O que considerar em Vítimas
Algozes:
Lembre-se o conteúdo aqui serve de auxílio para relembrar a história. Nós queremos que você leia!!!!!!!!!!!!!!
1. O livro foi escrito no
Romantismo para um público (sobretudo de mulheres) que viviam sobre o regime
escravocrata. Apesar de ter elementos ainda preconceituosos deve ser lembrado
como um dos primeiros esforços na tentativa de libertação negra. Um livro de
cunho social.
2. Lembrar também que ele era contemporâneo
de Castro Alves o poeta baiano romântico conhecido por sua defesa da causa dos
negros.
3. Para conseguir seu intento o
autor criou uma teoria: Os negros fazem mal não importa que instância social
ele esteja na sociedade – se tratado como filho (Simeão), como escravo (
Pai-Raiol), como amante ( Esméria), como escrava ( Lucinda). E, fazem isso não porque são
negros, mas por sua condição de escravo. Assim a sociedade deveria libertá-los
para fazer o bem a si mesma.
4. Todas as histórias terão o mal
sendo punido. Não nos esquecemos de que a obra é romântica e tem como traço
para seus desfechos o Happy End
5. Abaixo veja as questões e os
recortes da obra que foram cobrados, exercite as questões para entender a linguagem
e a metodologia ideal para responder uma prova da UFBA. Lembre-se de quando
estiver fazendo isso observar os elementos do texto. Grande parte das assertivas
pode ser respondida com a leitura do texto. A base da prova é a interpretação.
6. A modalidade textual é conto.
6. Vamos conhecer as histórias?
SIMEÃO - O CRIOULO
1. Simeão é filho da ama-de-leite
que amamenta a filha do Domingos Caetano ( o senhor) a morte de sua mãe comove
a senhora que passa a tratá-lo como um “filho”. A questão, porém que a obra
apresenta é a falta de identidade de Simeão: Não recebe as deferências de
filho, mas não trabalha com o escravo.
2. Quando começa a crescer a
cozinha – representada pelas escravas de dentro vivem dizendo a Simeão de sua condição de escravo. A Sala –
seus senhores – não dão mostras de que ele seja filho e ele. Na venda – Lugar onde
ocupava seu tempo - conhece Barbudo que lhe
instrui a roubar a casa quando soube que
ele fosse alforriado, na morte de seu senhor.
3. Barbudo é um elemento importante na história uma vez
que ele é branco e um homem mal. Serve para fortificar a teoria de Joaquim
Manuel de Macedo: O homem não é mal por questão de raça.
4. Quando Simeão começa a
realizar pequenos furtos para manter o vício da bebida e jogo a família começa
a desconfiar. Certo dia Florinda chega a ver tal ação. Primeiro pede para ele devolver o colar depois ordena
que faça. Movido pela raiva Simeão joga o
objeto do furto nos pés dela. O pai chega e visualiza a cena. Bate nele pela
primeira vez colocando-o na condição de escravo.
5. Domingos Caetano adoece e
providencia um casamento para filha, mas uma prova que de não via Simeão como filho
e possível sucessor. A filha casa-se dom Hermano homem não muito rico, mas trabalhador.
6. Simeão não gostava de Hermano
e não suportava a ideia de ter que viver
com ele como senhor. Motivo? Já tinha levado um tapa do Hermano quando invadiu
sua casa à noite para ficar com uma de suas escravas. Hermano não lembrava.
7. Simeão acompanhava Domingos
Caetano para todos os lugares, os outros imaginavam ser zelo de filho, mas ele queria estar perto
no momento da morte para poder
aproveitar a confusão e furtar. Ele sabia que quando o senhor morresse ele
seria livre, mas precisava de dinheiro para poder ser de fato.
8. Como Domingos Caetano demorou
em morrer ele volta a sair para jogar e demora em sua volta. Um dia retornou e
o senhor estava morto e a casa em perfeita ordem. Pior: sua posse passou a ser
da esposa e filha de Domingos.
