, o seu olhar cúpido e a sua papada farta. O delegado pareceu-me um medíocre bacharel, uma vulgaridade com desejos de chegar a altas posições; no entanto, havia na sua fisionomia uma assustadora irradiação de poder e de força. Talvez se sentisse tão ungido da graça especial de mandar, que na rua, ao ver tanta gente mover-se livremente, havia de considerar que o fazia porque ele deixava.Interrogou-me de mau humor, impaciente, distraído, às sacudidelas. Repisava uma mesma pergunta; repetia as minhas respostas.
BARRETO, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha. São Paulo: Ática, 1994. p. 63. (Série Bom Livro).

1. Com base no fragmento inserido na obra, está correto o que se afirma na alternativa
01) A mudança de condição de vida de Isaías, quando passa de contínuo a repórter no jornal “O Globo”, provoca uma alteração radical em seus conceitos sobre os outros e sobre si mesmo.
02) O escrivão Isaías Caminha considera os literatos com os quais conviveu,  quando  t rabalhou na  redação de um jornal, como modelos a imitar no seu fazer literário.
03) O narrador escreve as suas “Recordações” com o intuito de alcançar a glória literária e, com ela, a ascensão social.
04) O delegado representa a autoridade que, movida pelo preconceito, exerce, de forma arbitrária, o poder.
05) O narrador-personagem, ao descrever o delegado, revela-se imparcial.

[...] Considerei-me feliz no lugar de contínuo da redação do O Globo. Tinha atravessado um grande braço de mar, agarrara-me a um ilhéu e não tinha coragem de nadar de novo para a terra firme que barrava o horizonte a algumas centenas de metros. Os mariscos bastavam-me e os insetos já se me tinham feito grossa a pele...
De tal maneira é forte o poder de nos iludirmos, que um ano depois cheguei a ter até orgulho da minha posição. Senti-me muito ma i s   q u e   um  c o n t í n u o   q u a l q u e r,  me smo  ma i s   q u e   um contínuo de ministro. As conversas da redação tinham-me dado a convicção de que o doutor Loberant era o homem mais poderoso do Brasil; fazia e desfazia ministros, demitia diretores, julgava juízes e o presidente. Logo ao amanhecer, lia o seu jornal, para saber se tal ou qual ato seu tinha tido o placet desejado do doutor Ricardo.
BARRETO, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha. 3. ed. São Paulo: Ática, 1994. p. 99.

2. O texto, articulado com a obra, permite considerar correta a alternativa
01) Isaías Caminha revela-se um ser humano desprovido de qualquer vaidade.
02)  O   n a r r a d o r   u t i l i z a ,   n o   s e u   r e l a t o ,   u m a   l i n g u a g e m essencialmente objetiva e precisa.
03) O narrador atribui tão somente aos outros a não realização de seus projetos de vida.
04) O narrador reconhece, na narrativa, a atuação da imprensa  de seu tempo como marcada pela ética e pelo compromisso com o social.
05) Isaías, através do relato de sua trajetória de vida, mostra o ambiente social como discriminador de pessoas pobres e de negros e mulatos.

3.  Reconhecido há tempos, dentro e fora do Brasil, como manifestação artística legítima e pública, o grafite vem sendo visto também como um elemento relevante do espaço urbano, pois nele realiza sucessivas intervenções.

3. Com base nessa ideia e no foco da matéria jornalística, é correto afirmar que atualmente o grafite
(A) estimula e aprofunda o desemprego entre a população jovem urbana.
(B) potencializa e provoca a revolta de grupos sociais oprimidos.
(C) renova e estetiza diversos trechos da paisagem urbana.
(D) fortalece e antecipa o aspecto marginal das pichações.
(E) abandona e contesta valores estéticos externos à cultura nacional.


 4. Leia o texto:


TEXTO VII
Senhora Dona Bahia,
nobre e opulenta cidade,
madrasta dos naturais,
e dos estrangeiros madre:
Dizei-me por vida vossa
em que fundais o ditame
de exaltar os que aqui vêm,
e abater os que aqui nascem?
Se o fazeis pelo interesse
de que os estranhos vos gabem,
isso os paisanos fariam
com conhecidas vantagens.
E suposto que os louvores
em boca própria não valem,
se tem força esta sentença,
mor força terá a verdade.
O certo é, pátria minha,
que fostes terra de alarves,
e inda os ressábios vos duram
desse tempo e dessa idade.
Haverá duzentos anos,
nem tantos podem contar-se,
que éreis uma aldeia pobre
e hoje sois rica cidade.
Então vos pisavam índios,
e vos habitavam cafres,
hoje chispais fidalguias,
arrojando personagens.
 Gregório de Matos
 
Vocabulário
alarves - que ou quem é rústico, abrutado, grosseiro,
                 ignorante; que ou o que é tolo, parvo, estúpido.
ressábios - sabor; gosto que se tem depois.
cafres  - indivíduo de raça negra.


