domingo, 7 de abril de 2013

Barroco - Capítulo XVII do livro O mundo de Sofia



Gente,
Não há melhor forma de entender o Barroco no seu contexto se não for lendo esse capítulo. Bom proveito!!!!!


CAPÍTULO XVII: O BARROCO
“... da mesma matéria de que são feitos os sonhos...” .
Durante alguns dias, Sofia não teve mais notícias de Alberto, mas procurou por
Hermes no jardim várias vezes ao dia. Dissera à mãe que o cão fora sozinho para casa, e o
seu dono, um velho professor de física, a convidara para tomar café. Ele falara a Sofia
acerca do sistema solar e da nova ciência que nascera no século XVI.
Contou mais a Jorunn. Falou-lhe da sua visita a Alberto, do postal no vão da
escada e da moeda de dez coroas que encontrara no caminho para casa. Mas guardou para
si o sonho com Hilde e a história do crucifixo de ouro.
Na terça-feira, dia 29 de Maio, Sofia estava na cozinha e enxugava a louça,
enquanto a mãe via as notícias na sala de estar. Quando a música de abertura esmoreceu,
Sofia ouviu na cozinha que um major do contingente norueguês da ONU fora morto por
uma granada.
Sofia deixou cair o pano da louça no lava-louça e correu para a sala de estar.
Durante alguns segundos tremeluziu uma fotografia do soldado da ONU na tela - depois, as
notícias continuaram.
- Oh, não! – exclamou Sofia. A sua mãe voltou-se.
- Sim, a guerra é terrível...
Sofia desfez-se em lágrimas.
- Mas, Sofia. Não é assim tão grave.
- Disseram o nome dele?
-Sim... mas já não me recordo. Ele era de Grimstad.
- Isso não é o mesmo que Lillesand?
- Não, estás a brincar?
- Mas quando se é de Grimstad, também se pode ir à escola em Lillesand. Já não
chorava. Por sua vez, a mãe reagiu. Levantou-se e desligou o televisor.
- Mas que excessos são estes, Sofia?
- Ah, nada...
- Sim, tem de haver alguma coisa! Tu tens um namorado, e eu começo a acreditar
que ele é muito mais velho que tu. Responde-me agora: conheces algum homem no
Líbano?
- Não, não é bem isso...
- Conheces o filho de alguém que esteja no Líbano?
- Não, ouve. Eu nem sequer conheço a filha dele!
- De quem é que estás a falar?
- Não tens nada a ver com isso.
- Ah, não?
- Talvez devesse ser antes eu a interrogar. Porque é que o pai nunca está em casa?
Talvez porque vocês sejam demasiado cobardes para se separarem? Terás um namorado do
qual o pai e eu nada sabemos? E assim por diante. Ambas temos as nossas perguntas.
- De qualquer modo, acho que temos de conversar uma com outra.
- Talvez. Mas agora estou tão cansada que prefiro ir para a cama. E além disso,
estou com o período.
Saiu da sala a correr com um nó na garganta.
Mal saíra da casa de banho e se enfiara nos lençóis, a mãe entrou no quarto. Sofia
fingiu que dormia, apesar de saber que a mãe não acreditava. Também sabia que a mãe
sabia que Sofia sabia que ela não acreditava nisso.
No entanto, a mãe fez como se Sofia já estivesse a dormir.
Sentou-se ao canto da cama e acariciou-lhe a cabeça. Sofia pensou como era difícil
levar uma vida dupla. Começava a alegrar-se com o fim do curso de filosofia. Talvez
terminasse até ao dia dos seus anos - ou pelo menos até à noite de S. João, quando o pai de
Hilde regressasse do Líbano...
- Eu queria fazer uma festa no meu aniversário - afirmou então.
- É uma boa idéia. E quem queres convidar?
- Muitas pessoas... posso?
- Claro. Temos um jardim grande. E talvez o bom tempo se mantenha.
- Mas, de preferência, eu gostaria de festejar só na noite de S. João.
- Está bem, então fazemos isso.
- É um dia importante - afirmou Sofia, e não estava a pensar apenas no seu
aniversário.
- Ah...
- Acho que me tornei tão adulta nos últimos tempos.
- Sim, não é bom?
- Não sei.
Sofia mantivera a cabeça enterrada na almofada enquanto falavam. A mãe sondou
então:
- Mas Sofia, tens de me contar porque é que... porque é que agora estás tão
desequilibrada.
- Tu não eras assim com quinze anos?
- Certamente. Mas tu sabes o que quero dizer.
Sofia voltou-se para a mãe.
- O cão chama-se Hermes - afirmou.
- Sim?
-Pertence a um homem chamado Alberto.
- Ahá.
- Ele mora na parte antiga da cidade.
- Foste tão longe atrás do cão?
- Mas não é perigoso.
- Tu disseste que o cão já tinha estado aqui outras vezes.
- Sim!
Sofia tinha de refletir. Ela queria revelar o máximo que lhe era possível, mas não
podia contar tudo.
- Tu quase nunca estás em casa - começou.
- Não, estou muito ocupada.
-Alberto e Hermes já estiveram aqui muitas vezes.
- Mas por quê? Também já estiveram dentro de casa?
- Podes fazer uma pergunta de cada vez? Eles não estiveram na casa. Mas vão
freqüentemente passear no bosque. Achas isso estranho?
- Não, isso não é nada estranho.
- Como todos os outros, passam pelo nosso portão ao passearem. Uma vez em que
eu vinha da escola, Hermes farejava aqui à volta. Foi deste modo que eu conheci o Alberto.
- E quanto ao coelho branco e todas as outras coisas?
- Foi o Alberto que falou nisso. É que ele é um verdadeiro filósofo. Falou-me dos
filósofos
- Assim por cima da vedação do jardim?
- Não, sentamo-nos. Mas ele também me escreveu cartas, bastantes. Por vezes,
vieram pelo correio, outras vezes ele pô-las na nossa caixa do correio ao passar.
- Essas eram então as "cartas de amor" de que falamos.
- Só que não eram cartas de amor.
- Ele só escreveu sobre filósofos?
- Sim, imagina tu. E já aprendi mais com ele do que em oito anos de escola. Já
ouviste falar, por exemplo, de Giordano Bruno, que morreu na fogueira em 1600? Ou da lei
da gravitação de Newton?
- Não, há muita coisa que eu não sei...
- Se bem te conheço, nem sequer sabes por que é que a Terra gira à volta do Sol, e
não o contrário.
- Que idade é que ele tem, aproximadamente?
- Não faço idéia. Pelo menos cinqüenta.
-E o que é que ele tem a ver com o Líbano?
