A corrida
por ser médico cada dia aproxima-se mais de uma vocação. Poucos tem a força
suficiente para enfrentar concorrências, estudar noites a fio e perseverar,
entre tantas derrotas, até o sonho final. Fico orgulhosa de vocês que chegaram
até aqui numa etapa que muitos outros queriam estar.
“Ah a segunda fase da Bahiana!”, “Chega a ser
quase um troféu!” e é isso que queremos: sua vitória definitiva como um
troféu depois de tanta batalha. Por isso nos empenhamos como equipe para
produzir esse material de apoio e, como em todos os anos, queremos que ele
sirva para você alcançar seu sonho de chegar a universidade.
Ano a ano construímos na Bahiana quase uma
família de ex-alunos e, movidos pela paixão que temos por essa universidade,
decidimos montar um roteiro de estudo de redação para garantir tranquilidade e
aprovação para você. Veja em cada tema mais um degrau e nesses últimos dias
tente pensar e produzi-los com carinho. Se não conseguir não tem problema. Você
sabe que temos as famosas redações modelo.
Portanto,
nascido no coração do curso Eu Quero Passar, coordenado pela professora Mara
Rute e desenvolvido por Isabel Oliveira e Tiago Silveira, e esse ano com a
mãozinha de quem já está lá, mas quer muito ter você como colega apresentamos o
PEBMSP 2015. Com novos os temas desenhados por Stephanie dos Anjos, Tiago
Silveira e Lucas Vianna com o processo de correção coordenado por Lucas Vianna,
Stephanie dos Anjos, Orlando Oliveira, Maria Cecília do Carmo Ferraz e Camilla
Azevedo.
Este
material foi baseado no histórico de processos seletivos da universidade e em
textos relacionados a temática da prova em 2015 para orientar e,
principalmente, direcionar você para o recorte desejado. Também acompanhe nossa
orientação final após a vivência.
Aqui
estão dois temas novos baseados nos textos de apoio sugeridos na prova, um tema
do Enem sobre diversidade Cultural que deve ser adaptado para o papel do médico
no processo de preservação da diversidade e, como a prova lembrou muito a UNEB,
colocamos o tema de redação da UNEB 2015 que tratava da ideia de turismo e
patrimônio. Ainda publicaremos em nossa página reflexões sobre a Baianidade se
esse recorte por ventura for confirmado pela Bahiana na vivência.
Por
fim lembre-se que cada história de vida é produzida por um passo. E esse, de
escolher fazer o portfólio, é um passo de vitória. Esperamos que a cada redação
entregue você caminhe mais à frente chegando ao lugar onde está o seu sonho.
Estaremos
aqui ajudando-o a caminhar passo-a-passo.
Mara Rute Lima
Mara Rute Lima
“Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus."
Proposta 1
Negro sofre 'discriminação
institucionalizada' no serviço de saúde, diz diretor de ONG.
Maurício Moraes
Da BBC Brasil em
São Paulo
A tese defendida por Motta, que dirige o
Fundo Baobá, uma ONG que viabiliza projetos que promovam a equidade racial, já
foi sentida na pele por Marcelo Antonio de Jesus. Educador em uma ONG em São
Paulo, 36 anos, Jesus conta que "durante exames", já sentiu "que
há o receio de alguns médicos de tocar o paciente, pelo fato de ser
negro". "Isso também ocorreu com familiares. No meu caso, em uma
ocasião, fui a dois médicos diferentes. Um deles nem me examinou e deu o
diagnóstico só a partir do que eu havia contado", disse.
Eliane Barbosa, pesquisadora da Fundação
Getúlio Vargas de São Paulo que publicou um trabalho analisando políticas
públicas que lidam com desigualdade no país, diz que parte dos médicos dá
tratamento diferenciado a indivíduos brancos e negros, mas não apenas no
serviço de saúde público como também no privado.
Para Eliane, não se trata
necessariamente de um "um preconceito racional" por parte dos
profissionais de saúde. "Não quer dizer que eles querem discriminar
alguém", diz. "É uma questão de referência dos médicos, geralmente
homens e mulheres brancas. É uma questão muito profunda, uma reprodução
inconsciente de um comportamento (racista da sociedade)", diz.
Marcelo Antonio de Jesus, que é educador,
defende que a questão seja abordada nos cursos de medicina do país. "É
necessária uma quebra de cultura. Boa parte dos estudantes de medicina vem de
uma elite. É difícil que esses profissionais queiram depois atender na
periferia. É até compreensível, porque eles vão encontrar uma realidade muito
diferente da que vivem. Por isso a educação é importante", diz.
Há racismo no atendimento aos negros no SUS,
diz ministro.
Agência Estado.