4. Todas as afirmativas sobre a construção estética ou a produção textual do poema de Gregório de Matos
(Texto VII) estão adequadas, EXCETO uma. Assinale-a.
(A) Existem antíteses, características de textos no período barroco.
(B) Há uma personificação, pois a Bahia, ser inanimado, é tratada como ser vivo.
(C) A ausência de métrica aproxima o poema do Modernismo.
(D) O eu lírico usa o vocativo, transformando a Bahia em sua interlocutora.
(E) Há diferença de tratamento para os habitantes locais e os estrangeiros.

5.  Leia o texto:
Modinha do exílio
Os moinhos têm palmeiras
Onde canta o sabiá.
Não são artes feiticeiras!
Por toda parte onde eu vá,
Mar e terras estrangeiras,
Posso ver mesmo as palmeiras
Em que ele cantando está.
Meu sabiá das palmeiras
Canta aqui melhor que lá.
Mas, em terras estrangeiras,
E por tristezas de cá,
Só à noite e às sextas-feiras.
Nada mais simples não há!
Canta modas brasileiras.
Canta – e que pena me dá!
                         Ribeiro Couto
5. Os versos dos poetas modernistas e românticos apresentam relação de intertextualidade com o poema de Ribeiro Couto, EXCETO em uma alternativa. Assinale-a.
(A) “Vou-me embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do rei / Lá tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolherei” (Manuel Bandeira)
(B) “Dá-me os sítios gentis onde eu brincava / Lá na quadra infantil; / Dá que eu veja uma vez o céu da pátria, / O céu do meu Brasil!” (Casimiro de Abreu)
(C) “Minha terra tem macieiras da Califórnia / onde cantam gaturamos de Veneza. / Os poetas da minha terra / são pretos que vivem em torres de ametista,” (Murilo Mendes)
(D) “Ouro terra amor e rosas / Eu quero tudo de lá / Não permita Deus que eu morra / Sem que volte para lá” (Oswald de Andrade)
(E) “Em cismar, sozinho, à noite, / Mais prazer eu encontro lá; / Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o Sabiá.” (Gonçalves Dias)

6. Pode-se afirmar sobre o poema de Ribeiro Couto que
(A) canta modas brasileiras só à noite e às sextas-feiras, porque as artes feiticeiras são praticadas pelo eu lírico em seu exílio.
(B) tem como objetivo expressar a depressão do eu lírico em terra estrangeira, mas também capta os sentimentos do poeta durante o seu exílio.
(C) tem como referência original o tema e a métrica da “Canção do exílio”, mas reelabora as referências românticas com a linguagem modernista.
(D) tem a finalidade de descrever detalhadamente os moinhos com palmeiras onde canta o sabiá, conforme pregava o Realismo.
(E) expressa a simplicidade da linguagem do eu lírico, que prefere cantar modinhas brasileiras no exílio a retornar ao Brasil.

Leia o texto:
Tudo o que aqui escrevo é forjado no meu silêncio e na penumbra. Vejo pouco, ouço quase nada.
Mergulho enfim em mim até o nascedouro do espírito que me habita. Minha nascente é obscura. Estou escrevendo porque não sei o que fazer de mim. Quer dizer: não sei o que fazer com meu espírito. O corpo informa muito. Mas eu desconheço as leis do espírito: ele vagueia. Meu pensamento, com a enunciação das palavras mentalmente brotando, sem depois eu falar ou escrever — esse meu pensamento de palavras é precedido por uma instantânea visão sem palavras, do pensamento — palavra que se seguirá, quase imediatamente — diferença espacial de menos de um milímetro. Antes de pensar, pois, eu já pensei.
Clarice Lispector. Um sopro de vida.

