Primeiras
Palavras:
Esse livro nunca caiu no processo seletivo
desde sua indicação e são 25 histórias diferentes que em conjunto fazem um
excelente perfil da literatura baiana de contistas. Muito bom.
Mas, como a leitura não é por prazer, mas
para a apreensão de dados, informações e entendimentos para uma prova e, mais
uma prova que está próxima resolvi já transformar as histórias em possíveis
questões. Facilitará muito para vocês.
Quando aprovados leiam o livro tem
histórias fenomenais. A minha predileta? A Academia dos Trinta.
Eu tive o prazer de trabalhar com Cyro de
Mattos o organizador do livro. Chic não. Tenho até o livro autografado.
Mara Rute Lima
A abertura do livro é o parecer feito por
Cyro de Mattos, autor de um dos contos e organizador desta seleção. Segundo
ele, o conto é uma modalidade textual de difícil definição por ser uma modalidade
que se funde, algumas vezes, com outras manifestações artísticas. Afirma também
que o conto provém de tempos primitivos.
A moça
dos pães de queijo
É uma história de amor que se passa em Salvador,
nela, o autor apresenta o Largo da Palma (local dos acontecimentos) fazendo uso
de uma figura de linguagem denominada de personificação dando vida ao Largo e
também a cidade de Salvador. “(...) o largo da Palma
parecia agasalhar-se para dormir”.”; “ Ninguém dirá, vendo assim o Largo da Palma a cochilar, que nele houve enorme
agitação durante o dia.”; “ Salvador,pois, suava por todos os lados.”
Após apresentar o largo, Adonias convida o
leitor a conhecer a casa dos pãezinhos de queijo explicando logo que “a casa é casa porque
a tabuleta, em tinta azul”
o diz por que se trata na verdade de uma lojinha e, mais importante que os
pãezinhos é
a delicadeza de quem os vende: Célia. Com sua
voz a moça encantou Gustavo, jovem mudo que foi atender ao pedido da avó para
comprar os pãezinhos. Depois de ouvir “tenha cuidado para não amassar os pãezinhos
de queijo”
da tal voz tomada por alguns como “o som mais bonito que o canto de um pássaro” correu para casa e
“a voz
permanecera e de tal moda estava ali que receava até aqui a avó pudesse escutá-la.”
Então entre idas e vindas Gustavo começa a
namorar a Célia que sabe que ele é mudo, mas
nutre por ele um grande sentimento. Se encontram sempre no largo da
Palma que presenciou o milagre.
Possíveis Questões
1. Comente
sobre os traços de Gustavo, a relação dele com sua família (igual ou diferente
de Célia) e como era a relação dele com a moça dos pãezinhos de queijo.
O conto
deixa claro que tanto Célia quanto Gustavo não tinham uma relação de
comunicação eficaz com a família. Célia não conta para a mãe seus sentimentos
pelo rapaz e vive no seu quarto com suas dúvidas e Gustavo não é muito aceito
pelo pai e afastou-se da mãe muito cedo por uma possível loucura d aparte desta.
Apesar desses abismos nas relações familiares Adonias produz um laço entre os dois de tal forma que nem parecem recém-namorados.
Isso se vê desde a padaria quando Célia percebe o interesse do rapaz até quando
ela consegue se comunicar sem uso de papéis.
Após um pedido de Gustavo Célia faz
pãezinhos de queijo para ele. Eis o trecho:
“ A massa, o queijo, o sal, o fogo. E veio
fazendo os pãezinhos de queijo, um a um, tendo-os nas mãos como se fosse
comê-los (...) Sentiu o coração alegre enquanto durou o trabalho e foi essa
alegria do coração que a fez inventar um canção que cantou, baixinho, para si mesma.
É preciso querer e querer muito para alcançar.”
....
“ – Quando fiz, Gustavo,pensei colocar nele o
meu próprio sangue.
Ele come lentamente, muito lentamente, como
se estivesse a comer uma fruta. E mal
termina, ela fecha-lhe a boca com a sua própria boca.”
2. Essas cenas levarão a um desfecho da história
a que se poderia aplicar o conceito de milagre do amor? Justifique.
A narrativa de Adonias conta de todos os
esforços que a família de Gustavo fez para que ele falasse, inclusive que
ele foi desenganado por vários médicos.
Logo, falar depois de comer os pãezinhos feitos com o amor da namorada pode ser sim entendido como um milagre. Depois do acontecimento a
história se encerra sem que o autor sugira qualquer explicação além da vontade
da namorada que o seu amado voltasse a falar.
O
SORRISO DA ESTRELA
Pedro passa a entender a visão particular
de Estela quando ela morre aos 13 anos. Durante a infância, rejeita os abraços,
as brincadeiras de Estela, e não aceitava ter uma irmã “louca”, que na verdade
entendemos com a visão diferente do mundo. A menina também era debochada pelos
amigos dele.
Porém, mesmo com todas as ignorâncias de
Pedro, o qual apelidava de Dindinho, Estela nunca desistia de conquistar o
irmão seja dando de presentes estrelas ou até o direito de escolha da cor de suas asas
no céu. O desfecho da história é Pedro dirigindo-se a Estela:
Minha irmã. Ainda hoje eu contemplo a tua
estrela e tenho uma vontade enorme de que fosse minha. Eu vejo tua imagem se
projetando de lá, num sorriso longe que não me deixa desamparado. Era essa luz
que você me ofereceu, por apenas um
sorriso que já era seu sem que eu soubesse.
Quantas estrelas do céu – e eu não possuo uma sequer.
O
texto nos permite a reflexão de que existem pessoas diferentes como Estela, mas
que todos apesar das diferenças devem ser tratados iguais. Sendo esta
aprendizagem que ele absorve com a morte de sua irmã. Além disso, ele aceita o
apelido de Dindinho, acrescentando que não é uma referência semântica a palavra
doido.
Possíveis
Questões
O
autor Aleiton Fonseca logo na abertura de seu conto afirma:
“Estela
estava morta, aos treze anos. E eu sentia dentro de mim esta morte. Era um
pouco também eu morto, sem tempo de me redimir e poder amar minha irmã, como –
só agora!”
3. Ao utilizar a
palavra redimir o autor sugere ter cometido um erro na forma como se
relacionava com sua irmã. Comente sobre isso levando em consideração todo o
conto.
O narrador, constrói um conto memorialista para
nos apresentar seus momentos de existência ao lado da irmã – uma menina especial,
que conversava com pedras , que perguntava
ao irmão qual seria a cor de suas
asas no céu e que vivia num mundo de imagens. Ele afirma que o trabalho do
tempo fez com que as falas e o comportamento de Estela amaciasse seu coração
duro, o que faz com que ele agora
tenha uma nova visão da irmã.
Visão que evoca saudades, lágrimas
e remorso por não ter
uma estrela - presente oferecido pela irmã caso ele sorrisse para
ela todos os dias.
