quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Importância da memória na construção da Identidade



Para não fazer de novo
Em diferentes contextos históricos projetos de melhoria e avanço em comunidades do planeta nem sempre alcançavam os objetivos premeditados. Em tal perspectiva, a ausência de memórias cognitivas e sociais levou a humanidade a barbáries que precisam ser relembradas para que cenários de destruição humana não sejam repetidos na posteridade.
Desde os primeiros sonhos mercantis de nações europeias a hegemonia norte-americana sobre alguns territórios árabes, as formas desmedidas de dominação fizeram com que utopias almejadas fossem transformadas em projetos inconclusos de sociedades subjugadas pelo poder. Nesse contexto, a difusão de ideologias como o nazifascismo influenciaram países como o Brasil a violarem códigos humanistas e executarem governos ditatoriais que transformaram os anseios de uma sociedade igualitária em projetos positivistas desarticulados socioeconomicamente.
Para além dos caracteres ideológicos, a ausência de um arcabouço intelectual-histórico conduziu comunidades a atrocidades xenofóbicas. Em virtude de teorias pseudogenéticas, a afirmação de supremacias como a caucasiana sobre povos africanos ou de arianos sobre hebraicos corroborou para que a espécie humana vivenciasse uma seleção longe da proposta por Charles Darwin, mas uma seleção desumana, cruel e bárbara. Dessa maneira, relembrar tais fatos compõe a égide da não repetição e, consequentemente, o predomínio de ideais iluministas como a liberdade, igualdade e fraternidade.
Para Eduardo Galeano a memória social é a progenitora da afirmação de melhorias futuras. Nessa visão, o ser humano precisa, em primazia, compreender a singularidade e as diferenças, desvinculando do conceito de hegemonias raciais para que o clímax da sociedade ideal não seja tão somente alcançado mas, sobretudo, que permaneçamos na constante busca pela recordação do passado para a construção de melhorias no presente e, principalmente, no futuro.

Tiago  Silveira

Aula de Capitães da Areia da Prof. Mara Rute


Veja como Rafaela fez bom uso de Capitães de Areia sem seu texto

Redação UESB 2013 - Textto baseado no filme Capitães de Areia


Do trapiche à cracolândia

            A realidade da criança e do adolescente brasileiro está aquém daquela proposta em estatutos e leis mal aplicadas por um Estado omisso e convenientemente opressor. Partindo desse pressuposto, a obra de Cecília Amado, apesar de basear-se em uma realidade dos anos 30 encaixa-se perfeitamente nos tempos hodiernos, quando também se observa homens em corpos de meninos lutando pela sobrevivência, sendo isso  um dos maiores horrores do Brasil do século XXI com suas favelas que espalham terror e a violência assimilada.
            O ECA tornou-se exemplo global de lei para a garantia dos direitos da criança e do adolescente, mas, assim como o SUS, chega a ser utópico quando comparado à realidade testemunhada socialmente. Essa premissa é facilmente observada nas ruas brasileiras onde jovens, marginalizados pela falta de oportunidades e consequente exclusão social, tornam-se pedintes, bandidos ou dependentes químicos. Ao invés, porém, de serem socorridos pelo Estado, são oprimidos, fisicamente pela polícia e socio-moralmente por quem não  enxerga além dos muros dos shoppings.
            Em sua fase panfletária, Jorge Amado em 1937 escreve Capitães da Areia como denuncia dos maus tratos do Estado para com as crianças do seu tempo. Nessa obra a baianidade contracena com a história de meninos que compartilhavam a adulta responsabilidade de sobreviver. É possível assim estabelecer uma analogia com os jovens não assistidos no século XXI sem deixar de notar, porém a significativa piora nesse contexto. É bem provável que, se escrito atualmente, as personagens do livro, como Pedro Bala ou Boa Vida, não sairiam do trapiche para viver a luta grevista ou viver a música, mas sim para morrer nas cracolândias.
            Eduardo Galeano defende que apesar de não sabermos como será o futuro, temos o direito de imaginar como queremos que seja. Diante dessa égide faz-se necessário dar subsídios educacionais, familiares e sociais para a efetivação do ECA nos cuidados com nossos jovens. Dessa forma essas crianças, hoje sem perspectivas poderão, assim como o “professor” personagem de Jorge Amado, imaginar um futuro promissor.