7.  Assinale a opção que corresponde ao pensamento de Clarice Lispector sobre a criação literária, no texto acima.
(A) A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote e adeus.
(B) Não colhas no chão o poema que se perdeu.
(C) Vozes da infância, contai a história da vida boa que nunca veio.
(D) Pensar é a concretização, materialização do que se pré-pensou.
(E) O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente.
8 . O modo de Clarice Lispector ver a criação literária guarda relação com o momento histórico em que ela escreve. Em outros momentos históricos, outras relações ocorreram. Assinale a opção correta.
(A) O Modernismo relaciona-se com um modo de escrever que pretende discutir a criação literária e produzir a simplicidade e a métrica do pastoralismo.
(B) O Neoclassicismo relaciona-se com um modo de escrever que reproduz a arte barroca tal como ela era.
(C) O Realismo relaciona-se com um modo de escrever que se caracteriza pela musicalidade, pela sinestesia e pelas aliterações.
(D) O Simbolismo relaciona-se com um modo de escrever que apresenta a realidade tal como ela é.
(E) O Romantismo relaciona-se com um modo de escrever que adota a estética da expressão do eu autoral.

9. Leia o texto:
Para literatos e memorialistas do século XIX, um dos grandes desafios era, então, construir uma nação tendo que levar em conta as antigas tradições, quase sempre católicas e repletas de “atrasadas” manifestações populares e negras.
As discussões sobre as perspectivas da nacionalidade brasileira ganharam novo impulso nas últimas  décadas do século passado, após a abolição da escravidão, quando definitivamente teriam que ser incorporados os libertos e descendentes de africanos ao mercado de trabalho livre e à “nação brasileira”.
Festas, músicas e danças despontariam, entre setores intelectuais, como um importante campo de estudos para se avaliar e, principalmente, projetar a versão musical da nação brasileira. Afinal, estas manifestações passaram a representar valiosos indicativos de uma nação formada por uma “raça mestiça”, de inegável influência portuguesa, católica e africana.
Escritores e músicos de diferentes partes do Brasil, no fim do século XIX e início do XX, iriam identificar e construir, a partir de variadas e híbridas doses de etnia e cultura, uma original identidade nacional, musical e festiva.
Marta Abreu. invenção de um país festivo. Caderno ideias, Jornal do Brasil. Adaptação.

9. Assinale a opção que corresponde ao fragmento “Escritores e músicos de diferentes partes do Brasil, no fim do século XIX e início do XX, iriam identificar e construir, a partir de variadas e híbridas doses de etnia e cultura, uma original identidade nacional, musical e festiva.”
(A) Em cada porta um frequentado olheiro, / Que a vida do vizinho, e da vizinha / Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha, / Para a levar à Praça, e ao Terreiro. (Gregório de Matos)
(B) Última flor do Lácio, inculta e bela, / Ès, a um tempo, esplendor e sepultura: / Ouro nativo, que na ganga impura ia bruta mina entre os cascalhos vela... (Olavo Bilac)
(C) Assim eu quereria meu último poema / Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais / Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas / Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume (Manuel Bandeira)
(D) Quem, Manha, despreza uma beleza, / A luz da razão precisa;! E se tem discurso, pisa/A lei, que lhe ditou a Natureza. (Tomás Antônio Gonzaga)
(E) Misturo tudo num saco, / Mas gaúcho maranhense / Que pára no Mato Grosso, / Bate este angu de caroço (Mário de Andrade)

10. Assinale a passagem que exemplifica ser a mestiçagem uma construção intelectual, mas que está presente no sentimento do povo de forma ambígua.
(A) Amálgama é miscigenação e mistura mas é muito mais do que isso: é a diversidade em combinação permanente causando esta flutuação de constante capacidade de adaptações e criatividade. (Jorge Mautner)
(B) Qual a minha cor, não é? Para escrever aí no questionário. Deixa eu pensar.O que o senhor acha que eu sou? Olhando para minha cara. Bem para minha cara. O que eu sou? Assim, no espelho? Coloque ai, escreva: mestiça. Isso: doméstica mestiça. Pode anotar. Só não vai contar para ninguém, tá? (Marcelino Freire)
(C) O Estatuto da Igualdade Racial, que está para ser votado na Câmara em meio a discussões acirradas, reserva cotas para afro-brasileiros, mas não menciona caboclos, cafuzos, mamelucos ou mulatos. É uma ficção bicolor, dizem seus críticos. É o reconhecimento de uma divisão social, retrucam seus defensores. (Miguel Conde)
(D) Mulatas e negras, empregadas nas casas ricas, amontoavam-se ante as malas abertas: — Compra, freguesa, compra. É baratinho... —a pronúncia cômica, a voz sedutora. Longas negociações. Os colares sobre os peitos negros, as pulseiras nos braços mulatos, uma tentação’ (Jorge Amado)
(E) Com a proibição do tráfico de escravos em 1850, e o aumento da imigração européia na segunda metade do século XX, a cor dos comerciantes de rua do Rio de Janeiro começou a ficar mais variada. Como mostra o retrato de Augusto Malta e Marc Ferrez, se tornou mais frequente a presença de mestiços e brancos entre os ambulantes. (O Globo, Logo)