“O
tempo me deu estes cabelos brancos, mas a minha memória guarda os sinais do
semblante de Estela, com suas alegrias sem nenhum motivo. Em nosso quintal, as
pedras, os tocos de pau, as folhagens ao vento puxam conversa comigo, mas eu continuo mudo. No entanto, agora
sinto: Eu sou Dindinho.
4. Explique, com
base no conto, os trechos em negritos ressaltados no trecho acima.
A passagem do tempo permite que Pedro veja a
irmã com um novo olhar. Agora entende perfeitamente que seus modos era de alguém que tinha para
si um mundo de imagens, um mundo singular. Entender a irmã não significa porém ser
igual a ela. Por isso ele pode
aceitar que ela fale com pedras, mas ele não tem condições de falar, é mudo. Também, ao afirmar que é Dindinho
aceita ser como a irmã o designou.
DEZ
ANOS DEPOIS
Fazia dez anos que o
Coronel Otaviano Cerqueira morrera, vítima de um infarto quando comemorava seu
sexagésimo quarto aniversário num jantar em família em seu luxuoso apartamento
com arroz à grega e camarão dorê. Participavam apenas sua mulher, D. Marilena, a
filha casada, Zilda, e o genro, José Paulo de Andrada. A questão da história começa quando ele dá a
terceira garfada de seu prato predileto, preparado por Teodora, a velha
cozinheira da família, e morre, em pleno jantar.
Para
o espanto
de todos D. Marilena não soltou um grito, deixou se ficar imóvel, enquanto a
filha, o genro e a empregada precipitavam se em pânico. Como se nada acontecera
continuou seu jantar e depois exigiu sua sobremesa, pudim de leite condensado e
um cafezinho.
Mais espantoso ainda foi o fato de D. Marilena não comparecer ao velório, ao
enterro, ou não derramar, em momento algum, qualquer lágrima. Todos não entendiam
o que estava acontecendo....O comportamento de D. Marilena é explicado pela
certeza de sua loucura uma vez que não se tratava mais de indiferença, ocorria também a ressurreição
do marido, ela agia como se o marido ainda estivesse em casa, mas não houve a
necessidade de interná-la porque ela continuava a ser exatamente como era...gostava
de ler romances que não dessem trabalho pra ler, opinava na cozinha sem
entender nada de culinária gostava de ir ao Shopping.... E que ninguém tentasse
dizer-lhe que o coronel morrera, porque era o mesmo que falar com uma parede.
No
aniversário do Coronel, todos os anos, o jantarzinho íntimo se repetia
igualmente quando ele era vivo.
Aquele
era o décimo jantar apor a morte do Coronel. Zilda já tão acostumada com a
loucura da mãe quis saber o que o pai estava achando do seu jantar de
aniversário. D. Marilena se espanta e indaga a filha perguntando que bobagem
era o que ela estava dizendo e reforçando que o marido já havia morrido há dez
anos e naquela mesma mesa.
D.
Marilena se levanta e caminha para o quarto onde se deita. Neste momento, sua
filha e seu genro ao conferi-la na cama, percebem que ela já não estava mais
neste mundo, agora sim, devia estar ao lado do seu marido Coronel, e para
sempre!
Possíveis Questões
“– Zilda, que bobagem é esta? O seu pai está
morto há dez anos... Foi aqui mesmo, nesta mesa, não se lembra?
E, sem esperar resposta, ergueu-se, sem
sequer lançar-lhes um olhar, retirou-se
da sala em direção ao seu quarto, deixando a filha e o genro perplexos e
emudecidos. Como não voltou de lá de dentro, foram, os dois, atrás dela”.
5. Porque a resposta
de D. Marilena deixou a filha e o genro perplexos?
Na narrativa, após a morte do marido, no
jantar do aniversário deste, a esposa agiu como se nada tivesse ocorrido.
Assim, mandava preparar sua comida predileta, comemorava anualmente seu
aniversário e conversava, para o espanto dos empregados e da família, com o esposo. Tendo se passado
dez anos, a filha, já acostumada ao
comportamento da mãe pergunta o que seu pai está achando do jantar de aniversário. Tal pergunta desencadeou em D.
Marilena uma resposta inesperada já que ela demonstra ter consciência da morte
do marido.
ROSA
TEM FEBRE DEMAIS
O conto,
em primeira pessoa, logo na abertura propõe que é produzido com elementos
fantásticos: Espero
a madrugada e visto minha roupa de sonho... aproveitando as manchas de
escuridão, sombras que grandes árvores
projetam.
Ao caminhar à noite, na cidade, o narrador
diz encontrar-se com pessoas que costumam sair à noite e elas se surpreendem em
vê-lo com “roupa de sonho” que seria as barbas brancas, o manto vermelho e as botas
negras.
O texto revela que ele tem poderes sobre as
águas. Peixes, pássaros ... como também
envia luz para casa das pessoas por onde passa. Encontra-se com crianças e
com elas fala de sua intimidade com as coisas do céu e do mar. Diz ser amigo de
Deus e que um dia Deus faria o que ele mandasse. As crianças afirmam tê-lo
esperado e ele se dirige a elas perguntando o que elas queriam. Ao contrário do
que seria o desejo de uma criança – brinquedo, dinheiro, caminhar no céu... Elas desejam que ele conte histórias e cantigas de ninar principalmente
para Rosa que tem febre demais.
Há claramente no texto duas circunstâncias,
uma real e outra imaginária. Isso fica bem perceptível no caso da descrição da
morte de Rosa (pg.53). No imaginário as estrelas, peixes e lebres lhe seguem até encontrar Rosa, a
menina que tem febre. Na realidade apenas
as crianças o acompanham. Ele encontra um carro, encaminha para o hospital e o médico cuida de Rosa, que ficará curada
da febre.
“Vejo Rosa, está deitada e em torno os outros
garotos, em silêncio, estão parados a olhar. A febre queima e eu peço, mas os
ventos não me vêm ajudar. O mar continua quieto, os anjos para longe fugiram,
os pássaros e as cobras, fugiram também os pardais. De Rosa a vida foge, eu imploro
a Deus que venha depressa, venha a Rosa ajudar. Ninguém ouve ninguém atende, os
meninos me olham – Têm medo -, a febre de Rosa é demais. É noite e não conto histórias,
não prometo navios de incenso e mirra, flores e âmbar. Carrego Rosa nos braços,
a vida não deve parar. Corro e arfo, gosto de sangue na boca, subo a ladeira de
pedras e os garotos atrás. Um carro logo aprecem no largo outro lhe vem atrás.,
Rosa carrego e corremos sobre rodas, eu e Rosa os garotos atrás. Agora a manhã
vem chegando, no Hospital eu espero, a gente do dia passa e olha minha fantasia
de sonho. Os meninos em torno me escutam e eu repito “ Rosa tem febre demais”.
O doutor vem e e me levanto:
- Doutor, e Rosa?
