Suicídio
Texto I
O número de estudos científicos sobre
o suicídio nas ciências humanas, na estatística, na bioética e na neurociência
cresceu de modo considerável. Nos tempos modernos, sob o olhar das ciências, o
julgamento moral e as penalidades legais e religiosas em torno do ato suicida
deram lugar à constatação de um problema científico. (Botega, Neury José. Crise
suicida (Locais do Kindle 6396-6398). Edição do Kindle.)
Texto
II
Texto
III
Enquanto o suicídio segue sendo um
assunto sobre o qual se fala pouco, o número de pessoas que tiram a própria
vida avança silenciosamente. No Brasil, o índice perde apenas para homicídios e
acidentes de trânsito entre as mortes por fatores externos (o que exclui
doenças). Em todo o mundo, entre os jovens, a morte por suicídio já é mais
frequente que por HIV. Entre idosos, assim como entre pessoas de meia-idade, os
índices também avançam.
Falar de suicídio, na maioria das
vezes, é falar de depressão. Falar de depressão, no entanto, não
necessariamente é falar de suicídio. (http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/suicidio-e-preciso-falar-sobre-esse-problema.ghtml)
Considerando a leitura
dos textos e suas reflexões a respeito da questão como um problema de saúde
pública, escreva um texto dissertativo-argumentativo sobre o desafio do
profissional médico lidar com o suicídio em sua prática médica, considerando as
situações de atendimento e os desafios dos grupos sociais que estão em
vulnerabilidade para a questão.
Redação
modelo 1
13 razões
No perpassar da história, a temática do suicídio sempre
esteve atrelada à vida humana. De um lado, a difícil tarefa de viver com as
adversidades que compõem a existência e, do outro, o guardador da vida,
desafiado pelos números cada vez maiores de pessoas que, em suas crises
existenciais, não conseguem superar os obstáculos, precisa de uma formação para
lidar com a vulnerabilidade para o suicídio.
Pecado mortal na Idade Média, heroísmo para Sansão,
grandeza de espírito para os filósofos como Sócrates que preferiram a morte a
render-se, o ato de tirar a vida sempre esteve presente na história da
humanidade. Na esteira desse processo, estão discussões como liberdade,
envelhecimento e amores permeando a linha tênue entre a morte e a vida. Assim,
eternizada pela literatura como Romeu e Julieta ou, na contemporaneidade com as
polêmicas fitas de Hanna na busca de explicar o “ porquê? ”, a questão do
suicídio envolve-se em ambivalência e é objeto dos humanos seres com o poder da
escolha entre vida e morte.
Para além do motivo está o papel do médico que lida hoje
com um problema tão crescente que se transformou em questão de saúde pública.
Segundo estimativas da ONU foram 800 mil mortes em 2015, um número que equivale
a um suicídio em algum lugar do planeta a cada 45 segundos. Por isso, essa
problemática deve ser abordada com seriedade e indica um alerta para os
fenômenos psicossociais complexos da sociedade líquida pós-moderna que vem
dizimando jovens e adultos e desafiando o médico a voltar sua prática para
aspectos que o estetoscópio não é capaz de mensurar.
Edwin Shneidman, pai da suicidologia, defende que a
vitória sobre o suicídio decorre do atendimento das necessidades psicológicas
do indivíduo, do amparo social e fuga da situação que gera no individuo o
desejo de ceifar sua vida. Partindo dessa verdade é preciso conscientização da
população associada à divulgação responsável da mídia e programação nas escolas
para o debate da questão. Os herdeiros de Hipócrates precisam atuar construindo
redes de proteção psicológicas e sociais para os seus pacientes em associação
com uma prescrição ponderada de psicofármacos e psicoterapia. Somente assim, as
razões serão equacionadas como obstáculos e não como motivos para o fim da
equação do viver.
Redação
modelo 2
Sobre pedras e cicatrizes
A temática do
suicídio possui natureza dilemática, complexa e multidimensional. Nesse
sentido, a construção de uma percepção sobre a questão exige permeabilidade do
profissional de saúde para garantir um contato empático a fim de assegurar uma
genuína aliança terapêutica. Além disso, o fortalecimento de fatores de
proteção que se encontram enfraquecidos ou ausentes é uma valiosa ação dos
cuidadores da vida.