9, O autor alerta: a liberdade
não se promete. Dá-se ao escravo. Esse por não ter esperança de libertação
assalta a fortaleza ( pode porque dentro dela havia escravos), mata os que
estavam nela e foge.
10. O dramático é que a chacina ocorre na noite que antecede seu
aniversário e a moça tinha planejado presenteá-lo com sua carta de alforria
como presente.
11. Como sabemos ele vai ser punido.
Essa é uma história romântica e o mal não prevalece. Mas o livro pluraliza
Simeão. Ele é apenas um dos muitos escravos que fazem o mal. Simeões .
PAI RAIOL - O FEITICEIRO
1. O conto começa por apresentar elementos de preconceito
coma cultura africana como suposta
corrupção da crença religiosa e dos costumes. Essa questão já foi cobrada na
prova.
2. O narrador condena aqueles
senhores que compram escravos e não consideram que aqueles seres tem alma. E apresenta
um homem bem sucedido Paulo Borges que traz a desgraça para família quando
compra 20 escravos e entre eles estão Esméria e Pai Raiol.
3. Pai Raiol era feio e Esméria
era bonita e se envolvia com ele por
medo. A narrativa diz que Pai Raiol sabia matar e matou o gado e destruiu parte da plantação de
Paulo Borges. Seu plano mas ambicioso porém foi utilizar Esméria para seduzir
Paulo Borges e quando essa tinha sua
inteira confiança trama e realiza a morte da esposa de Paulo e dos filhos.
4. O plano era Paulo ser morto e
Esméria transformar Pai Raiol no dono de
tudo junto com ela, mas ela
engravida e por medo de Pai Raiol intentar algo contra seu filho aciona um
negro forte seduzindo-o para matar Pai Raiol. Nessa mesma noite ela envenena o café de Paulo
Borges para que esse morra.
5. Pai Raiol vai ser morto por
Tio Alberto e uma escrava (Lourença) avisa sobre tudo para Paulo. Fizeram isso por amor ao seu
Senhor? Tio Alberto por interesse em Esméria e Lourença por vingança contra
Esméria. Provando a teoria que o escravo não faz bem ao seu senhor.
6. Pai Raiol é morto, Esméria
presa e no fim de novo o bem vence o mal, mas o livro diz que há muitas Vítimas
algozes – vítimas que fazem mal por aí.
LUCINDA - A MUCAMA
1. No aniversário de 11 anos
Cândida ganha uma menina igual a ela.
2. Elas recebem educação
diferente. Cândida aprende piano e a outra
a fazer bonecas para agradar sua senhora, e mais: a escravizar sua dona,
para de algum modo ser liberta.
3. E realiza uma série de feitos.
Cândida se transforma então em namoradeira,
mente para a mãe, envolve-se com Souvanel....
4. Souvanel era Dermany fugitivo
que queria casar com ela e pegar o dote. Prometeu a mucama que se recebesse sua
ajuda fugiria com ela.
5. A mucama permite a entrada
dela no quarto da menina e chega a dar café amargo pela manhã para moça para
que ela pensasse estar grávida.
6. Quando descobre tudo depois de
fugir com Souvanel e pegá-lo nos braços de sua mucama Cândida é acolhida por Frederico. Atua aqui um elemento
romântico. O amor como redenção.
7. A história termina dizendo que
não se podia esperar coisa diferente da
mucama, uma vez que ela provinha do lodo e que a forma de evitar tudo isso era banindo
a escravidão.