- Já não tem mais febre. Sim, ficará boa.
Ao chegar em casa sua mulher
guarda a roupa de sonho (sugestão de Papai Noel?) e recomenda que
ele durma antes de ir trabalhar.
Possíveis
Questões
“ Chamo os ventos e mando que a ergam,
chamo o mar e mando que limpe aquele lugar, chamo os pássaros, chamo as flores
e chamo os anjos a cantar. Os ventos a embalam, os pássaros tecem uma rede, uma
rede de penas e luar – e Rosa nela se deita, a vida toda refeita sorrindo para
a morte que morre a estertorar.”
6. É correto afirmar
a presença do onírico no texto acima?
Há no texto uma descrição das ações reais: um
homem se veste de papai Noel e consegue levar para o hospital uma criança que
agonizava de febre na noite de natal. Há também elementos de sonho como a capacidade desse homem de levar luz, de
ser acompanhado por estrelas,
lebres e poder ensinar o caminho do céu.
Além disso, já na abertura, a própria personagem avisa vestir-se de
“roupa de sonho”.
CORONEL,
CACAUEIRO E TRAVESSIA
O conto de Cyro de Mattos já começa com uma
pergunta existencial: pra que se viver em fim de vida? Mas além dessa temática
as linhas escritas por esse grapiúna são sobre um coronel, um pé de cacau –
herança última dos tempos áureos e sobre a mentalidade da nova geração.
Trata-se de um conto retrato de uns tempos e umas gentes. Universalizado tal
qual Guimarães em seus sertões.
Além da história recortada e não-linear o
texto inova por apresentar formatos diferentes para a construção do texto e
inserir, inclusive, imagens poéticas. Dialogado com outra tecedura textual
produzida pelo Cyro de Mattos: a poesia.
A abertura sem apresentação de personagens,
mas com uma singular forma de pensamento nos revela o que pensa o coronel:
Segundo ele viver em fim de vida é dor e
tormento e o tempo de agora é duro, duro de se roer e seu olhar para o
passado só mostra que o cacaueiro não é uma
arvore boa, mas um castigo terrível, fora mel, dentro fel, qualquer coisa de
enfeitiçada com seus caminhos de usuras e ciladas do demo.
Também o coronel reflete sobre o clima –
contribuinte das desgraças - seca escasseando as safras ou águas, alagando todo
o terreno. E depois ainda diz que o Governo durante todo o ano vive a sugar o
sangue alheio.
Depois dos pensamentos do coronel vamos num
dia de sol quente à sua casa de mesa e Jacarandá e cadeiras vazias e para um
jardim em que o cacaueiro sentinela do
mundo, mesmo adubado por mãos experientes, não dá mais fruto.
E depois se ouve e tiros e o coronel a
excomungar a família. Em seguida presta-se ao serviço de mais reflexões:
Felizes são aqueles que descobrem logo cedo que
a vida não passa de uma armadilha que não falha.
Depois de ler noticias tristes sobre a
região no jornal, mas uma vez o coronel fica saudoso dos tempos em que a
vontade de coronel era lei sob comando de revolver e do rebenque e hoje o
infame do Governo plantou por todos os lugares seu domínio.
E define os outros tempos:
O primeiro é Fernandinho filho que o
coronel desejava advogado e hoje não enverga o anel de doutor argumentando que
quem identifica o homem são seu próprios atos e, contra a vontade do pai, vivia
defendendo os trabalhadores como gente massacrada.
Outros tempos é também quando o filho
sugere que o pai seja iniciador do
processo de redistribuição de terras, mas seu pai expulsa-o para que esse vá
pregar seu comunismo redentor lá na cadeia entre os doidos e os presos.
Depois o conto dedica espaço para a mulher,
morta depois de tantas doenças, e da raiva do coronel com pé de cacau. Segundo
Higino, maldição, mas a mulher não deixa cortar porque diz que q desgraça não
sairá do sangue enquanto houver um dos deles na terra.
Depois Higino vê a família reunida para
pedir a divisão do patrimônio e
ACODE MEU DEUS QUE HIGINO QUE MATAR TODA A
FAMILIA.... O coronel reflete que é a
febre do cacau e fala da relação Homem e árvore( Relação importante na
história).
Em seguida o conto trata do cacaueiro e depois
da morte de Higino:
Pois foi, fecharam-se em paz, definitivamente
verdes os olhos.
O coronel Higino não sabia se sonhava ou
morria.
Possível
questão
Considerando
a ambientação da história comente o trecho abaixo:
“Felizes
são aqueles que descobrem logo cedo que a vida não passa de uma armadilha que
não falha, aqueles que não encontram na morte o pavor de todo coração, os
sabedores de que tudo isso aqui embaixo não passa nada mais e nada menos de uma
simples travessia e que acreditam nisso aqui como uma passagem que se faz para
outro reino com seus grandes pastos verdes onde tudo é alegria e canto e paz e
abrigo e fortuna de pássaro na sensação de um vôo perfeito.”
7. O
texto do escritor Cyro de Mattos cria diversas passagens sobre o tempo. O que
ele retrata quando propõe “Outros tempos”?
O conto, de caráter regional, mesmo
discutindo alguns elementos universalistas como o próprio tempo, faz uma alusão ao tempo da bonança da região
cacaueira . Para isso utiliza a árvore de cacau que fica na casa do coronel que, de repente,
parou de dar frutos - em outros tempos ela era a marca da abundância do
cacau. Também propõe “outros tempos” para mostrar o filho do coronel que
estudou e tem uma mentalidade mais voltada
para a divisão de terras com os trabalhadores em oposição a
mentalidade de seu pai – coronel de
outros tempos.
COMO UM VELHO SAVEIRO
O
narrador começa a história afirmando que está aqui e não está. O lugar que ele
visita, o corpo é seu, mas ele não se reconhece. Afirmando assim para o leitor
que ele é diferente do outro que veio àquele
lugar em outros tempos. Sabemos que a afirmação “os outros tempos”
está relacionada à sua vida com a presença de Maria Esther, mulher que tinha
mais luz que todos os saveiros do mundo e que chegou a sua vida quando ele
estava cansado de tudo e já com esgotamento nervoso. Afirma que ela chegou na
hora exata e fez com que sua vida voltasse e
fosse preenchida por ela.
Em
seguida ele conta a tragédia que foi a morte de Maria Esther afogada quando
ambos passeavam com um saveiro. E termina lembrando-se das inesquecíveis mãos de
Maria Esther que acenaram pela última vez e
afirmando que ele era agora como um
velho saveiro que jamais voltará ao
caminho do mar.
Possível Questão
Retrato
"Eu não tinha esse rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo
eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas
eu não tinha este coração que nem se mostra
eu não dei por esta mudança tão simples, tão certa, tão fácil
em que espelho ficou perdida minha face?"
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo
eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas
eu não tinha este coração que nem se mostra
eu não dei por esta mudança tão simples, tão certa, tão fácil
em que espelho ficou perdida minha face?"
