A
Odisseia do espelho
– Márcio Porto
Dentro
do contexto de relativismo presente na contemporaneidade,
que torna tudo volúvel e volátil, o conceito de beleza constantemente sofre
alterações. O homem pós-moderno insatisfeito com a sua imagem se lança em uma
busca infindável para se enquadrar no inatingível significado da perfeição.
A
incansável busca pela beleza presente na atualidade é fruto de um sistema
midiático que vende estereótipos de corpos perfeitos que nunca se valerão de
uma conquista. Essa metamorfose que constantemente sofrem os padrões de beleza
gera uma insatisfação no homem pós-moderno que desenfreadamente busca
diferentes canais para se
alcançar o inalcançável. Academias de ginástica, alimentos light e diet’s,
cosméticos e, principalmente, as intervenções cirúrgicas são os armas mais
utilizadas para se
“atingir” a tão sonhada perfeição.
Esse
descontentamento com o que se ver vê
refletido pelo espelho, associado à cobiça do corpo idealizado, promove uma
produção massiva de “Narcisos às avessas” em plena contemporaneidade.
Dessa forma, a humanidade mergulhada em um individualismo embebecido pela
insatisfação do corpo, ver-se se
vê introduzida em um ciclo vicioso, infindável e alienante repletos de riscos para se alcançar o “reflexo perfeito”. A
vigorexia, a anorexia, o TOC e a bulimia são alguns algozes desses Narcisos
modernos que, diferentemente do cantado por Caetano Veloso, acham feio o que é
espelho.
O
homem, ao submeter-se a essa “Odisseia” da beleza, torna-se passivo ao
autojulgamento de sua imagem, podendo alcançar a destruição psicológica e
física do seu ser. Assim sendo, valer-se racionalmente dos diferentes
canais para se
conseguir uma imagem satisfatória refletida no espelho é uma forma de se evitar o fim trágico do Narciso
mitológico.
A tirania da beleza:
Reflexões
sobre a colonização do corpo na contemporaneidade
Bacharel,
Licenciada e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da
Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP.
Resumo:
Considerando
o fenômeno do culto ao corpo aprofundado na contemporaneidade bem como o
aumento da insatisfação dos indivíduos com a própria aparência, o presente
artigo buscou analisar alguns processos socioeconômicos que, historicamente,
contribuíram para a formação de um amplo e lucrativo mercado direcionado aos
cuidados corporais e, nesse aspecto, realizou uma reflexão acerca das novas
formas de colonização do corpo presentes na “cultura do consumo”.
Historicamente o corpo tem se mostrado de
várias formas e em algumas conjunturas ele tem sido fundamental para
compreender e expressar as características da organização societal a qual se
insere. Assim, embora o corpo humano seja constituído por elementos biológicos,
ele é, sobretudo, uma construção sócio-cultural, de tal modo que, em qualquer
sociedade, o corpo sempre estará submetido a um conjunto de normas e práticas
de interdição, fruição, controle etc.
As modificações no corpo estiveram
presentes em diferentes épocas e civilizações. A ornamentação e as marcações
utilizadas no neolítico, as tatuagens e brincos dos povos maoris (nativos da
Nova Zelândia), o embranquecimento da pele na antiguidade, o espartilho da era
moderna, entre muitos outros, serviram aos mais diversificados fins: para
embelezar, para marcar uma classe social, como meio de divindade, como modo de
pertencimento ou de exclusão a um grupo ou em relação ao mundo natural etc.
Entretanto, a partir dos desdobramentos do
capitalismo e do processo de secularização que se afirmam na Modernidade,
ocorre a desvinculação do homem com o mundo natural, inaugurando o princípio da
percepção da existência do indivíduo no interior de seu funcionamento corporal;
ainda assim, a valorização da dimensão corporal coexistia e era secundária as
utopias identificadas no início desse período (SILVA, 2001)
No século XIX, com o desenvolvimento e a
expansão industrial capitalista, se necessitou disciplinar o corpo do
trabalhador assalariado para este se tornar apto a acompanhar o ritmo da
máquina e, com isto, auferir maiores lucros aos proprietários dos meios de
produção. Por esses e outros aspectos, estabeleceu-se um rompimento com os
padrões considerados elegantes até então; ao contrário de trabalhadores mais
robustos, exigiu-se trabalhadores magros, classificados como portadores de
grande destreza e habilidade.
