O romance apresenta
no próprio título uma contradição gritante, afinal, como comprovamos no Dicionário
o verbo amar é transitivo direto e não intransitivo. Se isto já não
bastasse, ainda recebe uma irreverente classificação: idílio. A perplexidade
é inevitável, uma vez que idílio implica numa forma singela de amor em que não
pairam dúvidas quanto à reciprocidade entre dois sujeitos.
Primeiras
palavras:
A obra que vamos conhecer aqui é um
livro construído por um dos idealizadores do Modernismo Brasileiro. Sua leitura
é a oportunidade de conhecer um pouco dos experimentalismos lingüísticos dos escritores
da Modernidade, comprometidos com a construção de uma língua genuinamente nacional.
Você também notará um livro sem divisão formal de capítulos e que tem como ideal
primeiro revelar um pouco a sociedade burguesa brasileira do início do século XX.
Observe que esse desejo novamente reflete um projeto que já tinha sido iniciado
no século XIX quando Alencar, em seus romances urbanos, propunha-se a contar
como a sociedade burguesa era. A diferença é que Alencar inventa uma forma
comportamental ao passo que Mário, inclusive afirma no próprio livro, produz
personagens que não são inventadas e sim retiradas da sociedade onde ele está.
Portanto, ao ler esse livro, você conhecerá um pouco do comportamento e valores
da nossa sociedade burguesa.
Vale lembrar que essa obra é o primeiro romance escrito por Mário, que
sua temática se relaciona com a Novela Senhorita
Simpson. Por sinal na obra de Sérgio Santana há um conto em que Mário de
Andrade figura com personagem (O homem
sozinho numa estação ferroviária). O retrato e denuncia comportamental da
Burguesia também é um traço da literatura machadiana que figura nesse
vestibular com a obra Papéis Avulsos.
Espero que os recortes de texto, as questões e as reflexões propostas
aqui sirvam para que você alcance o sonho de ser aluno da UESC em 2012.
Um abraço cordial
Mara Rute Lima
Sobre o autor:
Mais do que participante da Semana Mário de Andrade atuou como um
dos criadores da discussão sobre o nacionalismo brasileiro. Foi nesse assunto,
um dos maiores estudiosos de seu tempo, prova disso é que nos deixou a
obra-prima Macunaíma.
Apesar de ser Modernista criticava seu grupo por não ter gerado em sua
arte, preocupações sociais. Mas, mesmo não tendo feito isso contribuiu muito na
construção ou consolidação da língua nacional.
Teve uma vida pessoal pacata tendo se dedicado exclusivamente à música,
pintura, cultura e literatura. Vale ressaltar que conhecer um pouco mais sobre
esse autor é conhecer, por extensão, a Semana de Arte Moderna e o Modernismo 1º
Geração e que tais assuntos podem ser cobrados em forma de questões de
periodização literária. Parte significativa da prova da UESC.
Possível
questão sobre a construção da obra:
“Os textos em prosa escritos por Mário de
Andrade representam um questionamento das estruturas típicas do romance do
século XIX. Em obras como Amar, verbo
intransitivo, o escritor deixa claro seu desejo de experimentar diferentes
organizações para o texto em prosa, ora eliminando a marcação de capítulos, ora
criando um narrador que, mesmo em terceira pessoa atua como uma personagem do
livro. Nesse sentido Mário se intromete na história, usando a primeira pessoa,
para fazer comentários, expor idéias, mostrar conhecimentos e leituras como de
Freud, por exemplo. Tal ação, comum a Machado de Assis, corta o enredo da
história e exige paciência do leitor que busca no livro somente a trama. Também
faz uso de frase curtinha, picada, gaguejante, cheia de elipses mentais que exigem
do leitor redobrada atenção para o seu entendimento.
E se você
tivesse que comentar sobre o enredo e sua relação com a denúncia da burguesia?
A resposta seria essa:
O romance apresenta vários quadros da vida de uma família de
novos-ricos que vivia na cidade de São Paulo na década de 1920. Felisberto
Sousa Costa, o patriarca da família, contrata Fräulein Elza, professora alemã,
como governanta da casa. Mas, na verdade, ela é uma "professora de amor”,
eufemismo que se refere à função de iniciar sexualmente os filhos de burgueses
ricos.
O quadro familiar criado no romance representa uma implacável crítica
aos burgueses endinheirados e sem cultura, incapazes de lidar com verdadeiros
sentimentos, desempenhando cada um o papel que a sociedade capitalista
estabeleceu. Várias passagens mostram tais características. É o caso do trecho
em que a religiosidade da família Sousa Costa é apresentada como o cumprimento
de uma praxe social, nada além disso.