Questões da UFBA envolvendo
Vítimas – Allgozes
Questão 06 (Valor:
20 pontos) - Adaptada
Plácido Rodrigues, o padrinho de
Cândida, conseguira vencer a justíssima repugnância, talvez a instintiva ou
providencial obstinação da afilhada, trazendo-lhe de presente para sua mucama a
crioula Lucinda, que sabia pentear e fazer bonecas. Depois da ama, mulher livre,
a mucama, crioula escrava!... Cândida tinha perdido a companhia da mulher que
era nobre, porque era livre, e o serviço de braços animados por coração cheio
de amor generoso, que é somente grande, quando a liberdade exclui toda
imposição de deveres forçados por vontade absoluta de senhor. E em substituição
da companheira livre, amiga, e devotada, recebeu alegre a crioula quase de sua
idade, a mulher escrava, uma filha da mãe fera, uma vítima da opressão social,
uma onda envenenada desse oceano de vícios obrigados, de perversão lógica, de
imoralidade congênita, de influência corruptora e falaz, desse monstro
desumanizador de de criaturas humanas, que se chama escravidão.
MACEDO, Joaquim Manuel de. As
vítimas-algozes: quadros da escravidão. 4 ed. São Paulo: Zouk, 2005. p.
127.UFBA 2006 - 2ª fase - Português - 10
O
texto de onde
foram extraído o
fragmento transcrito discute, em contexto
sócio-histórico, a condição
do negro.
1. Com base na leitura da obra, analise o ponto de vista que se
manifesta nesse fragmento.
UFBA – 2006 –
Simeão foi ator nesse teatro de
reais e despedaçadoras aflições, em que só ele tinha papel estudado. Os
transportes de dor, em que se estorciam Angélica e Florinda, não o comoveram.
Viu sem se enternecer as lágrimas que Angélica chorara de joelhos, abraçando os
pés de seu marido quase agonizante, e em um momento supremo, em que a todos se
afigurou derradeiro trance de Domingos Caetano, e quando Florinda nesse desespero
que olvida tudo, tudo e até o pudor de donzela, quando Florinda descabelada, delirante
se lançava no leito de seu pai, e era dali arrancada por parentes, contra quem
se debatia em desatino, ele, o escravo, o animal composto de gelo e ódio, ele
teve olhos malvados, sacrílegos, infames que pastassem lubricamente nos seios
nus, nos seios virginais da donzela que se deixava em desconcerto de vestidos
pelo mais sagrado desconcerto da razão.
Simeão, escravo, contando com a
liberdade, e calculando com o roubo de sacos de prata e ouro, velava sinistro
ao lado de seu senhor agonizante, estudando-lhe na desfiguração, na
decomposição do rosto, e no arfar do peito os avanços da morte, que era o seu
desejo. [...]
Não condeneis o crioulo; condenai
a escravidão. O crioulo pode ser bom, há de ser bom amamentado, educado,
regenerado pela liberdade.
O escravo é necessariamente mau e
inimigo de seu senhor.
A madre-fera escravidão faz
perversos, e vos cerca de inimigos.
MACEDO, Joaquim Manuel de. As vítimas-algozes: quadros da escravidão.
4. ed. São Paulo: Zouk, 2005. p.26-27.
O fragmento transcrito e a
leitura da obra respaldam as seguintes proposições:
(01) Ao dizer “Simeão foi ator nesse teatro de reais e
despedaçadoras aflições, em que só ele
tinha papel estudado.” (l.
1-2), o narrador onisciente critica a
postura dissimulada do escravo.
(02) As expressões “não o
comoveram” (l. 2-3), “sem se enternecer” (l. 3), “animal composto de gelo e
ódio” (l. 8), “olhos malvados, sacrílegos, infames” (l. 8-9) sublinham a
transparência da personalidade de Simeão.
(04) O fragmento “velava sinistro
ao lado de seu senhor agonizante, estudando-lhe na desfiguração, na decomposição
do rosto, e no arfar do peito os avanços da morte, que era o seu
desejo.” (l. 13-15) antecipa ações que vão marcar o desfecho da narrativa.
(08) A escravidão avilta o ser
humano que, nessa condição, desenvolve sentimentos e atitudes irracionais e
cruéis.
(16) Ao afirmar “O escravo é
necessariamente mau e inimigo de seu senhor” (l. 19), o narrador assume um
ponto de vista fatalista, inspirado na tese do determinismo social.
