terça-feira, 25 de junho de 2013

Tema Bahiana Hilda Hilst - Paulo Ramires

 Para os homens do nosso tempo
                                      
Durante a história da humanidade os conflitos dos interesses entre dominados e dominantes foram se agravando devido a excludência da sociedade global. de que maneira a medicina pode contribuir para  dessa realidade? 


Arquitetando os lobos e acordando o mundo
A humanidade, durante todo seu curso histórico, vivenciou a força de tiranos determinando o modo de vida das pessoas. Perante tal vertente, as várias esferas da segregação se intensificam e contribuem para o alargamento da margem entre os povos. No bojo dessa problemática, a atividade médica, símbolo de inclusão e fraternidade, contrasta com tais atitudes e apresenta-se como um símbolo de liderança na conquista de um mundo possível.
   Dos Gregos e sua dominância, na antiguidade, sustentada por uma massa escrava aos Estados Unidos e seus frequentes ataques mascarados de preventivos, que a sociedade vivenciou e vivencia, práticas excludentes e imperialistas justificada por uma superioridade ilegítima e afirmada por líderes favorecidos. Pautado nessa lógica, atitudes preconceituosas, oriundas de tais ações, energizam a intolerância social e o desrespeito entre as nações, contribuindo para a conservação das divergências sociais e dificultando a construção de um futuro de possibilidades.
Contrário a tal premissa, a medicina proporciona, através de práticas de solidariedade e compaixão ao próximo, um olhar diferenciado as problemáticas humanas, enxergando com os olhos livres as virtudes e diferenças de todos os grupos. Seguindo tal premissa, mesmo com um mundo ao contrário, pensar na construção de outras atuações é possível e, através do exercício médico, podemos liderar uma mudança que priorize “os nossos ossos e o sangue das gentes” ao invés de “ouro, conquista, lucro e logro”.

Para Eduardo Galeano, estamos apegados aos vícios do passado e ainda somos relutantes em correr rumo ao futuro. Assim, através do exercício médico podemos “arquitetar os lobos” que querem dominar o rebanho e “acordar o mundo” para a realização de uma outra maneira de interação entre sociedades.  

Tema Redação Bahiana 2013 - SAÚDE MENTAL DOS MÉDICOS - RESPEITO AOS LIMITES‏ - Gabriel Gomes

Limiar

              A linha tênue entre o equilíbrio e a sandice é um desafio no exercício da Medicina. Se por um lado a possibilidade de salvar vidas atribui ao médico características dignas a um herói, por outro, o constante desgaste emocional frente à natureza estressante da profissão faz dele uma suscetível vítima da própria virtude. Nesse contexto, ressalta-se a necessidade de um alerta para a saúde psíquica dos médicos, tendo em vista que a lucidez é imprescindível na dinâmica dessa profissão.
                De fato, a medicina é uma arte sublime. No entanto, este profissional, é apenas um homem comum que saiu da própria caverna em busca do entendimento acerca do corpo humano. Nessa perspectiva, a Medicina descrita por Hipócrates continua a ser iluminada pela fusão entre razão e emoção. Essas luzes do conhecimento, no entanto, tornam-se instrumentos de risco, ao passo que potencializam a obsessão pelo saber inerente ao Homem. Nesse sentido, médicos como Mengele, considerado louco por muitos estudiosos por cometer atrocidades para fins científicos, são exemplos de que a compulsão pela ciência médica pura, em detrimento da prática humanística, manifesta-se como sinônimo de insanidade.
               Em contrapartida, os riscos psíquicos também estão presentes na excessiva dedicação à profissão. Recentemente, uma pesquisa do Departamento de Ciências Médicas da Universidade de São Paulo constatou que cerca de cinquenta por cento dos médicos brasileiros apresentam vulnerabilidades à doenças psíquicas. Dentre eles, mais da metade utilizam álcool ou outras drogas a fim de potencializar o corpo para as longas jornadas de trabalho e estudo, subjugando a máxima latina “mens sana in corpore sano”. Assim, tornam-se algozes da própria existência e põem em xeque a capacidade de exercer o sacerdócio da cura.

            Desse modo, Medicina é um paradoxo entre a totalidade do ser e as limitações humanas. Portanto, a prática médica deve aliar-se à sanidade daquele que a exerce. Tendo em vista que todo excesso racional ou emotivo, torna-se prejudicial à sua plenitude. Afinal, até a virtude necessita de limites.

sábado, 22 de junho de 2013

Bahiana 2013 - Automedicação

Tema: Os profissionais da saúde se auto-medicam
 Ensaio
Ao longo da história, a exposição do homem a diversas enfermidades foi crucial para a aproximação dos remédios no sentido de aplacar suas dores.  No entanto, no transcorrer da pós-industrialidade - marcada pela velocidade no panorama da vida - cresce a cultura de automedicação nos leigos e, sobretudo, nos profissionais da saúde, que amparados pelo envolvimento no meio hospitalar e pelo conhecimento médico, acabam por transformar os medicamentos em outro algoz para a saúde humana, ao invés de promotores da expectativa de vida.
No compasso da contemporaneidade, evidenciada pela rapidez e proletarização do tempo, a atividade automedicamentosa é bastante difundida no Brasil, abrangendo cerca de 80 milhões de adeptos, dos quais 20% são médicos, enfermeiros ou farmacêuticos. Essa parcela percentual cresce de modo particular, graças a sensação de confiança em seu saber, às vezes falho, à facilidade de acesso aos medicamentos em sua jornada de trabalho ou ao descuido com a própria saúde, de acordo com Margareth Chan – presidente da OMS.
De fato, nesse sentido, tal prática se torna perigosa, uma vez que pode conduzir a reações adversas, mascarar diagnósticos importantes de doenças que acabam por se agravar no futuro, ou ampliar o quadro de intoxicações hospitalares por fármacos, que na atualidade somam cerca de 30% ao ano segundo o Ministério da Saúde. Por outro lado é preciso também ressaltar que a automedicamentação vai de encontro à ética hipocrática e, tais condições são conclusivas para que a formação acadêmica dos futuros profissionais seja revista e guiada à luz da ciência do cuidado.
Para Zilda Arns, nunca em toda história assistimos a possibilidade de construção de uma saúde possível, como agora, entretanto, muitas vezes ela é enclausurada por atitudes arbitrárias, a exemplo das tentativas imprudentes de medicação própria. Nessa perspectiva, é preciso apostar no resgate da conduta médica, violada nessa conjuntura, e no emprego racional do conhecimento desses profissionais hospitalares na garantia de uma saúde mais clarividente para eles e seus paciente, ao invés de suplantá-la.

Lucas Viana Rocha, Vitória da Conquista – BA.

Tema Bahiana 2013 - Envelhecimento


Como vocês sabem a base da Bahiana vem da prova do primeiro dia...segue o primeiro texto com base em um dos recortes... o ideal é ir com pelo menos quatro possibilidades.... Vamos postar todas elas para vocês....





