Para ADVERTÊNCIA
Este título de Papéis avulsos parece negar
ao livro uma certa unidade; faz crer que o autor coligiu vários escritos de
ordem diversa para o fim de os não perder ... Avulsos são eles, mas não vieram
para aqui como passageiros, que acertam de entrar na mesma hospedaria. São
pessoas de uma só família, que a obrigação do pai fez sentar à mesma mesa.
1.
Machado, já na abertura de Papéis Avulsos afirma que os contos estão ligados,
em certa medida. Escolha então uma temática que aparece em mais de duas
histórias e explique como o autor
trabalha tal assunto no livro.
Simão Bacamarte explicou-lhe que D.
Evarista reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria
com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava
assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Se além dessas
prendas,-- únicas dignas da preocupação de um sábio, D. Evarista era mal
composta de feições, longe de lastimá lo, agradecia-o a Deus, porquanto não
corria o risco de preterir os interesses da ciência na contemplação exclusiva,
miúda e vulgar da consorte.
2.
No conto o Alienista é possível perceber uma visão de relacionamento baseada na
ciência. De que maneira o trecho acima deixa antever isso.
A caridade, Sr. Soares, entra decerto no
meu procedimento, mas entra como tempero, como o sal das coisas, que é assim
que interpreto o dito de São Paulo aos Coríntios: "Se eu conhecer quanto
se pode saber, e não tiver caridade, não sou nada". O principal nesta
minha obra da Casa Verde é estudar profundamente a loucura, os seus diversos
graus, classificar-lhe os casos, descobrir enfim a causa do fenômeno e o
remédio universal. Este é o mistério do meu coração. Creio que com isto presto
um bom serviço à humanidade.
3. O trecho acima
nos permite afirmar que comportamento tem Machado da alma humana representada na
figura de Simeão Bacamarte?
Mas
o ilustre médico, com os olhos acesos da convicção científica, trancou os
ouvidos à saudade da mulher, e brandamente a repeliu. Fechada a porta da Casa
Verde, entregou-se ao estudo e à cura de si mesmo. Dizem os cronistas que ele
morreu dali a dezessete meses no mesmo estado em que entrou, sem ter podido
alcançar nada. Alguns chegam ao ponto de conjeturar que nunca houve outro louco
além dele em Itaguaí mas esta opinião fundada em um boato que correu desde que
o alienista expirou, não tem outra prova senão o boato; e boato duvidoso, pois
é atribuído ao Padre Lopes. que com tanto fogo realçara as qualidades do grande
homem. Seja como for, efetuou-se o enterro com muita pompa e rara solenidade.
4. Comente o
desfecho do conto O Alienista
tomando como base a temática
da loucura apresentada pelo
autor.
No
conto Teoria do medalhão,
Machado de Assis coloca em cena um pai que orienta o filho para que este se
torne, com aplicação e método, um “medalhão”, isto é, uma figura “importante” e
reconhecida por todos. Eis um trecho dessa orientação:
−Podes
pertencer a qualquer partido, liberal ou conservador, republicano ou
ultramontano, com a cláusula única de não ligar nenhuma idéia especial a esses
vocábulos (...)
−Se
for ao parlamento, posso ocupar a tribuna?
−Podes
e deves; é um modo de convocar a atenção pública. (Machado de Assis – Obra completa. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1986. v. II, p. 294)
5. Pelo fato de se
tratar de um texto no qual predomina a exposição de idéias, tal como o ilustra
o trecho acima, é correto afirmar que o conto “Teoria do medalhão” não
privilegia o discurso propriamente narrativo, mas é constituído de uma conversa
entre personagens. Tomando como base a figura do pai o que se pode afirmar de
sua personalidade e sua teoria?
Trecho
I
O
senhor é acusado de ter subtraído uma chinela turca. Aparentemente não vale
nada ou vale pouco a tal chinela. Mas há chinela e chinela. Tudo depende das
circunstâncias.
Trecho
II
Duarte acompanhou o major até à porta,
respirou ainda uma vez, apalpou-se, foi até à janela. Ignora-se o que pensou
durante os primeiros minutos; mas, a cabo de um quarto de hora, eis o que ele
dizia consigo: - Ninfa, doce amiga, fantasia inquieta e fértil, tu me salvaste
de uma ruim peça com um sonho original, substituíste-me o tédio por um
pesadelo: foi um bom negócio. Um bom negócio e uma grave lição: provaste-me
ainda uma vez que o melhor drama está no espectador e não no palco.
6. Com base na
leitura da história A chinela Turca
comente os trechos acima:
25. - E alçando os olhos ao céu, porque a
portinhola do teto estava levantada, bradou com tristeza:
26. - "Eles ainda não possuem a terra
e já estão brigando por causa dos limites. O que será quando vierem a Turquia e
a Rússia?"
27. - E nenhum dos filhos de Noé pôde
entender esta palavra de seu pai.
28. - A arca, porém, continuava a boiar
sobre as águas do abismo.
7. Analise a fala
de Noé proposta em negrito.
8. Assinale a
alternativa em que o trecho, retirado de “O alienista”, Papéis avulsos, NÃO apresenta
o recurso da intertextualidade.
A)
Fê-lo Catão, é verdade, sed victa Catoni, pensava ele, relembrando algumas
palestras habituais do padre Lopes; mas Catão não se atou a uma causa vencida
[...]
B)
E vão assim as cousas humanas! No meio de regozijo produzido pelo ofício de
Simão Bacamarte, ninguém advertia na frase final do § 4o, uma frase cheia de
experiências futuras.
C)
Os cronistas pensam que deste fato é que nasceu o nosso adágio: — ladrão que
furta a ladrão, tem cem anos de perdão; — adágio imoral, é verdade, mas
grandemente útil.
D)
Não se demorou o alienista em receber o barbeiro; declarou-lhe que não tinha
meios de resistir, e portanto estava prestes a obedecer.
D. Benedita ficou aterrada, sem poder,
mexer-se; mas ainda teve a força de perguntar à figura quem era. A figura achou
um princípio de riso, mas perdeu-o logo; depois respondeu que era a fada que
presidira ao nascimento de D. Benedita: Meu nome é Veleidade, concluiu; e, como
um suspiro, dispersou-se na noite e no silêncio.
9. Comente a personalidade de D. Benedita tomando como
ponto de referência o fato de sua fada
ser a veleidade.
Narrado
em 1ª pessoa, tendo como subtítulo "Capítulo inédito de Fernão Mendes
Pinto", o conto O segredo do Bonzo surge da narração de um fato absurdo,
mas que possui um profundo sentido: a virtude e o saber tem duas existências
paralelas: uma no sujeito possuidor; outra, no espírito de quem ouve ou
contempla, pois "não há espetáculo sem espectador". A moral do conto
é: "a essência é a aparência".
Observe
o trecho abaixo retirado do conto:
“Considerei o caso,
e entendi que, se uma coisa pode existir na opinião, sem existir na realidade,
e existir na realidade, sem existir na opinião, a conclusão é que das duas
existências paralelas a única necessária é a da opinião, não a da realidade,
que é apenas conveniente.”
10. Relacione o
pensamento acima ao conto A Teoria do Medalhão.
11. Assinale a
alternativa CORRETA relativamente ao conto “O segredo do bonzo”.
A)
Trata-se de um capítulo inédito do livro das peregrinações de Fernão Mendes
Pinto.
B)
Seu narrador mostra como o princípio da vida futura se associa à origem dos
insetos.
C)
A troca do órgão doente por um nariz metafísico zomba das certezas filosóficas.
D)
As preces secretas do bonzo provam que a realidade é sempre superior à opinião.
Leia
estes trechos:
TRECHO 1
“Tinham
batido quatro horas no cartório do tabelião Vaz Nunes, à Rua do Rosário. Os
escreventes deram ainda as últimas penadas: depois limparam as penas de ganso
na ponta de seda preta que pendia da gaveta ao lado; fecharam as gavetas,
concertaram os papéis, arrumaram os autos e os livros, lavaram as mãos; alguns,
que mudavam de paletó à entrada, despiram o do trabalho e enfiaram o da rua;
todos saíram. Vaz Nunes ficou só.”
MACHADO
DE ASSIS, J.M. O empréstimo. In: Papéis avulsos. São Paulo: Martin Claret,
2007. p.120-121.
TRECHO 2
“Um
dia, andando a passeio com Diogo Meireles, nesta mesma cidade Fuchéu, naquele
ano de 1552, sucedeu deparar-se-nos um ajuntamento de povo, à esquina de uma
rua, em torno a um homem da terra, que discorria com grande abundância de
gestos e vozes. O povo, segundo o esmo mais baixo, seria passante de cem
pessoas, varões somente, e todos embasbacados.”
MACHADO
DE ASSIS, J.M. O segredo do bonzo. In: Papéis avulsos. São Paulo: Martin
Claret, 2007. p.102
Questão 12 - UFMG
REDIJA
um parágrafo, caracterizando a posição do narrador em relação ao acontecimento
narrado em cada um desses trechos.
Trecho
I
Nem
eu; mas aqui vai o que me disse o Xavier. Polícrates governava a ilha de Samos.
Era o rei mais feliz da terra; tão feliz, que começou a recear alguma viravolta
da Fortuna, e, para aplacá-la antecipadamente, determinou fazer um grande
sacrifício: deitar ao mar o anel precioso que, segundo alguns, lhe servia de
sinete. Assim fez; mas a Fortuna andava tão apostada em cumulá-lo de obséquios,
que o anel foi engulido por um peixe, o peixe pescado e mandado para a cozinha
do rei, que assim voltou à posse do anel. Não afirmo nada a respeito desta
anedota; foi ele quem me contou, citando Plínio, citando...
Trecho
II
Cerca
de três semanas depois, o Xavier jantava pacificamente no Leão de Ouro ou no
Globo, não me lembro bem, e ouviu de outra mesa a mesma frase sua, talvez com a
troca de um adjetivo. "Meu pobre anel, disse ele, eis-te enfim no peixe de
Polícrates."
13. Com base na história de Polícrates explique a
o excerto II.
14. Assinale a
alternativa CORRETA relativamente ao conto “O empréstimo”, de Papéis avulsos.
A)
Narra a derrota sofrida pelo narrador, ao confrontar-se com um juiz de paz.
B)
Aborda o sofrimento de Sêneca e Balzac frente à desvalorização de sua obra.
C)
Revela a postura vitoriosa de Custódio, ao receber o obséquio do tabelião.
D)
Mostra como as ambições são formas de negar os direitos individuais.
15.
Relacione o Conto a Sereníssima República
com o Historieta de uma
República de Sérgio Santanna.
16. Assinale a
alternativa em que o trecho citado NÃO retrata o dilema principal do conto “O
espelho”.
A)
O próprio vidro parecia conjurado com o resto do universo; não me estampou a
figura nítida e inteira, mas vaga, esfumada, difusa, sombra de sombra.
B)
Era um espelho que lhe dera a madrinha, e que esta herdara da mãe, que o
comprara a uma das fidalgas vindas em 1808 com a corte de D. João VI. Não sei o
que havia nisso de verdade; era a tradição.
C)
Lembrou-me vestir a farda de alferes. Vesti-a, aprontei-me de todo; e, como
estava defronte do espelho, levantei os olhos, e... não lhes digo nada: o vidro
reproduziu então a figura integral [...]
D)
O alferes eliminou o homem. Durante alguns dias as duas naturezas
equilibraram-se; mas não tardou que a primitiva cedesse à outra; ficou-me uma
parte mínima de humanidade.
O
espelho é um tema sedutor para a literatura, sendo trabalhado pelos mais
diversos autores. Leia os textos e analise as proposições a seguir.
Espelho, de Duane Michals
Texto
I
Olhei
o espelho e recuei. O próprio vidro parecia conjurado com o resto do universo;
não me estampou a figura nítida e inteira, mas vaga, esfumada, difusa, sombra
de sombra. Então tive medo; atribuí o fenômeno à excitação nervosa em que
andava; receei ficar mais tempo e enlouquecer. Subitamente por uma inspiração
inexplicável, lembrou-me vestir a farda de alferes. Vesti-a, aprontei-me de
todo; e, como estava defronte do espelho, levantei os olhos, e... não lhes digo
nada; o vidro reproduziu então a figura integral; nenhuma linha de menos,
nenhum contorno diverso; era eu mesmo, o alferes, que achava, enfim, a alma
exterior.(Machado de Assis, O espelho)
Texto
II
-
Então, disse Dumbledore, você descobriu os prazeres do Espelho de Ojesed.
Mas espero que tenha percebido o que ele faz?
–
Bom, ele mostra a minha família, respondeu Harry.
–
E mostrou seu amigo Rony como chefe dos monitores, disse Dumbledore,
perguntando:
- Você pode concluir o que é que esse espelho
mostra a nós todos? Harry sacudiu negativamente a cabeça.
– Ele nos mostra nada mais nada menos do que o
desejo mais íntimo, mais desesperado de nossos corações. Só o homem mais feliz
do mundo poderia usar o Espelho de Ojesed como um espelho normal,
ou seja, ele olharia e se veria exatamente como é. (J.K.Rowling, Harry
Potter e a Pedra Filosofal)
17. Sobre os textos
acima assinale a alternativa incorreta:
a)
Pode-se dizer que o espelho do conto de Machado funciona como o “Espelho de
Ojesed” do livro de Rowling, ao refletir o desejo mais íntimo do personagem que
nele se contempla.
b)
Os espelhos nessas obras revelam que tanto o personagem de Machado, ao se
reconhecer na farda de um “alferes”, quanto Rony, ao se reconhecer como “chefe
dos monitores”, dão mais valor aos cargos do que a si mesmos.
c)
Pelo exposto em ambos os textos, deduz-se que os personagens dessas histórias
são as pessoas mais felizes do mundo.
d)
Baseando-se na verossimilhança entre o real e o ficcional, o Realismo procurava
apresentar a literatura como um espelho da realidade.
e)
No conto O espelho, Machado de Assis rompe com alguns princípios da
escola realista quando evoca o universo da fantasia.
Trecho
Obedeci;
fui dali ao cabide, despendurei o chapéu, e pu-lo na cabeça. Alcibíades olhou
para mim, cambaleou e caiu. Corri ao ilustre ateniense, para levantá-lo, mas
(com dor o digo) era tarde; estava morto, morto pela segunda vez.
18. Explique o
sentido do trecho em negrito retirado do conto Uma visita de Alcebíades.
TrechoI
Nicolau
amava em geral as naturezas subalternas, como os doentes amam a droga que lhes
restitui a saúde; acariciava-as paternalmente, dava-lhes o louvor abundante e
cordial, emprestava-lhes dinheiro, distribuía-lhes mimos, abria-lhes a alma...
TrechoII
- Joaquim Soares? bradou atônito o cunhado,
ao saber da verba testamentária do defunto, ordenando que o caixão fosse
fabricado por aquele industrial. Mas os caixões desse sujeito não prestam para
nada, e...
19. Considerando o
mal a que Nicolau foi cometido explique esses trechos acima.
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