Nesses últimos anos tenho colecionado decepções e sentindo-me
meio sem poderes. Isso porque penso que não ensino somente Literatura ou a
escrever uma redação para o vestibular - acredito mesmo tocar a vida das
pessoas, formar pensamentos....busco tentar mostrar a elas o quanto a sua condição
é especial, o quanto somos agraciados com a condição de estarmos alcançando um
grau a mais numa nação de muitos ignorantes e desfavorecidos cujos sonhos de vida
seria acertar na Mega ou ser selecionado para o BBB.
No entanto, quando eu acompanho a forma como vocês deixam a
universidade me entristece - antes disso mesmo, pelos corredores de algumas em
que eu passo: desaparecem os jovens simples e aparecem os venais. E aquele
esforço todo se transforma em nada.
É perceptível que no final de algumas estradas nos
esquecemos dos que carregaram as pedras para que alcançássemos degraus mais
altos. E, mais que isso. Esquecemo-nos inclusive daqueles que não podem
carregar pedras.
Cheguei mesmo a pensar que há algo na universidade que tira o senso do que vocês eram ou do preço que
pagaram: a concorrência do vestibular, as horas de estudos, as incertezas, as
muitas horas de solidão depois de não ver o nome na lista dos aprovados. Depois
pensei que na verdade também terminar a faculdade e adentrar a vida de trabalho
não é tarefa fácil: como são difíceis os anos em que precisamos lutar para sair
daquilo que tanto queríamos! Irônico não?
Mas, pensando em mim e alguns raros casos isso não se
justifica. Eu ainda lembro-me daquela menina de Uruçuca que nem sabia o que era
faculdade aos 16. Sempre me lembro da Bolsa de estudos de Árleo, dos conselhos
de Luiza para que eu fosse uma professora mais ajuizada, da dupla Naldo e Eliomar
para moldar-me como uma professora, de quando eu cheguei em Eunapólis com a
mala para casa de Amenaide e a amizade de
Tati e Euzeni. De meus irmãos e seus tempos e construções para que nascessem
meu curso, minhas aulas, meus sonhos...
Então hoje, quando eu, surpreendida por ter recebido um
convite para conhecer a universidade do Largo de São Francisco - que povoa meus sonhos de literata e ter
percebido que minha aluna Stephane ainda é como eu, chorei. Porque ainda é preciso
ter esperança que haja alguns que sabem o motivo de estudar tanto. Seguramente
não é para ter um carro melhor, ou a melhor posição. É para lutar pelos que não
alcançaram. Não condeno o carro, mas é preciso ver os que andam a pé. E pior.
Sem esperança.
Parece engraçado afinal a universidade do Largo de São Francisco
está ali. Duas horas? Eu conheço Sorbonne
porque não ir a São Paulo? Nunca fui a São Paulo? Sim, muitas vezes. Do Museu
da Língua na Estação da Luz ao templo capital do Shopping Morumbi. Mas como seria visitar a escola de Castro Alves?
Quantos alunos meus já passaram por lá? Mais de 40. Em alguns casos apenas um
aluno meu foi aprovado como nordestino. Lindo não? Nem tanto.
Então, não é um pedido para receber um convite para ir à
universidade do Largo. Stephane fez. Nem promessas de que me convidarão para a
formatura ( rs....vcs sabem como gosto de comida). É o pedido para que vocês, parafraseando
Jorge Araújo, não percam o óbulo de sua sensibilidade e nunca se esqueçam do
porquê chegaram.
Spartakus não deixe que o Rio o faça esquecer-se do seu
primeiro vídeo na quadra do Sistema que o ajudou a ter de que Direito não era
sua vocação. Micaiil não se esqueça de que a UESB e o primeiro lugar tinham que
ser seu. Fernanda, Gabriel, Lorena....e a lista é imensa. Quero que todos.
Antes de começar as aulas pensem no motivo. Eu tenho um caderninho velho de
1996 e de vez em quanto eu volto a ele e
vou construindo novos laços que justificam cada degrau que subo. Essa foto também está a esse serviço. Para que
eu não me esqueça do porquê vim e para
quem eu devo lutar. Obrigada Stephane por não me deixar esquecer que vale a
pena.
Vou reproduzir o texto das lágrimas. O mal que como ela agora é advogada pode me
processar. Alguém me defenda. Aliás, não preciso: é por uma causa maior.
Oi, Mara!
Não fique triste com o que aconteceu. Sinta-se feliz, porque você é uma
das pessoas inesquecíveis que fizeram parte da minha constituição como pessoa.
Graças a pessoas como você mais uma etapa da minha vida foi cumprida.
Fazendo parte desses 5%, com certeza não me esquecerei dos outros 95%.
Por aqui tive cinco anos convivendo com as desigualdades, inclusive daquelas
pessoas que dormem na porta da Faculdade todos os dias em relação a outras que
lá estudam e adentram. No primeiro ano do curso tirei uma foto para não
esquecer.
(supressão de texto)
Stéphane.
Em 12 de janeiro de 2012 15:55, Mara Rute Lima <mararutelima@hotmail.com> escreveu:
Tristeza e alegria é a forma para responder a esse e-mail.
Triste porque tive problemas para acesso a meu email durante alguns dias e em meio a maré de emails o seu se perdeu. Só hoje fazendo a triagem é que tive a graça de poder ler e agradecer.
Nossa como foi bom ser lembrada e ter feito parte de sua história!!!!
Lembre-se você é uma vencedora. Não é fácil pertencer a menos de 5% da população brasileira que chega a universidade e, mais ainda, que tem a chance de dizer. Eu sou do Largo de São Francisco.
Tudo de bom.
Triste porque tive problemas para acesso a meu email durante alguns dias e em meio a maré de emails o seu se perdeu. Só hoje fazendo a triagem é que tive a graça de poder ler e agradecer.
Nossa como foi bom ser lembrada e ter feito parte de sua história!!!!
Lembre-se você é uma vencedora. Não é fácil pertencer a menos de 5% da população brasileira que chega a universidade e, mais ainda, que tem a chance de dizer. Eu sou do Largo de São Francisco.
Tudo de bom.
(supressão de texto)
Mara Rute