A cura e os males
De Hipócrates à Revolução Tecnocientífica, a medicina coevolui com o conhecimento humano. Tendo em vista tal égide, os adventos nas técnicas e instrumentos medicinais propiciaram o “Boom” do envelhecimento dos homens pós modernos. Sendo assim, torna-se essencial uma reestruturação do sistema de saúde para que possam ser ofertados os melhores serviços em ambientes humanizados à terceira idade.
            O aumento da expectativa de vida da população é um dilema enfrentado pela maioria das nações. Nesse contexto, a medicina, através dos seus aparatos de acesso, precisa de reformulações e adequações à realidade contemporânea, desse modo, dos planos de saúde aos hospitais, torna-se essencial uma melhoria e ampliação dos serviços a serem ofertados à terceira idade de tal forma que seja gratuito ou a um preço justo. Assim sendo, tal remodelação impõe desafios não somente à medicina, mas também abarca o envolvimento do Estado, do setor privado e da sociedade.
            Os problemas decorrentes do envelhecimento começam a insurgir com mais intensidade a partir dos 70 anos, por isso, em torno de 80% dos idosos não realizam nenhuma atividade no cotidiano. Logo, a elevação da expectativa de vida não acarretou o aumento na qualidade da mesma. Diante dessa conjuntura, a medicina precisa abranger além de técnicas científicas também seu lado humanizador, para garantir aos que produziram o presente uma melhor perspectiva futura.
            Para além disso, Hipócrates já apregoava que a cura está ligada ao tempo e às circunstâncias. Nesse contexto, é preciso buscar uma reformulação do sistema de saúde em si abarcando todos os seus aparatos, instrumentos e técnicas para que idosos sejam atendidos com qualidade adequadas às suas condições: cidadãos que precisam de plenos direitos e portanto, plena saúde entendida como mais que remédios ou leitos de hospitais.  
           (Adaptação Orlando Oliveira)


                        

sábado, 15 de junho de 2013

Bahiana amanhã...como não Pirar!!!!!

Escrevi esse texto no ano passado para ajudar no ENEM, mas ele serve também para a prova que você fará amanhã....



Últimas Palavras....
Contagem regressiva.....Não faltam dias, faltam horas. O  que é ainda dá tempo fazer?
Vamos nos lembrar do nosso passo a passo.
1. Vá ao Face e poste alguma coisa bem positiva! Não fique muito tempo lá. O Objetivo  não é ler, mas ser lido.
2. Ouça música, olhe seu caderno, repasse um simulado....
3. Vá à página do Uol quem sabe a prova da Bahiana  foi cancelada....rs brincadeirinha......
4. Vá dormir no horário de sempre.....se não conseguir....tudo bem...quase ninguém consegue.....experimente ouvir música você  afasta pensamentos que não deseja. Não deixe ninguém de sua família ficar com peninha de você:  você  não está morrendo, mas  indo para uma guerra.
5.  Coma o que você sempre comeu no café. Nada  de  um super café. Não se esqueça de agradecer a Deus  por poder fazer parte dos que farão a prova. Parece muito, mas não é nem 10% da população.
7. Leia o  Salmo 23.
8. Prepare suas coisas  para sair. Lembre-se do que vai levar para comer – laranja – Gatorade – maçã, biscoito cream Cracker,  banana, barra de chocolate Talento 65%.
9. Lembre-se  dos documentos, caneta transparente e músicas  para ouvir no caminho.
10. Vai sair de casa? Nada  de  muito drama. Hoje é o dia D e não o dia do seu enterro. Está acontecendo algo bom e  não ruim.
11. Melhor que  você  vá com seus amigos. Não dá? Fone no ouvindo. Não se desligue. Nada de  ficar ouvindo as coisas à sua  volta.
12. Antes  de sair. Você o espelho e a  música Firework. Pule muito!!!!!! Coloque  seu corpo em movimento.
13. Chegou ao local do evento?  Finja que é modelo. Faça cara e bocas e finja que é  a pessoa mais rica do planeta. Deixar as pessoas terem inveja de vc é bom!!!!! Beba gatorade....Além de aliviar sua tensão vai ajudar a  manter-se concentrado e hidratado. 
14. Entrou na  sala? Coma. A fome atrapalha a sua  concentração.
15. Hora de abrir sua prova. Faça isso  comendo a maçã. A possível tensão vai para ela e não para prova. Além disso vai te ajudar a ficar acordado pois contém cafeína.
16. Faça  amanhã o que  você sabe. Não fique morrendo em uma prova só. Depois de  fazer o que você sabe. Dê uma pausa.  Come uma banana  ou chocolate( se tiver cansado)  no caminho do banheiro. Lá dê  uns pulinhos e volte renovado.
17. Não beba água só Gatorade. Já sabe. Vai ao banheiro. Faça disso  um “acontecimento” e use bem o tempo. Relaxe, movimente-se...no caminho já  vá comendo alguma coisa.
18.  Volte renovado. Abra sua mente e na dúvida entre uma e outra. Pense!
19. Passe  seu gabarito a  limpo. Agradeça a Deus e  volte para casa sem comentar a prova. Coloque seu fone e permaneça ligado.

Na segunda Fase...deixe comigo.....

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Calendário Conquista

O... Galera de Vitória da Conquista, 

Não vamos ter aula hoje. 
Recebemos ontem muitas mensagens de alunos que não poderiam participar da aula por causa da Bahiana, da PUC- Minas,  da FUNORTE e  outras....
Nesse sentido, decidimos  reagendar a aula. Vamos nos organizar durante a semana e  eu publico para vocês!!!!
Descansem...os que vão fazer vestibular domingo deixem Deus fazer a parte Dele. Vocês já fizeram a de vocês....
Não se preocupem não....vamos fazer ainda em junho atendimento individual....uma palestra maravilhosa e  é claro nossa festa de despedida!!!!
Não achamos justo vocês pagarem mensalidade e não assistirem as aulas....entendemos que cada passo deve ser dado de cada vez. 

Como não vou estou adiantando a correção dos Contos de  Fadas para vocês receberem até domingo e as  demais pendências. 
Façam uma coisa bem legal esse  fim-de-semana quem não vai fazer vestibular. Vocês  vão precisar dessas  horas de descanso em breve!!!!

A redação de Bauman vocês entregam na próxima sexta!

quinta-feira, 13 de junho de 2013

O que esperar da Bahiana no dia 16?

Claro que não sei o que vai cair, mas nós somos seguidores de Milton  Santos e sabemos que com Clarividência é possível prever o futuro.
Por exemplo:
O tema de  redação da Unimontes trazia recortes sobre a Boate Kiss e  "Voilà"....a  prova da Unb também e inclusive o tema de redação era relacionado.
Então, não se esqueça:
Essas provas foram feitas no mesmo tempo, logo....
 Vai fazer PUC- Minas, FUNORTE, Bahiana?

Dê uma olhada na prova da UnB e UERJ....Se conseguir conversar com quem fez a Unimontes vale também....

Aqui está a prova da UnB com gabarito....

