Esta é
uma história do gênero "meu tipo inesquecível” como aquelas publicados na
Seleções do Reader's Digest. O meu tipo inesquecível é a Senhorita Simpson.
Esta é
também, num certo sentido, uma história do meu pai. Meu pai e Miss Simpson
nunca chegaram a se conhecer, embora um dia ela houvesse passado as mãos nos
cabelos dele, algo compulsivamente mas com doçura, correspondendo a um certo
estilo.
02.
Depois
da leitura do texto que tipo de relação se pode estabelecer entre Miss Simpson
e o pai de Pedro Paulo?
Tanto a professora quando o pai de Pedro são marcados na narrativa
por encontros casuais sem envolvimentos emocionais. O pai abandona sua mãe e
envolve-se com mulheres mais novas e aconselha o filho dizendo que esse não
deveria ser sentimental demais. O
próprio Pedro considera que há entre os dois um fosso de gerações – o pai é
muito mais evoluído do que ele, está na quarta mulher. Também Miss Simpson dá,
ao longo da história e dos seus múltiplos envolvimentos com alunos, mostra de
que separa prazer e sentimento. Faz isso
com o próprio Pedro que se decepciona ao perceber que a prof. havia se envolvido sexualmente com ele em um
dia, mas estava interessada em seu outro colega em dia posteriores.
Se eu
tivesse telefone, teria telefonado para minha mulher, pois talvez a gente
pudesse repensar algumas coisas em meu apartamento, sem os meninos para
atrapalhar, eu estava até estudando inglês em busca de uma posição melhor. No
principinho da separação, é verdade, eu pensara numa academia de ginástica como
todo mundo, mas recuperar a forma a essa altura da vida, com vinte e nove anos,
ia ser muito difícil. Fora isso, num curso de inglês eu poderia fazer relações
como Mr. Jones e minha mulher. Quem poderia imaginar que eu ia cair numa turma
assim? E depois que a gente se enturma fica difícil mudar.
03. Comente sobre a voz do texto da novela e sobre que tipo de relação
de pernona se pode observar no trecho acima.
O texto é
produzido em primeira pessoa por um narrador onisciente que conta impressões de
uma face de sua vida – a amorosa. O episódio acima retratado é do início da separação
e da tentativa de Pedro para reatar com sua esposa, Antonieta. Também é uma
revelação de sua postura passiva diante das situações revelada sobretudo pela partícula
“se”.
As bebidas chegaram,
interrompendo o Paiva. Ele esperou o garçom se afastar, tomou um gole de chope,
outro de caipirinha e mais um de chope.
- Um neutraliza o
outro - explicou. E depois acrescentou como que casualmente: - Comi Miss
Simpson.
Fez-se um silêncio
sepulcral. Finalmente o Santos o quebrou, talvez porque tivesse pressa:
- Não acredito.
- Se não quiser
acreditar o problema é seu - disse o Paiva e tomou mais dois goles mistos.
O Gontijo resolveu
ser mais objetivo, talvez tentando pegar o Paiva em contradição:
- Bom, comeu e daí?
Gostou?
- Mais ou menos -
disse o Paiva, depois de refletir um pouco. - Ela tem os peitos meio murchos.
Mas o problema não é esse. O problema é que ela trepa dramaticamente, "darling"
pra cá, "I love you" pra lá, fora os gritos e uma porção de palavrões
que não entendi em inglês.
- E daí? Continuo a
não ver problema - disse o Gontijo, apertando os lábios. Talvez ele estivesse
com inveja, sei lá. O Gordo suava e notei que eu mesmo acendera um cigarro
antes de terminar o anterior.
- E daí que ela pode
encarnar - explicou o Paiva.
- E se ficar
grávida, já pensaram? Pelo jeito, tinha muito tempo que ela estava a perigo e
não deve ter tomado nenhuma precaução.
- Grávida na idade dela
é perigoso - comentou o Santos.
- Não é ela, sou eu,
será que vocês não entendem? - queixou-se o Paiva. - Eu sou casado.
Pessoalmente não
gosto de cafajestadas e dei duro nele: - E por que você fez isso então?
- Ah, por quê? Está
aí uma boa pergunta. Sei lá por quê. Na hora eu só fui consolá-la, vocês viram.
Ela estava muito nervosa. Depois que vocês saíram, chorou em meu ombro. E ora
porra, ela é uma mulher, quer motivo melhor?
O trecho acima não corresponde somente a uma cena
inventada por Sérgio Sant’anna. Pelo contrário ela, segundo alguns estudiosos,
revela o retrato da sexualidade de nosso tempo.
4. Com base na reflexão de Marx escreva um parágrafo
reflexivo sobre essa sexualidade manifestada na obra e retrato do nosso tempo.
“ A forma como pensamos
nossa vida nos é dada por instrumentos
que nos
são fornecidos pela sociedade.”
