quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Prof. Mara Rute faz sugestões de questões discursivas da Novela A Senhorita Simpson da UESC


Esta é uma história do gênero "meu tipo inesquecível” como aquelas publicados na Seleções do Reader's Digest. O meu tipo inesquecível é a Senhorita Simpson.

Esta é também, num certo sentido, uma história do meu pai. Meu pai e Miss Simpson nunca chegaram a se conhecer, embora um dia ela houvesse passado as mãos nos cabelos dele, algo compulsivamente mas com doçura, correspondendo a um certo estilo.

02.  Depois da leitura do texto que tipo de relação se pode estabelecer entre Miss Simpson e o  pai de Pedro Paulo?

Tanto a professora quando o pai de Pedro são marcados na narrativa por encontros casuais sem envolvimentos emocionais. O pai abandona sua mãe e envolve-se com mulheres mais novas e aconselha o filho dizendo que esse não deveria ser sentimental demais.  O próprio Pedro considera que há entre os dois um fosso de gerações – o pai é muito mais evoluído do que ele, está na quarta mulher. Também Miss Simpson dá, ao longo da história e dos seus múltiplos envolvimentos com alunos, mostra de que separa  prazer e sentimento. Faz isso com o próprio Pedro que se decepciona ao perceber que a prof.  havia se envolvido sexualmente com ele em um dia, mas estava interessada em seu outro colega em dia posteriores.







Se eu tivesse telefone, teria telefonado para minha mulher, pois talvez a gente pudesse repensar algumas coisas em meu apartamento, sem os meninos para atrapalhar, eu estava até estudando inglês em busca de uma posição melhor. No principinho da separação, é verdade, eu pensara numa academia de ginástica como todo mundo, mas recuperar a forma a essa altura da vida, com vinte e nove anos, ia ser muito difícil. Fora isso, num curso de inglês eu poderia fazer relações como Mr. Jones e minha mulher. Quem poderia imaginar que eu ia cair numa turma assim? E depois que a gente se enturma fica difícil mudar.

  03. Comente sobre a voz do texto da novela e sobre que tipo de relação de pernona se pode observar no trecho acima.

O texto é produzido em primeira pessoa por um narrador onisciente que conta impressões de uma face de sua vida – a amorosa. O episódio acima retratado é do início da separação e da tentativa de Pedro para reatar com sua esposa, Antonieta. Também é uma revelação de sua postura passiva diante das situações revelada sobretudo pela partícula “se”.







As bebidas chegaram, interrompendo o Paiva. Ele esperou o garçom se afastar, tomou um gole de chope, outro de caipirinha e mais um de chope.

- Um neutraliza o outro - explicou. E depois acrescentou como que casualmente: - Comi Miss Simpson.

Fez-se um silêncio sepulcral. Finalmente o Santos o quebrou, talvez porque tivesse pressa:

- Não acredito.

- Se não quiser acreditar o problema é seu - disse o Paiva e tomou mais dois goles mistos.

O Gontijo resolveu ser mais objetivo, talvez tentando pegar o Paiva em contradição:

- Bom, comeu e daí? Gostou?

- Mais ou menos - disse o Paiva, depois de refletir um pouco. - Ela tem os peitos meio murchos. Mas o problema não é esse. O problema é que ela trepa dramaticamente, "darling" pra cá, "I love you" pra lá, fora os gritos e uma porção de palavrões que não entendi em inglês.

- E daí? Continuo a não ver problema - disse o Gontijo, apertando os lábios. Talvez ele estivesse com inveja, sei lá. O Gordo suava e notei que eu mesmo acendera um cigarro antes de terminar o anterior.

- E daí que ela pode encarnar - explicou o Paiva.

- E se ficar grávida, já pensaram? Pelo jeito, tinha muito tempo que ela estava a perigo e não deve ter tomado nenhuma precaução.

- Grávida na idade dela é perigoso - comentou o Santos.

- Não é ela, sou eu, será que vocês não entendem? - queixou-se o Paiva. - Eu sou casado.

Pessoalmente não gosto de cafajestadas e dei duro nele: - E por que você fez isso então?

- Ah, por quê? Está aí uma boa pergunta. Sei lá por quê. Na hora eu só fui consolá-la, vocês viram. Ela estava muito nervosa. Depois que vocês saíram, chorou em meu ombro. E ora porra, ela é uma mulher, quer motivo melhor?

O trecho acima não corresponde somente a uma cena inventada por Sérgio Sant’anna. Pelo contrário ela, segundo alguns estudiosos, revela o retrato da sexualidade de nosso tempo.

4. Com base na reflexão de Marx escreva um parágrafo reflexivo sobre essa sexualidade manifestada na obra e retrato do nosso tempo.

“ A forma como pensamos nossa vida nos é dada   por instrumentos que  nos  são fornecidos pela sociedade.”



As personagens propostas por Sérgio são pertencentes a um modelo social da pós-revolução sexual em que o prazer foi desvencilhado da procriação e as relações se tornaram mais superficiais e mais físicas. A trajetória de Pedro em encontrar relações descartáveis e sexo desvinculado do compromisso é também um retrato de um modelo que cada vez tem sido retratado em nossa sociedade volátil e extremamente descompromissada com o outro. Assim, Lucélia e Ana se envolvem apenas fisicamente. Paiva transa com Simpson, mas está preocupado com si mesmo e  Santos aceita a possibilidade  de ser o pai do filho de um encontro amoroso de sua esposa. Novos tempos, novos modelos interpessoais.