http://www.cespe.unb.br/vestibular/vestunb_13_2/arquivos/2VEST_002_01.pdf

http://www.cespe.unb.br/vestibular/vestunb_13_2/arquivos/2VEST_001_01.pdf

Uma Estória de Amor - Guimarães Rosa - FUNORTE

Foi no meio duma noite, indo para a madrugada, todos estavam dormindo. Mas cada um sentiu, de repente, no coração, o estalo do silenciozinho que ele fez, a pontuda falta da toada, do barulhinho. Acordaram, se falaram. Até as crianças. Até os cachorros latiram. Aí, todos se levantaram, caçaram o quintal, saíram com luz, para espiar o que não havia. Foram pela porta da cozinha. Manuelzão adiante, os cachorros sempre latindo. – Ele perdeu o chio... Triste duma certeza: cada vez mais fundo, mais longe nos silêncios, ele tinha ido s’embora, o riachinho de todos. Chegado na beirada, Manuelzão entrou, ainda molhou os pés, no fresco lameal. Manuelzão, segurando a tocha de cera de carnaúba, o peito batendo com um estranhado diferente, ele se debruçou e esclareceu. Ainda viu o derradeiro fiapo d’água escorrer, estilar, cair degrau de altura de palco a derradeira gota, o bilbo. E o que a tocha na mão de Manuelzão mais alumiou: que todos tremiam mágoa nos olhos. Ainda esperaram ali, sem sensatez; por fim se avistou a estrela d’alva. O riacho soluço se estancara, sem resto e talvez para sempre. Secara-se a lagrimal, sua boquinha serrana. Era como se um menino sozinho tivesse morrido. 
Guimarães Rosa, em “Uma estória de amor”
Sobre o autor...
Segundo o próprio Guimarães; “ nasci no ano de 1908, você já sabe. Você não deveria me pedir mais dados numéricos. Minha biografia, sobretudo minha biografia literária, não deveria ser crucificada em anos. As aventuras não têm princípio nem fim. E meus livros são aventuras; para mim são minha maior aventura”.
É importante lembrar também sua genialidade no estudo das línguas começou a aprender a primeira sozinho aos 7 anos e depois dominou muito bem a sua além do  alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto e  um pouco de russo; ainda  aventurava-se pelo sueco, holandês, latim e grego. Esse conhecimento de outras línguas e do funcionamento de suas gramáticas foi um dos instrumentos que garantiu ao Guimarães um grande conhecimento de nosso próprio idioma.
Formou-se em medicina e exerceu pouco a profissão trocando-a pela carreira de diplomacia quando foi considerado um herói pelos judeus por  proteger e facilitar a fuga de  perseguidos pelo Nazismo. Por isso foi homenageado em Israel, em abril de 1985, com a mais alta distinção que os judeus prestam a estrangeiros. O seu nome e de sua esposa foi dado a um bosque que fica ao longo das encostas que dão acesso a Jerusalém.
Três dias antes da morte o autor decidiu, depois de quatro anos de adiamento, assumir a cadeira na Academia Brasileira de Letras. Os quatro anos de adiamento eram reflexo do medo que sentia da emoção que o momento lhe causaria. Ainda que risse do pressentimento, afirmou no discurso de posse: "...a gente morre é para provar que viveu."
O escritor faz seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras com a voz embargada.  Parece que pressentiu que algo de mal lhe aconteceria. Com efeito, três dias após a posse, em 19 de novembro de 1967, ele morreria subitamente em seu apartamento em Copacabana.
“Em 1967, João Guimarães Rosa seria indicado para o prêmio Nobel de Literatura. A indicação, iniciativa dos seus editores alemães, franceses e italianos, foi barrada pela morte do escritor. A obra do brasileiro havia alcançado esferas talvez até hoje desconhecidas. Quando morreu tinha 59 anos. Tinha-se dedicado à medicina, à diplomacia, e, fundamentalmente às suas crenças, descritas em sua obra literária. Fenômeno da literatura brasileira, Rosa começou a publicar aos 38 anos. O autor, com seus experimentos lingüísticos, sua técnica, seu mundo ficcional, renovou o romance brasileiro, concedendo-lhe caminhos até então inéditos. Sua obra se impôs não apenas no Brasil, mas alcançou o mundo”.

GÊNERO LITERÁRIO
A crítica não chegou a uma conclusão definitiva sobre o gênero, mas é certo que na obra a prosa pode ser aproximada da  poesia, se pensarmos no estilo poético de Rosa, repleto de aliterações, onomatopeias, ritmo  característico e trabalho sugestivo com a linguagem. Dessa forma, uma estória de Amor pode também ser cobrado pela forma da escrita do autor e não somente pela narrativa.



A história ainda traz algumas outras personagens que são citadas por terem ido à festa, mas  elas não são de maior importância para o desenvolvimento da narrativa.

TEMPO E ESPAÇO
Em Uma Estória de Amor toda a narrativa é construída às vésperas da saída de uma boiada e tem  exatamente esta duração: desde os preparativos da festa organizada por Manuelzão até sua  realização e seu término.
FOCO NARRATIVO
Tem  um narrador onisciente em terceira pessoa. Há, porém, grande  utilização do discurso indireto livre (a personagem exprime seus pensamentos e sentimentos  em meio à fala do narrador) e, portanto, os discursos de narrador e personagem confundem-se, característica do estilo roseano.
Em Uma Estória de Amor, o narrador parece falar pela boca de Manuelzão, o qual filtra não  somente a linguagem como também o ponto de vista da narração. A segunda história da obra, assim como a primeira, é conduzida sem divisão em capítulos,  tangida como uma boiada, o que faz o leitor relacionar a própria forma (disposição e linguajar  sertanejo) com o mundo das Gerais.

Outras questões  importantes
A novela “Uma estória de amor”, de Guimarães Rosa, é modelar quanto à utilização da matéria oral, popular tradicional. Guimarães Rosa deliberadamente se apropria não apenas de motivos e de estruturas do conto e do romance tradicional. Mas integra uma variedade de outras formas desse acervo à sua narrativa de maneira tão natural que, por vezes, torna-se difícil dissociar um discurso do outro.
 Em “Uma estória de amor”, intercalam-se duas estórias: a de Manuelzão, apresentada por um narrador onisciente, e a do “Boi Bonito,” transmitida pelo Velho  Camilo, que se encaixa à primeira, completando-a.
A vida de Manuelzão consiste numa estória trivial, sem grandes emoções, que reflete o  realismo da vida. Para encontrar a ilusão necessária à alimentação do espírito, ele recorre ao  espaço mágico do faz-de-conta, através da inserção de o “Romanço do Boi Bonito” à sua estória:
Para bem narrar uma viagem, quase que se tinha necessidade de inventar a devoção de uma
mentira (ROSA, 1977, 126).2
Através desse encaixe, o espaço mágico do faz-de-conta se instala e Manuelzão,  vicariamente, vai realizar-se através das aventuras, das emoções, da vitória e das honrarias do  vaqueiro do romance, que passam a ser as suas próprias.
A estória de Manuelzão esboça-se como um conto de fadas; mas, na realidade, vai ser um  anti-conto sem final feliz.