Isso era mais complicado. Sofia pensou em dez respostas possíveis ao mesmo
tempo. Depois escolheu a única que lhe parecia credível:
- O irmão do Alberto é major na ONU. E ele é de Lillesand. Deve ter morado a
certa altura na cabana do major.
-Alberto não é um nome um pouco estranho?
- Talvez.
- Soa a italiano.
- Eu sei. Quase tudo o que é importante vem da Grécia ou da Itália.
- Mas ele fala norueguês?
- Sim, fluentemente.
- Sabes o que acho, Sofia? Acho que devias convidar o Alberto para nossa casa.
Nunca estive com um verdadeiro filósofo.
- Vamos ver.
- Talvez o possamos convidar para a tua grande festa.
É divertido misturar as gerações. E nessa altura, eu podia estar também presente.
Eu poderia servir à mesa. Achas uma boa idéia?
- Sim, se ele quiser. De qualquer modo, é muito mais interessante conversar com
ele do que com os rapazes da minha turma. Mas... nesse caso, todos acharão que o Alberto
é o teu namorado.
- Então, dizes-lhes que isso não é verdade.
- Vamos ver.
- Sim, vamos ver. E Sofia - é verdade que nem tudo foi fácil entre mim e o pai.
Mas eu nunca tive um namorado...
- Agora, quero dormir. Tenho uma dor de barriga horrível.
- Queres uma aspirina?
- Está bem. Quando a mãe voltou com um comprimido e um copo de água, Sofia já
tinha adormecido. O dia 31 de Maio era uma quinta-feira. Sofia esteve preocupada durante
as últimas aulas. Em algumas disciplinas tinha melhorado desde que o curso de Filosofia
começara.
Na maioria das disciplinas estivera sempre entre "bom" e "muito bom"; mas nos
últimos meses tinha conseguido um "muito bom" num trabalho escrito de ciências humanas
e numa composição de casa. Na matemática as coisas não estavam tão bem...
Na última aula, o professor entregou uma composição que tinha corrigido. Sofia
tinha escolhido o tema "O homem e a técnica". Escrevera sobre o Renascimento e o
desenvolvimento científico, sobre a nova visão da natureza, sobre Francis Bacon, que
afirmara "saber é poder", e sobre o novo método científico.
Explicara detalhadamente que o método empírico era mais antigo do que as
invenções técnicas. Escrevera depois o que lhe ocorrera acerca das desvantagens da técnica.
Tudo o que os homens faziam podia resultar no bem ou no mal, escrevera no fim. Bem e
mal eram como um fio branco e um fio preto que se estavam sempre a entrelaçar. Por
vezes, ambos os fios estão tão unidos que é impossível separar um do outro.
Ao entregar as composições, o professor olhou para Sofia e piscou-lhe o olho.
Teve um cinco, e o professor perguntou: - Como é que sabes isso tudo?
Sofia agarrou numa caneta de feltro e escreveu em maiúsculas na folha: "Eu
Estudo Filosofia". Ao fechar o livro de exercícios, algo caiu das páginas do meio. Era um
postal ilustrado do Líbano. Sofia debruçou-se sobre a mesa e leu:
“Querida Hilde: Quando leres isto, já teremos falado ao telefone acerca da trágica
morte ocorrida aqui. Por vezes, pergunto-me se a guerra e a violência não poderiam ser
evitadas se os homens pudessem pensar de outro modo. Talvez o melhor meio contra a
guerra e a violência fosse um pequeno curso de filosofia. Que tal um "Pequeno livro de
filosofia da ONU" - de que cada novo cidadão do mundo receberia um exemplar na língua
materna? Vou expor esta idéia ao secretário-geral.
Ao telefone, contaste que agora já prestas mais atenção às tuas coisas. Isso é bom,
porque és realmente a maior cabeça de vento que eu conheço. Depois, disseste que desde a
nossa última conversa apenas perdeste uma moeda de dez coroas. Farei o possível para te
compensar. Eu estou muito longe de casa, mas ainda tenho uma mão amiga na velha pátria.
(Se encontrar a moeda de dez coroas, junto-a ao teu presente de aniversário).
Beijos do pai, que tem a sensação de já ter iniciado a longa viagem de regresso”.
Sofia acabara de ler o postal quando a aula terminou.
De novo se desencadeou uma forte tempestade de pensamentos na sua mente.
No pátio da escola, Jorunn esperava por ela como sempre.
A caminho de casa, Sofia abriu a sua pasta da escola e mostrou à amiga o postal.
- De quando é o carimbo? - perguntou Jorunn.
- De certeza que é de 15 de Junho...
-Não, espera... aqui está 30-5-1990.
- Isso foi ontem... ou seja, no dia a seguir à tragédia no Líbano.
- Não acredito que um postal leve apenas um dia do Líbano até à Noruega - refletiu
Jorunn.
-Pelo menos não com esta direção: Hilde Mõller Knag, a/c Sofia Amundsen,
Escola Secundária Furulia...
- Achas que veio pelo correio? E o professor meteu-o simplesmente no livro?
-Não faço idéia. E também não sei se me atrevo a perguntar.
Não falaram mais acerca do postal.
- Na noite de S. João, vou fazer uma grande festa no jardim - contou Sofia.
- Com rapazes?
Sofia encolheu os ombros.
- Não precisamos de convidar os mais bobos.
- Mas vais convidar Jõrgen?
- Se quiseres. Talvez convide o Alberto Knox.
- Deves estar doida.
- Eu sei.
Não falaram mais, e separaram-se no supermercado. A primeira coisa que fez
quando chegou a casa foi procurar Hermes no jardim. E nesse dia, ele andava de fato entre
as macieiras.
- Hermes!
O cão ficou parado por um momento. Sofia sabia exatamente o que se iria passar
nesse segundo. O cão ouvira-a chamar, reconhecera a sua voz e decidira verificar se ela
estava ali, e de onde viera o ruído. Só então a descobriu e decidiu correr para ela. As suas
quatro pernas desataram a agitar-se.
Era de fato muito para um só segundo.
Foi ter com ela a correr, abanou a cauda energicamente e saltou para ela.
-Bonito cão, Hermes! Não... não, pára de lamber, estás a ouvir? Senta... assim,
sim!
Sofia abriu a porta de casa. Sherekan surgiu então dos arbustos. O animal estranho
era um pouco sinistro para o gato. Mas Sofia colocou comida no prato dele, pôs sementes