Quando Carlos nasceu batizaram-no, pois não. As meninas iam nas missas de domingo, se era manhã de sol, o passeio até fazia bem ... Com nove anos mais ou menos recebiam a primeira comunhão. Dona Laura mandava lhes ensinar o catecismo por uma parenta pobre, muito religiosa, coitada! catequista em Santa Cecília. Dona Laura usava uma cruz de brilhantes que o marido dera pra ela no primeiro aniversário de casamento. Era uma família católica. [ ... ]
ANDRADE, Mário
de. Amar, verbo intransitivo. 18. ed. Belo Horizonte: Vila Rica, 1992. p. 55. (Fragmento).
O narrador contrasta, habilmente, a fé verdadeira da parenta pobre e
a religiosidade marcada pela ostentação da riqueza de Dona Laura. O olhar
irônico e crítico para a elite paulistana, que já aparecia em vários dos poemas
de Mário de Andrade, explode com força total nas páginas de Amar, verbo
intransitivo, em que a família Sousa Costa é ora criticada, ora
ridicularizada pelo impiedoso narrador.
Se você tivesse que
comentar sobre a cena mais cobrada nos vestibulares...
No final da obra Mário de Andrade faz uso da técnica cinematográfica
que já era comum aos poemas modernistas da primeira geração, ao nos mostrar várias
cenas, em ângulos completamente diferentes. Num, focaliza a Fräulein viajando,
a despedida, seus pensamentos, seus planos, monólogo interior. Depois mostra
Carlos. Em casa, solitário, triste, desinteressado, ainda enrabichado... depois
se prolonga um pouco mais para a cena final em que Fräulein já tem um novo aluno: Luís. Estão num corso de carnaval. Uma
serpentina que ela atira bate em Carlos. Carlos olha e continua brincando com a
holandesa. Carlos continua um machucador. O mundo é tal como é. A gente deve
aceitar sem revolta. Carlos casará rico. Perfeitamente. Ela era mãe de amor.
Estava até bonita.
Vale ressaltar também que Mário, nessa
obra, não foge de seu interesse em retratar as coisas do Brasil já que o livro
revela problemas brasileiros, tem uma linguagem brasileira e personagens que
são retratos de nossa sociedade.
Adaptado do livro Literatura Brasileira – Tempo, Leitores e Leituras –
Editora Moderna
Leia a cena final da obra:
“ (...) Alguém lhe chamou os olhos, conhecido,
Carlos? era Carlos com as irmãs na Fiat.
Instintivamente ela atirou uma serpentina. A fita rebentou.
- Ah!
Deu um gritinho horrorizada, acertara na testa
dele, podia tê-lo ferido ... Carlos olhou. Mandou-lhe um gesto rápido de cabeça,
quase saudação. E continuou brincando com a holandesa. Fräulein se doeu, tomou com
o baque seco nas entranhas (...) Carlos não fez por mal! foi mostrar que reconhecia
e machucou. Frãulein, virando o rosto pra trás, seguiu-o com os olhos, quase
amorosa mas já porém reposta no domínio si mesma. Estava muito direito assim! E
se venceu completamente com o raciocínio, numa espécie de felicidade. Estava
muito certo assim. Ele amaria muito aquela moça. Era bonita. Rica, se via.
Carlos casaria bem, na mesma classe. (...) O mundo é tal como é. A gente deve
aceitar sem revolta. Carlos casará rico. Perfeitamente.
E uma comoção materna se desencadeou no corpo
dela, nem via mais Carlos, os olhos batendo de auto em auto pela gente
colorida, Carlos ... José ... Alfredo já casado ... Antoninho também já casado
(...) tantos!... tomou-a maravilhosa alucinação. Estavam todos por ali amando.
Felizes. Habilíssimos. Familiares.
Ela era mãe de amor! Estava até bonita. Mãe de amor Mãe ...
Aspectos sociais
1) O problema central do romance é a educação sexual de um rapaz de
família burguesa, em São Paulo. As meninas ficam relegadas a um segundo plano.
2) Há uma referência ao racismo alemão: “quedê raça mais forte?
Nenhuma... O nobre destino do homem é se conservar sadio e procurar esposa
prodigiosamente sadia. De raça superior, como ela, Fräulein. Os negros são de
raça inferior. Os índios também. Os portugueses também.” São as idéias de Fräulein,
principalmente depois que leu um trabalho de Reimer, onde se afirmava a
inferioridade da raça latina.
3) A família burguesa é patriarcalista: o centro de tudo é o homem, o pai
e o filho, Carlos. Todos têm que obedecer ao pater-familias. A começar
de D. Laura que se submete, se adapta, aceita as idéias do marido, se conforma
com a presença da Fräulein como professora de sexo do filho. E a família vai
continuar patriarcalista porque já estão centralizando todas as atenções no
filho varão...
4) Nessa família existe também uma religião, certamente velha tradição
dos ancestrais. Uma religião de domingo e de tempos de doença...