Texto para as questões seguintes
A questão racial parece um desafio do presente,  mas trata-se de algo que existe desde há muito tempo.  Modifica-se ao acaso das situações, das formas de  sociabilidade e dos jogos das forças sociais, mas  reitera-se continuamente, modificada, mas persistente.  Esse é o enigma com o qual se defrontam uns e outros,  intolerantes e tolerantes, discriminados e  preconceituosos, segregados e arrogantes, subordinados  e dominantes, em todo o mundo. Mais do que tudo isso,  a questão racial revela, de forma particularmente  evidente, nuançada e estridente, como funciona a  fábrica da sociedade, compreendendo identidade e  alteridade, diversidade e desigualdade, cooperação e  hierarquização, dominação e alienação.
Octavio Ianni. Dialética das relações sociais.  Estudos avançados, n. 50, 2004.
11. Segundo o texto, a questão racial configura-se  como “enigma”, porque 
a) é presa de acirrados antagonismos sociais.
b) tem origem no preconceito, que é de natureza  irracional.
c) encobre os interesses de determinados estratos  sociais.
d) parece ser herança histórica, mas surge na  contemporaneidade. 
e) muda sem cessar, sem que, por isso, seja superada.

12.  Conforme o texto, na questão racial, o  funcionamento da sociedade dá-se a ver de modo
a) concentrado.
b) invertido.
c) fantasioso.
d) compartimentado.
e) latente.


Texto para as próximas questões
Já na segurança da calçada, e passando por um  trecho em obras que atravanca nossos passos, lanço à  queima-roupa: 
— Você conhece alguma cidade mais feia do que  São Paulo?
— Agora você me pegou, retruca, rindo. Hã, deixa  eu ver... Lembro-me de La Paz, a capital da Bolívia, que  me pareceu bem feia. Dizem que Bogotá é muito feiosa  também, mas não a conheço. Bem, São Paulo, no  geral, é feia, mas as pessoas têm uma disposição para  o trabalho aqui, uma vibração empreendedora, que dá  uma feição muito particular à cidade. Acordar cedo em  São Paulo e ver as pessoas saindo para trabalhar é  algo que me toca. Acho emocionante ver a garra dessa  gente.
R. Moraes e R. Linsker. Estrangeiros em casa: uma  caminhada pela selva urbana de São Paulo.   National Geographic Brasil. Adaptado.

13.  Os interlocutores do diálogo contido no texto  compartilham o pressuposto de que
a) cidades são geralmente feias, mas interessantes.
b) o empreendedorismo faz de São Paulo uma bonita
cidade.
c) La Paz é tão feia quanto São Paulo.
d) São Paulo é uma cidade feia. 
e) São Paulo e Bogotá são as cidades mais feias do mundo.

14.  No terceiro parágrafo do texto, a expressão que  indica, de modo mais evidente, o distanciamento social do segundo interlocutor em relação às pessoas a que  se refere é
a) “disposição para o trabalho”.
b) “vibração empreendedora”.
c) “feição muito particular”.
d) “saindo para trabalhar”. 
e) “dessa gente”.

 15.  Ao reproduzir um diálogo, o texto incorpora marcas  de oralidade, tanto de ordem léxica, caso da palavra
“garra”, quanto de ordem gramatical, como, por  exemplo,
a) “lanço à queima-roupa”.
b) “Agora você me pegou”.
c) “deixa eu ver”. 
d) “Bogotá é muito feiosa”.
e) “é algo que me toca”.


