quarta-feira, 9 de maio de 2012

Redação FUVEST 2011 - Taís Lins e Fernanda Tinoco


Texto 1 
Um grandioso e raro espetáculo da natureza está em cena no Rio de 
Janeiro. Trata-se da floração de palmeiras  Corypha umbraculifera, ou 
palma talipot, no Aterro do Flamengo. 
Trazidas do Sri Lanka pelo paisagista Roberto Burle Marx, elas 
florescem uma única vez na vida, cerca de cinquenta anos depois de plantadas. Em seguida, iniciam um longo processo de morte, período em que produzem cerca de uma tonelada de sementes. 
http://veja.abril.com.br, 09/12/2009. Adaptado
Texto 2 
Quando Roberto Burle Marx plantou a palma talipot, um visitante teria comentado: “Como elas levam tanto tempo para florir, o senhor não estará mais aqui para ver”. O paisagista, então com mais de 50 anos, teria dito: “Assim como alguém plantou para que eu pudesse ver, estou plantando para que outros também possam 
contemplar”. 
http://www.abap.org.br. Paisagem Escrita. nº 131, 10/11/2009. Adaptado. 
Texto 3 
Onde não há pensamento a longo prazo, dificilmente pode haver um senso de destino compartilhado, um  sentimento de irmandade, um impulso de cerrar fileiras, ficar ombro a ombro ou marchar no mesmo passo. A solidariedade tem pouca chance de brotar e fincar raízes. Os relacionamentos destacam-se sobretudo pela fragilidade e pela superficialidade. 
Z. Bauman. Vidas desperdiçadas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. Adaptado. 
Texto 4 
A cultura do sacrifício está morta. Deixamos de nos reconhecer na obrigação de viver em nome de qualquer coisa que não nós mesmos. 
G. Lipovetsky, cit. por Z. Bauman, em A arte da vida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. 
Como mostram os textos 1 e 2, a imagem de abnegação fornecida pela palma talipot, que, de certo modo, “sacrifica” a própria vida para criar novas vidas, é reforçada pelo altruísmo* de Roberto Burle Marx, que a plantou, não para seu próprio proveito, mas para o dos outros. Em contraposição, o mundo atual teria escolhido o caminho oposto. 
Com base nas ideias e sugestões presentes na imagem e nos textos aqui reunidos, redija uma dissertação argumentativa, em prosa, sobre o seguinte tema: 
O altruísmo e o pensamento a longo prazo ainda têm lugar no mundo contemporâneo?
*Altruísmo = s.m. Tendência ou inclinação de natureza instintiva que incita o ser humano à preocupação com o outro. Dicionário Houaiss da língua portuguesa, 2009. 
Instruções:
1. Lembre-se de que a situação de produção de seu texto requer o uso da norma padrão da língua
portuguesa.
2.  A redação deverá ter entre 20 e 30 linhas.
3.  Dê um título a sua redação.


Redações  Muito boas  sobre o tema dos alunos do curso de  Linguagens da professora Mara Rute 
Ensaio sobre a bondade.
Fernanda Tinoco

      A sociedade contemporânea não adquiriu a necessidade de priorizar o bem estar e a harmonia social. O egoísmo, tão bem alimentado pelo capitalismo, impede o homem de desejar para o outro o que quer para si mesmo. E, para agravar a situação, ainda pode-se observar a influência do imediatismo nos comportamentos egocêntricos, no qual o planejamento a longo prazo torna-se raro.
      A ideia de coletividade presente nas sociedades clássicas não conseguiu suporte para manter-se nas gerações seguintes. Em 1917, quando a Alemanha foi derrotada na Primeira Guerra Mundial, os países vencedores, sobretudo a França, não mediram esforços e bom senso para humilhar ainda mais a já destruída nação germânica. Pode-se dizer que depois de um país não se preocupar com o seu semelhante a ponto de minimizá-lo a quase nada, foi a vez da população externar esse sentimento de indiferença em relação ao outro. O pouco caso com o próximo é, com certeza, fruto de um passado lamentável.
      No livro O Leviatã, Thomas Hobbes afirma que os homens são todos egoístas e a única solução para que não se autodestruam ao buscarem os seus interesses particulares
[V1]  seria, em primeira instância, a existência de um governo controlador.  Na atualidade essa teoria ainda pode ser vista como verdadeira já que se fez necessária a fundação de campanhas humanitárias. A APAE, Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, e a Pastoral da Criança são exemplos concretos de que ainda existe quem consiga se dedicar ao outro sem que haja necessariamente a negação das suas próprias aspirações.
      Experimentos na área da psicologia e da sociologia vêm comprovando que o ser humano não nasce, necessariamente, com a falta de motivação pra ajudar o outro. Logo, pode-se afirmar que o homem é capaz de rever as suas ações como sendo parte de uma sociedade necessitada de ajudas mútuas e que as suas capacidades e habilidades de exercê-las, ainda não destruídas, devem ser aplicadas o quanto antes.



                                                                                               Dois lados da moeda
Taís Lins 

         A maior parte da população age de maneira impensada a imediatista. Algumas comunidades, porém, conseguem ter um pensamento instintivo de cuidar do que possuem para que a próxima geração possa desfrutar dos mesmos recursos. Dessa situação pode-se observar tanto o altruísmo, como também o egoísmo.
         O consumismo do século XXI é o maior exemplo da face egoísta e irracional do ser humano. O regime neoliberalista impulsiona o homem a comprar de maneira desmedida. Com isso, mais florestas são destruídas, mais lixo é produzido e mais contaminados ficam os mananciais e o meio ambiente. Dessa forma, as gerações futuras serão incapazes de aproveitar os recursos que estão disponibilizados agora. Nesse ciclo vicioso, o único que sai ganhando é o  regime capitalista.
         Em contrapartida ao regime econômico vigente, o grupo dos ambientalistas começa a ganhar espaço no mundo. Sua principal preocupação é com o legado que deixarão a longo prazo, logo, os cuidados que eles procuram ter não são apenas para seus próprio benefícios, é uma preocupação com o outro. Porém, alguns capitalistas tomam partido dessa ideia, para que o selo de produto reciclável, por exemplo, possa ser mais uma propaganda dos seus produtos.
         O regime capitalista contemporâneo incita o ser humano ao egoísmo impensado. Há, no entanto, ilhas de altruístas que, mesmo o regime se apropriando de suas campanhas, conseguem pensar no próximo de modo a beneficiá-lo, mesmo que isso implique em abdicação de desejos momentâneos.




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