Nesse momento, se consolidava na medicina
uma concepção de mundo que instituiu, ao nível do saber e das práticas
terapêuticas, uma vinculação entre medicina e ciência (sobretudo das duas
principais correntes do pensamento científico da Modernidade: o Racionalismo e
o Empirismo), do qual a objetividade, o certo e o indubitável na investigação
do fenômeno enfeixavam o projeto central. Deste modo, a medicina (aliada à
ordem socioeconômica), tomando o corpo como “objeto” homogêneo, atuou a partir
das determinações específicas de uma sociedade de classes e criou tabelas de
base para a definição dos valores da média da população em peso, idade e nas
aparências físicas pré-determinadas. Tais tabelas estabeleciam os “pesos
desejáveis” para os indivíduos e foram derivadas do critério de utilidade do
mundo do trabalho. (POLACK, 1971) .
Por conseguinte, o rendimento necessário ao
dispêndio da força de trabalho acabou se tornando o parâmetro fundamental
daquilo que se denominou de normalidade. Segundo Silva (2001), a formulação das
tabelas de base, é um dos exemplos das determinações socioeconômicas sobre o
procedimento técnico-instrumental da medicina que ficam obscurecidas pela
cortina da neutralidade dos números e de levantamentos empíricos extensivos. Ao
se utilizar desses procedimentos, transformou-se a saúde em um sinônimo da
capacidade objetivável de rendimento.
Após a segunda metade do século XIX, a
emergência da fotografia no campo científico, decompondo e investigando os
movimentos do corpo animal e humano, contribuiu ainda mais para desenvolver uma
concepção do corpo que o compreendeu como uma máquina em ação. A medicina fez
do movimento corporal um símbolo efetivo de saúde, um modo fundamental de
expressão de qualidade de vida.
Assim, a estrutura industrial e o discurso
médico contribuíram para o surgimento de uma consciência mecânica do corpo,
indispensável ao desenvolvimento do pensamento esportivo. Ao conceber o corpo
menos como uma entidade e mais como um processo, sobre o qual se podia intervir
para adequá-lo e agilizá-lo, abria-se, então, a possibilidade para a
remodelação e reconstrução do corpo. Mas foi com o aprofundamento da “cultura
do consumo”[1] que o corpo passou a ser explorado como objeto rentável.
A disseminação dos esportes, o fenômeno da
moda e o cinema, este último favorecendo a criação de ídolos através de
Hollywood, ajustou a indústria de cosméticos à indústria cultural o que, por
sua vez, contribuiu decisivamente nesse processo de valorização de ideais e
padrões de beleza.
A superprodução industrial de mercadorias
sustentando o american way of life (estilo de vida americano) e aprofundando a
“cultura do consumo” de massas se lançou, após a segunda metade do século XX,
ao mercado de bens e serviços destinados à manutenção do corpo. Impérios
industriais, com atividades diversificadas, invadiram o mercado, produzindo
aparelhos de ginástica, suplementos nutricionais, vitaminas ou ainda publicando
revistas especializadas sobre boa forma, saúde, regimes alimentares e cuidados
corporais (COURTINE, 1995)[2].
Todo esse arsenal se vinculou à indústria
do lazer e do turismo, da alimentação e do conforto, formando, portanto, novas
bases para uma colonização do corpo. Se num primeiro momento recomendava-se a
dissimulação como meio de “sanar” os problemas físicos, usando roupas e
produtos adequados, buscando uma “camuflagem”, após a “liberação do corpo” e da
exposição do corpo nu, essa dissimulação foi substituída pela ênfase em torno
da construção de uma beleza autêntica, sem dissimulações, oferecidas pelas mais
diversas intervenções cirúrgicas.
Conforme explica Sant’Anna (2001), ao ideal
do corpo máquina, produtor de energia, peculiar às sociedades industriais,
acrescentou-se a imagem do corpo produtor de informações. Transformados em
equivalentes gerais de riqueza, células, órgãos, genes, embriões, corpos
humanos e não humanos começaram a gerar lucros elevados servindo ao
utilitarismo biotecnológico.
A concepção de corpo atual está diretamente
ligada ao desenvolvimento da medicina que, deste o século XIX, atribuiu
conotações positivas à magreza, correlacionando o excesso de peso a inúmeras
doenças. No entanto, mercados como os da publicidade, da estética, da moda são
hoje os principais divulgadores de um corpo ideal. Procura-se, assim, instituir
uma excelência corporal, que constitui o resultado do que deve ser atingido, ou
do qual se procura aproximar-se.
Cuidar do corpo tendo em vista a melhor
aparência vai se tornando, gradativamente, uma necessidade para os indivíduos.
Esta necessidade de aperfeiçoar o corpo é seguida e estimulada pela expansão de
conhecimentos concernentes ao corpo nas áreas de estética, alimentação, saúde e
educação, além de técnicas e produtos que lhes correspondem. Estrutura-se,
dessa forma, um mercado das aparências, representado por inúmeros profissionais
especializados em tratamentos de pele, cabelo, gordura, pêlos, unhas etc e
instrumentos de atuação que se encontra em livre desenvolvimento (instrumentos
e produtos para modelar e alisar os cabelos, aparelhos de eletro-choque para
fortalecer o abdômen, raio-laser para remover pêlos, máquinas de bronzeamento,
agulhas contra celulite, shakes para emagrecer, entre muitos outros).
Desta forma, as relações que o mercado
estabelece com a expectativa de corpo predominante são múltiplas, criando
sempre demandas corporais e novas exigências aos indivíduos. A ciência assim
como os meios de comunicação, por meio de sua suposta neutralidade e objetividade,
penetrou em todos os recantos da vida. Além da poderosa tarefa de esquadrinhar
e normatizar o corpo, oferecem os mais diversos meios para sua fabricação.
De acordo com a filósofa norte-americana
Susan Bordo (1993), a fantasia de construir um corpo perfeito, esteticamente
belo, magro e jovem é alimentada pelo capitalismo consumístico, pela ideologia
moderna do interesse por si que se cristalizou na cultura de massa americana.
Para a filósofa, o extremo dessa fantasia localiza-se na ciência e na
tecnologia ocidentais que, originariamente vinculadas ao mau funcionamento,
gerou uma indústria e uma ideologia alimentada pela fantasia do remodelamento,
transformação e correção; uma ideologia do melhoramento e da mudança sem
limites que representa um desafio à historicidade, à moralidade e à própria
materialidade do corpo (BORDO, 1993). Diante disso, o eixo da problemática da
magreza, tão incentivada nos nossos dias e que pode levar ao aumento da
incidência de anorexia e de bulimia, situa-se na cultura de consumo que domina
grande parcela das sociedades contemporâneas.
O domínio sobre o desejo no interior dessa
“cultura do consumo” que o mercado institui está associado ao ideal cultivado
da fabricação de um ser perfeito. Dietas, exercícios físicos intensos e muita
disposição para sacrifícios e dores, são requisitos cobrados e estimulados, por
demonstrarem a capacidade de força de vontade, metáfora cultural de uma expectativa
normalizante de corpo e comportamento.
A historiadora francesa Michelle Perrot
(1992) considera que a modelagem das aparências cria uma antropometria
meticulosa determinando medidas ideais, instrumento de tortura para aspirantes
do triunfo da norma[3]. “[...] A incorporação do ideal de elegância, gerador de
anorexia, forma de depressão feminina, é o sinal derradeiro da armadilha das
imagens. Daí a ansiedade crescente que as mulheres, doravante constrangidas à
beleza, nutrem relativamente à sua aparência” (PERROT, 1992, p.178-179). Assim,
o culto à magreza que se insere dentro da ditadura da beleza, cria um projeto
de existência, gerando práticas disciplinares sustentadas pela construção que
associou e, ainda associa, a magreza à saúde e ao esteticamente belo.
Nesse sentido, a configuração de valores
direcionados ao corpo nesta sociedade merece um amplo debate, que resgate a
possibilidade de transformação social, para que se possa impedir que a
aparência e imagem corporal se sobreponham ao que, de fato, é o ser humano em
suas potencialidades e, através de práticas emancipatórias, combater a tirania
da beleza, a qual parece reproduzir “uma nova versão de colonialismo”
legitimada, até esse instante, por grande parcela da sociedade.
