Temos recebido muitos e-mails pedindo uma explicação sobre o tema Ética porque esse vem aparecendo em muitas redações. Vamos preparar um material muito interessante para vocês, mas por enquanto vai lendo Gabriel Chalita e começando a gostar do assunto.
Muito se fala sobre ética nos dias atuais. O tema
está na ordem do dia, tanto no meio acadêmico como nas ruas, em que se trata
de temas cotidianos como a corrupção na política e a violência. Nas
universidades busca-se entender as razões pelas quais o ser humano é correto
ou não; busca-se viajar pelas sendas da filosofia, onde pensadores de épocas
diferentes tentaram responder se o ser humano é naturalmente bom ou não. Há
uma angústia recorrente dos filósofos em construir conceitos que ajudam a
sociedade a viver melhor.
Protágoras, pensador grego que viveu entre 487 e
420 antes de Cristo, achava que ética era uma coisa empírica. Cada pessoa,
segundo ele, adotaria a conduta mais conveniente à sua própria escala de
valores. Para o pensador, o certo e o errado deveriam ser avaliados em função
das necessidades do homem, e, portanto, os critérios de avaliação variariam
de sujeito para sujeito. Posição parecida, mas ampliada, adotaram dois
sociólogos franceses, Durkheim e Bouglé, no século 19, que consideravam que os
valores éticos (o certo, bom, justo, verdadeiro) são obtidos por apreciação
coletiva, e, portanto, variam conforme o grupo focalizado.
Mas antes deles alguém definiu, com mais
precisão, o sentido da palavra ética. Foi Aristóteles, que afirmava existir um
valor supremo, que norteia a vida das sociedades. Esse valor é a felicidade.
Felicidade, em grego, é a junção de eu (bom) e demonia (espírito). A corrente
foi enriquecida, mais tarde, por outros filósofos que consideravam que a
felicidade era o fim, o objetivo, e que a virtude era o meio, a ferramenta,
para se alcançar a felicidade.
No meu livro Os dez mandamentos da ética, faço
uma reflexão sobre a genial obra "Ética a Nicômaco", de
Aristóteles. Apresento os passos para que a ética seja vivenciada.
O primeiro é fazer o bem.
O segundo é agir com moderação, buscando o
equilíbrio, eliminando os excessos.
O terceiro é saber escolher, e aí está implícito
o favor de subjetividade que é preciso existir em cada conceito, porque cada
ser humano é diferente do outro, e carrega sua experiência, sua cultura, que
o torna único. A questão, envolvida na escolha, é que a decisão, para ser
boa, precisa levar em conta, necessariamente, os dois passos anteriores:
fazer o bem e agir com moderação.
O quarto passo é praticar as virtudes. Uma
atitude essencial, porque não basta fazer o bem, agir com moderação e saber
escolher, se a pessoa não se dedicar a praticar os valores que adquiriu.
Com isso, o quinto passo é praticamente
automático: viver a justiça. Quem segue os quatro primeiros passos aprende,
incorpora o sentido de fazer as boas coisas olhando para o outro e para as
necessidades do outro, sem esquecer de si mesmo. Isto é a base da justiça.
O sexto passo é valer-se da razão, ou seja, da
consciência, do pensamento analítico. Está intimamente ligado ao sétimo
passo, que é valer-se do coração. Duas orientações que se complementam: a
pessoa deve usar uma balança em que se equilibrem, com peso equivalente, o
racional e o emocional. As chances de que as escolhas sejam acertadas, agindo
assim, são grandes.
O oitavo passo é ser amigo. Quem é amigo aplica
todos os conceitos que acabamos de ver, sem dificuldade.
O nono passo (cultivar o amor) é quase um
corolário para o décimo (ser feliz).
Aí está, portanto, um rosário de recomendações
que retira o aspecto generalista dos conceitos que historicamente acompanham
as discussões sobre ética. Norberto Bobbio, um dos grandes pensadores
contemporâneos, por exemplo, aponta a honestidade como uma virtude válida
para todos os homens, mas que, ao mesmo tempo, é uma atitude unida à conduta
correta de uma pessoa no exercício da sua profissão. Ou seja, o homem tem que
ser honesto, mas o médico também tem que ser um profissional honesto. É isso
o que se diz nas ruas e em todos os lugares.
Este tema é fundamental na escola. Um dos tantos
objetivos da educação é ensinar a conviver. E o convívio significa respeito,
cooperação, ternura, enfim. E isso é a ética. A ética se aprende nos livros,
nas lições dos grandes mestres. E se aprende no cotidiano, no exercício de
ser correto.
Bom seria se os pais dessem o exemplo primeiro.
Os filhos precisam de referências. Que os políticos e as pessoas de alguma
visibilidade também se preocupassem em viver de maneira correta e que na
escola professores e alunos interagissem de modo a construir relações éticas
que gerassem um clima de confraternização e cooperação. E esse aluno-cidadão
será um profissional-cidadão. E portanto ético e portanto feliz.
Aliás, esse é o conceito já presente em
Aristóteles: nascemos para ser felizes e para fazer os outros felizes. Isto é
a ética.
(Gabriel Chalita)
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