Violare humanum est/Assim somos/ Sempre violentos
O
século XXI trouxe em seu cerne mudanças substanciais na forma de relação e
trabalho. O mundo virtual, a diminuição das fronteiras e o relativismo de valores
também produziram maneiras “evoluídas” de violência. No entanto, uma análise um
pouco mais profunda revela que seu princípio é o mesmo e está na raiz da
formação do homem em sociedade. A violência assume formas associadas à
identidade do grupo social.
Nos tempos de
armas biológicas, invasões a países para guerras preventivas e inimigos não declarados explodindo prédios,
não é espantoso ter Suzanes matando os pais ou policiais comandando o tráfico.
O mundo, hoje cada vez mais sem fronteiras, uniformiza práticas violentas que
se proliferam com cliques produzindo cyber-bullying ou viagens para derrubar
aviões. Bem diferente dos complôs para matar Alexandres ou os macabros rituais
de Hitler em seus campos de concentração.
No
entanto, os confrontos entre israelenses e palestinos ganham, a cada dia,
capítulos repetidos de violência, intolerância e revanchismo, marcados apenas
por breves períodos de trégua. Suzane, apontada como fruto do século XXI não
difere muito dos Cains ou Brutus da história. Uma prova de que o que tem
acontecido não são mudanças radicais de práticas e representações sobre
violência, mas talvez uma plataforma maior para a difusão desta ou mesmo uma
mídia que nos alimenta de sangue todos os dias nos telejornais.
A
violência contemporânea, manifesta com diferentes formas de fanatismo,
terrorismo, crescimento da xenofobia, atos de homofobia e serial killers,
demonstra que a globalização não criou um caminho para a compreensão do outro
ou para a pacificidade mundial. Em tempos de relativismo sequer se discute
ideia de bem ou mal, no entanto querer um mundo pacífico é um ideal que a
história nunca deu conta de mostrar - Somos violentos e evoluímos com isso.
REDAÇÕES
NOTA DEZ DO ANGLO SOBRE VIOLÊNCIA
Aluna: Ana Maria C. Gonzales -
Título: As reais causas da violência
O caos ocorrido recentemente em São Paulo
devido aos ataques articulados com maestria pelos chefes do crime organizado
(que não encontraram dificuldade para fazê-lo, mesmo estando presos) traz à
tona, novamente, a falência do Estado enquanto protetor de seus cidadãos e
mantenedor da ordem. E esta situação se agrava na medida em que as causas dessa
falência não são combatidas.
Dentre elas, destaca-se a “justiça” de
nosso país, que corrompe-se constantemente em favor daqueles que podem
comprá-la, deixando-os impunes, independentemente da gravidade de seus crimes,
e que mesmo quando julga, de fato, um criminoso, o faz baseada num código de
lei obsoleto, o que contribui ainda mais para seu descrédito.
É também importante a escassez de verbas
que o governo destina à segurança, refletida na falta de condições e de preparo
da polícia, que, por isso mesmo, torna-se ineficiente e, não raro, corrupta.
Além disso, é determinante a ausência (ou
desorganização) do Estado em determinadas regiões, notadamente na periferia dos
grandes centros urbanos, o que leva essa população desamparada a reconhecer o
crime organizado como sendo a única “instituição” capaz de exercer funções que
deveriam ser desempenhadas pelo primeiro, como, por exemplo, protegê-los da
violência.
Tudo isso somado só faz crescer a sensação
de insegurança que toma conta dos brasileiros e causa a descrença no governo,
com a conseqüente falta de interesse pela política, levando, assim, à
manutenção dessa situação indefinidamente, já que para que algo mude é
fundamental que a sociedade se mobilize para pressionar seus governantes a fim
de que eles ajam no combate às causas acima. Até que isso ocorra, “salve-se
quem puder”!
Aluna: Gladys
Ribeiro Rosa - Título: Teatro da desordem
A violência é o termômetro da ordem na
sociedade. Países com Estado organizado e população com boas condições de vida
não têm motivo para apresentar altos índices de criminalidade. Aqueles que, no
entanto, ao construir sua história esqueceram no caminho o real significado de
“democracia” e “Estado” sofrem hoje as conseqüências. E é nesse grupo que o
Brasil se encaixa.
A função do Estado é prover aos cidadãos as
condições para viver de forma digna. Hobbes afirmava que é em troca dessa ordem
e segurança que o homem entrega sua liberdade a uma “assembléia de homens”. No
entanto, hoje, no Brasil, o Estado não apenas não desempenha sua função
corretamente como também afirma que todo cidadão é livre, ignorando o fato de
que temos liberdade de “ir” sem nunca ter certeza de que estaremos vivos para
“vir”.
Esse Estado desorganizado abre espaço para
o crime organizado uma vez que os acertos deste dependem dos erros daquele. E o
Estado não pára de errar: governa em favor dos interesses das elites, se
esquece dos direitos dos cidadãos – mas nunca dos deveres – e, para completar o
retrato da desordem, semeia a impunidade. Junta-se tudo e tem-se a fórmula de
como fadar um país ao eterno subdesenvolvimento.
Em um país subdesenvolvido como o Brasil,
com um Estado ausente e distante, o povo é apenas espectador de sua história,
nunca protagonista. Mas “tudo bem”, antes de as cortinas fecharem vem o “final
feliz”: o Brasil vai ser hexacampeão. E a realidade vai continuar assim, sempre
igual.
Aluna: Renata C. de
Mello F. Delfino - Título: Ordem e inclusão
As cenas de violência escancarada que se
tem presenciado no país, até então atípicas, principalmente nos últimos meses,
demonstram as falhas do Estado e servem como base de indagações sobre o seu
papel e sua forma de agir contra o crime.
Essa situação de extrema violência e medo
que a sociedade tem vivenciado dá indicações de um Estado desorganizado e
corrupto. Vive-se sob o domínio de um Estado que não cumpre sua função de
garantir a liberdade, o trabalho, a educação e a saúde de seus cidadãos; sem
isso, principalmente as classes menos favorecidas ficam totalmente sem
perspectivas e motivações então responsáveis pela disseminação da violência
como forma de sobrevivência (assaltos, seqüestros, etc.).
O Estado erra novamente na maneira de
combater essa violência, fruto do seu mau gerenciamento, que se resume na
tentativa de apenas reprimir a criminalidade, como se a prisão dos criminosos
resolvesse todos os problemas, ou seja, trata a violência com mais violência, o
que é na maioria das vezes aprovado pelas classes mais favorecidas,
interessadas apenas na manutenção da ordem, quando deveria combater as
desigualdades sociais, a corrupção, a sonegação de impostos e proporcionar
educação, emprego, e com isso combater primeiramente o que gera a
criminalidade.
Enquanto não se conseguir uma gestão
organizada com atuações claras e objetivas a fim de restaurar a moral política
e social, lutando contra o individualismo e frisando a importância do exercício
da cidadania e da inclusão social, continuar-se-á a assistir cada vez mais à
impunidade do Estado frente a facções criminosas e a viver cenas de uma guerra
civil.