Por fim, a tarefa de investigar a
supremacia do corpo-aparência na sociedade contemporânea é inesgotável. É
evidente que essa problemática necessita de um aprofundamento em várias
perspectivas, contudo, neste espaço, apenas foi apontado, de forma geral e
sucinta, algumas reflexões que nos parecem relevantes em relação ao presente
fenômeno do culto ao corpo e do imperativo da magreza que o acompanha.
A BELEZA NO TEMPO
Se você perguntar para um grupo de 30
pessoas quem cada uma indicaria como uma ícone da beleza atual, ouvirá nomes
previsíveis como Gisele Bündchen e Naomi Campbell, mas também outros mais
ousados como Danielle Souza, conhecida por Mulher Samambaia. Todas elas com o
aval midiático. Para a ala masculina, mesma disparidade, que flutuará de George
Clooney ao cantor Latino, passando por jogadores de futebol e milionários
árabes. Quando o assunto é beleza, não há unanimidade. Na construção da
concepção de belo participam desde aspectos socioculturais e pessoais até
questões ligadas ao religioso e financeiro, sempre permeados pelo pano de fundo
histórico. Um exemplo? Verônica Stigger, crítica de arte, tem um exemplo na
ponta da língua: “As argolas de bronze que as mulheres de certas tribos
tailandesas colocam em torno do pescoço, deformando o ombro e fazendo com que o
pescoço pareça mais longo, são belas para essas tribos, mas uma aberração para
outras”. Isso só para mencionar alguns elementos racionais e concretos sobre
referências estéticas. Porém, há também outras questões mais subjetivas e
atemporais que participam da percepção do que é atraente. “É preciso notar que
a noção de beleza é um conceito abstrato e mutável, diretamente relacionado à
eterna busca da perfeição, que possibilitaria ao homem aproximar-se do
transcendental”, acrescenta Heloísa Dallari, professora de arte na FAAP
(Fundação Armando Alvares Penteado – SP). Por todos esses motivos, não raro
coexistem em uma mesma fase padrões de beleza contraditórios e igualmente
aceitos, o que torna a discussão ainda mais instigante. Esse será um dos temas
discutidos na Semana da Beleza e Saúde, que acontecerá na Livraria Cultura do
Conjunto Nacional, em São Paulo, de 24 a 27 de agosto, com palestras de
especialistas da área (confira programação completa no site da Cultura).
Entretanto, pode-se dizer que, grosso modo, é possível identificar uma
definição de belo predominante em cada época. Acompanhe a evolução cronológica
desse conceito.
ANTIGUIDADE
A beleza, até o século VI a.C um conceito
subjetivo e abstrato, ganhou uma percepção lógica com o filósofo grego Pitágoras.
Ele aplicou a matemática ao conceito de belo e preconizou que um corpo e um
rosto bonito deveriam ser simétricos e proporcionais. O parâmetro serviu de
referência para pintores e escultores, que passaram a perseguir esses ideais.
Ao olhar uma figura bela na Antiguidade, tinha-se a impressão de ordem,
harmonia e de medidas exatas. Muito comuns eram o nariz desenhado, o perfil
perfeito e os cabelos ondulados. Alguns exemplos de obras: escultura de Apolo
no templo de Delfo e a escultura Fauno Barberine (200 a.C).
IDADE MÉDIA
Não há preocupação com a beleza física. Ela
é entendida apenas como consequência de uma boa alma e de comportamento devoto.
Isso sim poderia transparecer na fisionomia, resultando em um rosto angelical,
puro e cheio de piedade, ou seja, belo para a época, como explica Marcus
Vinícius de Morais, mestre em História Cultural pela Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas -SP). “Bocas muito pequenas e lábios finos simbolizavam
fragilidade e ausência de desejos carnais, por isso, eram valorizados”, comenta
o cirurgião plástico Maurício de Maio. Em relação ao corpo, o bonito era o
biótipo longilíneo (e não mais necessariamente proporcional), ombros estreitos
e levemente caídos, seios pequenos e o ventre proeminente. Exemplos de obras: Madonna
da Humildade, de Masolino, Judith e Venus, de Lucas Cranach.
