Primeiras Palavras:
Muitos alunos andam preocupados com o famigerado Fradique
Mendes. Não dei aula dessa obra para vocês, mas vou escrever refletir sobre
algumas questões para acalmar o coração de vocês. Mas antes de falar sobre ele
vamos analisar a questão de 2011?
Leia o texto:
As ciências naturais eram-lhe queridas e familiares; e uma
insaciável e religiosa curiosidade do Universo, impelira-o a estudar tudo o
que divinamente o compõe, desde os
insectos até aos astros. Estudos carinhosamente feitos com coração — porque Fradique sentia pela Natureza,
sobretudo pelo animal e pela planta, uma ternura e uma veneração genuinamente
budistas. “Amo a Natureza (escrevia-me ele em 1882) por si mesma, toda e
individualmente, na graça e na fealdade de cada uma das formas inumeráveis que
a enchem; e amo-a ainda como manifestação tangível e múltipla da suprema Unidade,
da Realidade intangível, a que cada Religião e cada Filosofia deram um nome diverso
e a que eu presto culto sob o nome de VIDA. Em resumo adoro a Vida — de que são
igualmente expressões uma rosa e uma chaga,
uma constelação e (com horror confesso) o conselheiro Acácio. Adoro a
Vida e portanto tudo adoro — porque tudo é viver, mesmo morrer. Um cadáver
rígido no seu esquife vive tanto como uma águia batendo furiosamente o voo.
[...].”
QUEIROZ, Eça de.
Correspondência de Fradique Mendes. In: Obras de Eça de Queiroz. Porto: Lello
& Irmão Editores, 1966. v. II, p. 1018.
Sobre esse fragmento e a obra de Eça de Queiroz, é correto
afirmar:
(01) O fragmento apresenta um discurso em que narrador ficcional
e personagem biografada se manifestam.
(02) A importância que Fradique atribui às ciências naturais
expressa uma das tendências recorrentes no século XIX.
(04) O narrador, para caracterizar Fradique, apresenta
várias situações ilustrativas do modo de pensar e agir da personagem.
(08) O enunciador, ao fornecer detalhes, acontecimentos e
preferências da personagem, utiliza um procedimento narrativo-descritivo
característico da estética dominante na época.
(16) Os termos “religiosa” (l. 2) e “divinamente” (l. 2) evidenciam
o discurso religioso característico da sociedade portuguesa.
(32) A substituição
do elemento linguístico “do”, em “curiosidade do Universo” (l. 2), por “pelo”
resulta em um outro significado para a frase.
(64) O fragmento “toda e individualmente” (l. 6) demonstra
que Fradique tem uma compreensão dicotômica, subdividida do universo.
Comentário – As falsas são as três últimas 16 – 32 – 64. As
que estariam diretamente ligadas ao texto. O que prova que o texto da prova
somente não responde a questões. Foi cobrada aqui características do período em
que se Insere o Autor Português – Realismo/ naturalismo (02 e 08) associadas ao contexto histórico.
Vozes do texto. Elemento sempre cobrado na prova da Federal.
Voltemos ao livro:
Não foi uma questão difícil e nem
havia exigência, nem nessa nem nas outras questões cobradas, que vocês lessem dominassem toda a linguagem os
referencialidades da obra - são muitas. Quem
elabora ou propõe as obras tem consciência que vocês não são estudantes de letras, mas leitores com algum conhecimento
do contexto histórico literário.
O que dá para ser feito ainda. Vamos lá:
1. É importante saber um pouco
sobre o autor da Obra - Eça de Queiroz. Autor de O crime do Padre Amaro ( o
filme cai na segunda fase) e de O primo Basílio....
2. Depois de saber que ele é um
escritor português e junto com amigos decidiram criar um representante do homem
ideal do século XIX para combater aquele exacerbado populismo intelectual que o
movimento romântico criou. Ele e alguns amigos criaram a personagem ficcional Fradique
Mendes. Ele nunca existiu, mas dialoga e
interage ao longo da história com personagens reais.
3. É importante saber quem é o
narrador. E quem é Fradique. Duas vozes diferentes no livro.
O narrador descobre-se fã de Fradique depois de ler
alguns dos seus poemas e é a voz do livro. Conhecemos Fradique por seu olhar.
Lembre-se que essa tal amizade ressaltada por ele é sua versão da história.
Ouviremos Fradique em discursos diretos ao longo da história e é dele a voz na
segunda parte do livro porque as cartas são publicadas como sendo de sua autoria.
4. Em oito capítulos conheceremos a relação do narrador com Fradique
talvez posto dessa maneira para justificar o fato dele ser o organizador da publicação das
cartas, pós morte do autor. Ele resolve publicar porque Fradique admira outras
obras de autores que tiveram suas cartas publicadas. Veja o trecho:
“ Eis aí uma maneira de perpetuar as ideias de um homem que
eu afoitamente aprovo. Publicar-lhe a correspondência.”
A publicação das cartas chega a aparecer na obra como uma questão de patriotismo.
5. A morte de Fradique – Tal como Machado de Assis em suas
obras, não tem uma morte gloriosa. Morreu de um resfriado por não usar um
casaco de outro homem após uma festa. Lembre-se
que também é uma forma de fugir das mortes idealizadas do romantismo.
6. Quais são os conteúdos das cartas ou quais são as ideologias de Fradique
a) o eu pensa Fradique ?
Acha que o homem do século XIX estava vivendo uma onda
de banalidade por causa da proliferação de livros e acessibilidade; que as escolas
estavam também proliferando a banalidade ( não acha que o saber deve ser para todos)
; não se envolve com politica, acha que Portugal está em decadência; acha que
há dois tipos d e mulheres e que a
mulher da casa deve te um tratamento diferente da mulher da rua, essa segunda
pode ser passada para amigos, descartada, segundo o código e a moral da época.
b) os conteúdos da
carta
Conselho primeiro. Leia algumas cartas: http://purl.pt/222/1/ Para voc~es terem acesso
a linguagem de Fradique.
Ele envia cartas a homens importantes da época e nelas tece
um perfil dos valores da época, a clara – cartas genuinamente amorosas e com
demonstração de ser Fradique o próprio Eça de Queiroz e a mulheres outras da época.
Relaxe e confie. Vai dar tudo certo. Não complique apenas vá
para prova com suas habilidades e sua fé.