Gabarito 
Chegou e eu esperei ainda. Afinal, fui levado à sua presença. Ao lado, em uma mesa mais baixa, lá estava o Capitão Viveiros, o tal escrivão, muito solene, com a pena atrás da orelha, o seu olhar cúpido e a sua papada farta. O delegado pareceu-me um medíocre bacharel, uma vulgaridade com desejos de chegar a altas posições; no entanto, havia na sua fisionomia uma assustadora irradiação de poder e de força. Talvez se sentisse tão ungido da graça especial de mandar, que na rua, ao ver tanta gente mover-se livremente, havia de considerar que o fazia porque ele deixava. Interrogou-me de mau humor, impaciente, distraído, às sacudidelas. Repisava uma mesma pergunta; repetia as minhas respostas.
BARRETO, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha. São Paulo: Ática, 1994. p. 63. (Série Bom Livro).

UESC 2010 - 1. Com base no fragmento inserido na obra, está correto o que se afirma na alternativa
01) A mudança de condição de vida de Isaías, quando passa de contínuo a repórter no jornal “O Globo”, provoca uma alteração radical em seus conceitos sobre os outros e sobre si mesmo.
02) O escrivão Isaías Caminha considera os literatos com os quais conviveu,  quando  trabalhou na  redação de um jornal, como modelos a imitar no seu fazer literário.
03) O narrador escreve as suas “Recordações” com o intuito de alcançar a glória literária e, com ela, a ascensão social.
04) O delegado representa a autoridade que, movida pelo preconceito, exerce, de forma arbitrária, o poder.
05) O narrador-personagem, ao descrever o delegado, revela-se imparcial.

[...] Considerei-me feliz no lugar de contínuo da redação do O Globo. Tinha atravessado um grande braço de mar, agarrara-me a um ilhéu e não tinha coragem de nadar de novo para a terra firme que barrava o horizonte a algumas centenas de metros. Os mariscos bastavam-me e os insetos já se me tinham feito grossa a pele...
De tal maneira é forte o poder de nos iludirmos, que um ano depois cheguei a ter até orgulho da minha posição. Senti-me muito ma i s   q u e   um  c o n t í n u o   q u a l q u e r,  me smo  ma i s   q u e   um contínuo de ministro. As conversas da redação tinham-me dado a convicção de que o doutor Loberant era o homem mais poderoso do Brasil; fazia e desfazia ministros, demitia diretores, julgava juízes e o presidente. Logo ao amanhecer, lia o seu jornal, para saber se tal ou qual ato seu tinha tido o placet desejado do doutor Ricardo.
BARRETO, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha. 3. ed. São Paulo: Ática, 1994. p. 99.

UESC 2011 - 2. O texto, articulado com a obra, permite considerar correta a alternativa
01) Isaías Caminha revela-se um ser humano desprovido de qualquer vaidade.
02)  O   n a r r a d o r   u t i l i z a ,   n o   s e u   r e l a t o ,   u m a   l i n g u a g e m essencialmente objetiva e precisa.
03) O narrador atribui tão somente aos outros a não realização de seus projetos de vida.
04) O narrador reconhece, na narrativa, a atuação da imprensa  de seu tempo como marcada pela ética e pelo compromisso com o social.
05) Isaías, através do relato de sua trajetória de vida, mostra o ambiente social como discriminador de pessoas pobres e de negros e mulatos.

3.  Reconhecido há tempos, dentro e fora do Brasil, como manifestação artística legítima e pública, o grafite vem sendo visto também como um elemento relevante do espaço urbano, pois nele realiza sucessivas intervenções.
3. Com base nessa ideia e no foco da matéria jornalística, é correto afirmar que atualmente o grafite
(A) estimula e aprofunda o desemprego entre a população jovem urbana.
(B) potencializa e provoca a revolta de grupos sociais oprimidos.
(C) renova e estetiza diversos trechos da paisagem urbana.
(D) fortalece e antecipa o aspecto marginal das pichações.
(E) abandona e contesta valores estéticos externos à cultura nacional.