no comedouro dos pássaros, deixou à tartaruga uma folha de alface e escreveu um bilhete à
mãe.
Escreveu que queria levar Hermes para casa e que telefonaria caso não pudesse
estar em casa antes das sete.
Depois, puseram-se a caminho pela cidade. Desta vez, Sofia tinha trazido dinheiro.
Pensou em apanhar o ônibus com Hermes, mas depois se lembrou que Alberto
podia não estar de acordo.
Ao andar atrás de Hermes, começou a pensar no que era um animal. Qual era a
diferença entre um cão e um homem? Ela ainda sabia o que Aristóteles dissera a esse
respeito. Afirmara que homens e animais eram seres vivos com muitas semelhanças
importantes. Mas havia também uma diferença essencial entre um homem e um animal, a
razão.
Como é que ele tinha a certeza desta diferença?
Demócrito, por seu lado, não vira uma grande diferença entre homens e animais,
visto que ambos são compostos por átomos. Também não acreditava que homens ou
animais tivessem almas imortais. Acreditava que a alma era formada por pequenos átomos
que se separavam em todas as direções quando as pessoas morriam. Para ele, a alma do
homem estava indissociavelmente ligada ao cérebro.
Mas como é que a alma podia ser constituída por átomos? É que a alma não podia
ser tocada, ao contrário de todas as outras partes do corpo. Era algo "espiritual".
Tinham atravessado a praça principal e aproximavam-se da parte antiga da cidade.
Quando chegaram ao local onde Sofia encontrara a moeda de dez coroas, o seu olhar
dirigiu-se instintivamente para o chão. E ali – precisamente ali, onde já se inclinara uma
vez para apanhar uma moeda de dez coroas - estava agora, com a fotografia virada para
cima, um postal ilustrado. A fotografia mostrava um jardim com palmeiras e laranjeiras.
Sofia baixou-se e apanhou o postal. Simultaneamente, Hermes começou a rosnar.
Parecia não gostar que Sofia tivesse agarrado no postal.
No postal estava escrito:
“Querida Hilde!
A vida consiste numa cadeia interminável de coincidências. Não é totalmente
inverossímil que as dez coroas que perdeste tenham chegado aqui. Talvez uma senhora
idosa, que esperava pelo ônibus para Kristiansand, a tenha encontrado na praça principal de
Lillesand. Em Kristiansand, apanhou o comboio para visitar os seus netos, e muitas horas
mais tarde pode ter perdido aqui a moeda de dez coroas. Em seguida, é possível que essa
moeda tenha sido apanhada mais tarde por uma moça que precisava de dez coroas para
poder ir para casa de ônibus. Nunca se pode saber, Hilde, mas se foi mesmo assim temos de
nos questionar de fato se não há uma providência divina por trás de tudo.
Beijos do pai que em pensamento já está sentado na doca em Lillesand.
P.S.: Eu bem disse que ia ajudar-te a procurar as dez coroas.”
Como endereço, estava escrito no postal: "Hilde Mõller Knag, a/c de uma
transeunte acidental..." O postal tinha o carimbo do dia 15 de Junho.
Sofia subiu os degraus atrás de Hermes. Quando Alberto abriu a porta, disse:
- Sai do caminho, velhote. Aqui vem o correio!
Ela achava que naquele preciso momento tinha uma boa razão para estar um pouco
irritada. Ele deixou-a entrar. Hermes deitou-se debaixo dos cabides, como na vez anterior.
- O major deixou um novo cartão de visita, minha filha?
Sofia olhou para Alberto. Só então descobriu que ele trazia um traje novo. Reparou
primeiro numa comprida peruca encaracolada.
Além disso, trazia um fato comprido largo com muitas rendas. À volta do pescoço
tinha um vistoso lenço de seda e sobre o fato uma capa vermelha.
Trazia meias brancas e, nos pés, elegantes sapatos de verniz, com laços. No
conjunto, fazia lembrar aqueles quadros representando a corte de Luís XIV que Sofia já
tinha visto.
- Que pavão! - comentou, entregando-lhe o postal.
- Humm... e tu encontraste de fato as dez coroas precisamente no local onde o
postal estava hoje?
- Precisamente ali.
- Ele está cada vez mais atrevido. Mas talvez isto seja bom.
- Porquê?
- Assim será mais fácil desmascará-lo. Esta encenação é realmente empolada e
repugnante. Cheira a perfume barato.
- Perfume?
- Tem um efeito indiscutivelmente elegante, mas é apenas uma brincadeira. Vês
como ele ousa comparar os seus fracos métodos de vigilância com a providência divina?
Ergueu o postal. Depois o rasgou em pedaços tal como o anterior. Para não
perturbar ainda mais o seu estado de espírito, Sofia não mencionou o postal que encontrara
no livro da escola.
- Vamos sentar-nos na sala de estar, cara discípula. Que horas são?
- Quatro.
- Hoje vamos falar sobre o século XVII. Foram para a sala que tinha o teto
inclinado e a clarabóia. Sofia reparou que Alberto substituíra alguns objetos desde a última
vez.
Na mesa via-se um antigo cofre com uma coleção de diversas lentes. Ao lado,
estava um livro aberto. Era muito antigo.
- O que é isto? - perguntou Sofia.
- É uma primeira edição do famoso livro de “René Descartes”, “O Discurso do
Método”. É do ano de 1637 e é um dos meus objetos mais estimados.
- E o cofre... - ... contém uma coleção exclusiva de lentes - ou vidros óticos. Foram
polidos por volta de meados do século XVII pelo filósofo holandês “Espinosa”. Ficaramme
caras, mas também são das minhas preciosidades mais valiosas.
- Eu compreenderia sem dúvida melhor o valor do livro e do cofre se soubesse
alguma coisa sobre Descartes e Espinosa.
-Claro. Mas vamos tentar primeiro familiarizar-nos um pouco com a sua época.
Sentemo-nos.
E sentaram-se como na vez anterior, Sofia numa poltrona grande e Alberto no sofá.
Entre eles estava a mesa com o livro e o cofre. Quando se sentaram, Alberto tirou a peruca
e pô-la na escrivaninha.
- Vamos falar agora sobre o século XVII - ou a época que é designada por
“Barroco”.
- Barroco? Não é um nome estranho?
