quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Material de Fradique - UFBA 2012


Primeiras Palavras:
Muitos alunos andam preocupados com o famigerado Fradique Mendes. Não dei aula dessa obra para vocês, mas vou escrever refletir sobre algumas questões para acalmar o coração de vocês. Mas antes de falar sobre ele vamos analisar a questão de 2011?
Leia o texto:
As ciências naturais eram-lhe queridas e familiares; e uma insaciável e religiosa curiosidade do Universo, impelira-o a estudar tudo o que  divinamente o compõe, desde os insectos até aos astros. Estudos carinhosamente feitos com  coração — porque Fradique sentia pela Natureza, sobretudo pelo animal e pela planta, uma ternura e uma veneração genuinamente budistas. “Amo a Natureza (escrevia-me ele em 1882) por si mesma, toda e individualmente, na graça e na fealdade de cada uma das formas inumeráveis que a enchem; e amo-a ainda como manifestação tangível e múltipla da suprema Unidade, da Realidade intangível, a que cada Religião e cada Filosofia deram um nome diverso e a que eu presto culto sob o nome de VIDA. Em resumo adoro a Vida — de que são igualmente expressões uma rosa e uma chaga,  uma constelação e (com horror confesso) o conselheiro Acácio. Adoro a Vida e portanto tudo adoro — porque tudo é viver, mesmo morrer. Um cadáver rígido no seu esquife vive tanto como uma águia batendo furiosamente o voo. [...].”
QUEIROZ, Eça de. Correspondência de Fradique Mendes. In: Obras de Eça de Queiroz. Porto: Lello & Irmão Editores, 1966. v. II, p. 1018.
Sobre esse fragmento e a obra de Eça de Queiroz, é correto afirmar:
(01) O fragmento apresenta um discurso em que narrador ficcional e personagem biografada se manifestam.
(02) A importância que Fradique atribui às ciências naturais expressa uma das tendências recorrentes no século XIX.
(04) O narrador, para caracterizar Fradique, apresenta várias situações ilustrativas do modo de pensar e agir da personagem.
(08) O enunciador, ao fornecer detalhes, acontecimentos e preferências da personagem, utiliza um procedimento narrativo-descritivo característico da estética dominante na época.
(16) Os termos “religiosa” (l. 2) e “divinamente” (l. 2) evidenciam o discurso religioso característico da sociedade portuguesa.
(32) A  substituição do elemento linguístico “do”, em “curiosidade do Universo” (l. 2), por “pelo” resulta em um outro significado para a frase.
(64) O fragmento “toda e individualmente” (l. 6) demonstra que Fradique tem uma compreensão dicotômica, subdividida do universo.
Comentário – As falsas são as três últimas 16 – 32 – 64. As que estariam diretamente ligadas ao texto. O que prova que o texto da prova somente não responde a questões. Foi cobrada aqui características do período em que se Insere o Autor Português – Realismo/ naturalismo  (02 e 08) associadas ao contexto histórico. Vozes do texto. Elemento sempre cobrado na prova da Federal.

Voltemos ao livro:
Não foi uma questão difícil e nem havia exigência, nem nessa nem nas outras questões cobradas, que vocês lessem  dominassem toda a linguagem os referencialidades da obra  - são muitas. Quem elabora ou propõe as obras tem consciência que vocês não são estudantes de  letras, mas leitores com algum conhecimento do contexto histórico literário.
O que dá para ser feito ainda. Vamos lá:
1. É importante saber um pouco sobre o autor da Obra - Eça de Queiroz. Autor de O crime do Padre Amaro ( o filme cai na segunda fase) e de O primo Basílio....
2. Depois de saber que ele é um escritor português e junto com amigos decidiram criar um representante do homem ideal do século XIX para combater aquele exacerbado populismo intelectual que o movimento romântico criou. Ele e alguns amigos criaram a personagem ficcional Fradique Mendes. Ele nunca existiu, mas  dialoga e interage ao longo da história com personagens reais.
3. É importante saber quem é o narrador. E quem é Fradique. Duas vozes diferentes no livro.
O narrador  descobre-se fã de Fradique depois de ler alguns dos seus poemas e é a voz do livro. Conhecemos Fradique por seu olhar. Lembre-se que essa tal amizade ressaltada por ele é sua versão da história. Ouviremos Fradique em discursos diretos ao longo da história e é dele a voz na segunda parte do livro porque as cartas são publicadas como sendo de  sua autoria.
4. Em oito capítulos conheceremos a relação do narrador com Fradique talvez posto dessa maneira para justificar o  fato dele ser o organizador da publicação das cartas, pós morte do autor. Ele resolve publicar porque Fradique admira outras obras de autores que tiveram suas cartas publicadas. Veja o trecho:
“ Eis aí uma maneira de perpetuar as ideias de um homem que eu afoitamente aprovo. Publicar-lhe a correspondência.”
A publicação das cartas chega a aparecer na obra  como uma questão de patriotismo.
5. A morte de Fradique – Tal como Machado de Assis em suas obras, não tem uma morte gloriosa. Morreu de um resfriado por não usar um casaco de outro homem após  uma festa. Lembre-se que também é uma forma de fugir das mortes idealizadas do romantismo.
6. Quais são os conteúdos das  cartas ou quais são as ideologias de Fradique
a) o eu pensa Fradique ?
Acha  que  o homem do século XIX estava vivendo uma onda de banalidade por causa da proliferação  de livros e acessibilidade; que as escolas estavam também proliferando a banalidade ( não acha que o saber deve ser para todos) ; não se envolve com politica, acha que Portugal está em decadência; acha que há dois tipos d e mulheres e  que a mulher da casa deve te um tratamento diferente da mulher da rua, essa segunda pode ser passada para amigos, descartada, segundo o código e  a moral da época.

b) os conteúdos da  carta
Conselho primeiro. Leia algumas cartas: http://purl.pt/222/1/ Para voc~es terem acesso a linguagem de Fradique.
Ele envia cartas a homens importantes da época e nelas tece um perfil dos valores da época, a clara – cartas genuinamente amorosas e com demonstração de ser Fradique o próprio Eça de Queiroz  e a mulheres outras da época.

Relaxe e confie. Vai dar tudo certo. Não complique apenas vá para prova com suas habilidades e sua fé.