 4. Leia o texto:


TEXTO VII
Senhora Dona Bahia,
nobre e opulenta cidade,
madrasta dos naturais,
e dos estrangeiros madre:
Dizei-me por vida vossa
em que fundais o ditame
de exaltar os que aqui vêm,
e abater os que aqui nascem?
Se o fazeis pelo interesse
de que os estranhos vos gabem,
isso os paisanos fariam
com conhecidas vantagens.
E suposto que os louvores
em boca própria não valem,
se tem força esta sentença,
mor força terá a verdade.
O certo é, pátria minha,
que fostes terra de alarves,
e inda os ressábios vos duram
desse tempo e dessa idade.
Haverá duzentos anos,
nem tantos podem contar-se,
que éreis uma aldeia pobre
e hoje sois rica cidade.
Então vos pisavam índios,
e vos habitavam cafres,
hoje chispais fidalguias,
arrojando personagens.
 Gregório de Matos
 
Vocabulário
alarves - que ou quem é rústico, abrutado, grosseiro,
                 ignorante; que ou o que é tolo, parvo, estúpido.
ressábios - sabor; gosto que se tem depois.
cafres  - indivíduo de raça negra.


4. Todas as afirmativas sobre a construção estética ou a produção textual do poema de Gregório de Matos
(Texto VII) estão adequadas, EXCETO uma. Assinale-a.
(A) Existem antíteses, características de textos no período barroco.
(B) Há uma personificação, pois a Bahia, ser inanimado, é tratada como ser vivo.
(C) A ausência de métrica aproxima o poema do Modernismo.
(D) O eu lírico usa o vocativo, transformando a Bahia em sua interlocutora.
(E) Há diferença de tratamento para os habitantes locais e os estrangeiros.

5.  Leia o texto:
Modinha do exílio
Os moinhos têm palmeiras
Onde canta o sabiá.
Não são artes feiticeiras!
Por toda parte onde eu vá,
Mar e terras estrangeiras,
Posso ver mesmo as palmeiras
Em que ele cantando está.
Meu sabiá das palmeiras
Canta aqui melhor que lá.
Mas, em terras estrangeiras,
E por tristezas de cá,
Só à noite e às sextas-feiras.
Nada mais simples não há!
Canta modas brasileiras.
Canta – e que pena me dá!
                         Ribeiro Couto
5. Os versos dos poetas modernistas e românticos apresentam relação de intertextualidade com o poema de Ribeiro Couto, EXCETO em uma alternativa. Assinale-a.
(A) “Vou-me embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do rei / Lá tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolherei” (Manuel Bandeira)
(B) “Dá-me os sítios gentis onde eu brincava / Lá na quadra infantil; / Dá que eu veja uma vez o céu da pátria, / O céu do meu Brasil!” (Casimiro de Abreu)
(C) “Minha terra tem macieiras da Califórnia / onde cantam gaturamos de Veneza. / Os poetas da minha terra / são pretos que vivem em torres de ametista,” (Murilo Mendes)
(D) “Ouro terra amor e rosas / Eu quero tudo de lá / Não permita Deus que eu morra / Sem que volte para lá” (Oswald de Andrade)
(E) “Em cismar, sozinho, à noite, / Mais prazer eu encontro lá; / Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o Sabiá.” (Gonçalves Dias)

6. Pode-se afirmar sobre o poema de Ribeiro Couto que
(A) canta modas brasileiras só à noite e às sextas-feiras, porque as artes feiticeiras são praticadas pelo eu lírico em seu exílio.
(B) tem como objetivo expressar a depressão do eu lírico em terra estrangeira, mas também capta os sentimentos do poeta durante o seu exílio.
(C) tem como referência original o tema e a métrica da “Canção do exílio”, mas reelabora as referências românticas com a linguagem modernista.
(D) tem a finalidade de descrever detalhadamente os moinhos com palmeiras onde canta o sabiá, conforme pregava o Realismo.
(E) expressa a simplicidade da linguagem do eu lírico, que prefere cantar modinhas brasileiras no exílio a retornar ao Brasil.

Leia o texto:
Tudo o que aqui escrevo é forjado no meu silêncio e na penumbra. Vejo pouco, ouço quase nada.
Mergulho enfim em mim até o nascedouro do espírito que me habita. Minha nascente é obscura. Estou escrevendo porque não sei o que fazer de mim. Quer dizer: não sei o que fazer com meu espírito. O corpo informa muito. Mas eu desconheço as leis do espírito: ele vagueia. Meu pensamento, com a enunciação das palavras mentalmente brotando, sem depois eu falar ou escrever — esse meu pensamento de palavras é precedido por uma instantânea visão sem palavras, do pensamento — palavra que se seguirá, quase imediatamente — diferença espacial de menos de um milímetro. Antes de pensar, pois, eu já pensei.
Clarice Lispector. Um sopro de vida.