- A designação "barroco" provém de uma palavra que significa na realidade
"pérola irregular". Típico da arte do Barroco eram as formas exuberantes e com muitos
contrastes, ao contrário da arte do Renascimento, mais simples e harmoniosa. O século
XVII é caracterizado pela tensão entre opostos inconciliáveis.
Por um lado, continuava a haver a visão otimista do mundo como no
Renascimento – por outro, muitos se agarraram ao extremo oposto e levavam uma vida de
recusa do mundo e retiro religioso. Na arte e na vida real encontramos uma ostentação
pomposa de vida.
Simultaneamente, surgiram os movimentos monásticos que renunciavam ao
mundo.
- Palácios imponentes e mosteiros escondidos, portanto.
- Sim, podes dizê-lo assim. Um chavão do Barroco era o provérbio latino "carpe
diem" - que significa: "goza o dia!". Um outro provérbio latino muito evocado diz:
"memento mori" - e significa:
"Recorda que tens de morrer!". Na pintura, o mesmo quadro podia mostrar
simultaneamente uma grande exuberância enquanto num canto inferior estava pintada uma
caveira.
Em muitos aspectos, o Barroco caracteriza-se pela “frivolidade” e a “afetação”,
mas também pela consciência da “efemeridade” de todas as coisas, ou seja, pelo fato de que
tudo o que é belo tem de perecer e decompor-se um dia.
- É verdade, mas é uma idéia triste pensar que nada é estável.
- Nesse caso, pensas exatamente como muitas pessoas no século XVII. No
domínio político, o Barroco também foi a época de grandes conflitos.
Primeiro, a Europa foi devastada por guerras. A mais grave foi a Guerra dos Trinta
Anos, que assolou quase toda a Europa de 1618 a 1648. Na realidade, consistiu em muitas
guerras pequenas, que atingiram principalmente a Alemanha. Como conseqüência da
Guerra dos Trinta Anos, a França tornou-se pouco a pouco a potência dominante na
Europa.
- Porque é que eles combatiam?
- Era principalmente uma guerra entre protestantes e católicos. Mas também se
tratava do poder político.
-Mais ou menos como no Líbano.
- Além disso, o século XVII estava marcado por enormes diferenças de classes.
Com certeza já ouviste falar da nobreza francesa e da corte de Versalhes. Não sei se
também estudaste a miséria do povo. Mas toda a ostentação do luxo assenta sobre a
ostentação do poder. Diz-se que a situação política do Barroco pode ser comparada com a
arte e a arquitetura contemporâneas. Os edifícios do Barroco estavam sobrecarregados de
volutas, estuques e decorações. E a política estava cheia de assassínios, intrigas e tramas.
- Não houve um rei sueco que foi assassinado no teatro nessa altura?
- Estás a pensar em Gustavo III, e tens aí um verdadeiro exemplo daquilo a que me
refiro. O assassínio de Gustavo III deu-se já no ano de 1792, mas em circunstâncias muito
barrocas. Ele foi assassinado num grande baile de máscaras.
- E eu pensava que tinha sido no teatro.
- O baile de máscaras teve lugar na Ópera. O Barroco sueco, no fundo, só terminou
com o assassínio de Gustavo III. Durante o seu reinado dominou o despotismo esclarecido,
mais ou menos como quase cem anos antes com Luís XIV. Além disso, Gustavo III era um
homem muito frívolo, que adorava todas as cerimônias e cortesias francesas. E repara que
também gostava muito de teatro...
- E isso foi-lhe fatal.
- Mas o teatro no Barroco era mais do que uma mera forma artística. Era o símbolo
mais importante da sua época.
- E o que é que simbolizava?
- A vida, Sofia. Não sei quantas vezes se disse durante o século XVII: "A vida é
teatro". Certamente muitas vezes. E foi durante o barroco que surgiu o teatro moderno -
com a sua maquinaria e cenografia. No teatro, punha-se em cena uma ilusão - que era
desmascarada como mera ficção.
Deste modo, o teatro tornou-se a imagem da vida humana em geral. O teatro podia
mostrar que "quanto mais alto é o vôo, maior é a queda", oferecendo uma representação
impiedosa da fragilidade humana.
- “William Shakespeare” viveu no período do Barroco?
- Ele escreveu os seus grandes dramas por volta do ano de 1600. Desse modo, tem
um pé no Renascimento e o outro no Barroco. Mas já em Shakespeare se encontram muitas
reflexões sobre a vida como teatro. Gostarias de ouvir alguns exemplos?
- Sim, muito.
- No drama “As You Like It”, ele afirma:
“O mundo é um palco e todos os homens e mulheres meros atores. Entram e saem
de cena, e cada um representa muitos papéis no seu tempo...”.
E em “Macbeth” diz-se: “A vida é apenas uma sombra inconstante; Um pobre
comediante que se pavoneia e se agita Durante a sua hora em cena, e depois nada mais. Se
ouve dele; é uma história, Contada Por um idiota, cheia de som e de fúria, Que nada
significa.”
- Isso é mesmo pessimista.
- Mas a brevidade da vida preocupou-o. Provavelmente já ouviste a mais famosa
citação de Shakespeare:
- Ser ou não ser - eis a questão.
- Sim, foi Hamlet que o disse. Num dia estamos na terra - no dia seguinte
desaparecemos.
- Obrigada, isso eu já compreendi.
- Quando não comparam a vida com o teatro, os escritores barrocos comparam-na
com um sonho. Já Shakespeare afirmava, por exemplo: "Somos feitos da mesma matéria
que os sonhos, e esta breve vida abrange um sono...".
- Que poético.
- O poeta espanhol “Calderón”, que nasceu por volta de 1600, escreveu um drama
com o título “A vida é sonho”. Aí afirma "O que é a vida? Loucura! O que é a vida? Uma
ilusão, uma sombra, uma ficção. E o maior dos bens tem pouco valor, pois a vida é um
sonho".
- Talvez ele tenha razão.
Nós lemos uma peça na escola. Chamava-se “Jeppe de Bjerget”. - De “Ludvig
Holberg”, sim. Aqui no Norte uma grande figura de transição entre o Barroco e o
Iluminismo. - Jeppe adormece num fosso de estrada... e depois acorda na cama do barão. E
pensa ter sonhado ser apenas um pobre camponês. Depois, é levado de volta para o fosso, a
