domingo, 16 de setembro de 2012

Proposta de Redação Mundo Possível com redações Modelo de Jordyr, Jordyson e Thalita Guimarães

Já  apresentamos essa proposta de redação em Julho, mas ela volta ao cenário como um tema importante porque traz dois grandes pensadores do século: Milton Santos e  Eduardo Galeano. 
Além disso, para produzir essa redação é necessário um nível grande  de interpretação de tema para entender as  relações entre os  textos. 
Resolução:  Para  construir um mundo possível é preciso pessoas impossíveis como o menino apresentado por Jorge de Lima. 
O menino não aceita os brinquedos comprados e com sua imaginação constrói seu próprio mundo. 
Leia também as  redações nota mil. 
Proposta de Redação


O mundo do menino impossível
Fim da tarde, boquinha da noite
com as primeiras estrelas
e os derradeiros sinos.
Entre as estrelas e lá detrás da igreja,
surge a lua cheia
para chorar com os poetas.
E vão dormir as duas coisas novas desse mundo:
o sol e os meninos.
Mas ainda vela
o menino impossível
aí do lado
enquanto todas as crianças mansas
dormem
acalentadas
por Mãe-negra Noite.
O menino impossível
que destruiu
os brinquedos perfeitos
que os vovós lhe deram:
o urso de Nürnberg,
o velho barbado jugoeslavo,
...
o carrinho português
feito de folha-de-flandres,
a caixa de música checoslovaca,
o polichinelo italiano
made in England,
o trem de ferro de U. S. A.
e o macaco brasileiro
de Buenos Aires
moviendo la cola y la cabeza.
O menino impossível
que destruiu até
os soldados de chumbo de Moscou
e furou os olhos de um Papá Noel,
brinca com sabugos de milho,
caixas vazias,
tacos de pau,
pedrinhas brancas do rio...

“Faz de conta que os sabugos
são bois...”
“Faz de conta...”
E os sabugos de milho
mugem como bois de verdade...
e os tacos que deveriam ser
soldadinhos de chumbo são
cangaceiros de chapéus de couro...
E as pedrinhas balem!
Coitadinhas das ovelhas mansas
longe das mães
presas nos currais de papelão!
É boquinha da noite
no mundo que o menino impossível
povoou sozinho!
A mamãe cochila.
O papai cabeceia.
O relógio badala.
E vem descendo
uma noite encantada
da lâmpada que expira
lentamente
na parede da sala..
O menino poisa a testa
e sonha dentro da noite quieta
da lâmpada apagada
com o mundo maravilhoso
que ele tirou do nada...
Xô! Xô! Pavão!
Sai de cima do telhado
Deixa o menino dormir
Seu soninho sossegado!
Jorge de Lima, Obra Completa – Vol. I,
Rio de Janeiro, Editora José Aguilar Ltda, 1959, 1.ª ed   O “Menino impossível” 



Texto II -  Eu creio que as condições da geografia atual nos permitem ver que outra realidade é possível. Essa outra realidade é boa para a maior parte da sociedade. Nesse sentido sou é otimista. Sou  pessimista  quanto ao que está aí, mas otimista quanto ao que pode chegar. ( Milton Santos)
Texto III - Esse é um mundo ao contrário, que recompensa a seus arruinadores, ao invés de os castigar! Não há um só preso entre os banqueiros que provocaram esta crise no planeta inteiro. Nenhum preso! E do outro lado, há milhares de presos por terem consumido maconha, ou por terem roubado uma galinha! Milhares de presos! É um mundo ao contrário, um mundo de merda. Mas não é o único mundo possível. (Eduardo Galeano)
Escreva um texto dissertativo argumentativo com base nas possíveis relações entre os textos tendo em vista um tema comum que os permeie. Estabeleça suas relações tendo em vista a sociedade em que os textos se inserem.


Discurso sobre o Monza

No bojo do desenvolvimento capitalista o consumo voraz e a intensa busca pelo capital financeiro se conferem como as marcas da sociedade contemporânea. As desigualdades geradas por esse modelo excludente contrariam as inúmeras possibilidades de um mundo melhor baseado nas ferramentas existentes nas pós-modernidade.

“Compra-se um Monza não por suas qualidades técnicas, mas por seu design, seu nome nobre, seus signos de publicidade. Compra-se um discurso sobre o Monza”. Essa explicação de Milton Santos sintetiza a marca de um mundo totalmente alienado ao consumo e aos bens de capital. Tal prática não é analisada, mas sim exagerada em uma sociedade do espetáculo em que as necessidades são amplamente induzidas por marcas e propagandas.

Assim, a pós-modernidade vive em seu âmago a exclusão e as injustiças sociais como práticas fundamentais para manter o capitalismo voraz vigente no século XXI. Apesar das diversas tecnologias presentes na agricultura e na informação, o mundo contemporâneo não impede a morte de milhares de pessoas por inanição e em países subdesenvolvidos  e a permanência de governos autocráticos e ditatoriais. Desta forma, torna inviável a universalização da democracia e a melhoria de qualidade de vida de muitas populações em todo o planeta.

O consumo voraz e a busca exacerbada pelos bens financeiros são as marcas de um século que possui as ferramentas e a geografia privilegiada, mas que não impede as desigualdades sociais. Portanto, é preciso, assim como os árcades do século XVIII, cortar os excessos da contemporaneidade para a realização de uma globalização possível para a maioria da população.

