Da
raiz ao fruto
Todo
povo tem na sua evolução um certo “sentido”. Este se percebe não nos pormenores
de sua história, mas no conjunto dos fatos e acontecimentos essenciais que a
constituem. Desta forma, entre séculos de exploração, anos de repressão e com
abismos ainda não preenchidos, a nação brasileira busca produzir, no presente,
formas clarividentes para um futuro promissor. Visto que, nunca houve condições
geográficas e técnicas para a produção de outra realidade como no limiar deste
século.
O processo de colonização brasileiro
acabou por permitir que se esboçasse na identidade do país uma nacionalidade
diferente do modelo europeu e relativamente nova em termos sociais. Sem que
isso significasse, contudo, autonomia e dinâmica própria para a sociedade em
construção e mesmo após a sua independência política. Assim, a formação do
Brasil contemporâneo está diretamente ligada às origens da sociedade
brasileira, ou seja, está atrelada à colonização e ao seu legado cultural,
político e institucional.
A
modernização é impedida pela herança histórica que a nação possui, trazendo
consigo uma incompatibilidade com o ideal de desenvolvimento democrático e
modernizado, evidenciando uma incapacidade de mudança adaptativa as
necessidades existentes. Não obstante, o homem político é cordial,
transportando as condutas utilizadas na esfera privada para a esfera pública,
criando uma série de impasses para a sua configuração, independente, no Brasil,
e aponta para a própria fraqueza da organização social e política do país.
A utopia que foi delineada
por Thomas Morus e reiterada, nesse século, por Galeano sugere que mesmo que
não possamos adivinhar o tempo que virá, temos ao menos, o direito de imaginar
o que queremos que seja. No caso do Brasil, mesmo sabendo que não há a possibilidade
de mudar o começo, a produção de melhorias no presente pode garantir uma
mudança no final.
Seguindo os passos do Aviador
De colônia explorada até alcançar o
posto de sexta maior economia mundial, o curso histórico da nação brasileira se
remodelou por meio de avanços socioeconômicos, que são característicos de uma
nova configuração do cenário mundial pós-Guerra Fria. Tendo em vista tal égide,
torna-se perceptível como o Brasil e outros países emergentes, entre passos
lentos e largos, estão a caminho de um modelo econômico mais dinâmico e que
permite maior mobilidade. Por outro lado, ainda será preciso vencer os dilemas
internos que se perpetuam desde a colonização.
Para Milton Santos, a globalização é
regida por um restrito grupo de corporações internacionais, formando assim o
globalitarismo. Contudo, o BRICS (grupo formado por países em franco
desenvolvimento socioeconômico como a China) surge como uma possibilidade de
rompimento desse ditame difundido na sociedade capitalista, na qual somente
poucos detêm o poder e o direito da ascensão, enquanto, aos demais cabem o
papel de serem explorados. Diante dessa conjuntura, firmar-se como uma
democracia sem abismos sociais torna-se essencial para que a nação brasileira
siga se desenvolvendo. Todavia, visando tal objetivo, segundo Sérgio Buarque de Holanda, será preciso acabar com a
cultura de personalidade, na qual o status individual é mais importante do que
a luta e a conquista de direitos coletivos.
De mediador de conflitos internacionais,
passando pelas Olimpíadas até a visita do presidente da nação mais rica do
planeta, junto com sua família, é notável o papel de destaque no cenário
mundial alcançado pelo Brasil. Por outro lado, manter essa importância e
ampliá-la será um desafio para a nação, uma vez que, estamos imersos em um
mundo contemporâneo repleto de incertezas, no qual as crises são diárias e as
guerras são imprevisíveis. Sendo assim, a tradicional cordialidade brasileira,
que leva os interesses da vida privada para a pública, e a ética da aventura,
na qual as ações do governo e da sociedade brasileira nunca são planejadas,
deverão ser banidas dos princípios éticos e morais de quaisquer indivíduos e,
principalmente, de líderes e governantes.
Nessa perspectiva, os cidadãos
brasileiros precisam reavivar a memória do passado e correlacioná-la ao presente, visto que, dos colonizadores
corruptos aos criminosos de terno e gravata que governam o Brasil atual, não houvera
avanços.
Logo, compreender que não se pode mudar o começo, mas se pode modificar o
final, deve constituir uma premissa básica
a ser propagada pelo Estado, dado seu caráter abarcativo, e consolidada pela
sociedade, que não se pode acomodar e desacreditar na mudança. Visto que, para
além disso, Antoine
de Saint-Exupéry já apregoava que aquilo nos salva é dar um passo e outro ainda.