(32) Os três parágrafos finais do
texto apresentam indícios de que se deve abolir a escravidão por razões
humanitárias e econômicas.
UFBA 2007
O escravo africano é o rei do
feitiço.
Ele o trouxe para o Brasil como o
levou para quantas colônias o mandaram comprar, apanhar, surpreender, caçar em
seus bosques e em suas aldeias selvagens da pátria. Nessa importação
inqualificável e forçada do homem, a prepotência do importador que
vendeu e do comprador que tomou e pagou o escravo, pôde pela força que não é direito,
reduzir o homem a cousa, a objeto material de propriedade, a instrumento de
trabalho; mas não pôde separar do homem importado os costumes, as crenças
absurdas, as idéias falsas de uma religião extravagante, rudemente supersticiosa,
e eivada de ridículos e estúpidos prejuízos.
Nunca houve comprador de africano
importado, que pensasse um momento sobre a alma do escravo: comprara-lhe os
braços, o corpo para o trabalho; esquecera-lhe a alma; também se estivesse
conscienciosamente lembrado, não compraria o homem, seu irmão diante de Deus.
Mas o africano vendido, escravo
pelo corpo, livre sempre pela alma, de que não se cuidou, que não se
esclareceu, em que não se fez acender a luz da religião única verdadeira, conservou
puros e ilesos os costumes, seus erros, seus prejuízos selvagens, e inoculou-os
todos na terra da proscrição e do cativeiro.
O gérmen lançado superabundante
no solo desenvolveu-se, a planta cresceu, floresceu, e frutificou: os frutos
foram quase todos venenosos.
Um corrompeu a língua falada
pelos senhores. Outro corrompeu os costumes e abriu fontes de desmoralização. Ainda
outro corrompeu as santas crenças religiosas do povo, introduzindo nelas ilusões
infantis, idéias absurdas e terrores quiméricos. E entre estes (para não falar
de muitos mais) fundou e propagou a alucinação do feitiço com todas as suas
conseqüências muitas vezes desastrosas.
E
assim o negro
d’África, reduzido à
ignomínia da escravidão,
malfez logo e naturalmente a sociedade opressora,
viciando-a, aviltando-a e pondo-a também um pouco assalvajada, como ele.
O negro d’África africanizou
quanto pôde e quanto era possível todas as colônias e todos os países, onde a
força o arrastou condenado aos horrores da escravidão. No Brasil a gente livre
mais rude nega, como o faz a civilizada, a mão e o tratamento fraternal ao
escravo; mas adotou e conserva as fantasias pavorosas, as superstições dos míseros
africanos, entre os quais avulta por mais perigosa e nociva a crença do
feitiço.
MACEDO, Joaquim Manuel de A. As vítimas-algozes: quadros da escravidão.
4 ed. São Paulo: Zouk, 2005. p. 59
A leitura e a análise desse fragmento permitem afirmar:
(01) O texto encerra uma
condenação severa à escravidão.
(02) O trabalho servil desumaniza
o escravo, reduzindo-o à condição de besta irracional.
(04) O narrador assume um ponto
de vista imparcial, limitando-se a relatar as ações praticadas pelas
personagens.
(08) Os escravos eram selvagens e
rudes, sendo impossível realizar, com sucesso, a conversão de suas almas à
religião de seus senhores.
(16) O texto explicita um ponto
de vista etnocêntrico em relação aos povos escravizados.
(32) O narrador, ao dizer que o
negro africanizou as sociedades para as quais foi transplantado, apóia seu
julgamento em um ponto de vista preconceituoso e estigmatizante.
(64) A influência do negro na
esfera religiosa foi nociva, mas se revelou altamente produtiva nos demais
campos da atividade social.
UFBA 2010
I .
Era junho e o tempo estava
inteiramente frio. A macumba se rezava lá no Mangue no zungu da tia Ciata,
feiticeira como não tinha outra, mãe de santo famanada e cantadeira ao violão.