dormir - e acorda de novo. E acha nessa altura ter sonhado que estivera deitado na cama do
barão.
- Holberg retirou este motivo de Calderón, como Calderón o fizera a partir dos
contos árabes das “Mil e Uma Noites”. Mas a comparação entre vida e sonho é ainda mais
antiga, e encontramo-la inclusivamente na Índia e na China. Já o antigo sábio chinês
“Tchuang Tsu (cerca de 350 a.C.) sonhou uma vez que era uma borboleta e, após ter
acordado perguntou se era um homem que sonhara ser uma borboleta ou uma borboleta que
estava nesse momento a sonhar que era um homem”.
- De qualquer modo, é impossível provar qual está certo.
- Na Noruega tivemos um poeta barroco típico, de nome “Petter Dass”. Viveu
entre 1647 e 1707. Por um lado, queria retratar a vida como é realmente, por outro
sublinhava que apenas Deus é eterno e constante.
- Deus é Deus, mesmo se tudo fosse deserto, Deus é Deus, mesmo se todos
estivessem mortos...
-Mas no mesmo hino ele descreve também a cultura norueguesa - escrevendo
sobre todos os tipos de peixe que se encontram nesta zona. Isso é típico do Barroco. Num
mesmo texto é descrito o terreno, imanente - e o celestial, transcendente. O conjunto pode
fazer-nos lembrar a separação platônica entre o mundo sensível concreto e o mundo
imutável das idéias.
-E a filosofia?
- Também a filosofia era caracterizada por duras lutas entre modos de pensar
contraditórios. Como já ouvimos, para alguns filósofos, a realidade era fundamentalmente
de natureza mental ou espiritual.
Designamos essa perspectiva por “idealismo”. A concepção oposta é o
“materialismo”, uma filosofia que defende que a realidade se reduz a substâncias materiais
concretas. O materialismo também teve no século XVII muitos defensores. O mais
influente talvez tenha sido o filósofo inglês “Thomas Hobbes”. Segundo ele, todos os seres
- logo, também homens e animais - consistem exclusivamente em partículas de matéria.
Mesmo a consciência do homem - ou a alma humana - nasce através do movimento de
partículas minúsculas no cérebro.
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- Então ele pensava o mesmo que Demócrito dois mil anos antes.
- Idealismo e materialismo são como fios condutores através de toda a história da
filosofia. Mas muito raramente as duas concepções surgiram tão claramente numa mesma
época como no Barroco. O materialismo consolidou-se progressivamente através das novas
ciências da natureza.
Newton mostrou que as mesmas leis para o movimento são válidas em todo o
universo, e que as leis da gravitação e dos movimentos dos corpos são responsáveis por
todas as transformações na natureza - tanto na terra como no espaço.
Portanto, tudo é governado com a mesma regularidade constante - ou com a
mesma mecânica. Assim, em princípio, podemos calcular qualquer transformação na
natureza com exatidão matemática. Deste modo, Newton forneceu os últimos elementos
para a chamada “concepção mecanicista do mundo”.
- Ele imaginava o mundo como uma grande máquina?
- Exatamente. O termo "mecânico" provém da palavra grega “mêchanê”, que
significa máquina. Mas devemos ter em atenção que nem Hobbes nem Newton viam uma
contradição entre uma concepção mecanicista do mundo e a crença em Deus. Isto não é
válido para todos os materialistas dos séculos XVIII e XIX. O médico e filósofo francês
“La Mettrie” escreveu em meados do século XVIII um livro com o título “L'homme
machine”.
Significa: "o homem máquina".
Tal como a perna tem músculos para andar, assim o cérebro, escreveu ele, tem
"músculos" para pensar. Posteriormente, o matemático francês “Laplace” exprimiu com o
seguinte pensamento uma concepção mecanicista extrema: se uma inteligência conhecesse
a posição de todas as partículas de matéria num certo momento, nada seria incerto, e tanto o
futuro como o passado seriam evidentes. Estaria "nas cartas" o que haveria de suceder.
Designamos esta concepção por “determinismo”.
- Nesse caso, o homem não pode ter livre arbítrio.
- Não, tudo é produto de processos mecânicos - inclusivamente os nossos
pensamentos e sonhos. No século XIX, materialistas alemães afirmaram que os processos
de pensamento se comportam em relação ao cérebro tal como a urina em relação aos rins e
a bílis em relação ao fígado.
- Mas a urina e a bílis são materiais. Os pensamentos não. - Estás a dizer uma coisa
importante. Posso contar-te uma história que diz o mesmo.
Certa vez, um cosmonauta e um neurocirurgião russos discutiam sobre religião. O
cirurgião era cristão, o cosmonauta não. "Eu já estive várias vezes no espaço", gabava-se o
cosmonauta, "mas não vi nem Deus nem anjos". "E eu já operei muitos cérebros
inteligentes", respondeu o cirurgião, "e também não encontrei em lado algum um único
pensamento".
- O que não significa que os pensamentos não existam.
- Não. Apenas esclarece que os pensamentos são algo completamente diferente de
tudo o que pode ser amputado ou dividido em partes cada vez menores. Por exemplo, não é
fácil remover uma alucinação com uma operação. Um importante filósofo do século XVII,
chamado “Leibniz”, referiu que a grande diferença entre tudo o que é feito de “matéria” e
tudo o que é feito de “espírito” consiste precisamente no fato de a matéria poder ser
dividida em partes cada vez menores. Mas a alma não pode ser cortada em pedaços.
- Pois não, que tipo de faca se usaria?
Alberto abanou a cabeça. Depois, apontou para a mesa entre ambos e afirmou:
- Os dois filósofos mais importantes do século XVII foram Descartes e Espinosa.
Também eles se preocuparam com questões como a relação entre alma e corpo.
Vamos observar mais pormenorizadamente estes filósofos.
- Conta. Mas, se não estivermos despachados até às sete, tenho de telefonar à
minha mãe.