A
questão da professora de amor Fräulein:
A professora de
amor é Elza (designada simplesmente por Fräulein, a partir do momento em
que adentra no domínio Souza Costa): alemã, trinta e cinco anos, retirante da
sua pátria em ruínas, por ocasião da Grande Guerra. Na prática quotidiana,
aparentemente, exercerá as funções de governanta e professora de alemão e piano
(uma espécie de preceptora), para Carlos e suas três irmãs: Maria Luísa,
Laurinha e Aldinha.
Fräulein, no
entanto, arrastará vigorosos conflitos por toda a narrativa, que, aliás,
serão acentuados no aprofundamento do seu relacionamento com o jovem
brasileiro. Tais conflitos estão relacionados à ambigüidade própria do povo
alemão que, a todo momento, será lembrada pelo narrador intruso: “No filho da
Alemanha tem dois seres: o alemão propriamente dito, homem-do-sonho; e o homem-da-vida, espécie prática do
homem-do-mundo que Sócrates se dizia”. (ANDRADE, 1995:.59.)
Além da finalidade higienizadora e profilática, a
atividade de iniciadora sexual era evitar que a renda familiar fosse desviada
para mãos ilícitas. Esta proteção era estendida apenas aos meninos
porque as meninas, estas eram explicitamente reprimidas numa época
absolutamente machista.
A descoberta de Dona
Laura sobre o acordo estabelecido entre Fräulein e o Senhor Souza Costa,
referente à iniciação amorosa/sexual de Carlos, provocou explicações
desconcertantes, exibindo a hipocrisia social vigente na metrópole paulista:
Laura, Fräulein tem
o meu consentimento. Você sabe: hoje esses mocinhos... é tão perigoso! Podem
cair nas mãos de alguma exploradora! A cidade... é uma invasão de aventureiras
agora! Como nunca teve!. COMO NUNCA TEVE, Laura... Depois isso de principiar...
é tão perigoso! Você compreende: uma pessoa especial evita muitas coisas. E
viciadas! Não é só bebida não! Hoje não tem mulher-da-vida que não seja eterônoma, usam
morfina... E os moços imitam! Depois as doenças!… Você vive em sua casa, não
sabe… é um horror! Em pouco tempo Carlos estava sifilítico e outras coisas
horríveis, um perdido! (ANDRADE, 1995: 77).
Vale ressaltar ainda que toda a sociedade de
novos-ricos paulista - apresentaram uma necessidade, reconheceram a qualidade
do serviço de Fräulein em função da concorrência (as aventureiras e as
prostitutas) e ratificaram a utilidade da professora de amor. (...)
A justificativa sociológica para a existência da prostituição, conforme o
confessam famílias menos preocupadas com a hipocrisia, sustenta-se numa dupla
necessidade: preservar a castidade das meninas, que deveriam chegar virgens até
o casamento e, ao mesmo tempo, atender à virilidade dos rapazes a quem não
ficaria bem tal virgindade ao adentrar à sagrada instituição. Para
estes, era desaconselhável que contivessem seus impulsos sexuais; para aquelas,
era fácil de controlar uma vez que seus desejos eram menos intensos, como se
pensava. Portanto, “as prostitutas, neste caso, eram as guardiãs da moral
sexual”. Esta situação se sustentou até a reviravolta dos anos 50/60. A prática
de Souza Costa casa-se perfeitamente dentro deste contexto.
E mais, Souza Costa, o chefe da família não
pensou apenas na educação intelectual dos filhos. Pras meninas bastava o
ensinar-lhes artes e línguas alemã. Mas pro menino, pro Carlos, Souza Costa
exigira uma outra lição bem mais grave - a iniciação no amor. E ele bem sabia
que numa certa idade os apetites carnais nos meninos dão para pedir saciamento.
… então a Fräulein entraria com o jogo para por silêncio nos desejos do
menino.
Portanto, Fräulein
agrega um valor inestimável aos seus serviços à medida que se
insere como uma confortável, discreta e sadia opção (aliás, profilaxia) para as
respeitáveis famílias de novos-ricos paulistana.
Atente-se para o
fato de que, a professora de amor não é uma prostituta, mas torna-se mercadoria
e tem o seu preço: “Fräulein preparava ele. Depois isso não tem conseqüência...
Quem me indicou, Fräulein foi o Mesquita, ... Se utilizaram dela, creio que pro
filho mais velho.” (...) “Professora de
amor... porém não nascera pra isso, sabia. As circunstâncias é que tinham feito
dela a professora de amor, se adaptara. Nem discutia se era feliz, não percebia
a própria infelicidade. Era verbo ser”
Trechos Comentados:
A moça, depois das cortesias trocadas com a
senhora Sousa Costa e um naco de conversa indiferente, subira apenas pra tirar
o chapéu. Logo o criado viria chamá-la pro almoço... (...) agora tinha de se
arranjar. Alisou os cabelos, deu à gola da blusa, as pregas do casaco uma
rijeza militar. Nenhuma faceirice por enquanto. No
principio tinha de ser simples. Simples e insexual. O amor nasce das
excelências interiores.