( Jordyr)

Sociedade do futuro

A sociedade contemporânea, com a sua constante e mobilidade e fluidez moldou a ideologia de seus indivíduos baseado em guerras comerciais e em aristocracias financeiras. Apesar do avanço tecnológico, inédito na história da humanidade e a velocidade das informações, ainda nos resta o sonho de um futuro possível com as ferramentas do mundo presente.

No perpassar histórico, com o surgimento do sistema capitalista, na esteira das revoluções comercial e industrial, ampliou-se, como nunca antes se havia visto, a produtividade do trabalho e a quantidade de produtos gerados. As novas transformações permitiram Às elites da sociedade industrial fazer cada vez mais uso dos excedentes e das riquezas como fonte de autoridade e de imposição de vontades. Assim, os indivíduos que combinaram o uso de conhecimento, atrelado à capacidade  financeira, ocuparam os espaços privilegiados de poder em todas as sociedades.

Nesse contexto, o pensamento marxista de uma sociedade de iguais, não seria difundido pois, nessa formação social mergulhada nos ideais capitalistas da pós-modernidade sempre houve a presença de líderes e oprimidos, governantes e governados. Desse modo, mesmo com os grandes avanços nas tecnologias de produção e no desenvolvimento comunicacional, ainda são visíveis as disparidades entre os povos, gerando a miséria de milhões de habitantes e inviabilizando a construção de uma utópica sociedade do futuro.

O monopólio financeiro, aliado ao consumo exacerbado é uma das marcas dessa sociedade pós-industrial. O avanço tecnológico, apesar de alterar o panorama ideológico e estrutural do planeta, ainda não foi capaz de mudar as mazelas sociais. O uso correto das ferramentas vigentes no século XXI tornaria possível a realização de um mundo viável para boa parte da sociedade global.

( Jordyson)
Faz e Conta

A voracidade do Capitalismo  agregada ao egoísmo inerente ao homem tem direcionado o mundo pós-moderno para uma realidade paradoxal. Mesmo assim, no meio deste entrave de incoerências e acertos, ainda é possível transformar o caos em outro mundo melhor.

As Cruzadas, Grandes Navegações e Guerras Mundiais em nome do poder e notoriedade são fatos da história mundial que confirmam a visão do escritor José Saramago sobre a composição humana, metade de indiferença e metade de ruindade. Esses comportamentos que valorizam as riquezas em detrimento da vida humana contribuiram para a formação de  uma sociedade baseada em desigualdades, onde as  relações obedecem a lei do privilégio e status. De tanto passar além do Bojador e da dor a sociedade contemporânea tornou-se incapaz de enxergar as necessidades existentes. Segundo a Organização das Nações Unidas par a Agricultura e a Alimentação, cerca de um bilhão de pessoas passam fome no mundo. Por outro lado, cerca de 30%  dos alimentos produzidos no mundo vão para o lixo pelos mais variados motivos. O principal deles: escolher quem deve ou não comer.

Porém, há quem recuse a ilusão de que dinheiro compra felicidade e paz. Existem sonhadores que transformam as lágrimas de tristeza em atitudes capazes de melhorar a educação, saúde e política. E, acreditam  que a justiça pode enxergar até quando não convir. Esses gestos desafiam a superficialidade e fragilidade dos relacionamentos do século XXI. Essas esperanças constroem um mundo paralelo à desordem atual. Esses comportamentos são como pontes de luz em meio a escuridão sinalizando que há outro mundo possível.

Portanto, é necessário recusar categoricamente o destino que a sequidão humana impõe ao mundo. O engajamento de todos os seguimentos sociais por outro mundo melhor é um grande passo para mudar o desfecho desta história. Já que a única coisa impossível é mudar o que já passou.

(Thalita Guimarães)

Clarividência 
Ana Beatriz Alcântara
A partir do século XX, as revoluções tecnológicas transformaram as novas conquistas em sonho de um mundo melhor. No entanto, o uso dessas  ferramentas como motor de um Estado de bem estar social é substituído por  um modelo de  consumo voraz que faz com que a sociedade pós moderna sonhe com um mundo possível, menos predatório. 

As transformações econômicas, políticas, sociais e  culturais tornaram o mundo favorável a implantação de um novo sistema não só econômico, mas ideológico. O capitalismo, ao mesmo tempo em que justifica o processo de globalização ajuda a concentrar mais riqueza com as elites e para a maioria da humanidade se impõe como fábrica  de perversidade. Assim, o atual  cenário contribui para que os que querem mudanças sejam cada vez mais  compreendidos e a possibilidade de um mundo mais justo seja discutida.
Nesse contexto, mesmo diante da ampliação da produtividade do trabalho a  quantidade de produtos, as fontes de desigualdades são muito mais fortes que no passado. Para  Milton Santos, nunca na história da humanidade houve  condições técnicas tão favoráveis à construção de um mundo da dignidade humana. Partindo desse pressuposto, diante das inúmeras ferramentas vigentes no século XXI capazes de proporcionar à  sociedade global melhores condições de vida, é possível pensar em um outra globalização, menos abissal.
A sociedade pós-revolução tecnológica assiste ao desmonte do Estado assistencial que garante padrões mínimos de qualidade de  vida. As melhorias técnicas, apesar de transformarem o cenário ideológico estrutural, não foram  capazes de mudar o lado perverso da  globalização. Portanto, atitudes novas de homens novos farão, a partir do presente, projetar para  o futuro um mundo não só melhor, mas também plenamente possível, graças as  condições materiais favoráveis a  essa mudança. 

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