Em nossa última aula conversamos sobre a
importância do tema da reforma no
espaço urbano. O tema alcança importância por ter sido alvo de discussão na Rio + 20, por estarmos realizando reformas
substanciais em nossas cidades para recebermos as Olimpíadas e Copa. Eis
algumas questões pertinentes quando pensamos nesse tema:
1.
O Brasil tem um
histórico de falta de planejamento do seu espaço urbano e, esses não passaram
por reformas pensando nas comunidades
que vivem na cidade.
Ex: A reforma no Rio
de Janeiro do século XIX para a chegada da família Real a
Reforma do século XXI para receber as Olimpíadas.
2.
Sobre as favelas lembrar o processo de criação no Brasil e que o processo de entrada
do Estado nessas comunidades não é tão simples por questões de diferentes comunidades com diferentes
históricos.
3.
A Favela não é
um fenômeno somente do Brasil
A proposta tem suas bases no tema de redação da UFF 2012 e a sugestão é produzir um texto copiando as
partes do texto debaixo. É uma excelente
forma de ampliar a aprendizagem
da construção do texto.
Vamos em frente?
Cidades:
como habitá-las?
Proposta:
Elaborar texto dissertativo a partir de recortes desses textos
inspiradores.
O modelo de crescimento urbano que
vigora na maior parte dos países com acelerado crescimento é insustentável. Está marcado por processos como a apropriação
privada da terra e a remoção forçada de populações, especulação imobiliária,
altas densidades, acentuada desigualdade socioterritorial, e priorização do
automóvel
No século XXI não é mais possível
tratar do desenvolvimento sustentável sem enfrentar de maneira consistente a
questão urbana e seus impactos socioambientais. A afirmação parece óbvia aos olhos de qualquer observador atento ao
que acontece no planeta Terra e, embora não tenha passado despercebida para os
negociadores da ONU encarregados de preparar a Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável, na Rio+20 esse tema não deverá ter o
destaque necessário.
Para
os que acreditam que esse tema precisa ganhar maior importância na agenda
ambientalista em nível planetário e na agenda da reforma urbana em nível
nacional, a mobilização da sociedade civil na Cúpula dos Povos e nos Diálogos
para o Desenvolvimento Sustentável passa a ser ainda mais fundamental. O
momento é uma oportunidade ímpar para articular essas agendas entre os
movimentos sociais urbanos e ambientalistas, buscando superar falsos conflitos
e dar um passo essencial para que o Brasil e, no futuro, os Estados integrantes
da ONU sejam levados a assumir compromissos concretos para tornar nossas cidades
mais sustentáveis.
É preciso conceituar a sustentabilidade urbana
no âmbito da agenda ambiental brasileira, e, como parte integrante do direito à cidade, esse conceito
precisa se articular com o ideário da reforma urbana. Trata-se de um
desdobramento do esforço realizado no último ano para introduzir a questão
urbana no Ministério do Meio Ambiente e, em consequência, dar mais protagonismo
ao tema na contribuição brasileira para o documento oficial da Rio+20.
(....)
A abordagem é totalmente insuficiente para tratar
o quadro de insustentabilidade que vigora nas cidades, sobretudo nos países
pobres, que passam por um acelerado processo de crescimento urbano gerado pela
intensa migração campo-cidade. A população urbana mundial cresce de modo
acelerado, tendo superado em 2011, pela primeira vez na história da humanidade,
os habitantes das zonas rurais. Prevê-se que, até 2050, 70% da população
mundial more em cidades. A maior parte desse contingente populacional vive no
que Mike Davis chamou de “Planeta Favela”.
O
Brasil é um país de dimensão continental, que apresenta uma das mais baixas
densidades demográficas brutas do mundo e onde, é bom dizer, a situação não é
tão grave como em outros países emergentes e pobres. Concentrado em uma pequena
parcela do território, esse processo urbano convive com fortes impactos
socioambientais. Em 2010,
85% da população brasileira (165 milhões de pessoas) vivia concentrada em
apenas 0,6% do território nacional. A concentração é tal que 60% da população
urbana do país vive em apenas 230 municípios.