Às vinte horas Macunaíma chegou na biboca levando debaixo do braço o garrafão de
pinga obrigatório. Já tinha muita gente lá, gente direita, gente pobre, advogados
garçons pedreiros meias-colheres deputados gatunos, todas essas gentes e a
função ia principiando.
[...]
Então a macumba principiou de
deveras se fazendo um sairê pra saudar os santos. E era assim: Na ponta vinha o
ogã tocador de atabaque, um negrão filho de Ogum, bexiguento e fadista de
profissão, se chamando Olelê Rui Barbosa. Tabaque mexemexia acertado num ritmo
que manejou toda a procissão. E as velas jogaram nas paredes de papel com
florzinhas, sombras tremendo vagarentas feito assombração. Atrás do ogã vinha
tia Ciata quase sem mexer, só beiços puxando a reza monótona. E então seguiam advogados
taifeiros curandeiros poetas o herói gatunos, portugas, senadores, todas essas
gentes dançando e cantando a resposta da reza.
ANDRADE, M. de. Macunaíma. São Paulo: ALLCA XX, 1996. p. 57-58.
I I .
Na cidade do Rio de Janeiro (e
quanto mais nas outras do império!) ainda há casas de tomar fortuna, e com
certeza pretendidos feiticeiros e curadores de feitiço que espantam pela
extravagância, e grosseria de seus embustes.
A autoridade pública supõe
perseguir, mas não persegue séria e ativamente esses embusteiros selvagens em
cujas mãos de falsos curandeiros têm morrido não poucos infelizes.
E que os perseguisse zelosa e
veemente, a autoridade pública não poderá acabar com os feiticeiros, nem porá
termo ao feitiço, enquanto houver no Brasil escravos, e ainda além da
emancipação destes, os restos e os vestígios dos últimos africanos, a quem roubamos
a liberdade, os restos e os vestígios da última geração escrava de quem hão de conservar
muitos dos vícios aqueles que conviveram com ela em intimidade depravadora. O
feitiço, como a sífilis, veio d’África. Ainda nisto o escravo africano, sem o
pensar, vinga-se da violência tremenda da escravidão.
MACEDO, J. M. de. As vítimas-algozes: quadros da escravidão. São Paulo:
Zouk, 2005. p. 58.
Os fragmentos transcritos aludem a práticas religiosas
afro-brasileiras.
• Tendo em vista o contexto das duas obras, compare os dois fragmentos,
apontando
semelhanças e/ou diferenças nos pontos de vista enunciados sobre tais
práticas.
(UFBA 2010)
Queremos agora contar-vos em
alguns romances histórias verdadeiras que todos vós já sabeis, sendo certo que
em as já saberdes é que pode consistir o único merecimento que porventura tenha
este trabalho: porque na vossa ciência e na vossa consciência se hão de firmar as
verdades que vamos dizer.
Serão romances sem atavios,
contos sem fantasias poéticas, tristes histórias passadas a nossos olhos, e a
que não poderá negar-se o vosso testemunho. Não queremos ter segredos, nem
reservas mentais convosco. É nosso empenho e nosso fim levar ao vosso espírito
e demorar nas reflexões e no estudo da vossa razão fatos que tendes observado,
verdades que não precisam mais de demonstração, obrigando-vos deste modo a
encarar de face, a medir, a sondar em toda sua profundeza um mal enorme que
afeia, infecciona, avilta, deturpa e corrói a nossa sociedade, e a que a nossa
sociedade ainda se apega semelhante a desgraçada mulher que, tomando o hábito
da prostituição, a ela se abandona com indecente desvario.
E o empenho que tomamos, o fim
que temos em vista adunam-se com uma aspiração generosa da atualidade, e com a
exigência implacável da civilização e do século.
MACEDO, J. M. de. As vítimas-algozes: quadros da escravidão. 4. ed. São
Paulo: Zouk, 2005. p. 7.