7.  Assinale a opção que corresponde ao pensamento de Clarice Lispector sobre a criação literária, no texto acima.
(A) A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote e adeus.
(B) Não colhas no chão o poema que se perdeu.
(C) Vozes da infância, contai a história da vida boa que nunca veio.
(D) Pensar é a concretização, materialização do que se pré-pensou.
(E) O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente.
8 . O modo de Clarice Lispector ver a criação literária guarda relação com o momento histórico em que ela escreve. Em outros momentos históricos, outras relações ocorreram. Assinale a opção correta.
(A) O Modernismo relaciona-se com um modo de escrever que pretende discutir a criação literária e produzir a simplicidade e a métrica do pastoralismo.
(B) O Neoclassicismo relaciona-se com um modo de escrever que reproduz a arte barroca tal como ela era.
(C) O Realismo relaciona-se com um modo de escrever que se caracteriza pela musicalidade, pela sinestesia e pelas aliterações.
(D) O Simbolismo relaciona-se com um modo de escrever que apresenta a realidade tal como ela é.
(E) O Romantismo relaciona-se com um modo de escrever que adota a estética da expressão do eu autoral.

9. Leia o texto:
Para literatos e memorialistas do século XIX, um dos grandes desafios era, então, construir uma nação tendo que levar em conta as antigas tradições, quase sempre católicas e repletas de “atrasadas” manifestações populares e negras.
As discussões sobre as perspectivas da nacionalidade brasileira ganharam novo impulso nas últimas  décadas do século passado, após a abolição da escravidão, quando definitivamente teriam que ser incorporados os libertos e descendentes de africanos ao mercado de trabalho livre e à “nação brasileira”.
Festas, músicas e danças despontariam, entre setores intelectuais, como um importante campo de estudos para se avaliar e, principalmente, projetar a versão musical da nação brasileira. Afinal, estas manifestações passaram a representar valiosos indicativos de uma nação formada por uma “raça mestiça”, de inegável influência portuguesa, católica e africana.
Escritores e músicos de diferentes partes do Brasil, no fim do século XIX e início do XX, iriam identificar e construir, a partir de variadas e híbridas doses de etnia e cultura, uma original identidade nacional, musical e festiva.
Marta Abreu. invenção de um país festivo. Caderno ideias, Jornal do Brasil. Adaptação.

9. Assinale a opção que corresponde ao fragmento “Escritores e músicos de diferentes partes do Brasil, no fim do século XIX e início do XX, iriam identificar e construir, a partir de variadas e híbridas doses de etnia e cultura, uma original identidade nacional, musical e festiva.”
(A) Em cada porta um frequentado olheiro, / Que a vida do vizinho, e da vizinha / Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha, / Para a levar à Praça, e ao Terreiro. (Gregório de Matos)
(B) Última flor do Lácio, inculta e bela, / Ès, a um tempo, esplendor e sepultura: / Ouro nativo, que na ganga impura ia bruta mina entre os cascalhos vela... (Olavo Bilac)
(C) Assim eu quereria meu último poema / Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais / Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas / Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume (Manuel Bandeira)
(D) Quem, Manha, despreza uma beleza, / A luz da razão precisa;! E se tem discurso, pisa/A lei, que lhe ditou a Natureza. (Tomás Antônio Gonzaga)
(E) Misturo tudo num saco, / Mas gaúcho maranhense / Que pára no Mato Grosso, / Bate este angu de caroço (Mário de Andrade)