O modelo de crescimento urbano que
vigora na maior parte dos países com acelerado crescimento, como o Brasil, é
insustentável do ponto de vista socioambiental. Está marcado por processos
urbanos e econômicos como apropriação privada da terra e remoção forçada de
populações, especulação imobiliária, altas densidades com ocupação horizontal
nos assentamentos humanos precários, acentuada desigualdade socioterritorial, e
priorização do automóvel − elementos que provocam fortes impactos ambientais.
Esses processos criam graves
consequências para a qualidade de vida humana das cidades, como ausência de
esgotamento sanitário e poluição dos cursos de água; destinação final dos
resíduos sólidos em lixões de onde milhares de catadores, em condições
subumanas, retiram sua sobrevivência; contaminação do solo, subsolo e recursos
hídricos com substâncias químicas persistentes, gerada pelo processo produtivo;
carência de espaços públicos; depredação de áreas verdes e violação da proteção
permanente aos cursos de água e nascentes; contaminação do ar e a inevitável
repetição de desastres naturais de diferentes tipos.
É desnecessário dizer que as populações
mais pobres e frágeis são as que sofrem mais intensamente os problemas
ambientais gerados por esse processo urbano, como são os “desastres naturais”.
A agenda brasileira de sustentabilidade
urbana
O Brasil, como potência ambiental, não
pode deixar de priorizar a agricultura
familiar sustentável e temas ambientais “clássicos”, como a proteção às florestas,
à biodiversidade, aos biomas e aos recursos hídricos, o patrimônio genético, o
combate ao desmatamento e a recomposição das Áreas de Proteção Permanente
(APPs) no meio rural. Mas não podem mais ser ignoradas a chamada agenda
“marrom” e a sustentabilidade urbana no rol das preocupações ambientais. Não há
como desconsiderar que o lixo e o esgoto são dois dos maiores problemas
ambientais do país.
Nesse
sentido, desde 2011 o Ministério do Meio Ambiente vem buscando construir uma
agenda nacional de sustentabilidade urbana. Fundamentada em oito eixos, ela
poderia ser uma base referencial para um tratamento mais aprofundado do tema
“cidades sustentáveis” na Rio+20.
É
interessante notar que, até então, os temas urbanos que vinham sendo tratados
no Ministério do Meio Ambiente (MMA) estavam restritos basicamente àqueles que
constaram dos compromissos firmados no documento final da Eco-92, ou seja,
manejo ambientalmente saudável dos resíduos sólidos, das substâncias químicas
tóxicas e dos resíduos perigosos e radioativos (termos utilizados nos capítulos
19 a 22 da Agenda 21), o que ressalta a importância daquela conferência.
Além de resíduos sólidos e segurança química,
a agenda nacional de sustentabilidade urbana inclui temas como qualidade de
vida nas cidades, qualidade do ar, mobilidade urbana sustentável, manejo das
águas pluviais e drenagem urbana, áreas verdes e APPs urbanas, construção
sustentável e planejamento e gestão ambiental urbana. Para que a Rio+20 pudesse
dar um passo decisivo na definição de compromissos relacionados com cidades
sustentáveis, seria necessário tratar com profundidade cada um desses temas,
com os países se comprometendo a estabelecer estratégias, indicadores e metas
para enfrentá-los.
Em todos os eixos de sustentabilidade é
possível definir metas progressivas, de modo a gerar mudanças planejadas e
ordenadas em nossas cidades.
Nabil
Bonduki é doutor em Estruturas Ambientais Urbanas, professor de Planejamento
Urbano pela FAU-USP e consultor em Políticas Urbanas e Habitacionais. Foi vereador
em São Paulo e relator do Plano Diretor Estratégico na Câmara Municipal.
Entrevista:
PABLO
J. FARIAS – Promover
oportunidades, inclusão e mobilidade econômica para todos os habitantes não é
apenas a solução ideal: é fundamental para a prosperidade econômica e para a
competitividade de uma cidade. Construir cidades justas, a longo prazo,
é do interesse de todos, não apenas dos que estão observando de fora. Estamos
tentando demonstrar isso para ganhar a atenção global. A urbanização oferece uma grande oportunidade de
consolidar avanços econômicos e construir competitividade em países que estão
atravessando transformações econômicas e sociais. Mas é preciso
transferir o foco: em vez de privilegiar os interesses do mercado, deve-se
investir em oportunidades econômicas para as comunidades urbanas e na criação
de uma classe média. Em última instância, esse será o aspecto determinante do
sucesso das cidades.