Texto do conto:
“ Estou aqui e não estou. Estou aqui, sei que meu corpo está nesta
casa, nesta sala. Vejo as coisas
familiares, os móveis, os objetos, a lâmpada oscilando de leve, o quadro na
parede. Sei que sou eu, que os braços longos, caídos,desanimados são meus
braços. Olho no espelho a minha face, reconheço o olhar vago, a testa cada dia
mais larga, aboca descaída nos cantos, a barba azulando sobre o queixo e essa
palidez de coisa morta, definitivamente morta. Sei que o rosto refletido no
vidro é meu rosto, mas não o reconheço.(...) em verdade estou distante, tão
distante,no tempo, e no espaço, no passado cada vez mais presente. Olho outra
vez a minha face no espelho e nela não encontro desespero, mas somente fadiga e
cansaço, irremediáveis e mansos, e imensa solidão”.
10. O tempo já foi cantado pela lira de ilustres
escritores da literatura nacional e sobre o tempo, Cecília foi uma das que mais
se notabilizou. O Autor Dias da Costa
também faz em Como um Velho Saveiro...
uma reflexão semelhante a da autora no texto Retrato. Após ler o trecho do
autor comente sobre ele responder ou não a pergunta feita por Cecília em seu
texto.
A pergunta de Cecília pode
ser claramente respondida no conto,
caso fosse um questionamento do autor, porque,
na narrativa , ele nos permite perceber
que parte de sua identidade e existência se relacionavam a
presença de Maria Esther em sua vida. Ela foi a mulher que lhe curou o
nervosismo e quem preencheu, com sua
presença, a vida do narrador.
11. Apesar
de ser construído em forma de imagens é possível perceber alguns elementos
concretos na história. E, em conhecê-los é possível explicar a imagem final
de como
um velho saveiro que jamais voltará ao caminho do mar. Qual seria?
O narrador, ao contar da importância de Maria Esther e a tragédia de sua morte, deixa
claro que ele é o velho saveiro
que ficará para sempre perdido . Isso pode ser afirmado porque, na história, a
mulher amada, em outros tempos, tinha
trazido sentido para sua vida que estava
perdida e foi quem o curou do
diagnóstico médicos de
nervosismo.
O
ALEIJADO
É um conto em que a autora Elvira Foeppel
vale-se dos detalhes psicológicos dos personagens para explanar as tristezas e
frustrações pessoais desses indivíduos. Partindo da idéia dos traumas e
decepções, a história decorre com um profundo abismo afetivo entre mãe e filho,
em que estes, mesmo diante do sentimento de cuidado, se veem anestesiados para
as manifestações amorosas. O conto apresenta uma doença física real do
personagem filho aleijado, mas utiliza também, de forma sutil, o "aleijamento
do interior", do abstrato, dos sentimentos contidos. Para tal situação é que a autora utiliza-se das análises psicológicas
.
O menino aleijado: aleijão desde o
nascimento vive o clima rude numa luta entre ele e a rotina sem afetos "(...)todos os
dias mantinha-se assim em posição de queda, uma fisionomia compondo-se de
tonalidades diversas, untos de reserva, humilhação, mãos paradas,inertes,
lembrando bichos mortos, formava um conjunto feio,(...) o filho pouco a pouco
chorou,lágrimas miúdas, colocava bandejas na mesa, um cheiro de pomada tomando
conta de tudo, o filho murcho atravessa sozinho o cruzamento da sala, (...),
aos treze anos, o entusiasmo perde-se nas linhas da voz limitada, rouca,
terrível o desprezo no canto dos olhos, -a fotografia não existe em casa- o
corpo do filho é mistério na rua, é sombra transparente no chão, não atraiçoa
ninguém, (...) exausto da normalidade do dia longo, ele quer ser simplesmente
criança". Em meio a um ambiente isolado das alegrias de criança, o
aleijado é a figuração da doença física e do desprezo social . "
engrandecendo-se sozinho no silêncio, modesto,calando miséria,revolta", carrega o desejo
oculto de ser feliz ,como qualquer outra criança de sua idade, sufocado pela
vida solitária tanto em casa como na rua.
Observe que a UESB fez questão de ressaltar
em seu vestibular a ideia de inclusão de dessa relação de uma criança especial.
Esse menino prestar-se-ia também a essa discussão.
A mãe: "E naturalmente ela é mãe observada por
alguns, cheirando a eucalipto vários dias, acima de tudo ela possui uma
experiência de eternidade na carne que chorou este medo, esse pranto, de ver
nascer um filho lentamente, sem estar preparada em nenhum instante, em nenhum
sentido, em qualquer hora para ter um filho, mesmo assim, ele surgiu, vindo
diretamente do seio tomando petulantemente razão de ser, entre lama e luz e o
primeiro susto , A CARNE DEFORMADA, mole" . Em situação não muito diferente é
retratada a mãe,mulher jovem e vaidosa diante de uma gravidez inesperada
marcada definitivamente pela desilusão amorosa, medo, tédio e angústias com um
filho deficiente físico.
Marcados por "dois mundos
fechados" a mãe mesmo diante da dor dos seus tomentos e do seu filho
reflete-se para o mundo numa indiferença "chora, é mãe, sim. Chora ainda,
atrapalha-se em ver pasmada a vida curta do filho em transes de angústia, espanto
(...), lágrimas na face onde o orgulho se fecha tenso, doloroso, nem grito de
mãe, nem zombaria de meninos -HORIZONTAL É LINHA DE INDIFERENÇA, O MUNDO ALI,
FECHADO."
Possível
Questão
Apesar de ser a história do menino Elvira Foeppel nesse
texto constrói nas entrelinhas a história da mãe, o que amplia o conceito de
aleijado aplicado ao menino.
12. Comente a
afirmação acima
Ao contar a história do seu filho a mulher
também conta de si, de sua aventura com o vizinho, de seu pouco amor àquela
criança e de seu despreparo para lidar com uma criança deformada.
Revela-se uma mulher vaidosa
que não sorria ou chorava para não
estragar sua beleza e sobretudo percebe-se que a
deformação não é só do filho, mas de das
relações e do vínculo estabelecido entre
a criança e a mãe.
TUPAC AMARU
Conta a história de um amor vivido por uma
índia que se apaixonou por uma branco. A índia é narradora-personagem e dá
ênfase aos sentimentos e sentidos que fundamentam o fim dela, pois por perder
seu amor, mesmo sabendo que não era a única para ele, morre após ver a morte do
amado nas mãos dos inimigos dele. Ela se considera morta e sempre à procura do
amado, tendo como base a característica do amado de “arrogante coragem de
varão”.
É possível estabelecer uma relação entre
essa história e Iracema de José de Alencar em relação a forma de expressão do
amor da figura feminina - de adoração.