INTERESSADO EM LER A OBRA COMPLETA?


Roteiro de aula Barroco



O Barroco é o único período Artísitico Literário que acontece na Bahia – sei que tem alguns eventos em Minas, mas o centro cultural é a Bahia.
Vamos nos aprofundar?
1.       Ouça música de Ana Carolina  e procure perceber elementos contrastantes como a linguagem, imagens e também a tentativa de unir elementos contrários. Típicos do barroco.  http://www.youtube.com/watch?v=rPqz15bZmSA
2.       Leia o capítulo XVII do livro O Mundo de Sofia  para entender o contexto histórico.
3.       Há uma lista grande de filmes relacionados a esse contexto histórico  tente assistir pelo menos dois: As bruxas de Salem, Lutero, O nome da Rosa, Joana D’arc. E, apesar de não ter uma relação com o contexto histórico Anjos e demônios é uma boa oportunidade de entender o poder da Igreja.
4.       Leia sobre  Reforma Protestante e a Contra reforma
5.       Reveja os slides da aula disponíveis aqui no blog.
6.       Leia alguns poemas de Gregório de Matos  - varie entre os satíricos, filosóficos, religiosos...
7.       Revise as figuras de linguagem mais comuns no barroco – Antítese, metáfora, prosopopéia, hipérbole,paradoxo,metonímia.
8.       Leia alguns dos sermões de Vieira – é uma excelente oportunidade de aprender argumentação.  Adoro o do Bom Ladrão ou do riso contra as  lágrimas de Heráclito.
9.       Estude com atenção as características do Barroco proposta nos slides.
10.   Análise as imagens dos slides
11.   Faça dos exercícios. 
Dê importância ao estudo de Barroco. Não esqueça que estamos vivendo momentos de instabilidade e de exagero – o neobarroco e de que a moda em 2013 utilizou muitas referências sobre o assunto. 

http://www.modaparausar.com/2013/03/estilo-barroco-influencia-a-moda-outonoinverno/

Leia Mais....

A moda de Minas Gerais traz consigo uma influência histórica do barroco mineiro – com sua grande variedade de formas, detalhes e cores fortes e intensas. A exuberância barroca é muito presente no vestuário de moda festa fabricado no Estado. No inverno 2011, o exagero barroco também é lei – muito em função do derradeiro desfile de Alexander McQueen.
É por isso que as marcas participantes do Minas Trend Preview não pouparam os bordados, apliques e construções que são puro preciosismo. E o exagero não ficou restrito aos domínios da moda festa: acabou respingando também nos acessórios e sapatos, que não pouparam brilho, e na escolha de materiais ultraluxuosos.


Roteiro das atividades do Curso do mês de abril


Para vocês  organizarem o estudo do mês eis nossas atividades de abril:
       Músicas como Tema de Resistência e  assistir os  filmes Utopia e  Barbárie, O que é  isso  companheiro?, Zuzu Angel – que vão trabalhar essa temática – Aproveite e leia sobre Repressão e Anistia
       Livro A arte da Guerra – Vou postar o PDF aqui 
       Arcadismo e Barroco -
       Religiosidade no séc. XXI – Escrita e reescrita
        Portfólio com temas de medicina para quem vai fazer Bahiana e UVV
       Produção de texto em sala
       Temas Transversais – Projeto


quinta-feira, 4 de abril de 2013

Estudar em Portugal ficou mais fácil!

O  Banco Santander está com seu programa de Bolsas para intercâmbio para Portugal aberto. Conheça o programa e  as  universidades participantes aqui


O Programa

Uma das frentes da mobilidade internacional é o Programa de Bolsas Luso-Brasileiras, que estimula a cooperação entre Brasil e Portugal. São bolsas de estudo de um semestre para estudantes de graduação aprofundarem seus conhecimentos e vivenciarem outras práticas culturais. Lançado em 2007 na comemoração dos 150 anos do Santander, o Programa fortalece os laços de cooperação entre os países ibero-americanos, estreitando relações bilaterais.

Objetivos do Programa

• Aprimorar a formação acadêmica de alunos de graduação;
• Promover intercâmbio e novas experiências culturais;
• Fortalecer a internacionalização e estimular a cooperação entre Brasil e Portugal;
• Contribuir com a capacitação dos jovens para o mercado de trabalho.

O Programa de Bolsas Luso-brasileiras em números

• 7 edições do Programa
• 6 meses de intercâmbio
• 165 estudantes brasileiros realizarão intercâmbio em universidades portuguesas
• 21 universidades brasileiras participantes 
• 63 estudantes portugueses realizarão intercâmbio em universidades brasileiras 
• 17 universidades portuguesas participantes



Leia mais em: http://www.santanderuniversidades.com.br/bolsas/Paginas/ProgramaLusoBrasileiras.aspx

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Estudantes ganham da Loteria


Também, de  forma inédita, alunos na Bahia  que tenham seu nome negativado, mas que não sejam negativações relativas ao empréstimos do FIES poderão ter bolsas de financiamento do programa.

A notícia é essa mesma. O Governo abre crédito extraordinário de R$ 1,68 bilhão para crédito do Fies, programa de financiamento estudantil. Parte do dinheiro virá dos lucros da loteria.


domingo, 31 de março de 2013

Aprendendo a fazer textos com Questões Discursivas INEP 2013


Alguns alunos tem nos procurado para falar  sobre a dificuldade de escrever textos com recortes específicos como faz o ENEM. Uma boa forma de treinar para esse tipo de modalidade é fazendo questões discursivas em formato de redação. Segue baixo duas questões propostas pelo INEP com as redações modelo feitas por Orlando Júnior. Aproveite. Ele  é  um escritor Nota mil!!!!!
(INEP – 2013) QUESTÃO DISCURSIVA 1
As vendas de automóveis de passeio e de veículos comerciais leves alcançaram  340 706 unidades em junho de 2012, alta de 18,75%, em relação a junho de  2011, e de 24,18%, em relação a maio de 2012, segundo informou, nesta  terça-feira, a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores  (Fenabrave). Segundo a entidade, este é o melhor mês de junho da história do  setor automobilístico.
Disponível em: . Acesso em: 3 jul. 2012 (adaptado).

Na capital paulista, o trânsito lento se estendeu por 295 km às 19 h e superou  a marca de 293 km, registrada no dia 10 de junho de 2009. Na cidade de São  Paulo, registrou-se, na tarde desta sexta-feira, o maior congestionamento da  história, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Às 19 h, eram  295 km de trânsito lento nas vias monitoradas pela empresa. O índice superou  o registrado no dia 10 de junho de 2009, quando a CET anotou, às 19 h, 293 km  de congestionamento.
Disponível em: . Acesso em: 03 jul. 2012 (adaptado).