Espirituais, pensava. O desejo depois.
Quando pronta, esperou imaginando, encostada
no lavatório. Ganhava mais oito contos... Se o estado da Alemanha melhorasse, mais um
ou dois serviços e podia partir. E a casinha sossegada... Rendimento certo,
casava... O
vulto ideal, esculpido com o pensamento de anos, atravessou devagarinho a
memória dela. Comprido magro... Apenas curvado pelo prolongamento dos
estudos... Científicos. Muito alvo, quase transparente... E a mancha irregular
do sangue nas macas... Óculos sem aro...
Se impacientou. Quis pensar pratico, e o almoço?
Por que o criado não chegava? A senhora Sousa Costa avisara que o almoço era já.
Devia de ser já. No entanto esperava fazia bem uns quinze minutos, que
irregularidade. Olhou o relógio-pulseira. Marcava aluado como sempre, ponhamos
seis horas. Ou dezoito, a escolha. Havia de acertá-lo outra vez quando chegasse
embaixo no hol. Dez vezes, cem vezes. Inútil mandá-lo mais ao relojoeiro, mal sem
cura. Em todo o caso sempre era relógio. Porém não teriam hora certa de almoçar
naquela casa? Olhou pro céu. Ficou assim.
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Elza desembocara na sala. Carlos, vendo a
desconhecida, largou Maria Luisa e encabulou.
Pra disfarçar carregou a irmãzinha menor. Machucou. Flautim:
– Mamãe! Mamãe!
Se rindo do chuvisco dos tapinhas,
carregando a irmã no braço esquerdo, Carlos ofereceu a mão livre a moça.
Voz paulista, certa de chegar no fim da frase. Olhos francos investigando.
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Elza consolava a pecurrucha, com meiguice
emprestada. Não sabia ter meiguice.
Mais questão de temperamento que de raça, não me venham dizer que os alemães
são ríspidos. Tolice! conheci.
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Elza porem desde o primeiro instante se
apresentara tão conhecida, tão trilhada e de ontem! O desembaraço era
premeditado não tem dúvida, mas lhe saia natural e discreto. Isto se
descontaria dentre as facilidades das raças superiores... Porem tal razão e
assuntar apenas a epiderme da experiência. Antes, estou disposto a reconhecer
nela essa faculdade prática de adaptação dos alemães em terra
estranha.
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Nas noites espaçadas em que Sousa Costa se
aproximava da mulher, ele tomava sempre o cuidado de não mostrar jeitos e
sabenças adquiridos lá embaixo no vale. No vale
do Anhangabau? É. Dona Laura comprazia com prazer o marido. Com prazer?
Cansada. Entre ambos se firmara tacitamente e bem cedo uma convenção honesta:
nunca jamais ele trouxera do vale um fio louro no paleto nem aromas que já não
fossem pessoais. Ou então aromas cívicos. Dona Laura por sua vez fingia ignorar
as navegações do Pedro Álvares Cabral.
Convenção honesta se quiserem... Não seria talvez a precisão interior de sossego?...
Parece que sim. Afirmo que não. Ah! ninguém o saberá jamais!...
E quem diria que Sousa Costa não era bom
marido? era sim. Fora tão nu de preconceitos até casar sem por reparo nas ondas
suspeitas dos cabelos da noiva. E bem me lembro que ficaram noivos em tempo de
calorão... Dona Laura retribuía a confiança do marido, esquecendo por sua vez
que bigodes abastosos e brilhantinados são suspeitos também. Sentia agora eles
trepadeirando pelo braço gelatinoso dela e, meia dormindo, se ajeitando:
–
Vendeu o touro?
–
Resolvi não vender. E muito bom reprodutor.
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Não vejo razão pra me chamarem vaidoso se
imagino que o meu livro tem neste momento cinqüenta leitores. Comigo 51.
Ninguém duvide: esse um que lê com mais compreensão e entusiasmo um escrito e
autor dele. Quem cria, vê sempre uma Lindóia na criatura, embora as índias
sejam pançudas e remelentas.
Volto a afirmar que o meu livro tem 50
leitores. Comigo 51. Não é muito não. Cinqüenta exemplares distribui com
dedicatórias gentilíssimas. Ora dentre cinqüenta presenteados, não tem exagero algum
supor que ao menos 5 hão de ler o livro. Cinco leitores. Tenho, salvo omissão,
45 inimigos. Esses lerão meu livro, juro. E a
lotação do bonde se completa. Pois toquemos pra avenida Higienópolis!