A contadora de histórias....
Valendo-se do tema central desse conto – “o do  vaqueiro que não mentia” –, Joana Xaviel narra um anti-conto popular, pois sua estrutura não se  assemelha à estrutura canônica, referendada pela tradição para esse tipo de conto. A estória  narrada distorce o tema, ao apresentar um vaqueiro que é mentiroso, contrariando o desfecho de  todo conto de exemplo – uma lição de moral. Na matriz, a coragem do vaqueiro em dizer a  verdade, independentemente do que lhe pudesse acontecer, é valorizada a ponto dele receber  como recompensa a fortuna que caberia a seu patrão pela aposta ganha. No conto narrado por  Joana, a fortuna que o casal vem a possuir decorre de atos que contrariam a moral popular. A sua  estória é anti-conto, pois o modelo canônico desse tipo de narrativa tem como final o julgamento  do ato infrator, que encerra uma lição de moral em que o Bem é sempre o triunfante. A  consciência e o domínio que o povo tem do saber tradicional, o faz reagir contra o final da  estória. A narração se acaba sem a personagem má ser punida pelos crimes que praticara:
A estória se acabava aí, de-repentemente, com o mal não tendo castigo; [...]
Todos que ouviam, estranhavam muito: estória desigual das outras, danada de  diversa. Mas essa estória estava errada, não era toda! Ah, ela tinha de ter outra  parte [...]. (p. 134)  Se a contadora não soubesse ou tivesse esquecido o final da estória, era preciso “mandar  enviados” por aí atrás do verdadeiro final, da parte mais importante: a que justamente, no nível da  estrutura, dá fecho a esse tipo de conto, quando o Bem prevalece sobre o Mal. Se o conto é de exemplo, seu final não pode deixar de conter o julgamento da malfeitora, a “Destemida”, fecho que dentro do senso de justiça do povo é o mais importante. Desse entendimento parte a reação das personagens. Caso a segunda parte não fosse encontrada, “a gente podia, carecia de nela acreditar, mesmo assim sem ouvir, sem ver, sem saber. Só essa parte é que era importante”.
(p134).
Características da escrita – MUITO IMPORTANTE....
O texto de Guimarães Rosa reproduz também, de maneira bastante fiel, a estrutura do romance de tradição oral, no tratamento dado à temática do Ciclo do Boi. Ao escolher como narrador o velho Camilo, na realidade mantém a tradição ao entregar a voz a um homem. A utilização de procedimentos mnemônicos para facilitar a memorização do texto, torna evidente a  sua procedência oral. Ainda a rima e o ritmo do verso, que a elaboração em prosa não conseguiu impedir, e a presença do bordão, na parte apresentada em verso, ajudam a memorização do texto:
Levanta-te, Boi Bonito, ó meu mano,
Com os chifres que Deus te deu!
Algum dia você já viu, ó meu mano,
Um vaqueiro como eu? (p. 190)
Guimarães Rosa também no desenrolar da estória lembra ao leitor que ele está  presenciando uma performance. Para isso intercala à estória uma série de apelos feito pelo  contador que servem para checar o canal: “Me oiçam bem?” e para chamar a atenção do  “ouvinte” para a recepção da estória: “Que todos me oiçam, que todos me oiçam: o seguinte é  este.” (p.181). Ainda há explicações várias, palavras e expressões, como recursos de apoio à  continuidade da transmissão: “A pois”, como também palavras que procuram reproduzir, através  de dêiticos, a direção a seguir: “Antão, aqui a gente se aparta. Você vai p’r’aqui, eu p’r’ ali, este p’r’ acolá’, outro pr’acoli...”(p.186)
Ou através de construções onomatopaicas imitando o trote do cavalo: “Se esparramaram em  despenque, morro a fundo, por todo o lado: qualequal, qual e qual, qual-e-qual, qual-e-qual, quale-qual, qual, qual, qual, qual, qual, qual... Sobaixo de tantas patas, a terra sotrateava.” (186)
O trabalho de recriação do romance tradicional é tão consciente que Rosa, através da prosa poética, conduz a leitura para um ritmo que reproduz a métrica e a rima desse texto da tradição  em versos septissilábicos, com uma fidelidade quase perfeita, podendo-se extrair dessa prosa  estrofes inteiras: “Nos verdes onde ele pasta, cantam muitos passarinhos. Das aguada onde bebe,  só se bebe com carinho. Muito bom vaqueiro e morto por ter ele frenteado. Tantos que chegaram  perto, tantos desaparecidos. Ele fica em pé e fala, melhor não se ter ouvido...”(p. 184)
O exagero, como procedimento estilístico, é também explorado. Recorre-se à hipérbole  visando chamar a atenção do ouvinte para determinada coisa ou acontecimento a que se deseja  dar destaque, ou que se julga importante:
Por mais de mil se ajuntaram, ali na baixa vertente, fervença de tanta gente: –
“Rendam armas, companheiros! Vamos derribar esse Boi!”
Alvoroçou, aquilo, aos altos. Se engrossou com mais milheiro, e dúzia e grosa e
milhão. Mundo que gente pariu. Várias presenças e praças, sortida regra e nação.


As questões
Na novela “Uma história de amor” (Festa de Manuelzão), de Guimarães Rosa, o enredo, entendido como o encadeamento de ações, é praticamente anulado. Já que a ênfase não está propriamente no enredo, aponte e analise dois recursos da
narrativa, os quais, ao aparecer em destaque no texto, privilegiam uma narração pouco convencional.

 AS PERSONAGENS de UMA ESTÓRIA DE AMOR
Em Uma Estória de Amor, a personagem principal é Manuelzão, vaqueiro de mais de sessenta anos, que tem a sua trajetória lentamente reconstituída em meio à festa que oferece para a “inauguração” da capela. Seu perfil marca-se pela dedicação ao trabalho de vaqueiro e de  administrador da Samarra: “Ele Manuelzão nunca respirara de lado, nunca refugara de sua  obrigação. Todo prazer era vergonhoso, na mocidade de seu tempo” Ao longo da narrativa,  porém, percebe-se uma necessidade do protagonista por reconhecimento e admiração, como  sendo homem de valor: “Ah, todo o mundo, no longe do redor, iam ficar sabendo quem era  ele, Manuelzão, falariam depois com respeito.”
Ao contrário de Campo Geral, o universo de Uma Estória de Amor é muito grande. Muitas  pessoas povoam a narrativa. Adelço: filho de Manuelzão com “um caso rápido”, era um “rapagão cabeludo, escurado, às  vezes feio até, quando meio zarolho remirava, com Manuelzão nada se parecia. A mãe  morrera pontual, Manuelzão não se lembrava do nome dela.” Não contava com a simpatia do  pai: “Carecia de um filho, prosseguinte. Um que levasse tudo levantado, sem deixar o mato  rebrotar. Não o Adelço — ele sabia que o Adelço não tinha esse valor. Doía, de se conhecer:  que tinha um filho, e não tinha. Mas esse Adelço saíra triste ao avô, ao pai dele Manuelzão,  que lavrava rude mas só de olhos no chão, debaixo do mando dos outros, relambendo sempre  seu pedacinho de pobreza, privo de réstia de ambição de vontade. Desgosto... Como ter um  remédio que curasse um erro, mudasse a natureza das pessoas?” Visto como mesquinho e  maldoso, era “um homem aguardando para ser ruim”. Tinha muita afeição (apenas) pelos  filhos e, principalmente, pela esposa, de quem não gostava de se separar, contrariando o que  era normal para o seu povo, já que não ter lua de mel é, para um vaqueiro, motivo de orgulho,  um sinal de que se trabalha arduamente: “Por conta disso, para não se separar da Leonísia (...)  não se oferecera insistido para chefiar a comitiva da boiada — deixara que a ele mesmo,  Manuelzão, competisse aquela ida. O Adelço tinha-se feito peso-mole de melhor não ir: pois  queria era ficar, encostelado, aproveitando os gostos de marido, o constante da mulher, o  bebível, em casa com cama.”
Leonísia: esposa de Adelço, era linda e formosa. Ao contrário do marido, era “boa, uma sinhá   de exata, só senhora. Aquela tinha um sinal de um sabido anjo-da-guarda — pelo convívio que  ela encorajava, gerência de companhia.” Até mesmo a mãe de Manuelzão, criatura tão  estimada por ele, reconheceu seu caráter: “Sobre Leonísia, ela redisse: — ‘Esta procede  produzindo de si, certa no esquecível e no lembrável...’-; e não dosou o bem querer, que era  para uma neta, para uma filha.” Durante a festa, ela ficou sendo a “dona-de-casa”. Dona Quilina: mãe de Manuelzão, já falecida desde o início da narrativa. Foi por ela que o filho  mandou construir a capela.
Seo Camilo: velho, com mais de oitenta anos, era pobre e vivia de esmolas. “À vista, não se  percebia fosse tão idoso. (...) Seria talvez de todas as criaturas dali o mais branco, e o de mais  apuradas feições, talvez mesmo mais que Manuelzão.” Era uma criatura boa e humilde tal qual  a mãe de Manuelzão. Ganha importância ao fim da narrativa ao contar a história do “Boi Bonito”.
Joana Xaviel: a contadora de histórias da festa. Não tinha morada fixa, “morava desperdida,  por aí, ora numa ora noutra chapada”. Demonstrava grande entusiasmo ao contar suas  histórias.
Federico Freyre: dono da Samarra, chefe de Manuelzão. Não pôde ir à festa e mandou para o  seu organizador uma carta se desculpando, o que fez a estima do vaqueiro por ele aumentar ainda mais.
Frei Petroaldo: padre que fora chamado para benzer a capela, celebrar a missa e batizar e  crismar o povo da Samarra. “Estrangeiro, alimpado e louro, com polainas e culotes debaixo do  guarda-pó, com o cálice e os paramentos nos alforjes.”Promitivo: ajudante de Manuelzão, muito querido por este. Alegre, era muito parecido, na  opinião de Manuelzão, com Leonísia, “um o retrato da outra. Porém ele era “valdevinos, no  tanto que ela era trabalhadeira”. Ajudara Manuelzão a montar a festa.
José de Deus: mulato surdo-mudo que foi assim apelidado por não saberem qual era o seu  nome.
João Urúgem: eremita que fora viver no “pé-de-serra” após ser acusado de furto. Guardava  raiva da população de todo o baixio “por conta do falso que contra ele tinham em outro tempo  acusado”. Urúgem acreditava que Manuelzão fosse castigar todos que viviam por lá em seu  nome. Vivia em uma choupana em meio a árvores e moitas e “fedia a mijo de cavalo”. Saiu de  sua morada apenas para ir à festa.
Seo Vevelho: “sitieiro abastado” conhecido de Simião Faço e Jenuário, era “tocador de  música” e foi com seus filhos, os quais exerciam esse mesmo ofício, tocar na festa de  Manuelzão.

Chico Bràabóz: “o preto da rabeca”. Com feições de mouro e nariz pontudo, Chico gostava de  beber e tinha muita memória para músicas, danças e cantigas: “Chico Bràabóz, preto cores  pretas, mas com feições. Ô homem da pólvora quente! Se chegava, animante, simples social, o  mundo inteiro pregado na ponta de seu nariz. (...) Já estava meio chumbado, bebeu mais do  que o copo manda. Chico Bràabóz tocava rabeca, sua rabeca sarafina escura, como de um  preto zinco, de folhão”. Falava tudo em versos: “Meu repertório, eu tenho ele no cocoricó...”
Acizilino: velho companheiro de Manuelzão; haviam trabalhado juntos na juventude, mas  agora aquele era empregado deste. Manuelzão o descreve como sendo tão trabalhador  quanto ele: “Acizilino, depois do casamento, podia ter tomado de folga, de gala, de repouso;  se tanto, se duvidar, uns dias. Mas fez questão de sair com a gente, ele casou num sábado e se  saiu na segunda (...) por fora de uns mais de quarenta e cinco dias, ida e volta só.”
Pruxe: violeiro que animou a festa de Manuelzão.
Maçarico: sobrinho de Pruxe, era “o maior dançador”.
João Orminiano e Queixo-de-Boi: dois vaqueiros de Federico Freyre em outra fazenda, a  Santa-Lua. Trouxeram para o dono da festa recados do patrão, o qual se desculpava em uma  carta por não ter podido ir à festança. Ambos acabaram ficando para a festa que, apesar de  estar no final, ainda estava animada.
Seo Lindorífico: “valioso fazendeiro, mas homem amigo, sensível no sentimental”. Muito educado, era “homem de gestos”, admirado por todos por sua fineza.


( Material retirado de artigos sobre a obra disponíveis na internet)










quarta-feira, 12 de junho de 2013

Dia dos Namorados

O dia dos namorados está  chegando e durante a semana passada a professora Mara Rute fez uma campanha em suas salas para esse dia. 
Muitos alunos pediram a postagem dos textos. Então segue com a explicação da professora. 

Existem aqueles que acreditam na possibilidade de Viver um Grande Amor então, devem mesmo ler Vinicius que ensina como viver esse amor. Desde a importância das flores até a fidelidade ao ser amado. 
Se você não tem namorado precisa ser o texto de Drummond e aprender como fazer para ter um. 
Se nesse dia você ama e não é correspondido que tal a música-poema de Marisa Vai saber?
E se você descobriu que a pessoa que você achava lhe pertencer não te pertence? Vai de Djavan Boa Noite
Mas, acho muito importante aprendermos com Shakespeare a plantar nosso jardim ao invés de esperar que alguém traga as  flores. 

Para viver Um Grande Amor (Vinicius de Moraes)


Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.

Namorado: Ter ou não ter, é uma questão (Carlos Drummond de Andrade)
Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, de saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.
Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado, mesmo, é muito difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito, mas aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda, decidida, ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado não é quem não tem um amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter namorado.
Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.
Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada; de ânsia de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer sesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro
dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira d'água, show do Milton
Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical na Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não chateia com o fato de o seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho. Não tem namorado quem
não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar.
Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.
Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela.
Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante
a dizer frases sutis e palavras de galanteria.
Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido.
Enlou-cresça.




Vai Saber? ( Marisa Monte)
Não vá pensando que determinou


Sobre o que só o


amor pode saber
Só porque disse que não me quer
Não quer dizer que não vá querer
Pois tudo o que se sabe do amor
É que ele gosta muito de mudar
E pode aparecer onde ninguém ousaria supor

Só porque disse que de mim não pode gostar
Não quer dizer que não tenha do que duvidar
Pensando bem, pode mesmo
Chegar a se arrepender
E pode ser então que seja tarde demais
Vai saber?




Não vá pensando que determinou
Sobre o que só o amor pode saber
Só porque disse que não me quer
Não quer dizer que não vá querer
Pois tudo o que se sabe do amor
É que ele gosta muito de se dar
E pode aparecer onde ninguém ousaria se pôr

Só porque disse que de mim não pode gostar
Não quer dizer que não tenha o que considerar
Pensando bem, pode mesmo
Chegar a se arrepender
E pode ser então que seja tarde demais
Vai saber?


Boa Noite
Djavan

Meu ar de dominador
Dizia que eu ia ser seu dono
E nessa eu dancei!
Hoje no universo
Nada que brilha cega mais que seu nome
Fiquei mudo ao lhe conhecer
O que vi foi demais, vazou
Por toda selva do meu ser
Nada ficou intacto
Na fronteira de um oásis
Meu coração em paz, se abalou
É surpresa demais que trazes
'Inda bem que eu sou Flamengo
Mesmo quando ele não vai bem
Algo me diz em rubro-negro
Que o sofrimento leva além
Não existe amor sem medo
Boa noite!
Quem não tem pra quem se dar
O dia é igual à noite
Tempo parado no ar, há dias
Calor, insônia , oh! noite
Quem ama vive a sonhar de dia
Voar é do homem
Vida foi feita pra estar em dia
Com a fome, com a fome, com a fome
Se vens lá das alturas com agruras ou paz
Oh, meu bem, serei seu guia na terra
Na guerra ou no sossego sua beleza é o cais
E eu sou o homem
Que pode lhe dar, além de calor, fidelidade
Minha vida por inteiro eu lhe dou

Um dia você aprende… – Willian Shakespeare

Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança ou proximidade. E começa aprender que beijos não são contratos, tampouco promessas de amor eterno. Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos radiantes, com a graça de um adulto – e não com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, pois o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, ao passo que o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.

Depois de um tempo você aprende que o sol pode queimar se ficarmos expostos a ele durante muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe: algumas pessoas simplesmente não se importam… E aceita que não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai ferí-lo de vez em quando e, por isto, você precisa estar sempre disposto a pedoá-la.

Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que se leva um certo tempo para construir confiança e apenas alguns segundos para destruí-la; e que você, em um instante, pode fazer coisas das quais se arrependerá para o resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias, e que, de fato, os bons e verdadeiros amigos foram a nossa própria família que nos permitiu conhecer. Aprende que não temos que mudar de amigos: se compreendermos que os amigos mudam (assim como você), perceberá que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou até coisa alguma, tendo, assim mesmo, bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito cedo, ou muito depressa. Por isso, sempre devemos deixar as pessoas que verdadeiramente amamos com palavras brandas, amorosas, pois cada instante que passa carrega a possibilidade de ser a última vez que as veremos; aprende que as circunstâncias e os ambientes possuem influência sobre nós, mas somente nós somos responsáveis por nós mesmos; começa a compreender que não se deve comparar-se com os outros, mas com o melhor que se pode ser.

Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que se deseja tornar, e que o tempo é curto. Aprende que não importa até o ponto onde já chegamos, mas para onde estamos, de fato, indo – mas, se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar servirá.

Aprende que: ou você controla seus atos e temperamento, ou acabará escravo de si mesmo, pois eles acabarão por controlá-lo; e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa o quão delicada ou frágil seja uma situação, sempre existem dois lados a serem considerados, ou analisados.

Aprende que heróis são pessoas que foram suficientemente corajosas para fazer o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências de seus atos. Aprende que paciência requer muita persistência e prática. Descobre que, algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute quando você cai, poderá ser uma das poucas que o ajudará a levantar-se. (…) Aprende que não importa em quantos pedaços o seu coração foi partido: simplesmente o mundo não irá parar para que você possa consertá-lo. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar atrás. Portanto, plante você mesmo seu jardim e decore sua alma – ao invés de esperar eternamente que alguém lhe traga flores. E você aprende que, realmente, tudo pode suportar; que realmente é forte e que pode ir muito mais longe – mesmo após ter pensado não ser capaz. E que realmente a vida tem seu valor, e, você, o seu próprio e inquestionável valor perante a vida.





segunda-feira, 10 de junho de 2013

Contra Pablo - Victória Lima e Tom Jobim

Na Campanha por boa música  eu tento convencê-los na prática....
Essa é Victória, minha princesa....

Bahiana 06 - Avanços da Medicina







Tema 6 – Doenças do século e os avanços da medicina
 Bia Alcântara
Por médicos clarividentes

       A mudança é a lei. Tendo em vista tal égide darwiniana, muitas foram as transformações na Medicina ao longo por perpassar histórico. Dessa forma, os mesmo avanços que proporcionaram à população uma melhor e duradoura vida são os geradores de novos desafios para garantir o fundamental direito cidadão à  vida. Dessa forma, aliando tecnologia e humanização, médicos do século XXI convivem com a odisseia de buscar novas e revolucionárias curas para os males da nova Era.
      Desde a cura regida pela magia e religiosidade ao diagnóstico humanista de Hipócrates, a medicina constrói as ferramentas para potencializar a arte de salvar. Portanto, a capacidade atual de prolongar a expectativa de vida, descobrir melhores tratamentos para vorazes doenças como o câncer, AIDS e Parkison é conseqüência de uma evolução e revolução constante da esfera médica. Entretanto, a necessidade desses avanços não se esgota, visto que a contemporaneidade ainda convive com o desafio de acabar com os novos males.*
      As mudanças causadas pela Era do capitalismo globalizado e a crise de valores ético-morais contribuem para o surgimento de males característicos da pós-modernidade. Nesse bojo, dos distúrbios alimentares, causados pela busca de adequação aos padrões de beleza, à depressão, típica da desilusão diante de um mundo em que as relações são liquidas e distantes da ética social. A cada conjuntura histórica a comunidade médica precisa avançar no diagnóstico e tratamento para garantir saúde e cura do ser humano.
      Para além disso, Antoine de Saint-Exupery apregoava que é preciso dar um passo e ainda outro no intuito de projetar, a partir do presente, perspectivas de um futuro melhor. Já que a mudança é uma característica inerente da humanidade, cabe aos missionários da saúde se adequar aos novos contextos e buscar sempre formas clarividentes de atender às necessidades dos assistidos.


terça-feira, 4 de junho de 2013

Redação medicina Financeira....

 Redação Modelo

                                                           Por uma outra conduta
              
              Na modernidade líquida, o humanismo como progenitor do desenvolvimento foi substituído pelo totalitarismo econômico do sistema capitalista. Tendo em vista essa verdade, a lógica do capital torna-se capaz de subverter as disposições éticas mais intrínsecas da conduta humana em nome do lucro. Imersa nesse panorama, encontra-se a esfera médica hodierna repleta de banalização do sofrimento alheio e exercício essencialmente monetário da profissão.
          A era do triunfalismo do mercado coincide com a falência dos valores morais e subjetivos no âmbito médico. Partindo desse pressuposto, da recusa ao atendimento de um paciente, motivada por questões financeiras às consultas superficiais desprovidas de solidariedade e princípios humanistas, os profissionais de saúde do século XXI tendem a privilegiar os aspectos tecno-científicos em detrimento dos valores e virtudes inerentes da profissão, ou seja, o ethos de cuidar. Nesse sentido, distancia-se progressivamente dos aspectos éticos e altruístas idealizados por Hipócrates.
              Segundo Eduardo Galeano a esperança deve ser a concepção de futuro da humanidade.  Seguindo esse viés, os filhos de Asclépio são capazes por si só de alterar os ditames insustentáveis e bárbaros da comunidade médica pós-industrial. Dessa forma, os Voluntários do Sertão e a Medicina Paliativa ensinam: a procura por fazer o bem, seja através de um atendimento não guiado pelo interesse   
financeiro ou pela inclinação às angústias e sofrimento do próprio ser humano, deve ser o guia das ações de todos os médicos. Sendo assim, mais que necessário, é efetivamente possível que mudanças clarividentes no presente projetem profissionais capazes de realizar com êxito a missão que lhes foi confiada: a de salvar vidas.
A vida humana torna-se, na sociedade contemporânea, o grande motor do capital.      Portanto, garantir a reumanização da esfera médica representa, sobretudo, romper com uma barbárie do século XXI: a banalização do sofrimento do outro. Nesse sentido, no caminho das mudanças, compreender que não se pode mudar o começo mas se pode modificar o final deve ser a premissa básica a ser seguida pela comunidade médica.


Proposta de redação com base em Bauman

Proposta de  Redação com base em Bauman
Com base na entrevista de Bauman ou na leitura de uma de suas obras, produza um texto copiando os argumentos do autor bem como utilizando-se de exemplos citados por ele para compor o texto sobre o seguinte tema: O mundo de hoje não é o único mundo Possível.
Em seu texto é preciso levar em consideração as condições em que o mundo está e as que são necessárias para a produção deste outro mundo.


Você pode achar estranho a ideia de copiar, mas como as outras habilidades como falar e andar a escrita se aprende também através da cópia. Experimente!
  Você enriquecerá seus argumentos e seu vocabulário!!!!






O sociólogo afirma que é preciso acreditar no potencial humano para que um outro mundo seja possível
Dennis de Oliveira
Zygmunt Bauman é um dos pensadores contemporâneos que mais têm produzido obras que refletem os tempos contemporâneos. Nascido na Polônia em 1925, o sociólogo tem um histórico de vida que passa pela ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial, pela ativa militância em prol da construção do socialismo no seu país sob a direta influência da extinta União Soviética e pela crise e desmoronamento do regime socialista. Professor emérito de sociologia da Universidade de Leeds, Bauman propõe o conceito de “modernidade líquida” para definir o presente, em vez do já batido termo “pós-modernidade”, que, segundo ele, virou mais um qualificativo ideológico.
Bauman define modernidade líquida como um momento em que a sociabilidade humana experimenta uma transformação que pode ser sintetizada nos seguintes processos: a metamorfose do cidadão, sujeito de direitos, em indivíduo em busca de afirmação no espaço social; a passagem de estruturas de solidariedade coletiva para as de disputa e competição; o enfraquecimento dos sistemas de proteção estatal às intempéries da vida, gerando um permanente ambiente de incerteza; a colocação da responsabilidade por eventuais fracassos no plano individual; o fim da perspectiva do planejamento a longo prazo; e o divórcio e a iminente apartação total entre poder e política. A seguir, a íntegra da entrevista concedida pelo sociólogo à revista CULT.
CULT – Na obra Tempos líquidos, o senhor afirma que o poder está fora da esfera da política e há uma decadência da atividade do planejamento a longo prazo. Entendo isso como produto da crise das grandes narrativas, particularmente após a queda dos regimes do Leste Europeu. Diante disso, é possível pensar ainda em um resgate da utopia?
Zygmunt Bauman – Para que a utopia nasça, é preciso duas condições. A primeira é a forte sensação (ainda que difusa e inarticulada) de que o mundo não está funcionando adequadamente e deve ter seus fundamentos revistos para que se reajuste. A segunda condição é a existência de uma confiança no potencial humano à altura da tarefa de reformar o mundo, a crença de que “nós, seres humanos, podemos fazê-lo”, crença esta articulada com a racionalidade capaz de perceber o que está errado com o mundo, saber o que precisa ser modificado, quais são os pontos problemáticos, e ter força e coragem para extirpá-los. Em suma, potencializar a força do mundo para o atendimento das necessidades humanas existentes ou que possam vir a existir.
CULT – Por que se fala tanto hoje de “fim das utopias”?
Bauman – Na era pré-moderna, a metáfora que simboliza a presença humana é a do caçador. A principal tarefa do caçador é defender os terrenos de sua ação de toda e qualquer interferência humana, a fim de defender e preservar, por assim dizer, o “equilíbrio natural”. A ação do caçador repousa sobre a crença de que as coisas estão no seu melhor estágio quando não estão com reparos; de que o mundo é um sistema divino em que cada criatura tem seu lugar legítimo e funcional; e de que mesmo os seres humanos têm habilidades mentais demasiado limitadas para compreender a sabedoria e harmonia da concepção de Deus.
Já no mundo moderno, a metáfora da humanidade é a do jardineiro. O jardineiro não assume que não haveria ordem no mundo, mas que ela depende da constante atenção e esforço de cada um. Os jardineiros sabem bem que tipos de plantas devem e não devem crescer e que tudo está sob seus cuidados. Ele trabalha primeiramente com um arranjo feito em sua cabeça e depois o realiza. Ele força a sua concepção prévia, o seu enredo, incentivando o crescimento de certos tipos de plantas e destruindo aquelas que não são desejáveis, as ervas “daninhas”. É do jardineiro que tendem a sair os mais fervorosos produtores de utopias. Se ouvimos discursos que pregam o fim das utopias, é porque o jardineiro está sendo trocado, novamente, pela ideia do caçador.
CULT – O que isso significa para a humanidade de hoje?
Bauman – Ao contrário do momento em que um dos tipos passou a prevalecer, o caçador não podia cuidar do global equilíbrio das coisas, natural ou artificial. A única tarefa do caçador é perseguir outros caçadores, matar o suficiente para encher seu reservatório. A maioria dos caçadores não considera que seja sua responsabilidade garantir a oferta na floresta para outros, que haja reposição do que foi tirado. Se as madeiras de uma floresta forem relativamente esvaziadas pela sua ação, ele acha que pode se deslocar para outra floresta e reiniciar sua atividade. Pode ocorrer aos caçadores que um dia, em um futuro distante e indefinido, o planeta poderia esgotar suas reservas, mas isso não é a sua preocupação imediata, isso não é uma perspectiva sobre a qual um único caçador, ou uma “associação de caçadores”, se sentiria obrigado a refletir, muito menos a fazer qualquer coisa.
Estamos agora, todos os caçadores, ou ditos caçadores, obrigados a agir como caçadores, sob pena de despejo da caça, se não de sermos relegados das fileiras do jogo. Não é de admirar, portanto, que, sempre que estamos a olhar a nosso redor, vemos a maioria dos outros caçadores quase sempre tão solitária quanto nós. Isso é o que chamamos de “individualização”. E precisamos sempre tentar a difícil tarefa de detectar um jardineiro que contempla a harmonia preconcebida para além da barreira do seu jardim privado. Nós certamente não encontraremos muitos encarregados da caça com interesse nisso, e sim entretidos com suas ambições. Esse é o principal motivo para as pessoas com “consciência ecológica” servirem como alerta para todos nós. Esta cada vez mais notória ausência do jardineiro é o que se chama de “desregulamentação”.
CULT – Diante disso, a esquerda não tem possibilidades de ter força social?
Bauman – É óbvio que, em um mundo povoado principalmente por caçadores, não há espaço para a esquerda utópica. Muitas pessoas não tratam seriamente propostas utópicas. Mesmo que saibamos como fazer o mundo melhor, o grande enigma é se há recursos e força suficientes para poder fazê-lo. Essas forças poderiam ser exercidas pelas autoridades do engenhoso sistema do Estado-nação, mas, como observou Jacques Attali em La voie humaine, “as nações perderam influência sobre o curso das coisas e delegaram às forças da globalização todos os meios de orientação do mundo, do destino e da defesa contra todas as variedades do medo”. E as forças da globalização são tudo, menos instintos ou estratégias de “jardineiros”, favorecem a caça e os caçadores da vez. O Thesaurus [dicionário da língua inglesa, de 1892] de Roget, obra aclamada por seu fiel registro das sucessivas mudanças nos usos verbais, tem todo o direito de listar o conceito de utópico como “fantasia”, “fantástico”, “fictício”, “impraticável”, “irrealista”, “pouco razoável” ou “irracional”. Testemunhando assim, talvez, o fim da utopia.
Se digitarmos a palavra utopia no portal de buscas Google, encontraremos cerca de 4 milhões e 400 mil sites, um número impressionante para algo que estaria “morto”. Vamos, porém, a uma análise mais atenta desses sites. O primeiro da lista e, indiscutivelmente, o mais impressionante é o que informa aos navegantes que “Utopia é um dos maiores jogos livres interativos online do mundo, com mais de 80 mil jogadores”. Eu não fiz uma pesquisa em todos os 4 milhões de sites listados, mas a impressão que tive após uma leitura de uma amostra aleatória é que o termo utopia aparece em marcas de empresas de cosméticos, de design de interiores, de lazer para feriados, bem como de decoração de casas. Todas as empresas fornecem serviços para pessoas que procuram satisfações individuais e escapes individuais para desconfortos sofridos individualmente.
CULT – Nesta sociedade líquido-moderna, como fica a ideia de progresso e de fluxos de tempo?
Bauman – A ideia de progresso foi transferida da ideia de melhoria partilhada para a de sobrevivência do indivíduo. O progresso é pensado não mais a partir do contexto de um desejo de corrida para a frente, mas em conexão com o esforço desesperado para se manter na corrida. Você ouve atentamente as informações de que, neste ano, “o Brasil é o único local com sol no inverno”,neste inverno, principalmente se você quiser evitar ser comparado às pessoas que tiveram a mesma ideia que você e foram para lá no inverno passado. Ou você lê que deve jogar fora os ponchos que estiveram muito em voga no ano passado e que agora, se você os vestir, parecerá um camelo. Ou você aprende que usar coletes e camisetas deve “causar” na temporada, pois simplesmente ninguém os usa agora.