PROPOSTA
DE REDAÇÃO IDENTIDADE NACIONAL
SÓ DE SACANAGEM ( Elisa Lucinda)
Meu coração
está aos pulos!
Quantas
vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas
provas terá ela que passar?
Tudo isso
que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu
dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais
pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.
Esse
dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas
vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas
vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que
tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a
mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração
tá no escuro.
A luz é
simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os
justos que os precederam:
" - Não
roubarás!"
" -
Devolva o lápis do coleguinha!"
" -
Esse apontador não é seu, minha filha!"
Ao invés
disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas-corpus
preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar, e sobre o qual minha pobre
lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se
mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou
sacanear: mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem!
Dirão:
“ - Deixa de
ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba.”
E eu vou
dizer:
”- Não
importa! Será esse o meu carnaval. Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão,
meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo
do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.”
Dirão:
" - É
inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de
Portugal”.
E eu direi:
” - Não
admito! Minha esperança é imortal!”
E eu repito,
ouviram? IMORTAL!!!
Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a
gente quiser, vai dar pra mudar o final.
Raízes do Brasil – Sérgio Buarque de Holanda
Raízes do Brasil foi publicado em 1936, e
causou grande impacto pois discute o choque entre a tradição e modernidade na
sociedade brasileira. Para tal, ele busca nas raízes desta sociedade uma
explicação para o atraso social existente no país, produzindo, ao mesmo tempo,
hipóteses para uma possível superação deste retrocesso.
Segundo ele, a formação do Brasil contemporâneo está diretamente ligada
às origens da sociedade brasileira, ou seja, está atrelada à colonização e ao
seu legado cultural, político e institucional. Assim, o tradicionalismo da
política brasileira vem de seu passado ibérico, ou seja, de suas raízes.
Sérgio Buarque percebe que a modernização é
impedida pela herança de uma tradição ibérica e que a absorção das instituições
portuguesas, dotadas de uma historicidade própria, traz consigo uma
incompatibilidade com o ideal de desenvolvimento democrático e modernizado,
evidenciando uma incapacidade de mudança adaptativa as necessidades existentes.
É através desta compreensão que ele formula alguns conceitos fundamentais de
sua obra. O primeiro conceito que ele usa para explicar a sociedade através de
suas origens é a cultura da
personalidade. Para ele, a cultura da personalidade é a frouxidão de
laços sociais que implicam em formas de organização solidária e ordenada.
Sérgio aborda que as relações em Portugal não advêm
do mérito, mas sim do privilégio, do status.
A segunda característica fundamental ao
entendimento da sociedade contemporânea através de suas raízes é a ética da aventura. Para este
estudioso, a colonização do Brasil foi promovida pelo espírito do português
aventureiro, que exibe a mobilidade e a adaptabilidade, que nega a estabilidade
e o planejamento, que corrobora com a cultura do ócio e se distingue do tipo
trabalhador, e de sua ética do trabalho, que preza pelo “esforço sem
perspectiva de rápido proveito material” (BUARQUE, Sérgio, 2000).
Ao comparar as cidades portuguesas com as
espanholas, define que o espanhol é um ladrilhador, que constrói suas cidades
de forma a racionalizar o espaço. Ao contrário, o português é apenas um
semeador, que sai semeando cidades irregulares que se confundem com a paisagem.
Também é através dessa negação do trabalho, somada a falta de planejamento, a uma
demanda de mercado e, a pequena população do reino, que aparece um dos
principais elementos da colonização portuguesa no Brasil, a escravidão do
africano.
É a partir desta outra herança ibérica que este
estudioso propõe a quarta consideração sobre o tradicionalismo brasileiro, o homem cordial. Por sua vez, este é o
símbolo da relação social sem formalidade, que leva para a vida pública a vida
privada, ao propor acesso à existência política através de relações sociais de
proximidade e afetividade. O homem cordial não se dá com a relação fria do
Estado, e por isso essa instituição é tão fraca entre os ibéricos. Além disso,
essa cordialidade não pressupõe bondade, mas apenas identifica que o homem
cordial não se guia pela racionalidade, e sim pelas suas emoções. Assim, essa
emotividade pode ser boa ou má, apenas não será guiada pela razão. LEIA MAIS
EM: http://www.revistacontemporaneos.com.br/n3/pdf/sergiobuarque.pdf
Proposta de Redação:
Escreva um texto dissertativo
argumentativo relacionando as faces do Brasil do século XXI com suas raízes
históricas, mas seguindo o argumento final do texto da Elisa Lucinda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário