Ensaiando
um novo amanhã
No limiar da contemporaneidade
as relações entre os homens se tornam fluidas e impalpáveis. Tal fato ratifica
que o mundo evolui em tecnologias e regride em solidariedade. No bojo dessa
problemática, o conceito de cativar ensinado pela raposa no livro de
Saint-Exupéry demonstra que os valores hodiernos pautados no individualismo são
passíveis de modificações atreladas ao surgimento de uma nova visão altruísta e
fraterna de convivência coletiva.
A evolução humana ainda é
incapaz de alçar voos que consolidem a plenitude em todas as instâncias
sociais. Nesse viés, o século passado emergiu como exemplo de frustração onde
concomitante às grandes descobertas técnico-científicas surgiram governos
ditatoriais capazes até, a exemplos do nazista, de distinguir os seres humanos
e decidir quem deve ou não viver. Logo, a essência do homem elucidada pelo
filósofo Sócrates é deturpada pela busca por poder.
Contrariando a lógica perversa
do capitalismo que permite a perduração das imposições individuais de poder, o
pequeno príncipe que dá nome a obra de Exupéry, ensina-nos que o amor e a
amizade são ferramentas estratégicas para a enfim realização pessoal. Afinal, é
sensato pensar que, embasado na lei física de Newton de ação e reação,
tornar-se responsável por alguém é garantir o inverso com a mesma intensidade.
Foi alcançando essa cognoscibilidade que a médica Zilda Arns trouxe a esperança
de um futuro possível para crianças desnutridas no Brasil.
Para o sociólogo Jean Paul
Sartre, a esperança é ainda uma concepção de futuro. Embasado nessa verdade, a
extensão do ato de cativar ao próximo converge em um mecanismo primordial para
se atingir um mundo próspero. Para tanto, as condições técnicas e científicas
atuais nunca antes alcançadas devem ser usadas primordialmente em prol da
coletividade, bem como para sanar o problema da fome e doenças epidêmicas.
Dessa forma, a ciência que já foi propulsora de conflitos representaria a
ferramenta consolidadora da ainda onírica ideia de harmonia coletiva.
Blenda Erdes