O ministro da saúde admitiu que há
racismo no atendimento a negros no Sistema Único de Saúde (SUS). Essa
discriminação se reflete em diagnósticos incompletos, exames que deixam de ser
feitos e até na ausência do toque ao paciente, disse o ministro, citando
pesquisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz. “Esse racismo cria condições muito
perversas que temos de combater fortemente. Queremos construir uma nova cultura
e criar valores de solidariedade e tolerância em relação à população negra”,
afirmou o ministro.
O ministro Àlvares informou que o
combate à discriminação inclui cursos de capacitação aos médicos, enfermeiros,
atendentes de instituições credenciadas ao SUS, além do incentivo à denúncia de
mau atendimento à Ouvidoria Geral do Sistema Único de Saúde.
De acordo com a coordenadora do Comitê
Técnico de Saúde da População Negra do ministério, Ana Costa, o governo tem
alguns dados que são indicativos do preconceito no atendimento aos negros. A
taxa de mortalidade materna, por exemplo, é mais que o dobro para mulheres
negras em comparação com as brancas (4.79 e 2.09 mulheres por cem mil
habitantes, respectivamente). Militantes do movimento negro comemoraram a
postura no Ministério da Saúde. “O SUS foi criado para servir o cidadão, mas na
verdade serve de acordo com a classe social, a cor”.
Campanha
do SUS atribui a ‘racismo’ mortes por doença genética predominante em negros.
Médicos reagem.
Felipe Moura Brasil
Revista Veja
Transcrevo
o texto:
“Diz que não existe racismo, mas… em 2012 a
taxa de mortalidade por doença falciforme entre pessoas pretas foi de 0.73
mortes e 0.28 entre pardas, enquanto na população branca foi de 0.08 (por
100.000 hab).”
Só tem um detalhe, que
pode ser encontrado em qualquer página médica, como a do
doutor Dráuzio Varella: “A anemia falciforme é uma doença genética e
hereditária, predominante em negros, mas que pode
manifestar-se também nos brancos.” Logo, é ÓBVIO que a anemia falciforme tende
a matar mais negros do que brancos, mas a realidade nunca
foi empecilho para a propaganda.
Felizmente, os médicos reagiram ao embuste nas
redes sociais, considerando a manipulação “torpe” e “absurda”.“Quem
deveria de verdade sofrer campanha anti-racismo neste caso são as doenças e não
os profissionais que trabalham no SUS. Vamos colocar no holofote as
atitudes racistas que a anemia falciforme propaga, assim como o câncer de
próstata e a hipertensão arterial, que insiste em adoecer mais negros do que
brancos”, ironizou a página Academia Médica.
Ou então, acrescento eu, vamos acusar o câncer
de pele de racismo contra os brancos, já que os negros produzem mais
melanina, especialmente a eumelanina, muito eficiente na proteção contra
os raios ultravioleta do sol, e têm menor risco de desenvolver a doença.
Considerando esses e muitos outros
casos que você conhece sobre o assunto e refletindo sobre seus aspectos
sociológicos, culturais e históricos, escreva um texto dissertativo abordando a
dualidade dos posicionamentos referidos acima, acerca do racismo aos negros nos
serviços de saúde, focando a figura do médico.
Redação Modelo
Redação Modelo
O racismo aos negros é uma realidade
no Brasil que afeta diversos setores como o de serviços de saúde. Isso é um
problema pois altera os dados epidemiológicos de mortalidade e morbidade sobre
as populações negras. Assim, o preconceito a determinada raça atinge também as
taxas de agravamento de doenças, devido à má conduta do médico para com esse
contingente populacional.
“Não permitirei que concepções
religiosas, nacionais, raciais, partidárias ou sociais intervenham entre meu
dever e meu paciente.” Dessa forma, não deve haver espaço para estratificações
acarretadas por preconceitos que tornam os atendimentos diferenciados ao ponto
de prejudicar a saúde de um grupo racial. Nessa perspectiva, o Ministério da
Educação juntamente com a Fundação Oswaldo Cruz e a Fundação Getúlio Vargas
afirmam, pautados em pesquisas, que tal discriminação prejudica nos
diagnósticos devido a não eficácia da coleta da história clínica (anamnese do
paciente) pela má comunicação e na não eficácia da semiologia médica (toque ao
paciente). Cabe ao médico, portanto, honrar seu juramento de Hipócrates a fim
de oferecer qualidade em seus atendimentos, focando principalmente, de forma
holística e clínica, na cura ou prevenção.
O tratamento diferenciado que parte
dos médicos oferecem aos indivíduos brancos e negros é fruto de uma cultura
racista que está enraizada na sociedade brasileira como um todo. Por isso,
muitas vezes, esse gesto é feito de forma inconsciente pelo profissional de
saúde, afinal, a grande maioria dos estudantes de medicina são de uma elite
branca que quando colocada frente a uma realidade “pobre e preta” não reage de
forma adequada devido a falha no sistema educacional nas escolas médicas. Há
quem defenda a invalidade desse discurso, que a forma como o médico ver o outro
não afeta na qualidade de atendimento e, portanto, na saúde. No entanto, esse
argumento não é adequado, afinal, em qualquer forma de comunicação, quando se
estabelece o preconceito, há uma falha no fluxo e na interação entre as partes
e, no caso do serviço de saúde, acaba por afetar a lógica nas consultas que
trazem qualidade na saúde.
Destarte, faz-se mister implementar
nas aulas de antropologia médica, bioética, psicologia médica e introdução a
atenção básica discussões voltadas para o respeito as diferenças raciais.
Ademais, o estudante de medicina deve aprender a consagrar sua vida a prática
médica voltada para consciência social, para empatia e para inclinação
humanística. Esse aprendizado deve ser adquirido pela teoria nas salas de aulas
e pelas práticas de trabalhos de campo em comunidades pobres cuja maioria
habitacional seja negra. Com esses primeiros passos, o problema do preconceito
acerca do racismo aos negros nos serviços de saúde será atenuado.
Fábio Rodrigues
Proposta 2
Entre a
ciência e a crença: A postura médica frente à “Cura Religiosa”
Revista Âncora.
Uma retrospectiva histórica no
campo da saúde nos leva a perceber que o processo saúde/doença sempre foi
acompanhado de crenças e rituais, os mais diversos, ligados a questões
transcendentes, ao sobrenatural. Mesmo respeitando as especificidades de cada
cultura, observamos que a ligação com o sagrado no processo de adoecimento e
morte percorre todas elas. O surgimento da medicina ao que tudo indica começa
da apropriação das terapias e procedimentos de cura populares. A intervenção em
muitos casos de doenças, feita por feiticeiros ou xamãs com ervas e
procedimento digamos, “cirúrgico rudimentar”, como sugere o crânio
pré-histórico exposto no Museu Etnológico de Berlim, apontam para essa questão.
Esta concepção, a partir dos
autores, pode tentar explicitar a maneira como os indivíduos e diversos grupos
enquanto sujeitos sociais vão construir seu conhecimento em saúde/doença a
partir da inscrição social e cultural dos sujeitos sociais por um lado; e por
outro, como a sociedade se dá a conhecer e construir esse conhecimento do
binômio com os indivíduos. Na interação entre sujeito e sociedade é que podemos
dizer que se dá a realidade.
Assim, compreender o universo
das representações sociais de médicos e pacientes torna-se aspecto fundamental
para compreender a polaridade das relações. A dicotomia existente entre
terapias médicas e terapias populares tem que permanecer? A ruptura entre
medicina e sagrado responde as questões mais subjetivas da existência humana?
A
ruptura entre o conhecimento popular e o científico em saúde.
Pesquisa
em educação em ciências.
Vasconcelos entende a medicina
como sendo construída no diálogo. Por esse motivo, a atitude do profissional de
saúde em relação à medicina popular deve ser de promover a troca de idéias:
“Saber ouvir, procurar aprender, respeitar aspectos que não consegue entender
mas também de dizer aquilo que sabe, de criticar atitudes que vê estarem
erradas. Afinal sua ciência é fruto de muitos séculos de esforço de milhares de
cientistas sérios e já teve oportunidade de provar a sua eficiência”.
Essa forma
própria que as pessoas têm de encarar o mundo influência a maneira pela qual
buscam conforto físico, lançando mão de diversas alternativas, que vão desde a
prática informal (automedicação, aconselhamento com outras pessoas), passando
pela alternativa popular (curandeiros), até chegar ao setor profissional. A
cura por intermédio das alternativas populares oferece diversas vantagens a
seus usuários, se comparadas à medicina ocidental moderna, tais como
proximidade, afeto, informalidade, visões de mundo semelhantes, linguagem
coloquial e envolvimento da família no tratamento.
O aperfeiçoamento da relação
profissional de saúde e paciente deve estar centrado principalmente sobre a
educação desses profissionais. É durante o período de formação que eles
aprendem a se tornar mediadores entre o conhecimento científico e o senso
comum, para promover a saúde da população. Uma forma de abordar essa relação
seria trabalhar com os estudantes de forma integrada e não fragmentada. Os
estudantes poderiam incorporar em seus conhecimentos, ainda no período de
graduação, a compreensão dos fatores sociais e culturais da população e sua
inter-relação com a saúde.
A análise dos problemas de
forma global, considerando os pontos de vista de outros ramos do conhecimento
para a abordagem de problemas de saúde, conduz a uma flexibilidade maior da
maneira de pensar, integrando e articulando diferentes formas de resolução.