10. Assinale a passagem que exemplifica ser a mestiçagem uma construção intelectual, mas que está presente no sentimento do povo de forma ambígua.
(A) Amálgama é miscigenação e mistura mas é muito mais do que isso: é a diversidade em combinação permanente causando esta flutuação de constante capacidade de adaptações e criatividade. (Jorge Mautner)
(B) Qual a minha cor, não é? Para escrever aí no questionário. Deixa eu pensar.O que o senhor acha que eu sou? Olhando para minha cara. Bem para minha cara. O que eu sou? Assim, no espelho? Coloque ai, escreva: mestiça. Isso: doméstica mestiça. Pode anotar. Só não vai contar para ninguém, tá? (Marcelino Freire)
(C) O Estatuto da Igualdade Racial, que está para ser votado na Câmara em meio a discussões acirradas, reserva cotas para afro-brasileiros, mas não menciona caboclos, cafuzos, mamelucos ou mulatos. É uma ficção bicolor, dizem seus críticos. É o reconhecimento de uma divisão social, retrucam seus defensores. (Miguel Conde)
(D) Mulatas e negras, empregadas nas casas ricas, amontoavam-se ante as malas abertas: — Compra, freguesa, compra. É baratinho... —a pronúncia cômica, a voz sedutora. Longas negociações. Os colares sobre os peitos negros, as pulseiras nos braços mulatos, uma tentação’ (Jorge Amado)
(E) Com a proibição do tráfico de escravos em 1850, e o aumento da imigração européia na segunda metade do século XX, a cor dos comerciantes de rua do Rio de Janeiro começou a ficar mais variada. Como mostra o retrato de Augusto Malta e Marc Ferrez, se tornou mais frequente a presença de mestiços e brancos entre os ambulantes. (O Globo, Logo)

Texto para as questões seguintes
A questão racial parece um desafio do presente,  mas trata-se de algo que existe desde há muito tempo.  Modifica-se ao acaso das situações, das formas de  sociabilidade e dos jogos das forças sociais, mas  reitera-se continuamente, modificada, mas persistente.  Esse é o enigma com o qual se defrontam uns e outros,  intolerantes e tolerantes, discriminados e  preconceituosos, segregados e arrogantes, subordinados  e dominantes, em todo o mundo. Mais do que tudo isso,  a questão racial revela, de forma particularmente  evidente, nuançada e estridente, como funciona a  fábrica da sociedade, compreendendo identidade e  alteridade, diversidade e desigualdade, cooperação e  hierarquização, dominação e alienação.
Octavio Ianni. Dialética das relações sociais.  Estudos avançados, n. 50, 2004.
11. Segundo o texto, a questão racial configura-se  como “enigma”, porque 
a) é presa de acirrados antagonismos sociais.
b) tem origem no preconceito, que é de natureza  irracional.
c) encobre os interesses de determinados estratos  sociais.
d) parece ser herança histórica, mas surge na  contemporaneidade. 
e) muda sem cessar, sem que, por isso, seja superada.

12.  Conforme o texto, na questão racial, o  funcionamento da sociedade dá-se a ver de modo
a) concentrado.
b) invertido.
c) fantasioso.
d) compartimentado.
e) latente.


Texto para as próximas questões
Já na segurança da calçada, e passando por um  trecho em obras que atravanca nossos passos, lanço à  queima-roupa: 
— Você conhece alguma cidade mais feia do que  São Paulo?
— Agora você me pegou, retruca, rindo. Hã, deixa  eu ver... Lembro-me de La Paz, a capital da Bolívia, que  me pareceu bem feia. Dizem que Bogotá é muito feiosa  também, mas não a conheço. Bem, São Paulo, no  geral, é feia, mas as pessoas têm uma disposição para  o trabalho aqui, uma vibração empreendedora, que dá  uma feição muito particular à cidade. Acordar cedo em  São Paulo e ver as pessoas saindo para trabalhar é  algo que me toca. Acho emocionante ver a garra dessa  gente.
R. Moraes e R. Linsker. Estrangeiros em casa: uma  caminhada pela selva urbana de São Paulo.   National Geographic Brasil. Adaptado.

13.  Os interlocutores do diálogo contido no texto  compartilham o pressuposto de que
a) cidades são geralmente feias, mas interessantes.
b) o empreendedorismo faz de São Paulo uma bonita
cidade.
c) La Paz é tão feia quanto São Paulo.
d) São Paulo é uma cidade feia. 
e) São Paulo e Bogotá são as cidades mais feias do mundo.

14.  No terceiro parágrafo do texto, a expressão que  indica, de modo mais evidente, o distanciamento social do segundo interlocutor em relação às pessoas a que  se refere é
a) “disposição para o trabalho”.
b) “vibração empreendedora”.
c) “feição muito particular”.
d) “saindo para trabalhar”. 
e) “dessa gente”.

 15.  Ao reproduzir um diálogo, o texto incorpora marcas  de oralidade, tanto de ordem léxica, caso da palavra
“garra”, quanto de ordem gramatical, como, por  exemplo,
a) “lanço à queima-roupa”.
b) “Agora você me pegou”.
c) “deixa eu ver”. 
d) “Bogotá é muito feiosa”.
e) “é algo que me toca”.