Poucos
profissionais de saúde são capazes de amparar pacientes mergulhados em crise
suicida pela exigência da combinação de conhecimento com intuição, experiência
clínica com a serenidade da escuta e prontidão para agir aliado à proteção ao
paciente. Dentre os desafios clínicos está o caso dos adolescentes – grupo
social propenso ao imediatismo e impulsividade e que não possui maturidade
emocional para lidar com estresses agudos. Portanto, para além de algo abstrato
e desconfortante é preciso entender a questão como propôs Shakespeare em
Hamlet: como dilema humano.
Em 1610 John
Donne escreveu Biathanatos, primeiro livro inglês abordando a temática do suicídio.
Nele e em muitas obras posteriores como a de Freud e Durkheim, o suicídio
aparece como uma dimensão social. Essa visão precisa permear a prática do
profissional que deve lidar com a questão através de uma conversa clara com o
paciente e seus familiares ao mesmo tempo em que busca tecer um ambiente de
compreensão e apoio para o ser assistido. Assim, esse encontro terapêutico deve
ser entendido como linha para a vida.
O suicídio é como
uma pedra posta no caminho da vida. Ela bloqueia a capacidade de pensar e faz o
indivíduo parar na estrada da existência. Cabe ao médico ajudar esse ser a
enxergar a pedra para ser capaz de carregá-la ou tomar distância e mapear o
terreno em busca de atalhos. Isso se dará através de um atendimento
fundamentado num olhar holístico com o sentido de acolher o paciente mantendo-o
em segurança e garantindo que a prescrição de psicofármacos e psicoterapia
aconteçam em consonância com o fortalecimento das proteções sociais dos
pacientes em vulnerabilidade. Assim, o
caminhante poderá dar mais passos e as razões para a morte transformar-se-ão em
cicatrizes da vida. (Equipe Eu Quero Passar)
Admirável Mundo
Novo
De Sócrates a Robin Williams, o suicídio é uma
prática recorrente na história da humanidade, possuindo natureza dilemática,
complexa e multidimensional. No despertar do século XXI, surge a necessidade de
se revisar o papel do médico frente a esse fenômeno. De um lado, a formação
clínica voltada à auto exigência do curar, aliada aos estigmas relacionados ao
suicida, dificulta um diagnóstico preciso. Do outro, a abordagem centralizada
exclusivamente na medicação impede a formação de uma genuína aliança
terapêutica.
“Quem quer se matar, se mata mesmo”. Essa máxima social compartilhada, associada a
ideia de que o médico é um salvador de vidas, desprepara o profissional para
enfrentar a prática do suicídio e o conduz ao imobilismo terapêutico. Nesse
sentido, segundo Dráuzio Varella, é preciso que o clínico abandone a
autoexigência do curar e seus preconceitos, de modo a se colocar integralmente
à disposição do paciente suicida em potencial, construindo com este uma
parceria. Assim, o operador de saúde é uma peça fundamental na construção de
uma rede de suporte para superação da crise.
De acordo com
dados da Organização Mundial da Saúde, somente no Brasil, a cada 100 casos de
suicídio, 75 são reincidentes. Esse índice exacerbado se dá, sobretudo, devido
ao olhar médico restrito a prescrição de psicofármacos. Nessa seara, um estudo
realizado pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) identificou que em
quase 90% dos atendimentos de casos envolvendo indivíduos que atentaram contra
a própria vida, a primeira e às vezes única intervenção foi a medicamentosa.
Desse modo, o controle do episódio torna-se apenas momentâneo e tende a se
repetir.
Na distopia “Admirável Mundo Novo”, Aldous
Huxley introduz o leitor a uma sociedade cujas emoções são controladas através
de drogas. Em sentido contrário a obra, a atuação do médico na questão do
suicídio deve ser holística, pautada no acolhimento, controle da situação,
orientação da família, internamento e apenas um último caso a prescrição de
psicofármacos. Apenas assim, o profissional de saúde poderá construir uma
aliança terapêutica eficaz e duradouro. Para que ele chegue a esse discernimento
faz-se preciso uma formação pautada em princípios humanísticos e com projetos
educacionais que coloque o vocacionado diante de realidades capazes de produzir
uma formação cujo pilar seja o homem em suas dimensões. (Rafael Calheira)
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