O truque é manter o ritmo com as ondas. Se não quiser afundar, mantenha-se surfando – e isso significa mudar o guarda-roupa, o mobiliário, o papel de parede, o olhar, os hábitos, em suma, você mesmo, quantas vezes puder. Eu não precisaria acrescentar, uma vez que isso deva ser óbvio, que essa ênfase em eliminar as coisas – abandonando-as, livrando-se delas –, mais que sua apropriação, ajusta-se bem à lógica de uma economia orientada para o consumidor. Ter pessoas que se fixem em roupas, computadores, móveis ou cosméticos de ontem seria desastroso para a economia, cuja principal preocupação, e cuja condição sine qua non de sobrevivência, é uma rápida aceleração de produtos comprados e vendidos, em que a rápida eliminação dos resíduos se tornou a vanguarda da indústria.
CULT – Neste mundo de “caçadores”, e não de jardineiros, não há então uma utopia possível? O “aqui e agora” se impõe como a única referência da existência humana?
Bauman – O problema é que, uma vez tentada, a caça se transforma em compulsão, dependência e obsessão. Atingir uma lebre é um anticlímax que só se torna atraente com a perspectiva de uma nova caça, com a esperança de que essa caça será a mais deliciosa (ou a única deliciosa?). Apanhar a lebre prenuncia o fim de todas as expectativas, salvo se outra caçada for planejada e imediatamente empreendida. Será que isso é o fim da utopia? Em um aspecto, é – na medida em que as primeiras utopias modernas previam um ponto em que o tempo chegaria a uma paragem, na verdade, o fim do tempo como história. Não existe tal ponto na vida de um caçador, um momento em que se poderia dizer que o trabalho foi feito, a missão, cumprida, e, assim, poder-se-ia olhar para a frente, para o descanso e gozo do saque, a partir de agora até a eternidade.
Em uma sociedade de caçadores, uma perspectiva de fim da caça não é tentadora, mas assustadora – uma vez que significa uma derrota pessoal. Os chifres anunciam o início de uma nova aventura, a doce memória e a ressurreição das aventuras do passado; não haverá fim à emoção universal… Só eu que fiquei de lado, excluído, impedido de usufruir as alegrias dos outros, apenas um espectador passivo do outro lado do muro, apenas vendo a outra parte, mas proibido de participar.
Se, em uma vida contínua e continuada, a caça é uma utopia, ela é – ao contrário das outras – uma utopia sem nenhum efeito. A utopia torna-se um fato bizarro se for medida por normas ortodoxas; as utopias clássicas prometiam o fim da labuta, mas a utopia dos caçadores encapsula o sonho de uma labuta que nunca termina. Ao contrário das utopias de outrora, a utopia dos caçadores não oferece sentido nenhum à vida, verdadeira ou fraudulenta. Ela apenas ajuda a perseguir o significado da vida longe do espírito da vida. Tendo redesenhado o curso da vida em uma interminável série de perseguições autocentradas, cada episódio vivido como uma abertura para o próximo, ela (a utopia) não oferece oportunidade de reflexão sobre a direção e o sentido da sua totalidade. Quando vem finalmente uma ocasião, um momento de queda ou de proibição da vida de caça, geralmente é tarde demais para a reflexão sobre a maneira de suportar a vida, da própria vida como a vida dos outros: é demasiado tarde para se opor à forma atual da vida.
CULT – Mas os sonhos persistem, não? O ser humano não pode viver sem acreditar em alguma coisa, ainda que seja algo fora do seu domínio imediato. E o desejo por um outro mundo possível persiste e mobiliza vários setores da sociedade, particularmente com a percepção cada vez mais forte das dificuldades de resolver os problemas da humanidade.
Bauman – Em um notável artigo sobre a persistência da utopia intitulado “Persistent utopia” (2008), Miguel Abensour cita William Morris (A dream of John Ball, Elec Book, 2001), que escreve em 1886 que os homens lutam e perdem a batalha, e as coisas que eles lutaram para acontecer, apesar da derrota, transformam-se para não ter o mesmo significado que antes, e outros homens têm de lutar por aquilo que agora se entende por outro nome. Morris escreveu sobre os seres humanos como tais e sugere que lutam por uma “coisa que não é”; é a forma como as pessoas são, é o caráter do ser humano. O “não” (nicht) como Ernst Bloch salientou “é a falta de algo e também o fugir do que falta”; assim, é o que falta para conduzir. Se estivermos de acordo com Morris, iríamos sempre ter utopias a ser elaboradas, já que expressões sistematizadas como essa fazem parte do aspecto crucial da natureza humana. Utopias foram todas as tentativas de enunciar e descrever em detalhes a coisa para a qual a próxima luta seria dirigida. Notamos, contudo, que todas as utopias escritas por Morris, antecessores e contemporâneos foram esquemas de um mundo em que as batalhas de coisas que não são não estão longe dos cartões. Essas batalhas não eram exigidas. Então, se estivermos de acordo com Morris, a natureza das coisas para as quais as pessoas lutavam era o fim da guerra, o fim das necessidades e dos deveres, e o desejo e a conveniência de ir à luta. E a grande coisa que manteve proveniente a ideia de lutar não pensando na batalha perdida, mas em seu significado e em incitar outras pessoas a lutar novamente pela mesma coisa com outro nome, foi o Estado, que não usa as mãos para lutar.
Temos as hostilidades que reaparecem após o armistício, que ficam muito aquém do êxtase de quem lutou e esperava pela paz. A inquietação do compulsivo, obsessivo, viciado caçador de utopias foi impelida e sustentada por um desejo de descanso. As pessoas corriam para a batalha que sempre persegue o sonho. Outra característica das utopias de William Morris, e por quase um século depois, foi o seu radicalismo.
CULT – O que vem a ser “radical”?
Bauman – Atos, empresas, meios e medidas podem ser chamados de “radicais” quando eles chegam até suas “raízes”, às de um problema, um desafio, uma tarefa. Note, contudo, que o substantivo latinoradix, do qual se origina o adjetivo “radical”, diz respeito não só às raízes, mas também a fundações e origens. O que essas três noções – raiz, fundações e origens – têm em comum? Dois atributos.
Primeiro: em circunstâncias normais, o material de todos os três são referentes escondidos da vista e impossíveis de ser analisados, muito menos tocados diretamente. Qualquer coisa que tenha crescido em um deles, como troncos ou caules, no caso das raízes, a edificação, no caso das fundações, ou as consequências, no caso das origens, foi sobreposta sobre sua parte inferior, cobriu-a e depois emergiu escondida da visão. Por isso, tem que ser, primeiro, perfurada, as partes lançadas fora do caminho ou tomadas à parte, se se deseja um dos objetos segmentados quando pensar ou agir radicalmente. Segundo: no decurso do trilhar para esses objetivos, o crescimento desse material deve ser desconstruído, ou materialmente empurrado para fora do caminho, ou desmantelado. A probabilidade de que, a partir do trabalho de desconstrução/desmontagem das metas, emerjam todas as deficiências é alta. Tomar uma atitude radical sinaliza para a intenção da destruição – ou melhor, de assumir o risco da destruição, mais frequentemente o significado de uma destruição criativa –, destruição no sentido de um lugar para limpeza, ou para lavrar o solo, preparando-o para acomodar outros tipos de raízes. A política é radical se ela aceita todas as condições e se orienta por todas essas intenções e objetivos.
CULT – Uma das características dos tempos líquido-modernos é a decadência do planejamento a longo prazo. É possível um pensamento crítico e uma utopia neste contexto de queda da perspectiva do planejamento?
Bauman – Russel Jacoby propõe distinguir duas tradições, aparentemente coincidentes, mas não necessariamente ligadas, tradições do moderno pensamento utópico: o modelo (o projeto utopista de traçar o futuro em polegadas e minutos) e a tradição iconoclasta (os utopistas iconoclastas sonharam com uma sociedade superior, mas recusaram-lhe dar medidas precisas). Proponho que se mantenha o nome, como sugere Jacoby para o segundo, como tradição da utopia do “não projeto”. A característica definidora dessa tradição do segundo é a intenção de desconstruir, de desmistificar e, em última instância, de desacreditar os valores da vida dominante e suas estratégias de tempo, através da demonstração de que, contrariamente às crenças atuais, em vez de assegurarem uma sociedade ou vida superior, constituem um obstáculo no caminho para ambas.
Em outras palavras, o que eu proponho para descompactar o conceito de utopia iconoclasta, em primeiro lugar, é sobretudo a afirmação de uma possibilidade de uma outra realidade social – possibilidade ainda aterrada na revisão crítica dos meios e formas de apresentar a vida. Sendo este o principal interesse e a preocupação do utopista iconoclasta, não é de admirar que a alternativa ao atual permaneça incompleta; a principal causa do utopismo iconoclasta é a possibilidade de uma alternativa à realidade social, apesar de o seu desenho estar pouco desenvolvido. As utopias iconoclastas, presumo, são aberta ou tacitamente o caminho para uma sociedade superior, não se conduzem por meio de desenhos ou conselhos, mas sim por meio da reflexão crítica sobre práticas e crenças existentes de forma a – para recordar uma ideia de Bloch – explicitar que “uma coisa está faltando” e assim “inspirar a unidade para a sua criação e recuperação”.