RENASCIMENTO
A exata medida volta à tona como ideal de
beleza. Desta vez, é retomada por Leonardo da Vinci, que estuda profundamente a
anatomia e a aplica em suas obras. Seu mestre inspirador foi o romano Marcos
Vitrúvio, que viveu no século I a.C e elaborou a teoria do Homem Vitruviano,
que demonstra a sequência desejada de proporções do corpo e do rosto humanos. A
escultura David, de Michelangelo, é um exemplo deste aspecto do período. Porém,
diferentemente da Antiguidade, ao observar uma obra renascentista, é impossível
não notar a forte presença de realidade no retratar os corpos, em especial, os
femininos. “No Renascimento, há a soma dos critérios de proporcionalidade do
período clássico ao advento do naturalismo: os corpos são roliços, os ombros
largos, o busto proeminente e os quadris amplos e arredondados”, comenta a
professora de arte Heloísa Dallari. Nesse contexto, celulites, gordura
localizada, pneuzinhos e ondulações no corpo eram retratadas mais como sinais
de volúpia e nobreza, já que a ostentação alimentícia não era para todos. Ser
gordo, encorpado, ter braços roliços, hoje considerados motivos de vergonha,
eram indícios de status social. É possível observar esses traços nas obras
Hélène Fourment como Afrodite, de Peter Paul Rubens, e As três Graças, de Rubens.
BARROCO E MANEIRISMO
Inquietação, subjetividade e mais
espontaneidade são elementos associados ao conceito de beleza. Esses dois
movimentos rompem com os parâmetros clássicos, ainda fortes no Renascimento,
para propor ideias mais particulares e menos estagnadas do que é belo. “A
beleza não é uma qualidade das próprias coisas; existe apenas no espírito de
quem as contempla e cada um percebe uma beleza diversa”, define David Hume,
filósofo e historiador escocês. Agora, para ser bonito, não basta ter proporção
e simetria, é preciso também possuir graça e formosura, dois conceitos menos
concretos e palpáveis, que abraçam também elementos como espiritualidade, o
fantástico e as emoções. A complexidade é valorizada e há um refinamento
evidente nas obras. Exemplos: Melancolia I, de Albrecht Dürer, e Retrato de
Madame Récamier, de Jacques-Louis David.
ROMANTISMO
Funde características aparentemente
contraditórias: ingênuo e fatal, selvagem e sofisticado, harmonioso e
assimétrico. A mistura desses contrapontos resulta no conceito do belo intenso
e emocional, muitas vezes pendendo para o mágico, o desconhecido e o caótico.
Ser bonito pode incluir também o disforme, o exótico e o mórbido. Uma mulher
atraente pode ser pálida e apresentar olheiras, ter lábios carnudos e
avermelhados, ostentar uma cabeleira volumosa e indomável, orgulhar-se de veias
aparentes. O aspecto saudável é óbvio demais para ser admirado, excessivamente
sem mistério. Há uma intrigante noção perversa na estética. Obras: Aurélia, de
Rossetti, Safo, de Charles- Auguste Mengin, e Ofélia, de John Everett Millais.
MODERNISMO
A ideia do ser perfeito se dilui, se
distancia das referências tão trabalhadas nos períodos anteriores. “No
expressionismo e no cubismo, a figura humana pode se deformar e até mesmo
desaparecer, como na abstração”, observa Veronica Stigger, escritora e crítica
de arte. A estética adquire forte aspecto geométrico, pode lançar mão da
descontinuidade e da fragmentação, mas sobretudo, chama atenção pela provocação
de corpos e rostos instigantes, mas, ainda assim, cheios de graça. Exemplos:
Les demoiselles d’Avignon, de Pablo Picasso, e A negra, de Tarsila do Amaral.
CONTEMPORANEIDADE
A era Barbie, que persegue a juventude, a
magreza e a alegria constante. “A beleza entra na ditadura da felicidade e
passa a ser um instrumento para alcançá-la. É a senha para o sucesso
profissional, o reconhecimento social e o entendimento amoroso”, opina Marcus
Vinícius de Morais, da Unicamp. Como tudo, se transforma num objeto de consumo
e pode ser adquirida com cosméticos, procedimentos estéticos ou cirurgias. A
tecnologia avança no sentido de atender esta demanda social, nunca tão
valorizada em nenhum outro período histórico.
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