Texto I

O amor é uma coisa traiçoeira. Eu já estava de novo na minha cama, contente comigo mesmo por ter me saído bem daquela prova, quando, aos poucos, começou a se apossar de mim uma sensação boa e ruim, que só a língua portuguesa possui a palavra exata para nomear: saudade.

Fora uma transação tão natural, suave e delicada, que só então compreendi, em todas as suas nuances, a expressão "to make love".

"I like making love to you", disse Miss Simpson, no meio da conversa minimalista à qual nos limitávamos, por força das circunstâncias lingüísticas.

“ I like making love to you too' , dissera eu.

E, se eu me levantara uma hora depois, para chamar um rádio-táxi, fora por medo de que o encantamento se quebrasse no dia seguinte, na claridade.

Não houvera gritos nem obscenidades, e das duas uma: ou o Paiva mentira ou ela dera a um de nós dois um tratamento preferencial. E começou a se apossar de mim uma outra sensação, que a língua inglesa nomeia com uma palavra até bonita: jealousy .

"You are so different from the others", dissera também Miss Simpson.

Que outros? Não deveria haver nenhum outro se interpondo entre nós para que eu fosse diferente dele.

Se eu tivesse o telefone, teria ligado para Miss Simpson para que ela me assegurasse de que não havia nenhum outro e que o Paiva mentira. Eu não tinha o telefone e tomei dois valiuns. Como já havia tomado três doses de Jack Daniels na casa de Miss Simpson, houve o efeito contrário e passei a noite sem dormir.



Texto II

Ana fez que sim, com a cabeça. Foi minha vez de abraçá-Ia com força, depois a beijei e ela me correspondeu. Ao que parecia, a orfandade recente me concedia certos privilégios, como eu já percebera com a Antonieta. Eu me afastei um pouco para acariciar Ana e foi só aí que me dei conta, com satisfação, de que ela estava de vestido. Um vestido de cores graves, por causa das circunstâncias, mas leve e solto.

De repente, os olhos de Ana se fixaram, arregalados, em alguma coisa atrás de mim. Virei-me para ver o que era, e vi. O bilhete da Antonieta, em letras grandes, em cima da mesa: "Cuide-se". Ana devia conhecer bem aquela caligrafia. Seus olhos faiscaram de ciúmes. De quem, particularmente, era difícil dizer. O seu próximo beijo foi parecido com o abocanhar de uma fera.

- Ai! - gemi. - Assim me machuca.

Ana não teve pena e me unhou todo no peito (provavelmente para deixar ali as suas marcas) e foi me empurrando para a cama. Nos apartamentos do Chateau Duvalier os quartos de dormir e as salas praticamente se confundiam.

O Livro apresenta para o leitor uma transformação de Pedro. Desde que este entrou no curso de inglês passou por um processo de transformação sobre si e sua forma de relacionar-se com as mulheres.

 5. O texto I acima corresponde a que momento na vida de Pedro? Comente sobre essa mudança utilizando elementos do texto.



Pedro envolve-se no trecho acima com Miss Simpson e diferente dos outros colegas não consegue desvincular o prazer físico do sentimento. Dá mostras nisso no texto ao propor um sentimento de saudade que sente chegando mesmo a sugerir, logo nas primeiras linhas que o amor é uma coisa traiçoeira. Também imagina que a relação entre ele e Simpson é diferente das que ela vinha tendo. Imagina que nada se interpõe entre os dois.



Pelos meus cálculos, seria durante a viagem de trem de Porto Suarez para Santa Cruz de La Sierra que eu completaria trinta anos. Este trem é internacionalmente conhecido como O trem da morte, num tipo de humor poético e macabro. Para mim, no entanto, esta morte tinha ao mesmo tempo um sentido simbólico e literal. Pois, aos trinta anos, eu es¬taria deixando para trás uma vida.

Antes de pegar minha mochila, no Chateau, eu passara numa farmácia, onde furara uma das orelhas, para colocar nela um brinco dourado. Ao trinta anos, eu estaria deixando para trás não a minha juventude, mas a minha velhice.

6. Explique o sentido do último parágrafo do texto considerando toda a leitura do Senhorita Simpson.



A sugestão do autor de aos 30 anos estar ficando jovem é uma metáfora de adequação a uma nova forma de vida. Ao  rejeitar o convite da esposa em voltar para casa  o narrador sugere que amadureceu. E, para isso, teve a contribuição significativa de Miss Simpson ao ser iniciadora do processo das relações sem sentimentos que acontecerá com  Ana e Mara Regina.



Texto I

Desisti. Havia entre eu e meu pai um fosso de gerações.

Servi-me de mais uma dose, cowboy mesmo, para disfarçar a minha mágoa e perguntei por educação ou falta de assunto:

- E o seu romance, como vai?

- Está tudo aqui, ele informou, apontando para a própria cabeça. Meu pai era um excelente advogado cível e só estava esperando se aposentar para escrever um romance autobiográfico. Diziam dele, lá no Tribunal, que nas ações de divórcio em que representava as mulheres, sempre ficava com os despojos. Sua atual mulher devia ser um desses despojos.

- Bom, papai, foi só uma passadinha. Amanhã eu tenho de trabalhar.

Texto II

Escrevo tudo isso por meu pai, tempos depois, procurando assimilar algo do que seria a sua linguagem. Eu naquele momento reconciliava-me com ele, o compreendia, retomava a sua obra, destroçava todos os vestígios da armadura com a qual, apesar dele, minha mãe me revestira.

7. Estabeleça diferenças entre o pai e o filho



Pedro era diferente do pai no processo de relacionamento na primeira parte do livro - Não se envolvia casualmente. Vai entender melhor o pais quando passa por uma modificação de concepção pós  Mis Simpson.


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