segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Tema de redação identidade - Mara Rute propõe recorte sociológico - Portfólio 2013

Identidade Nacional

SÓ DE SACANAGEM ( Elisa Lucinda)

Meu coração está aos pulos! Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.
Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais. Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração tá no escuro.
A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam:
" - Não roubarás!"
" - Devolva o lápis do coleguinha!"
" - Esse apontador não é seu, minha filha!"
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas-corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar, e sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem!
Dirão:
“ - Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba.”
E eu vou dizer: “- Não importa! Será esse o meu carnaval. Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.”
Dirão:
" - É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”.
E eu direi:  “- Não admito! Minha esperança é imortal!”
E eu repito, ouviram? IMORTAL!!!
 Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final.

Raízes do Brasil – Sérgio Buarque de Holanda

Raízes do Brasil foi publicado em 1936, e causou grande impacto pois discute o choque entre a tradição e modernidade na sociedade brasileira. Para tal, ele busca nas raízes desta sociedade uma explicação para o atraso social existente no país, produzindo, ao mesmo tempo, hipóteses para uma possível superação deste retrocesso.      
          Segundo ele, a formação do Brasil contemporâneo está diretamente ligada às origens da sociedade brasileira, ou seja, está atrelada à colonização e ao seu legado cultural, político e institucional. Assim, o tradicionalismo da política brasileira vem de seu passado ibérico, ou seja, de suas raízes. 
Sérgio Buarque percebe que a modernização é impedida pela herança de uma tradição ibérica e que a absorção das instituições portuguesas, dotadas de uma historicidade própria, traz consigo uma incompatibilidade com o ideal de desenvolvimento democrático e modernizado, evidenciando uma incapacidade de mudança adaptativa as necessidades existentes. É através desta compreensão que ele formula alguns conceitos fundamentais de sua obra. O primeiro conceito que ele usa para explicar a sociedade através de suas origens é a cultura da personalidade. Para ele, a cultura da personalidade é a frouxidão de laços sociais que implicam em formas de organização solidária e ordenada.
Sérgio aborda que as relações em Portugal não advêm do mérito, mas sim do privilégio, do status.
A segunda característica fundamental ao entendimento da sociedade contemporânea através de suas raízes é a ética da aventura. Para este estudioso, a colonização do Brasil foi promovida pelo espírito do português aventureiro, que exibe a mobilidade e a adaptabilidade, que nega a estabilidade e o planejamento, que corrobora com a cultura do ócio e se distingue do tipo trabalhador, e de sua ética do trabalho, que preza pelo “esforço sem perspectiva de rápido proveito material” (BUARQUE, Sérgio, 2000).
Ao comparar as cidades portuguesas com as espanholas, define que o espanhol é um ladrilhador, que constrói suas cidades de forma a racionalizar o espaço. Ao contrário, o português é apenas um semeador, que sai semeando cidades irregulares que se confundem com a paisagem. Também é através dessa negação do trabalho, somada a falta de planejamento, a uma demanda de mercado e, a pequena população do reino, que aparece um dos principais elementos da colonização portuguesa no Brasil, a escravidão do africano. 
É a partir desta outra herança ibérica que este estudioso propõe a quarta consideração sobre o tradicionalismo brasileiro, o homem cordial. Por sua vez, este é o símbolo da relação social sem formalidade, que leva para a vida pública a vida privada, ao propor acesso à existência política através de relações sociais de proximidade e afetividade. O homem cordial não se dá com a relação fria do Estado, e por isso essa instituição é tão fraca entre os ibéricos. Além disso, essa cordialidade não pressupõe bondade, mas apenas identifica que o homem cordial não se guia pela racionalidade, e sim pelas suas emoções. Assim, essa emotividade pode ser boa ou má, apenas não será guiada pela razão.  LEIA MAIS EM: http://www.revistacontemporaneos.com.br/n3/pdf/sergiobuarque.pdf


Proposta de Redação:  Escreva um texto dissertativo argumentativo relacionando as faces do Brasil do século XXI com suas raízes históricas, mas seguindo o argumento final do texto da Elisa Lucinda.


 Da raiz ao fruto
Todo povo tem na sua evolução um certo “sentido”. Este se percebe não nos pormenores de sua história, mas no conjunto dos fatos e acontecimentos essenciais que a constituem. Desta forma, entre séculos de exploração, anos de repressão e com abismos ainda não preenchidos, a nação brasileira busca produzir, no presente, formas clarividentes para um futuro promissor. Visto que, nunca houve condições geográficas e técnicas para a produção de outra realidade como no limiar deste século.
         O processo de colonização brasileiro acabou por permitir que se esboçasse na identidade do país uma nacionalidade diferente do modelo europeu e relativamente nova em termos sociais. Sem que isso significasse, contudo, autonomia e dinâmica própria para a sociedade em construção e mesmo após a sua independência política. Assim, a formação do Brasil contemporâneo está diretamente ligada às origens da sociedade brasileira, ou seja, está atrelada à colonização e ao seu legado cultural, político e institucional.
A modernização é impedida pela herança histórica que a nação possui, trazendo consigo uma incompatibilidade com o ideal de desenvolvimento democrático e modernizado, evidenciando uma incapacidade de mudança adaptativa as necessidades existentes. Não obstante, o homem político é cordial, transportando as condutas utilizadas na esfera privada para a esfera pública, criando uma série de impasses para a sua configuração, independente, no Brasil, e aponta para a própria fraqueza da organização social e política do país.
A utopia que foi delineada por Thomas Morus e reiterada, nesse século, por Galeano sugere que mesmo que não possamos adivinhar o tempo que virá, temos ao menos, o direito de imaginar o que queremos que seja. No caso do Brasil, mesmo sabendo que não há a possibilidade de mudar o começo, a produção de melhorias no presente pode garantir uma mudança no final.
 Thainá Caló 


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