Se este livro conta 51 leitores sucede que
neste lugar da leitura já existem 51 Elzas. E bem desagradável, mas logo depois
da primeira cena, cada um tinha a Fräulein dele na imaginação. Contra isso não posso
nada e teria sido indiscreto se antes de qualquer familiaridade com a moça, a
minuciasse em todos os seus pormenores físicos, não faço isso. Outro mal
apareceu: cada um criou Fräulein segundo a própria fantasia, e temos atualmente
51 heroínas pra um só idílio.
51, com a minha, que também vale. Vale,
porém não tenho a mínima intenção de exigir dos leitores o abandono de suas
Elzas e impor a minha como única de existência real. O
leitor continuara com a dele. Apenas por curiosidade, vamos cotejá-las agora.
Pra isso mostro a minha nos 35 atuais janeiros dela.
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Descrição
de Fräulein
Não é clássico nem perfeito o corpo da
minha Fräulein. Pouco maior que a média dos corpos de mulher. E cheio nas suas
partes. Isso o torna pesado e bastante sensual. Longe porém daquele peso divino
dos nus renascentes italianos ou daquela sensualidade das figuras de Scopas e
Leucipo. (...) Nenhuma espiritualidade.
Indiferente burguesice. (...) Isso do corpo de Fräulein não ser perfeito, em
nada enfraquece a história. Lhe dá mesmo certa honestidade espiritual e não
provoca sonhos. E alias se renascente e perfeito, o idílio seria o mesmo. Fräulein
não e bonita, não. Porem traços muito regulares, coloridos de cor real. E agora
que se veste, a gente pode olhar com mais franqueza isso que fica de fora e ao
mundo pertence, agrada, não agrada? Não se pinta, quase nem usa pó-de-arroz. A
pele estica, discretamente polida com os arrancos da carne sã. O embate e
cruento. Resiste a pele, o sangue se alastra pelo interior e Fräulein toda se
roseia agradavelmente.
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Preste
bastante atenção nessa reflexão que o autor faz!
No filho da Alemanha tem dois seres: o
alemão propriamente dito, homem-do-sonho; e o homem-da-vida, espécie pratica do
homem-do-mundo que Socrates se dizia.
O alemão propriamente dito e o cujo que
sonha, trapalhão, obscuro, nostalgicamente filosofo, religioso, idealista
incorrigível, muito serio, agarrado com a pátria, com a família, sincero e 120
quilos. Vestindo o tal, aparece outro sujeito, homem-da-vida, fortemente
visível, esperto, hábil e europeiamente bonitão. Em principio se pode dizer que
é matéria sem forma, dútil H2O se amoldando a todas as quartinhas. Não
tem nenhuma hipocrisia nisso, nem máscara. Se adapta o homem-da-vida, faz muito
bem. Eu se pudesse fazia o mesmo, e você, leitor. Porém o homem-do-sonho
permanece intacto. Nas horas silenciosas da contemplação, se escuta o suspiro
dele, gemido espiritual um pouco doce por demais, que escapa dentre as molas flexíveis
do homem-da- vida, que nem o queixume dum deus paciente
encarcerado.
O homem-da-vida e que a gente vê. Ele criou
no negócio dele artigo tão bom como o do inglês. Cobra caro. Mas não vê que um
comprador saiu com as mãos abanando por causa do preço. Adapta-se o
homem-da-vida. No dia seguinte o freguês encontra artigo quase igual ao outro,
com o mesmo aspecto faceiro e de preço alcançável. Sai com os bolsos vazios e
as maos cheias. O anglo da fabrica vizinha, ali mesmo, só atravessar um estirão
de água zangada, não vendeu o artigo dele. Não vendeu nem vendera. E continuara
sempre fazendo-o muito bom.
Eu admirava mais o inglês se só este
conseguisse manipular a mercadoria excelente, porem o alemão homem-da-vida
também melhora as coisas até a excelência. Apenas carece que alguém vá na
frente primeiro. Isso o próprio Walter de Rathenau observou, grande homem!...
Homem-do-sonho. Os outros que inventem. O alemão pega na descoberta da gente e
a desenvolve e melhora. E piora também, estabelecendo uma tabela de preços a
que podem abordar bolsas de todos os calados. Dai, aos poucos, todo o mundo ir
preferindo o comerciante alemão.
Os países de exportação industrial viam o fenômeno,
de cara feia. O homem-da-vida observava a raiva da vizinhança... E se lá nas
trevas interiores, onde se reúnem as assombrações familiares, o homem-do-sonho também
cantava o seu “Home, sweet home”
que a
nenhuma raça pertence e é desejo universal, o homem-da-vida se adaptava ainda. Construía
canhões pelas mãos brandas duma viúva. Armazenava gases asfixiantes, afiava
lamparinas pra cortar futuramente os imaginários bracinhos (...)
Aceitemos mesmo que engordasse a idéia
multissecular, universal e secreta, da posse do mundo... Não culpe-se por ela o
homem- do- sonho. O da-vida e que se observando vitorioso no mundo concluía que
era muito justo lhe caber a posse do tal. Quem que errou forte e incorrigivelmente?
Só Bismarck. Alguém chamou esse homem de “ultimo
Nibelungo”... Nibelungo, não tem dúvida. Conseguiu
Alsácia, ouro do Reno, pela renuncia do amor.
Enquanto isso todos os países da terra, abraçados,
se amavam numa promiscua rede comum, não é? Estávamos no primeiro decênio deste
século que deu no vinte. Todos os abraçados perdiam terreno. O homem-da-vida
ganhava-o. Por adaptação? E. Será? (...)
Culpa de um, culpa de outro, tornaram a
vida insuportável na Alemanha. Mesmo antes de 14 a existência arrastava difícil
lá, Fraulein se adaptou. Veio pro Brasil, Rio de Janeiro. Depois Curitiba onde não
teve o que fazer. Rio de Janeiro. São Paulo. Agora tinha que viver com os Sousa
Costas. Se adaptou.
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Vejam por exemplo a Alemanha, quede raça
mais forte? Nenhuma. E
justamente porque mais forte e indestrutível neles o conceito da família. Os filhos
nascem robustos. As mulheres são grandes e claras. São fecundas. O nobre
destino do homem e se conservar sadio e procurar esposa prodigiosamente sadia.
De raça superior, como ela, Fräulein. Os negros são de raça inferior. Os índios
também. Os portugueses também.
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A aritmética
nunca foi propícia aos brasileiros. Nós não somamos coisa nenhuma. Das
quatro operações, unicamente uma nos atrai, a multiplicação, justo a que mais
raro freqüenta os sucessos deste mundo vagarento.
..............................................................................
Um dia, era uma quarta-feira, Fräulein
apareceu diante de mim e se contou. O que disse aqui está com poucas vírgulas,
vernaculização acomodatícia e ortografia. Os personagens, é possível que uma
disposição particular e momentânea do meu espírito tenha aceitado as somas por
eles apresentadas, essa toda a minha falta. Porém asseguro serem criaturas já
feitas e que se moveram sem mim. São os personagens que escolhem os seus
autores e não estes que constroem as suas heroínas. Virgulam-nas apenas, pra
que os homens possam ter delas conhecimento suficiente. Segunda e mais forte
razão: Afirmarem que Fräulein não concorda consigo mesma... Mas eu só queria
saber neste mundo misturado quem concorda consigo mesmo! Somos misturas
incompletas, assustadoras incoerências, metades, três-quartos e quando muito
nove-décimos. Até afirmo não existir uma só pessoa perfeita, de São Paulo a São
Paulo, a gente fazendo toda a volta deste globo, com expressiva justeza
adjetivadora, chamado de terráqueo.
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E se quiserem coisa ainda mais grata, é
lembrar a fábula discreta contada por Platão no Banquete
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Carlos esses três dias viveu? Eu não sei se
alcançar a felicidade máxima, extasiar-se aí, e sentir que ela, apesar de
superlativa, inda cresce, e reparar que inda pode crescer mais... isso é viver?
A felicidade é tão oposta à vida que, estando nela, a gente esquece que vive.
Depois quando acaba, dure pouco, dure muito, fica apenas aquela impressão do
segundo. Nem isso, impressão de hiato, de defeito de sintaxe logo corrigido,
vertigem em que ninguém dá tento de si. E fica mais essa idéia que retomasse de
novo a vida, que das portas do Paraíso Terrestre em diante é sofrer e
impedimento só. Estou convencido: Carlos não viveu esses três dias.
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— Senhora
está chamando e não dava o recado. O tigre alemão tinha que descer as escadas e
ir saber o que dona Laura queria. Na mesa, muita vezes o nipônico deixava de
servir o tedesco ou esbarrava nele com peso e malvadez. Mas o tigre alemão se
vingava, e o senhor ou a senhora Sousa Costa ali, ordenava ao inimigo tal
serviço, o tigre japonês obedecia servilmente. Era na alma que rosnava
tiririca. E assim os dois tigres se odiavam. Viviam se arranhando em contínua
rivalidade. Cada um se acreditava o dono daquela família, o conquistador da
casa e do jardim, o quem sabe? futuro possuidor do Estado e próximo rei da
terra brasileira toda do Amazonas ao Prata.
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Carlos se levantou tarde. Desapontado? É certo que, descendo pro café,
deu graças a deus de não encontrar Fräulein, bebeu, subiu escorraçado pelos
sustos. Tomou o banho frio quotidiano, e cantava, distendendo os músculos
morenos diante do espelho, nu. Coroava os olhos dele essa quebra de pálpebras,
vocês sabem... como brilham as pupilas! É sono. Mas em volta delas, sombria,
negrejante, a aliança matrimonial. De Saturno.
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O fato de Carlos não lhe ter dado a
inocência, preocupava-a. Sejamos sinceros: aquilo machucou-lhe o orgulho
profissional.
Mais do que esse sentimento inútil, logo
seqüestrado, Fräulein discutia se os oito contos lhe escapavam ou não, certo
que não! Porém lhe faltava descanso agora, pra provar o não, Carlos estava ali.
Só não cruzava as pernas mais, queixo nas mãos, cotovelos nos joelhos. (...) Fräulein,
pelos dias adiante, pensou duas vezes longamente no caso. Seriamente. Foi
honesta. Resolveu ficar bem quieta e aceitar os oitos contos. A missão dela não
consistia em dirigir um ato: ensinava o amor integral, tão desnaturado nos
tempos de agora!... Amor calmo, etc.
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Cena do deslace já esperado entre
Carlos e Fräulein
Carlos entrara no quarto de Fräulein. Mal tivera tempo de. Porém já
machucara a amante, cruzando as pernas sentado. Tátão, tão, tão!
— Abra!
Meu Deus! entra Sousa Costa
— Que está fazendo aqui, diga!
— Nada, papai...
Flébil, flébil, nem se ouvia. Sousa Costa acreditou que era um grande
artista dramático. Voltou-se pra Fräulein. Por lembranças românticas franziu a
testa.
— Ela não tem a culpa!
De pé agora, relampeando em nítida franqueza, heróico.
—O senhor tenha a bondade mas é de ir já pro seu quarto! Já vou lá
também!
Carlos baixou a cabeça, partiu. Francamente: não soube que partia. Não
soube que chegou no quarto. Não soube que se encostou na guarda da cama, senão
caía mesmo, plorúm! desmanchado no chão. Não soube o tempo que passou. Nada.
Enxergou a porta se abrindo. Ergueu a cara pro pai:
— Ela não teve a culpa, papai!
Não relumeava mais, mas sem imploração também. Emperrado apenas na
própria verdade: quando uma mulher erra, só o homem é que tem a culpa. E, sem
nenhuma temeridade, corajoso.
— Você está louco! Você sabe quem é essa mulher! E se ela agora te
obriga a casar! Está muito bonito!
Carlos aterrado, casar! Que explosão de luz essa no cérebro! Luz ruim.
Mas o apego a Fräulein subjuga todos os preconceitos, sociedade e futuro
desaparecem, só Fräulein, o conchego de Fräulein fica. E ainda um pouco de
coragem, cabeçudo. Flébil, flébil:
— Eu caso, papai...
— Bobo! Você não está vendo que é uma aventureira!
— Não é uma...
— Cale-se!
— Papai! mas ela não é uma aventureira! Agora implorava. Que dó fazia na
gente!
— Carlos, você é uma criança, Carlos! e não sabe nada, ouviu! E agora! E
se tiverem um filho, como é! diga!! maluco...
Ah! isso acabou Carlos. Caiu numa cadeira, chorou. Sousa Costa já estava
cansado também. Sentou-se e falou manso. Aliás por pouco tempo, nem reparou que
não ensinava nada. Viu o filho chorando e teve amor, consolou. Felizmente ele
estava ali pra acabar com aquilo. Porém que tivesse cuidado pra outra: não tem
tantas mulheres sem perigo por aí, não o obrigasse mais a gastar dinheiro com
essas coisas. Carlos tira a cara das mãos, quer ver se o dinheiro é verdade.
— Ela não recebeu dinheiro!
— Ah?! então você pensa que ela partia assim, sem nada, não é!...
— Quando!
Que dinheiro, nem baixezas! Fräulein partia! só isso Carlos escutou.
— Quando?
— Quando?! essa é muito boa! o mais depressa possível amanhã cedo.
— Não! papai! não! Eu não faço mais nada!
— Como é! então você!!! Mas Carlos você está maluco duma vez! Parte! e é
pena que não possa partir já, agorinha mesmo!
Perdia terreno. Voltou à idéia do filho, com que vencera de-já-hoje.
Carlos recomeçou a chorar. Era horrível! casar ainda, mas ter um filho... UM
FILHO! Não era impossível! que medo! E como! Depois! Meu Deus! um filho... Um
filho...
— E agora o senhor vai-me deitar e nada de barulhos, ouviu? Eu já falei
que arranjo isso. Mas fique aí bem quieto e durma!
Saiu.
Um filho...
Um filho.
Um filho...
Um... filho?
Meu Deus! UM FILHO.
Se atira na cama.
... um filho...
Horroroso! Não raciocinava, não pensava.
... um FILHO...
Nem assombrações amedrontam assim! E Carlos não acredita em
assombrações. Carlos espaventado, exausto, antes morrer!... Mas a noção da
morte o acalma e retempera. Carlos Principia se defendendo, pois não tem a
menor intenção de morrer. Um filho?! Mas viria mesmo um filho?... Fräulein
teria um fi... Fräulein partia... Vem a figura de Fräulein. Mata o filho. Que
filho nem nada! Fräulein! O desejo de Fräulein. 0 desespero por ela! Não tem
nada, tem Fräulein! o corpo dela, o calor dela... Carlos vai. Pra que precauções?
Vira o trinco. Porta fechada, naturalmente. Empurra-a. Sacode-a com força. Se
lembra de bater e bate.
(....)
— Meu
filho... acorde, meu filho!
— Que é mamãe...
Se ergueu sobressaltado, ainda sem pensamento.
— Meu filho, Fräulein vai embora... Você não quer se despedir dela? mas
seja homem, Carlos!
Carlos de pé. Mal calçou os chinelos, se arranjar pra que! Sujo de sono se
atirou na porta, desceu as escadas, ficaram perdidos no abraço. Chorando ele
mergulhava a cara nas roupas desejadas. Nem lhes gozava o cheiro lavado.
Fräulein, entre lágrimas, sorriu assim:
— Meu filho...
Sousa Costa repuxava os bigodes, bolas! Porém lhe doía a dor do filho.
Dona Laura descia os últimos degraus. Um dos chinelos de Carlos estava ali.
Era preciso partir.
— Adeus, Carlos. Seja... muito feliz, ouviu? adeus...
Beijou-o na testa. Na testa, tal-e-qual fazem as mães. O beijo foi
comprido por demais.
Se desvencilhava. Dona Laura ajudou.
— Filhinho... não faça assim!...
Os braços dele foram ficando vazios. Os braços dele ficaram compridos no
ar. Ficaram compridíssimos. Foram descendo cansadíssimos. Teve uma vaga
lembrança de que nem a beijara. Não, só um verbo naturalista: não aproveitara.
E agora nunca mais. Porta que fecha. Sonolência. Não chorava. Foi andando. Parou
calçando o chinelo. Subia os degraus.
Fräulein sacudida pelos soluços nervosos entrou no automóvel. Partiam
mesmo. Debruçou-se ainda na portinhola:
— Meu Carlos...
Nada. Só Tanaka fechando o portão, se rindo. E uma casa fechada, toda
num amarelo educado, senhorial. VILA LAURA. Quis lutar. Tolice sofrer sem
causa. Derrubou-se pra trás largada, desinfeliz. Sousa Costa olhava de soslaio
pra ela, sem compreender.
No primeiro andar a janela se abriu, que rompante! Carlos engoliu
avenida, buscando ver, querendo ver, vendo, o automóvel que sabia sem saber
estava longe nunca mais, deserto só. Não estendeu os braços. Não gritou. Porém
o olhar turvo escorreu pela avenida até onde! meu Deus...
Os raros transeuntes da aurora viam na janela um mocinho chorachorando, coitado!
decerto perdeu a mãe...
Na estação Sousa Costa foi comprar o bilhete. Fez Fräulein entrar no
vagão.
— Muito obrigada, senhor Sousa Costa. E... acredite, oh! acredite...
desejo a felicidade de Carlos!
— Acredito, Fräulein. Muito obrigado.
Exausta, meia triste ela olhava sem reparar a carreira das campinas.
Estação de São Bernardo? Pensava. Quase sofria. Carlos. Era muito sincero,
corajoso. Ora! E a raiva contra todos os homens quase que fez ela se rir,
prevendo o desastre. Afastou com energia o ódio inútil. Se protegeu contra a
imaginação, pensando no dinheiro. Assegurou-se de que a maleta estava ali,
estava. Oito contos. Mais dois ou três serviços e descansava. Apesar de tudo,
Carlos... que alma bonita, um homem. Tomou-a novo relaxamento de vontades.
Doía. Talvez o amasse? Fräulein murmurou severamente o "não", quase
que os outros escutaram. Sorriu. Uma ternurinha só. Muito natural: era um bom
menino, e não pensemos mais nisso. Estava muito calma.
E o idílio de Fräulein realmente acaba aqui. O idílio dos dois. O livro
está acabado.
FIM
O livro ainda continua...
O
que virá depois será a vida de Carlos seguindo adiante e de Fräulein também, até
aquele reencontro que já apresentamos em que Carlos está com sua possível
esposa e Fräulein com Luis, seu mais novo aluno.
Atenção! Não deixe
de fazer a leitura completa da obra.