Somente uma visão mais ampla e não fragmentada propiciará ao profissional
identificar e compreender os problemas de saúde da população, agindo como um
mediador entre o senso comum e o conhecimento científico, e trabalhando para
promover a mudança de atitude por parte dos pacientes. Porém, a mudança de
atitude deve atingir principalmente o profissional, que, além de possuir as
habilidades próprias da carreira, deve atuar como um intermediário entre o
conhecimento científico e o popular.
Conhecimento médico esclarece métodos caseiros para
tratamento de doenças.
Rafael
Amêndola.
As virtudes medicinais dos chás são de
conhecimento milenar, especialmente seus efeitos estimulantes. É uma crença
popular que geralmente funciona e é explicada também pela ciência. Suas
propriedades terapêuticas e cosméticas, como neutralizar os radicais livres,
responsáveis pelo envelhecimento celular precoce, ajudam a prevenir doenças
cardíacas e circulatórias, acelerar o metabolismo e queimar gordura
corporal; são cada vez mais comprovadas.
Outra doença bastante auto medicável é a febre.
“Quando se está com febre, o cérebro manda um comando ordenando que a pessoa se
aqueça, pois percebe a sensação de frio”, afirma a médica. Para tratar a febre
alta, os métodos caseiros propõem o uso de cobertores e agasalhos para que o ar
não faça mal ao enfermo. Na verdade, o que os médicos recomendam é justamente o
contrário: deve-se despir, pois o contato com o ar, nesse caso, é benéfico para
o corpo.
Levando em consideração as
particularidades entre o saber científico do médico e o saber adquirido do
paciente, escreva um texto dissertativo abordando a importância da integração
desses saberes, com o foco no respeito do profissional às influências do
conhecimento popular, crenças e culturas, para a melhoria do bem-estar
biopsicossocial do paciente.
Redação Modelo
Redação Modelo
Pela formação de Pedros Arcanjos
De Asclépio, deus da medicina greco-romana,
passando pelas feiticeiras medievais até chegar aos médicos-espíritas contemporâneos,
a medicina evoluiu estritamente relacionada ao avanço do saber popular e
religioso. Nessa perspectiva, o conhecimento médico se perpetuou como divino,
assegurando, àqueles que o detém, poder e status social. Por outro lado, a base
e a origem, de todo avanço médico-científico advém do saber popular, sendo
assim, a tendência hodierna é justamente o contato dos profissionais de saúde
com as crenças e técnicas terapêuticas populares.
Dos asclepíades da Grécia Antiga (sacerdotes
considerados seguidores de Asclépio, detentores do conhecimento médico, o qual
era herdado do pai) aos pajés das tribos indígenas (líderes espirituais e da
Tribo em si), torna-se perceptível a concepção da medicina como saber divino. Os
detentores do saber médico, no decorrer histórico, conseguiram reformular a
concepção do conhecimento das ciências médicas de acordo com o tempo e com a
sociedade em que se encontravam inseridos. Entretanto, todas as reformulações
propostas sempre objetivaram empoderar e garantir status àqueles que já detinham
esse poder e não garantindo à medicina a importante condição de estar inserida
dentro de um contexto social múltiplo em que ervas, fé e pílulas contribuem
para a cura e o conforto.
Na contramão do conservadorismo médico, nos
últimos tempos tem surgido e se disseminado algumas técnicas terapêuticas
alternativas que se aproximam mais ao saber popular do que ao conhecimento
científico em si. Desse modo, da homeopatia, passando pela fitoterapia até
chegar à massoterapia, o que se tem observado é que todas essas correntes
surgem como uma forma de suprir a necessidade daqueles indivíduos
desacreditados do saber puramente técnico-científico que padroniza e protocola
patologias ao invés de especificar o olhar. E, em meio a essa dicotomia entre
cultura popular e conhecimento científico, o ser pós-moderno encontra-se cada
vez mais distante do ponto de equilíbrio.
Jorge Amado já
defendia em sua obra Tenda dos Milagres, que no embate entre saber popular e
saber médico cada qual tem seu espaço, sendo facultativo a cada indivíduo,
inserido em sua cultura, fazer sua escolha. Sob essa ótica, cabe ao Estado,
assumindo seu caráter abarcativo e educador, investir na formação de futuros
médicos que detenham um olhar voltado para o respeito a diversidade, capaz,
assim, de entender e respeitar a importância do saber popular. Seguindo esse
raciocínio, teremos mais médicos cientes de que seu papel na sociedade é tal
qual o de Pedro Arcanjo, ou seja, configurar-se como o ponto de encontro entre
a cultura popular e o saber acadêmico.
Orlando
Oliveira