Possíveis Questões
A narrativa se inicia tratando da grandeza
de Tupac Amaru e que, no entanto quando índia (narradora) o despojava de seus trajes
ele era apenas seu homem, mas quando seu rei foi pego, subjugado a outra
cultura, inclusive religiosa e, humilhado em frente a seus súditos ela, depois
de ter visto tudo, morre.
13. Essa
morte é real ou apenas simbólica?
A morte da índia deve ocorrer fisicamente já
que o que vaga pelo mundo é sua essência, no entanto a ênfase que o texto é de sua
morte, depois da morte do seu rei e do
seu homem – este que dava sentido à sua vida. Ela afirma que o fim do seu amado
nas mãos do estrangeiro fez com que seu corpo explodisse em partículas sangrentas
e que sua essência vaga na busca de encontrar guerreiros corajosos como seu amado.
14. É
possível estabelecer uma relação entre
Tupac Amaru e I Juca- Pirama?
A obra de Gonçalves Dias conta de um ritual
antropofágico envolvendo a tribo vitoriosa Timbira que comeria a carne do
prisioneiro da tribo Tupi. Já a história de Tupac Amaru possui elementos como a
presença do estrangeiro e o amor de uma índia que vaga
pelo mundo na busca de encontrar a essência do ser amado. Tais
distinções colocam as narrativas em temáticas distintas apesar de possuírem
como personagens o mesmo grupo social – os índios.
AS CURVAS DA TOCAIA
DO ALTO DA MARAVILHA
O conto é construído em forma de relato e a
voz principal é a do neto do coronel Asclepíades. A narrativa se inicia com a
afirmação do neto de que não
podia se queixar da vida: tinha carro, motorista e telefone celular. O motorista era Tibério
Boa Morte homem de confiança do avô que tinha pago um justo preço pelo título
de coronel para ele e, de capitão, para seu capataz e só não ergueu uma altar
para sua mulher porque não teve autorização do Vaticano. Veja mentalidade dos donos
das terras do cacau:
“...Pena que o Vaticano não me autorize a erigir-lhe
um altar.
- Há de permitir – tornou meu avô – Quanto o
Vaticano cobra por um altar?
- Não cobra – disse o padre – Isso não se
vende. É prêmio.
O
neto narrador conta da casa-grande, hoje vazia, e seus velhos personagens incluindo
a finada Marcelina, sua ama, Tio Rufino que gostava da não existência de pretos
na fazenda (antiga senzala), o Avô a lembrar-se da sua amada e as raras festas
em que Tibério Boa Morte e o turco Jamil sentavam-se à mesa. E a casa-grande é
gradativamente definida como “No Silêncio da casa-grande....No vazio da casa-grande”.
Veja como o narrador apresenta a questão de
Tibério Boa morte:
Tibério não tinha motivo para voltar. Sequer
pelo coronel, por quem sujara as mãos e não as limparia facilmente: sangue
alheio, inocente, parecia escorrer-lhe entre os dedos. Se falasse (se dissesse
que os mortos não eram seus, pois nem os escolhera, mas apenas tinha apertado o
gatilho, sem que o infeliz tivesse tempo de perceber que ia morrer), sujaria o
coronel tão reverenciado.
....
E havia ódio agora ao coronel. Sabia que, ia
compreendendo, o induzira ao crime. E mais: ensinara-lhe a manejar uma arma de fogo.
O conto, após a morte do coronel, vai
revelando todo o pensamento e angústia de Tibério sobre as mortes que
realiza e termina por Tibério, mesmo se
sentimento pesado com os sangue que
carrega, concluir que “ Eu
não era eu. Era ele. Referindo-se
ao coronel porque seu dedo apenas
apertava o gatilho. Apesar de em outros momentos da história essa condição lhe
fazer se sentir culpado.
Depois o narrador entra em memórias para
falar da escolha familiar para a carreira política dele por ser um orador de cemitério
e chega a nos contar de sua ausência de cultura e de gramática.
Quando dirige para o narrador - neto do coronel - Tibério passa
pelo Alto da Maravilha ( veja a ironia) morro que é sugerido como lugar de
matanças. Para e atira em dois urubus. Não acerta (nunca tinha errado um tiro)
sua frio e treme, mas o neto do coronel diz que ele não precisa temer porque
nada lhe acontecerá.
Tibério não tem tanta certeza porque se
lembra da quantidade de famílias que ele
deixou sem seus entes queridos.
Possíveis Questões
A história termina com a seguinte reflexão:
Havia de ser outra a cidade. Na Praça do
Comércio, havia um coreto de teto amarelo, de azulejos pálidos como se tivessem
sido brancos um dia, e talvez já não existe e assim, também ali, adormeçam
gritos e gestos de um menino muito antigo, medos e lágrimas de um jagunço que
nem parece que foi, mas meu avô sobrevive na cadeira de rodas vazia. E no
retrato da sala de visitas – o bigode farto e branco, o olhar grave, mofando na
parece. E apenas pó nas mãos do coveiro Zé Maria.
15.
Comente sobre o menino muito antigo e
os medos e lágrimas de um jagunço
propostos na reflexão acima tomando como base a narrativa de Guido Guerra.
O menino é o próprio narrador que constrói
uma história sobre um tempo em que habitava a casa-grande de seu avô e recebia
os carinhos de Tia Eulina que tomava seu rosto pelas mãos e lhe afagava. E é na
voz do narrador que se apresenta como menino antigo que conheceremos o temido
Tibério Boa morte que depois da morte do
coronel desaprendeu a atirar e perdeu a admiração pelo coronel que lhe fazia de
gatilho.
O
conto faz a denúncia de como se estabelecia as coisas nas terras do cacau e
retrata uma personagem que compõe a escala social da hierarquia do cacau.
16. Comente a
afirmação acima tomando como base o conto e seus conhecimentos de história
regional.
O texto apresenta a figura do jagunço Tibério
Boa Morte como parte importante da forma como se estabelecia as leis na terra
do cacau. Ele é no conto aquele que mata a mando do coronel. O texto afirmar
que tal homem era um exímio atirador - nunca tinha errado um alvo. No entanto, a
história revela a voz do jagunço que não tinha consciência de seus atos sendo
apenas as mãos do coronel quando tira a vida de pessoas sem
conhecê-las ou saber o motivo. Depois
da morte do coronel ele começa a refletir sobre sua condição e termina por
definir que o culpado de todas as mortes era mesmo o coronel. Mesmo sendo ele a
leva o peso
A CASA É A CASA/ Possíveis
Questões
17. O
texto de Helena Parente faz a leitura de dois tempos e apresenta interlocutor(es) que conversam com a dona da
casa. Quais são esses dois tempos e em qual está os interlocutor(es)?
O texto apresenta o presente com a casa vazia e
o passado, lugar onde viveu sua
família . As amigas que falam com
a dona da casa estão no presente tentando convencer a personagem a deixar a
casa vazia para morar próximo delas , num apartamento no Leblon.
18. É possível
perceber a história da vida da mulher através de imagens relacionadas a casa.
Apresente sua trajetória apresentando imagens que comprovem suas afirmações.
Quando recém-casada a dona da casa recebe as
primeiras margaridas colhidas e colocadas na mesa para dois: ela e o marido.
Ambos compartilham o café antes do marido sair para o escritório. Depois, a
casa lembra seus filhos, ela está vestida de branco e empurra um carrinho de
bebê. A casa também presencia o casamento da filha e as imagens que ficam é da festa
que resplandece sobre as paredes e as flores que foram arrumadas no altar feito
na sala. Ela de novo se vê de branco empurrando um carrinho de bebê, dessa vez
do neto entre os canteiros da casa, Mas
também a casa a vê vestida de negro quando segura a mão ausente do marido.
“Por que você ainda não arrumou suas coisas
no apartamento? Por que você só pendurou na parede o quadro de flores? Por que
você não quer receber suas amigas? Por que você não quer ir caminhar no
calçadão? (...) Pelo amor de Deus, você não se lembra de nós? Ouça, nós somos
suas melhores amigas, vamos indicar um tratamento para você e só queremos o seu
bem. Sobretudo agora que você está perto de nós, morando no Leblon.”
19. O que se pode
entender do texto acima que finaliza o conto A casa é a casa?
Fica claro que a solução das amigas não é o
melhor para a mulher - ter mudado de
casa não trouxe para ela o ânimo que
as amigas imaginavam que traria.
Uma prova disso é que ela não sai com as
amigas para viver uma nova
vida. Assim, a casa é mesmo a casa quando se constrói uma história nela
e trocar de casa não apaga a memória.
O
OUTONO DO NOSSO VERÃO
O
narrador conta que ele e sua amada viram o verão se despedir e só depois do
avançar da narrativa é que entenderemos que as estações ora são aplicadas em
sentido real, ora são aplicadas em sentido metafórico na história.
Ele se encontra no mesmo hotel que estiveram
no verão passado,mas sem ela,no começo de mais um verão. Embaixo de sua janela
a galera jovem e os bares já se movimentavam e ele sabia quais seriam as
reações de desaprovação dela ao barulho e a roupa curta se ela estivesse ali. Lembra
que nas últimas agonias do verão passado o mar estava cobre e hoje está azul. Ao
se hospedar novamente no hotel que estiveram, lembra que na época só tinha os
dois de hospedes e hoje está cheio.
Passou
por todas as localidades do braço do mar e acabou parando no mesmo bar de
estrada para tomar café onde os dois tinham parado percebeu que o dono ainda
era o mesmo como o gerente do hotel é mesmo português. No quarto ele se lembra
do último verão. Sabia que se ela estivesse ali começaria a se preparar para
dormir e fazerem as contas se ela estava fora de perigo para se entregar ao
amor ou não. Sairia da janela e a encontraria dormindo com roupa de viagem. Se sentiria sozinho.
Ela
volta e meia reclamava das dores no baixo ventre da meia idade e voltava a
dormir. Ele quando tentava qualquer coisa com ela, ela resmungava “vá pegar uma puta!”. Depois o narrador começa
a dizer que há falta de opções nas
pequenas cidades de férias. Afirma que se morasse numa cidade como aquela
enlouqueceria,mas que ainda assim cidades pequenas são a salvação da família
brasileira porque causam menos estragos ( sobretudo na moral). Diz que se despediram
no verão naquele mesmo braço de mar. O outono e o inverno o atormentaram mas agora o verão que o machuca pois tem
consciência que a saudades e lembranças que tem dela o consome.
Possíveis Questões
20. Além
de propor esse título de sentido conotativo, o autor constrói um texto para um
interlocutor específico. De quem se trata e sobre o que é a história?
As estações do ano na história se relacionam
ao casal, logo o título sugere um relacionamento que se finda e o narrador
conta, na história, uma visita que faz a um lugar com a mulher quando sua
relação estava no verão, ou estavam unidos. Parte da história é como as coisas estão
diferentes - o hotel que agora estava cheio e que eles visitaram vazio, e
como outras permanecem iguais - o
bar da beira da estrada com o mesmo
mulato. Termina a narrativa afirmando
estar no verão daquele lugar, mas ele em si é inverno de ausência do ser amado.
CASA DOS TRINTA/
Possíveis Questões
21. O
autor começa por dizer que criar uma academia não é uma idéia original, diz que
no Brasil inclusive possui muitas e não somente de letras literárias o que
seria perfeitamente plausível a criação de uma academia dos trinta. O que nela
de pouco comum? É possível perceber uma certa ironia machadiana na construção
dela. Comente também.
A narrativa afirma que há dois grupos de pessoas
no mundo: os acadêmicos e os que desejam ser. Acrescenta que no Brasil há
várias academias e inclusive de letras. Ainda
afirma que aqui é o pais do mundo que mais dispõe de escritores. Essas
ironias e valores dados a aparência, ser acadêmico e intelectual é um traço machadiano . Esse escritor
considera que o sucesso do homem está em
parecer , em brilhar. Vale ressaltar
porém que no caso dessa academia trata-se da reunião dos marginais da cidade.
22. No texto,
Herberto Sales apresenta uma justificativa, segundo ele, histórica para o fato
de não sermos leitores. Qual seria?
Ao
brincar com a idéia de que no Brasil há muitos escritores o autor justifica
assim que por isso há poucos leitores.
23. O
que o autor quis dizer com o trecho: “oh, a derrota! Vaidades feridas,
frustrações, ressentimentos. Não havia dúvida: a Casa dos Trinta, conquanto
fosse uma academia diferente, era uma academia como outra qualquer.”
Sugere aqui que mesmo sendo uma academia de
marginais, com homens não letrados, o
principio da academia era o mesmo:
lugar de vaidades.
24. Que tipo de denuncia aparece no texto
relacionada ao carnaval?
Há no texto uma clara associação entre o
carnaval e os marginais. Quando
apresenta o banqueiro do bicho como
era um contraventor eleito
presidente de uma agremiação carnavalesca, cargo que levou até a morte.
HORÁRIO DE
EXPEDIENTE/ Possíveis Questões
Dr. Mariano, homem por natureza morigerado
e paciente, mesmo levando-se em conta o tempo que já passou a esperar, não se
apressa, tanto mais que sendo a única pessoa a esperar audiência fatalmente
acabará por ser recebido conforme imagina. E assim se deixa ficar, mudando
discretamente de posição na poltrona a intervalos (....)
.......................................................................................................................................................................
Serenados os ânimos, ouve-se apenas a
longínqua voz do Dr. Libório no interfone; percebendo que ninguém lhe dá
atenção, ele tenta abrir a porta do seu gabinete para saber o que estava
acontecendo na ante-sala;mas inutilmente, porque a porta já está inteiramente
bloqueada por uma montanha de livros empilhados.
25. Os
trechos acima revelam dois momentos distintos na história no que se refere a
forma como Dr. Mariano está ocupando o escritório de Dr. Libório. O que há de
diferente?
Hora do expediente é uma clara
história de paciência como
condição de ocupação dos espaços. Assim o primeiro trecho revela Dr.
Mariano numa longa espera para falar com Dr. Libório ocupando apenas uma
cadeira, já o segundo texto revela Dr. Mariano dominando todo o espaço do
escritório do Dr. Libório e esse, preso em sua sala.
26. É correto
aplicar ao texto a idéia de que a paciência do outro e o relapso na ocupação de
nossos espaços podem nos levar a perder território?
Se considerarmos que Dr. Mariano começa a
história esperando num pequeno espaço para ser atendido e depois gradualmente
vai chegando mais cedo, trazendo trabalho, depois trazendo assistentes,
material de escritório para trabalhar enquanto espera e um cronograma de trabalho seguido inclusive pela secretária de
Dr. Libório e mais, se atentarmos para o
final da história em que é Dr. Libório, em seu próprio escritório, que tenta marcar
uma audiência com Dr. Mariano
é possível perceber que a não ocupação
de nossos espaços permite que o outro
possa alojar-se.
A CAMPAINHA
ASSASSINA/ Possíveis Questões
27. Apesar
de sugerir que o que mata João Marangávio é uma campainha o autor vai
apresentando a personagem de modo a dar ao leitor a oportunidade de entender o
tal som apenas como elemento no conjunto de coisas que levam João ao final
trágico. Quais são as referências que o texto faz disso?
O autor apresenta João como um semi-analfabeto
que se casou com boas intenções, mas mora num terreno invadido, com uma mulher
que provavelmente o trai com o guarda. Tinha um trabalho mecânico de ir e vir
movido pelo barulho da campainha. Em casa
comia uma comida pobre com os
poucos dentes que tinha e não tinham no casebre nem TV nem rádio. Tentou mudar
de trabalho e de vida, mas não havia chances
para ele. Termina tendo pesadelos com a campainha que o despertava e é morto pelo guarda que o
confunde a noite com um malandro.
28. Qual
leitura sociológica pode ser feita do trecho abaixo?
“Ao longo de vários dias, a conversa girou em torno dos
desígnios que transformaram um cidadão humilde num perigoso assaltante noturno.
Todos sentenciavam que na vida há fatos inexplicáveis e que é preciso muita
cautela com a força dos astros diante do destino frágil dos homens. Na rotina
dos dias imprevisíveis, um novo servente, aprumado na saleta, começava a ser
massacrado pelo som da companhia que transformara, aos poucos, num inferno sem remissão,
a vida do infeliz Marangávio, morto a bala no meio da rua, apesar da sua
conduta de ‘pacifico cidadão exemplar’ – como dizem, com gravidade, os patrões
benevolentes, e acabou constatando dos seus últimos registros profissionais.”
João é apenas a representação de um
trabalhador que é parte da engrenagem do mundo de trabalho mecanizado. Sua morte será motivo de
conversa, mas ele será imediatamente substituído
por outro que ocupará seu lugar e será explorado da mesma maneira se
transformando brevemente em João.
ALANDELÃO DE LA
PATRIE/ Possíveis Questões
29. O conto, apesar
de ser uma história que envolve animais, é em sua profundidade uma análise de
raças. Que opinião o narrador propõe sobre as raças expostas no texto?
Ao propor a superioridade de bois europeus
nos tratamentos que esses dão as vacas, e em apresentar Alendelão como um boi
francês tão superior que seu sêmen não deve ser
desperdiçado em um ato sexual , ou que o boi holandês é muito educado e
são contrários ao Guzerá que tem cara de ordinário, mentirosos, criminosos e
cínico. O narrador não nos propõe apenas a história de um boi de raça, mas
a superioridade das raças européias em sua formação, o tratamento que
dão e como se diferenciam dos bois-pessoas
de nossa terra.
O APITO
O conto "O Apito" se baseia na
chegada de um grande navio estrangeiro no porto de Ilhéus, além de retratar
como personagem principal um menino do interior baiano que era aficionado em
ver barcos e navios no porto marítimo. E seu sonho era ver um grande navio
estrangeiro de perto, e poder entrar neste, além de falar para todos em sua
cidade o que conseguira. Entretanto, o navio esperado por todos não desembarcou
no porto, parou muito longe, e apenas pediu a presença de um médico a bordo,
que foi de barco ao encontro do navio.
No final do conto, um trabalhador retrata
que o povo de Ilhéus é muito "enxerido", que espalharam que o navio
trazia um coronel, e que era uma invenção de quem não tinha com que se ocupar.
E, tristemente, o menino saiu do porto, levando na lembrança apenas o apito do
navio, e comparando-o com o aboio dos vaqueiros que passavam em Água Preta.
Possíveis Questões
30. O
Conto apresenta a história de um menino que sonhava em ver um grande navio no
Porto de Ilhéus. Tal sonho não se realiza e o motivo foi inclusive um dos temas
desencadeadores do romance Gabriela: cravo e
canela de Jorge Amado. De que
questão se trata?
A trama de Jorge se desenvolve em torno da
reforma do porto para receber navios que escoariam o cacau direto do porto de
Ilhéus para a Europa e resolver o
problema do encalhe de navios no porto do Pontal. O principal fato deste conto
é a incapacidade do porto de Ilhéus para receber grandes embarcações por isso o
menino não pode ver o grande navio. Assim, as histórias tratam da mesma questão – a ampliação do porto de Ilhéus.
ALMOÇO POSTO NA MESA/
Possíveis Questões
O conto Almoço posto na mesa apresenta a
história de um casal simples, que em um determinado dia no almoço o personagem
Joaquim decide comer o próprio corpo. Ele começa colocando a língua no prato e
assim sucessivamente devora-se até sobrar a boca que se mastiga sem nada acima
ou abaixo. Sua esposa presencia o fato e não se espanta, ao contrário quando o
marido acaba ela começa também a comer o seu corpo, mas começando pelo seu órgão
genital porque segunda a sua mãe era ali o começo e o fim.
31. É correto
afirmar que a construção desse conto é feita com elementos fantásticos?
Justifique.
O texto propõe que a personagem senta a
mesa para almoçar o próprio corpo começando pela língua. Não
interrompeu tal ritual nem mesmo quando um carro invadiu a casa, momento em que ele comia o pé que tanto
lhe atormentava com suas joanetes e cravos. Tais imagens também aplicáveis a
mulher que passará a comer-se depois, não
na mesma ordem do marido, nos permite
perceber que o elemento do fantástico ou do não comum é utilizado na
construção da história.
UM CASO COMPLICADO/ Possíveis
Questões
“Afinal,
porque gritavam tão alto, porque choravam e se maldiziam aos brados, o que diziam
de monstruoso e terrível que não
percebia?
O sol
incidiu vigorosamente nos vidros da clarabóia, o quarto suspenso em luz, nave
espacial de transparência opaca, parados os ponteiros dos relógios, o tempo
aprisionado naquele espaço,domado no seu corcovear de cavalo enfurecido.”
32. Considerando
a totalidade do conto, o que levou ao espanto, às pessoas que viam essa cena?
As pessoas se chocaram ao perceberem que o
narrador da história estava empalhado tal qual os animais que ele costumava empalhar. No entanto ele não se
dá conta dessa condição nos permitindo ler nas entrelinhas do
conto a intenção da autora em propor uma história de amor e dedicação a uma profissão de forma a anulação de vida. Assim é com o
amante de taxidermia que não se importa
com amigos, anula-se da família e termina por ficar igual aos animais que trabalhava.
FELIZ ANIVERSÁRIO!/ Possíveis
Questões
“O jantar transcorreu na mais perfeita harmonia. Ela
sorriu, gesticulou muito, contou coisas de si. A criada apenas ouvia. Perplexa.
O fato é que a inesperada ausência do
convidado, tão ansiosamente esperado, não pareceu tê-la entristecido nem um
pouco. E se isso aconteceu, passou bem
rápido. Estava disposta e bem humorada. Um tanto esquisita essa patroa...”
33. A
naturalidade com que a personagem lida com a ausência do convidado no seu
aniversário pode ser vista pela perspectiva da empregada?
A história gira em torno de uma mulher
solitária que em todo aniversário pede a empregada para preparar-lhe o jantar.
Na ocasião envia flores a si mesma e
arruma-se para receber um namorado. Quando ele não chega ela ceia com
a empregada. O não entendimento da empregada sobre como a patroa lida com
naturalidade com a ausência é perfeitamente plausível já que a mesma não sabe
que desde a arrumação do jantar a personagem já sabia que tal namorado
não viria e a empregada, após o jantar é despedida e, no ano seguinte,
uma nova é contratada.
O DESEJO E SUA DANÇA/
Possíveis Questões
“Elvira
estava próximo ao desespero porque ia completar trinta anos de idade e ainda
era virgem. Mas preferiria morrer a declarar tal desespero a alguém. Para
serenar seu desejo de homem, costumava dançar sozinha, trancada no seu quarto.”
34. A
personagem acima foi construída numa história que revela um teor religioso/mitológico
sobre sua personalidade. Explique tomando como base o conto.
O narrador propõe para Elvira duas
personalidades: a mulher recatada, educada que cedia lugares para as pessoas mais velhas e andava de cabeça baixa
e a Elvira de casa que bebia, vestia-se
de forma extravagante, dançava e xingava. Essa dupla personalidade foi
explicada num terreiro quando soube ser filha de um orixá que fazia com que ela
passasse despercebida pelos de fora porque estava reservada a um homem também
escolhido como ela. Depois de ouvir explicações a jovem decide deixar a
universidade e seguir seu caminho de filha de santo.
EMÍLIA/ Possíveis
Questões
Então
ele sentiu dois punhos nas costas:
-
Covarde!
Agora,
contra o peito:
-
Covarde! Covarde!
Ela
nunca estivera tão próxima. Recuou, tonto, a vida para sempre desgraçada.
35. No
contexto do conto explique o trecho “ a vida para sempre desgraçada.”
O menino nutria uma paixão platônica pela
menina Emília que no seu imaginário era a mulher ideal e para ela mudara de
comportamento. Chega mesmo a se arrumar e passar os dias brincando próximo a
ela. Quando teve a oportunidade de aproximar-se ,num piquenique, seus amigos,
no momento em que quase ia tocá-la, lhe
jogou água e lama destruindo aquele momento que para sempre seria uma doce
lembrança em sua memória.
A OUTRA PONTA DO
ARCO-ÍRIS/ Possíveis Questões
- Na vida, minha senhora, há lugar para tudo
e para todos e ninguém é dono do saber. Para mim, a Medicina é um homem
velho...
- Não doutor. Não é assim. A Medicina é saber
dos homens. Mas os homens não sabem tudo.
O Senhor deve continuar curando. A humanidade ainda precisa do seu
saber. Tenha paciência consigo mesmo, doutor. A misericórdia divina está acima
de tudo.
- Talvez a senhora esteja a certa. Mas o
certo é que minha visita e de reparo.
36. Considerando o
trecho “visita de reparo”. Comente
sobre a mudança de postura do médico no conto.
O conto propõe a trajetória de um médico que persegue a mãe de Santo a ponto de ir acompanhado da polícia buscar um
paciente em seu terreiro. No entanto algumas adversidades em sua vida como a
perda do filho associado a um pesadelo
que teve lhe permite refletir sobre as crenças da mãe de
santo sendo capaz de perceber nas histórias dos mitos africanos , uma
aproximação com os mitos gregos. Dessa maneira, a construção do respeito do
médico é, por extensão, um convite do escritor para que os letrados leitores
também vejam a cultura africana por
essa prisma.
NA PENUMBRA/ Possíveis
Questões
“ A
respiração do homem vai ficando mais regular e ruidosa. Quando percebe que ele
dorme profundamente, a mulher desprende-se devagarinho do seu abraço e fica observando-o. Depois se
aproxima, beija-o de leve nos lábios. Com uma das mãos, acaricia-lhe o rosto,
com a outra vai explorando o fundo poço do seu próprio sexo, numa lenta
exploração de prazer.
-
Papai, papai – ela murmura, olhando para o homem adormecido.
37. A
imagem proposta acima pode ser entendida como patológica?
O homem que dorme não é o seu pai, mas um
jornalista do interior que chegou recentemente à cidade grande para tentar a
vida. Ela, uma mulher casada que vive
bem economicamente, mas que ali está
para contar do abuso sexual do seu pai. O jornalista, comovido com a
declaração e ansioso por apagar da memória da moça tais imagens,
promete-lhe que vão começar uma nova vida. Quando esse adormece a moça o
chama de pai numa clara demonstração de que ainda enfrenta problemas
psicológicos com aquela questão.
UM SAVEIRO TEM MAIS
VALIA/ Possíveis Questões
“Quando o viu, a
nado e safo, embora de mastro quebrado, sem os panos, um rombo no casco, com
metade nágua – mas mesmo assim, cheio de dignidade – só então lágrimas
afloraram nos olhos de Maria.”
38. O termo “só
então” sugere que houve outras coisas que ocorreram. Quais seriam?
O trecho - desfecho da história, é uma clara demonstração
de solidariedade dos marinheiros que deixaram
de ir pescar para salvar um
saveiro que simbologicamente seria ajudar pessoas. O casal enfrentou um
vendaval e sobreviveu a noite no mar, estando a mulher grávida. Ela passou por tudo isso e só chorou ao
ver o barco sendo tirado das águas. Sua emoção está relacionada a
perceber que há ainda entre os homens solidariedade.
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