O governo brasileiro, diante da crise econômica mundial, decidiu estimular a venda de automóveis e, para tal, reduziu o  imposto sobre produtos industrializados (IPI). Há, no entanto, paralelamente a essa decisão, a preocupação constante  com o desenvolvimento sustentável, por meio do qual se busca a promoção de crescimento econômico capaz de  incorporar as dimensões socioambientais.

Considerando que os textos acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo sobre sistema de
transporte urbano sustentável, contemplando os seguintes aspectos:
a) conceito de desenvolvimento sustentável; (valor: 3,0 pontos)
b) conflito entre o estímulo à compra de veículos automotores e a promoção da sustentabilidade; (valor: 4,0 pontos)
c) ações de fomento ao transporte urbano sustentável no Brasil. (valor: 3,0 pontos)

TEXTO MODELO


O princípio
Desde a formação da Roma Antiga até as cidades remodeladas pelas Revoluções Industriais, os dilemas urbanos persistiram e se agravaram, de tal forma, que tornaram a dinâmica urbana contemporânea insustentável. Nessa perspectiva, o tráfego urbano desponta como um dos graves problemas hodiernos a serem superados e que só tendem a piorar com o passar do tempo. Mesmo assim, a era pós-moderna reúne as condições adequadas, que são capazes de viabilizar o desenvolvimento de cidades mais justas e sustentáveis.
De transportes coletivos ineficazes aos engarrafamentos dantescos das megalópoles, torna-se essencial que os indivíduos apreendam que os problemas urbanos estão conectados. Desse modo, para solucioná-los, torna-se essencial aliar o conhecimento atual a muita criatividade, tal premissa é fundamental para a sociedade contemporânea rumo à sustentabilidade urbana. Contudo, a cidade de Seul (Coréia do Sul), através do Rodízio Solidário no qual o motorista participante recebe incentivos fiscais e vagas grátis em estacionamentos, tem mostrado como políticas sustentáveis de tráfego urbano podem ser postas integralmente em prática, desde que haja uma aliança consolidada entre os cidadãos e seus representantes.
No despontar da pós-modernidade, o homem hodierno encontra-se imerso em uma sociedade capitalista que estimula o consumismo voraz ao associá-lo como sinônimo de felicidade pessoal. Seguindo essa perspectiva, só no mês de dezembro, a venda de motocicletas cresceu cerca de 25% em 2012, segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, o que representa que os valores capitalistas são grandes inimigos da sustentabilidade. Tendo em vista tal égide, o desenvolvimento sustentável precisará romper com os ditames contemporâneos, a fim de propagar os ideais de que é possível crescer, inovar e, mesmo assim, respeitar o direito das futuras gerações em aproveitar as mesmas oportunidades que não geração possui.
Para além disso, Albert Schweitzer já apregoava que o mundo tornou-se perigoso, porque os homens aprenderam a dominar a natureza antes de dominarem a si mesmos. Diante dessa conjuntura, os dilemas urbanos se agravaram, visto que, a contemporaneidade tornou-se a difusora de ideais individualistas. Logo, para que um caminho rumo à sustentabilidade seja construído será preciso que a sociedade civil, propulsionada pelo Estado que tem caráter abarcativo, apreenda e difunda o princípio de que as cidades são feitas por pessoas e para pessoas, assim, para que aquelas mudem, é essencial que estas se transformem primeiro.

(INEP – 2013) QUESTÃO DISCURSIVA 2
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define violência como o uso de força física ou poder, por ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade, que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação. Essa definição agrega a intencionalidade à prática do ato violento propriamente dito, desconsiderando o efeito produzido.
DAHLBERG, L. L.; KRUG, E. G. Violência: um problema global de saúde pública. Disponível em: . Acesso em: 18 jul. 2012 (adaptado).


A partir da análise das charges acima e da definição de violência formulada pela OMS, redija um texto dissertativo a  respeito da violência na atualidade. Em sua abordagem, deverão ser contemplados os seguintes aspectos:
a) tecnologia e violência; (valor: 3,0 pontos)
b) causas e consequências da violência na escola; (valor: 3,0 pontos)
c) proposta de solução para o problema da violência na escola. (valor: 4,0 pontos)



Redação Modelo
A evolução do espetáculo
Dos conflitos pré-históricos com lanças e pedras até os computadores hodiernos convertidos em instrumentos de guerra ou agressão moral, a violência co-evoluiu com a humanidade. Contudo, no perpassar histórico, a violência tem apresentado novas formas de expressão segundo o meio sociocultural em que ela se encontra correlacionada. Sendo assim, torna-se notável o agravamento de um dilema histórico e a perpetuação deste, visto que, diante de tantas mutações em seu cerne parece uma utopia encontrar uma solução.
A sociedade do caos, consolidada no século XXI, configura-se como fruto da “Cyber-era”, em que  a alienação tecnológica impera sobre a essência do ser e o relativismo de valores deturpa a noção de certo e errado de acordo com os preceitos éticos e morais. Além disso, a diminuição das fronteiras e o acesso à informação instantânea, propulsionados pela globalização, propiciam a difusão do “cyber-bulling” e da violência em tempo real em uma sociedade que se apóia na tecnologia como guia de sua vida. Logo, a pós-modernidade tem apresentado novas faces da violência, nas quais a agressão pode ser à distância e não significa que seja menos dolorosa e, além disso, da casa à escola, são poucos os lugares seguros.
Para Jean Paul Sartre, a violência faz-se passar sempre por uma contraviolência, quer dizer, uma resposta à agressão alheia. Diante dessa conjuntura, a sociedade hodierna se sustenta nessa paradoxal e cruel perspectiva que permite, assim, a perpetuação de um espetáculo de dor. Uma vez que, até na escola, que seria um espaço de socialização e propagação de ideais de respeito aos direitos humanos básicos, a violência conseguiu se permear e, assim, tem gerado traumas psicossociais e físicos que podem perdurar toda a vida do jovem ou da criança.
Para além disso, Milton Santos já apregoava que nunca houve, no curso histórico da humanidade, condições tecnológicas, científicas e culturais tão adequadas para a formação de um mundo da dignidade humana. Apesar disso, em tempos de “Cyber-era”, nenhum caminho rumo à paz, em todos os meios, fora avistado ou construído. Assim sendo, a história constatou que o “homo-sapiens” é violento em sua essência e, por conseguinte, evoluiu com isso.


quinta-feira, 21 de março de 2013

Não haverá redação em 2014 no Enem? Orlando Júnior prova que Aloísio Mercadante não vai deixar


Em tempos de  culto aos erros da redação do ENEM preocupa-me o quanto isso tem tomado proporção e importância. De redação com  receita de Miojo ao hino do Palmeiras ( se ainda fosse do Corinthians diriam que foi de um aluno meu), estamos vivendo a era de que escrever errado é garantia de passar. Errado quem propaga, errado quem acredita. Eu não vi um milhão de redações erradas em suas correções. E, sei que o processo de correção é feito com margens de erros. O problema é a margem tem se tornado a essência. 
Para diminuir essas máximas que querem tornar desimportante a avaliação redação no processo, única capaz de medir, de fato, o grau cultural e conhecimento de leitura e língua eu vou mostrar a vocês redações de meus  queridos alunos que são nota mil e sabem que nem receita da caviar garante o conhecimento que se adquire quando se saber ler e escrever mundos. 