Necessitamos desenvolver novas práticas
de urbanização que tornem as cidades mais competitivas e fortaleçam as
oportunidades para a população de baixa renda. As cidades definem suas
oportunidades ao unir comunidades com diferentes fortalezas. Cidades justas
carecem de melhores práticas de zoneamento, que permitam o acesso à moradia em
áreas onde também estejam presentes oportunidades econômicas, sistemas de
transporte, educação e saúde. Além disso, necessitamos de inovações do mercado
que possam regularizar postos de trabalho e moradias irregulares.
DIPLOMATIQUE
– Empresas são o motor da economia, e geralmente as relações que estabelecem
com o território seguem a lógica de sua reprodução, e não dos interesses da
área em questão. Como estabelecer novas e inovadoras parcerias público-privadas
quando a finalidade é apenas desenvolver um território justo e sustentável?
PABLO
J. FARIAS – Expandimos o uso de ferramentas financeiras para além do
desenvolvimento de infraestrutura afinada com os interesses empresariais.
Empresas requerem força de trabalho estável e bem treinada. À medida que a
economia se tornar integrada globalmente, será impossível para as empresas
levar em conta apenas o terreno barato e os subsídios públicos para se
estabelecerem em um lugar. A competitividade estará ligada ao sucesso de sua
força de trabalho e ao desenvolvimento de comunidades prósperas que
consolidarão a demanda do mercado local. Esse modelo requer comunidades
bem-sucedidas, onde as famílias e seus bens estejam em segurança, os serviços
de educação e saúde contribuam para promover uma força de trabalho competitiva
e as riquezas sociais e culturais colaborem para gerar uma identidade mais
forte e um comprometimento em compartilhar as riquezas.
Cidades
justas não são melhores apenas para os cidadãos, mas também para os negócios.
Cidades justas criam ambientes que podem deslanchar o empreendedorismo,
expandir os microempreendimentos e tornar o trabalho mais sustentável. Nas
cidades justas, os trabalhadores estão mais perto de seu trabalho, e os
consumidores, mais perto do comércio.
....
Parte essencial do processo de busca da
sustentabilidade é o redesenho das cidades. Elas precisam ser repensadas. A mudança demográfica, com o amadurecimento das
populações, pessoas de mais de 70 anos de idade em pleno vigor físico e
intelectual, e a intensa urbanização das últimas décadas, requer a
reprogramação dos espaços urbanos. Nesse processo, é fundamental que as cidades
sejam reconciliadas e integradas com a geografia natural.
Um
centro confortável e revitalizado, com espaços de convivência apropriados, com
esquinas e praças recuperadas como pontos de encontro.
Flexibilidade
e adaptabilidade. É importante que as cidades abandonem os formatos fixos e
sejam pensadas de modo a que possam se reorganizar espacialmente de acordo com
necessidades determinadas por fenômenos climáticos e outros eventos físicos
como terremotos ou vulcões. Elas precisam ganhar resiliência.
Bairros
menores e autosuficientes ajudam a aumentar o bem estar e a reduzir a pegada de
carbono das cidades. Telhados verdes, como controles orgânicos de temperatura e
sorvedouros de carbono, que podem ser usados também para abastecer a vizinhança
com verduras e legumes. Condomínios como unidades autosustentáveis, integradas
à cidade, não como bunkers para isolar os ricos do resto da população.
Políticas
claras e abrangentes para coleta e tratamento de lixo e de resíduos sólidos,
saneamento completo e gestão das águas (proteção, tratamento, coleta, economia,
reuso).
Esse
conjunto básico de critérios me parece de enorme bom senso. Ele envolve investimentos
vultosos, mas são investimentos muito dinâmicos que geram muito emprego verde,
muita renda de fontes sustentáveis e bem-estar.
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