 Redação de Hélio Ribeiro


O menino é o pai do homem
No despontar da contemporaneidade, o Brasil alcançou a condição de país emergente e vive um eufórico crescimento econômico. Por outro lado, a nação brasileira ainda convive com os abismos sociais não solucionados pela democracia e que afetam, em especial, as famílias com menor poder aquisitivo e, por conseguinte, as crianças. Tal conjuntura corrobora para a perpetuação e agravamento de dilemas sociais, a serem enfrentados pelo Estado e pelos cidadãos, os quais abarcam desde a marginalização até à exploração infantil.
Para Milton Santos, a globalização converteu-se em globalitarismo, visto que, o cenário geopolítico mundial encontra-se dominado por um minoritário grupo de corporações internacionais, que sobrepõem o lucro a quaisquer princípios de dignidade humana. Seguindo esta ótica capitalista, o Brasil tem consolidado uma estrutura injusta, visto que, parte do “boom” no PIB é resultado do trabalho infantil, que segundo dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho) só têm crescido desde 2000, principalmente, na faixa etária de 10 a 13 anos. Tal realidade se consolida, pois muitas crianças e famílias preferem o trabalho à marginalização ou ao crime organizado.
Diante da conjuntura hodierna, o abismo entre o que a leis defendem e aquilo que é posto em prática tornou-se pungente, uma vez que, mesmo existindo um Estatuto da Criança e do Adolescente que “garante” a integridade e a dignidade humana dos menores de idade, a realidade infantil no Brasil é repleta de perigos, violência e exploração. Tal verdade aponta para a ineficiência do Estado em garantir assistência adequada a essa faixa etária, essencial para o futuro de quaisquer nações. Visto que, é através das crianças e dos jovens que a memória histórico-cultural se preserva, que os valores morais são difundidos e que novos e melhores modelos socioeconômicos surgem no futuro como solução para a injustiça do atual.
Para além disso, Karl Mannheim já apregoava que aquilo feito agora com as crianças é o que elas farão no futuro com a sociedade. Seguindo tal premissa, a nação brasileira deve compreender que o “menino é o pai do homem”, ou seja, o jovem de hoje ensinará os seus futuros filhos os valores apreendidos a partir de sua vivência na contemporaneidade. Sendo assim, o Estado, por seu caráter abarcativo, não deve reprimir, mas sim garantir uma assistência psicossocial e educativa de qualidade às crianças, além disso, também cabe à sociedade civil assistir os menores abandonados, visto que, eles são a possibilidade de um mundo melhor no futuro.

Orlando Junior

Ensaio de um novo olhar
                 No transcorrer de seu perpassar histórico, nunca em toda humanidade, as propostas de amparo ao menor foram piamente desbravadas. No entanto, no despontar da pós-modernidade, o abismo entre a parcela infanto juvenil e o poder público aumenta, e exalta a necessidade de uma nova proposta de vida para as crianças, ora vítimas, ora infratoras.
                No fim da década de 1980 o legislativo brasileiro alavancou a criação da eternizada Constituição Cidadã que trouxe em seu bojo, o ECA e com ele a esperança de assistir com outros olhos esse público. Todavia, se em tese a Carta Magna apresentara um desfecho ideal de proteção ao menor abandonado, uma análise mais criteriosa aponta seus sinais de falência. Nesse sentido, o mapa da exploração infantil aponta para um Brasil detentor de 2% de suas crianças em regime de trabalho e uma nação em vias de crescimento que ainda permeia a periferia dos rankings de educação mundial.
Para além disso, é preciso ressaltar que numa conjuntura social marcada pela ausência do Estado, os pequenos são obrigados a assumir genuinamente a responsabilidade com sua sobrevivência em detrimento da perda da infância. Nesse viés, Jorge Amado, apresenta homens sob corpos de criança, que abominados pela autoridade se aproximam da marginalidade e convivem entre trapiches e falta de formas de ser. Entretanto, por outro lado, os capitães meninos da contemporaneidade estão além da simples transgressão de regras. Desta vez, as “Doras” e os “Sem Pernas” atuais personificaram-se na figura dos novos homicidas, que migraram dos trapiches para as cracolândias.
Para Milton Santos, o mundo contemporâneo é feito pelo que existe e de fato, pelo que também ainda pode existir. Partindo dessa premissa é preciso perceber que na construção de uma nova nação, a redução do desamparo social ofertado historicamente à infância perpassa antes de tudo pelo cumprimento das leis que permeiam a máquina pública em seu caráter abarcativo, e a assimilação de um olhar mais clarividente à tal classe.

Lucas Viana Rocha, Vitória da Conquista - BA.