É correto afirmar sobre o fragmento e a obra:
(01) O enunciador, em texto
dirigido aos leitores, explicita seu propósito de denunciar a escravidão e de
convocar seus contemporâneos a agir pela extinção do trabalho escravo.
(02) A escravidão como prática do
passado contradiz, segundo o texto, já no momento em foco, os anseios de uma
sociedade moderna e democrática.
(04) A
crítica à escravidão aparece ilustrada no trecho “Simeão odiava o
senhor, que o castigara com o açoute, odiava a senhora que nem sequer o
castigara, e, inexplicável nuança ou perversão insensata do ódio, odiava mais
que a todos Florinda, a senhora-moça, a santa menina que ofendida, insultada
por ele, tão pronta lhe perdoara a ofensa, tão prestes se precipitara a
livrá-lo do açoute. O negro escravo é assim.”
(08) O discurso “E sempre que puserdes a mão em um
desses feiticeiros, encontrareis nele um negro escravo... ou algum seu
iniciado. E tomai sentido e precauções: o escravo, não nos cansaremos de o
repetir, é antes de tudo natural inimigo de seu senhor; e o escravo que é
feiticeiro, sabe matar.”, extraído do conto Pai-Raiol, o Feiticeiro, contradiz
as aspirações do enunciador do fragmento da obra em análise.
(16) O trecho “Quem pede ao
charco água pura, saúde à peste, vida ao veneno que mata, moralidade à
depravação, é louco. Dizeis que com os escravos, e pelo seu trabalho vos
enriqueceis: que seja assim: mas em primeiro lugar donde tirais o direito da
opressão?...” exalta as virtudes do senhor em contradição com a depravação e a
maldade do escravo.
UFBA 2011
No fim de cinco anos Lucinda, que
era inteligente e habilidosa, deixou a mestra, e tornou à casa de seu senhor
para passar logo ao poder de Cândida, trazendo as prendas que presunçosa
ostentava, e dissimuladamente escondidos os conhecimentos e o noviciado dos vícios
e das perversões da escravidão: suas – irmãs, as escravas com quem convivera,
algumas das quais muito mais velhas que ela, tinham-lhe dado as lições de sua
corrupção, de seus costumes licenciosos, e a inoculação da imoralidade, que a
fizera indigna de se aproximar de uma senhora honesta, quanto mais de uma
inocente menina.
A crioula, mucama de Cândida, era
pois já então uma rapariga muito pervertida e muito desejosa de se perverter
ainda mais; sabia tudo quanto era preciso que ignorasse para não ser nociva à
sua senhora.
Assim pois na casa de Florêncio
da Silva estava posto o charco em comunicação com a fonte límpida.
MACEDO, Joaquim Manuel de. As vítimas algozes: quadros da escravidão.
4. ed. São Paulo: Zouk, 2005. p. 131-132.
Com base na análise desse
fragmento, contextualizado na obra, é verdadeiro o que se
afirma nas seguintes proposições
(01) “presunçosa” (l. 3) e
“dissimuladamente” (l. 3) expressam um traço da personalidade e um modo de agir
comuns a Lucinda e a Cândida.
(02) A narrativa, de influência
romântica, apresenta um final trágico e à personagem Cândida não é concedida a
regeneração de sua humanidade, de sua pureza.
(04) A transformação por que
passa Lucinda contradiz o ponto de vista, reiterado na obra como um todo, de
que a escravidão corrompe e vicia o ser escravo.
(08) A narrativa interage com as
questões políticas e econômicas do Brasil oitocentista ao apresentar a mucama
como um bem presenteado a Cândida.
(16) O fragmento e a obra põem a nu o preconceito que
vê, no branco, honestidade e pureza e, no negro, perversão e crueldade.
(32) A escrava pervertida será
purificada pelo contato com a pureza da menina Cândida,
no transcorrer da narrativa.
(64) A influência corruptora da
mucama, para o narrador, é oriunda da própria índole natural
do escravo negro, bem como da
influência do meio.