Quando ouvimos por aí que o Enem não terá redação em 2014 eu não tenho medo algum porque sei que Aloísio Mercadante não  sonha com um país de analfabetos, mas letrados, inclusive digitais. 
E que reconhece o peso de alunos que escrevem como Orlando....


Essas  são de Orlando Júnior Mil na UESB e mil na UNEB - Começará seu caminho para medicina  em 2013...amanhã tem mais....



Pela essência do ser humano

                A contemporaneidade se consolidou com base em uma ótica capitalista, que valoriza a superficialidade, a instantaneidade e a relativização de valores em detrimento da crítica e da reflexão. Sendo assim, a sociedade hodierna é impulsionada a uma cultura de massificação que manipula os indivíduos para privilegiar um seleto grupo. Diante dessa conjuntura, a informação, por ser pouco debatida pelos indivíduos e, assim, mais rápida de ser adquirida, tem subjugado o conhecimento, este que é fruto de debate e estudo aprimorado.
                O homem pós-moderno usa as salas de bate-papo virtuais em substituição às Academias Literárias do século XVII e XVIII ou à Escola de Sagres do século XV, contudo o primor pelo conteúdo e pela reflexão não foi devidamente mantido. Visto que, enquanto, nos séculos passados, se discutia uma nova forma de se fazer poesia ou novos eventos e estratégias que revolucionariam o curso histórico da humanidade, hodiernamente as redes sociais, com poucas exceções, tornaram-se espaços para observar o comportamento alheio ou de puro entretenimento. Diante dessa conjuntura, é perceptível o pequeno espaço ocupado pelos jornais e rádios, que se dispunham promoverem debates e reflexões sobre sociedade, e o pouco interesse dos cidadãos nesses meios midiáticos.
                Para Milton Santos, a globalização é regida segundo os interesses de um restrito grupo de grandes corporações internacionais, o que configura um globalitarismo. Tendo em vista tal égide, as culturas locais tendem a ser anuladas, pois o indivíduo pós-moderno está atônito diante do intenso “bombardeio” de informações no seu cotidiano, o que o leva a ser facilmente manipulado e, por conseguinte, propicia a padronização ideológica. Partindo dessa premissa, a memória histórico-cultural encontra-se ameaçada por essa lógica capitalista, uma vez que, até os espaços culturais, como galerias de arte e saraus, definem sua programação de acordo com o patrocínio da empresa que recebem, ou seja, até a cultura, que é a livre representação identitária, tem sido subjugada pelo capitalismo que se perpetua na sociedade contemporânea.
                Para além disso, José Saramago apregoava que o homem é fisicamente um corpo, mas em essência uma memória. Desse modo, o indivíduo pós-, ao permitir a simples propagação e absorção da informação sem uma reflexão crítica, tem ameaçado a perpetuação de princípios e do conhecimento histórico-cultural, necessários à formação da identidade das futuras gerações. Nessa perspectiva, cabe também ao Estado, por seu caráter abarcativo, a disseminação das múltiplas formas de arte e expressão nos espaços culturais consolidando, assim, a premissa de que o futuro precisa da memória do passado.

Orlando Júnior (vestibular UESB 2013)

Por uma essência universal

De Neil Armstrong e sua chegada à Lua aos exoplanetas contemporâneos, a humanidade encontra-se imersa em um curso histórico repleto de rápidas mudanças propiciadas pela evolução da ciência e da tecnologia. Tendo em vista tal égide, creio na possibilidade de se formar um novo mundo mais humano, digno e justo, uma vez que, na Terra não conseguimos alcançar tal feito. Assim sendo, aliando sonho, ciência e o espírito de coletividade, eu me candidato a ir morar em outro planeta habitável na busca por sociedades menos desiguais.
Para Milton Santos, a Terra encontra-se segregada entre aqueles que não comem e entre os outros que não dormem temendo a revolta dos que não comem. Essa realidade terráquea não poderia ser aceita no novo planeta, visto que, o mesmo, por ser uma perspectiva organizacional inovadora, necessita do máximo de estabilidade sociopolítica que deve ser alcançada através de uma sociedade funcional e igual. Uma vez que, a desigualdade de direitos só tende a promover conflitos como aqueles que ocorrem entre o MST(Movimento dos Sem Terra) e os latifundiários, e entre a Palestina e Israel.
Diante dessa conjuntura, viso a democracia aliada a uma cidadania plena como o melhor sistema político a ser adotado, para que assim não haja a formação de abismos sociais e culturais tão corriqueiros na Terra. Partindo dessa égide esse novo mundo não teria nem um Estado opressor, como a China, ou populista, como a Venezuela, e nem um ineficaz na aplicação das leis, como o Brasil, ou que associe a felicidade da nação ao consumo, como ocorre nos Estados Unidos. Logo, rompendo-se com todos esses estereótipos estabelecidos seria plenamente viável a construção de uma civilização estável e com um Estado que defenda o bem-estar social, tal qual acontece na Suíça e na Noruega.
Para além disso, José Saramago já apregoava que somos fisicamente um corpo, mas, psicologicamente, uma memória. Seguindo tal premissa, enxergo as vivências da Terra como precedentes de transformações ideológicas e sociais profundas, isto é, devemos apreender que os erros cometidos no mundo no qual vivemos não devem se perpetuar em outro planeta ou este também imergirá no caos. Desse modo, entendo que podemos ser perfeitamente universais, sem abandonar o que somos na essência: humanos, eternos sonhadores.
Orlando Júnior ( vestibular UNEB 2013)