segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Tema de Redação Crise de Ludicidade no século XXI

O MUNDO DO MENINO IMPOSSÍVEL


Fim da tarde, boquinha da noite
com as primeiras estrelas
e os derradeiros sinos.
Entre as estrelas e lá detrás da igreja,
surge a lua cheia
para chorar com os poetas.
E vão dormir as duas coisas novas desse mundo:
o sol e os meninos.
Mas ainda vela
o menino impossível
aí do lado
enquanto todas as crianças mansas
dormem
acalentadas
por Mãe-negra Noite.
O menino impossível
que destruiu
os brinquedos perfeitos
que os vovós lhe deram:
o urso de Nürnberg,
o velho barbado jugoeslavo,
...
o carrinho português
feito de folha-de-flandres,
a caixa de música checoslovaca,
o polichinelo italiano
made in England,
o trem de ferro de U. S. A.
e o macaco brasileiro
de Buenos Aires
moviendo la cola y la cabeza.
O menino impossível
que destruiu até
os soldados de chumbo de Moscou
e furou os olhos de um Papá Noel,
brinca com sabugos de milho,
caixas vazias,
tacos de pau,
pedrinhas brancas do rio...

“Faz de conta que os sabugos
são bois...”
“Faz de conta...”
E os sabugos de milho
mugem como bois de verdade...
e os tacos que deveriam ser
soldadinhos de chumbo são
cangaceiros de chapéus de couro...
E as pedrinhas balem!
Coitadinhas das ovelhas mansas
longe das mães
presas nos currais de papelão!
É boquinha da noite
no mundo que o menino impossível
povoou sozinho!
A mamãe cochila.
O papai cabeceia.
O relógio badala.
E vem descendo
uma noite encantada
da lâmpada que expira
lentamente
na parede da sala..
O menino poisa a testa
e sonha dentro da noite quieta
da lâmpada apagada
com o mundo maravilhoso
que ele tirou do nada...
Xô! Xô! Pavão!
Sai de cima do telhado
Deixa o menino dormir
Seu soninho sossegado!



Jorge de Lima, Obra Completa – Vol. I,
Rio de Janeiro, Editora José Aguilar Ltda, 1959, 1.ª ed   O “Menino impossível”
Associe a metáfora do menino impossível ao ideal de brincadeiras da infância e escreva um texto dissertativo sobre a crise do lazer e ludicidade no século XXI. É obrigatório um comparativo histórico.

REDAÇÃO  MODELO

1.      Por um mundo aprimorado
Dos dominós chineses aos videogames multisensoriais, as brincadeiras infantis refletem as transformações socioculturais da humanidade no decorrer histórico. Tendo em vista tal égide, a Revolução Tecnocientífica impulsionou a produção de variados adventos tecnológicos que, diante dos interesses das grandes instituições capitalistas, foram associados aos ideais de felicidade. Sendo assim, a crise de ludicidade, no século XXI, surge como consequência de uma sociedade da liquidez imersa na instantaneidade e em uma rotina caótica.
Para Jean Piaget, a infância é o tempo de maior criatividade da vida humana. Nessa perspectiva, as atividades lúdicas constituem um instrumento essencial para estimular o desenvolvimento cognitivo da criança, pois as crianças refletem, nas brincadeiras, a sua verdadeira visão de mundo. Partindo desse princípio, os aparatos tecnológicos, tão presentes na pós-modernidade, devem constituir uma ferramenta de suporte educacional. Contudo, diante da perpetuação de uma sociedade capitalista movida pelos interesses de uma elite minoritária, a tecnologia tem sido usada para remodelar os brinquedos infantis de forma a propulsionar a formação de futuros consumidores nos moldes do capitalismo.
A concepção de lazer pós-moderno encontra-se estritamente associada aos adventos tecnológicos, visto que, desde espetáculos musicais com shows pirotécnicos até games que estimulam a violência e a não interação social, a perspectiva de diversão contemporânea tem sido delineada por valores capitalistas. Consequentemente, as crianças, por serem mais facilmente manipuláveis, tem sido pré-moldadas e estimuladas desde sempre a consumirem tecnologia, pois não conseguem discernir o que é realmente lúdico do que é meramente entretenimento. Além disso, essa crise de ludicidade também surge como consequência de pais que imersos em uma rotina caótica e em uma sociedade instantânea, transferem a função de educar os filhos para as instituições, para as babás ou para as novas tecnologias.
Nessa perspectiva, dos bonecos de argila pré-históricos, passando pelas bonecas medievais até os ultra computadores pós-industriais, o ideal de brincadeira infantil tem sido transformado a partir das concepções sócio históricas vigentes. Sendo assim, a tecnologia e o lúdico devem se associar de forma que o lazer possa estimular a criatividade, a socialização e a formação de leitura de mundo ampla. Desse modo, seguiremos a máxima de Paulo Freire, de que estamos no mundo não apenas para se adaptar, mas também para aprimorá-lo.



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