As
personagens propostas por Sérgio são pertencentes a um modelo social da pós-revolução
sexual em que o prazer foi desvencilhado da procriação e as relações se
tornaram mais superficiais e mais físicas. A trajetória de Pedro em encontrar
relações descartáveis e sexo desvinculado do compromisso é também um retrato de
um modelo que cada vez tem sido retratado em nossa sociedade volátil e extremamente
descompromissada com o outro. Assim, Lucélia e Ana se envolvem apenas
fisicamente. Paiva transa com Simpson, mas está preocupado com si mesmo e Santos aceita a possibilidade de ser o pai do filho de um encontro amoroso
de sua esposa. Novos tempos, novos modelos interpessoais.
Texto
I
O amor é uma coisa traiçoeira. Eu já estava de novo na
minha cama, contente comigo mesmo por ter me saído bem daquela prova, quando,
aos poucos, começou a se apossar de mim uma sensação boa e ruim, que só a
língua portuguesa possui a palavra exata para nomear: saudade.
Fora uma transação tão natural, suave e delicada, que só
então compreendi, em todas as suas nuances, a expressão "to make
love".
"I like making love to you", disse Miss
Simpson, no meio da conversa minimalista à qual nos limitávamos, por força das
circunstâncias lingüísticas.
“ I like making
love to you too' , dissera eu.
E, se eu me levantara uma hora depois, para chamar um
rádio-táxi, fora por medo de que o encantamento se quebrasse no dia seguinte,
na claridade.
Não houvera gritos nem obscenidades, e das duas uma: ou o
Paiva mentira ou ela dera a um de nós dois um tratamento preferencial. E
começou a se apossar de mim uma outra sensação, que a língua inglesa nomeia com
uma palavra até bonita: jealousy .
"You are so
different from the others", dissera também Miss Simpson.
Que outros? Não deveria haver nenhum outro se interpondo
entre nós para que eu fosse diferente dele.
Se eu tivesse o telefone, teria ligado para Miss Simpson
para que ela me assegurasse de que não havia nenhum outro e que o Paiva
mentira. Eu não tinha o telefone e tomei dois valiuns. Como já havia tomado
três doses de Jack Daniels na casa de Miss Simpson, houve o efeito contrário e
passei a noite sem dormir.
Texto II
Ana fez
que sim, com a cabeça. Foi minha vez de abraçá-Ia com força, depois a beijei e
ela me correspondeu. Ao que parecia, a orfandade recente me concedia certos
privilégios, como eu já percebera com a Antonieta. Eu me afastei um pouco para
acariciar Ana e foi só aí que me dei conta, com satisfação, de que ela estava
de vestido. Um vestido de cores graves, por causa das circunstâncias, mas leve
e solto.
De
repente, os olhos de Ana se fixaram, arregalados, em alguma coisa atrás de mim.
Virei-me para ver o que era, e vi. O bilhete da Antonieta, em letras grandes,
em cima da mesa: "Cuide-se". Ana devia conhecer bem aquela caligrafia.
Seus olhos faiscaram de ciúmes. De quem, particularmente, era difícil dizer. O
seu próximo beijo foi parecido com o abocanhar de uma fera.
- Ai! -
gemi. - Assim me machuca.
Ana não
teve pena e me unhou todo no peito (provavelmente para deixar ali as suas
marcas) e foi me empurrando para a cama. Nos apartamentos do Chateau Duvalier
os quartos de dormir e as salas praticamente se confundiam.
O Livro apresenta para o leitor uma transformação de
Pedro. Desde que este entrou no curso de inglês passou por um processo de
transformação sobre si e sua forma de relacionar-se com as mulheres.
5. O texto I acima corresponde a que momento
na vida de Pedro? Comente sobre essa mudança utilizando elementos do texto.
Pedro
envolve-se no trecho acima com Miss Simpson e diferente dos outros colegas não
consegue desvincular o prazer físico do sentimento. Dá mostras nisso no texto
ao propor um sentimento de saudade que sente chegando mesmo a sugerir, logo nas
primeiras linhas que o amor é uma coisa traiçoeira. Também imagina que a
relação entre ele e Simpson é diferente das que ela vinha tendo. Imagina que
nada se interpõe entre os dois.
Pelos
meus cálculos, seria durante a viagem de trem de Porto Suarez para Santa Cruz
de La Sierra que eu completaria trinta anos. Este trem é internacionalmente
conhecido como O trem da morte, num tipo de humor poético e macabro. Para mim,
no entanto, esta morte tinha ao mesmo tempo um sentido simbólico e literal.
Pois, aos trinta anos, eu es¬taria deixando para trás uma vida.
Antes de
pegar minha mochila, no Chateau, eu passara numa farmácia, onde furara uma das
orelhas, para colocar nela um brinco dourado. Ao trinta anos, eu estaria
deixando para trás não a minha juventude, mas a minha velhice.
6. Explique o sentido do último parágrafo
do texto considerando toda a leitura do Senhorita Simpson.
A sugestão
do autor de aos 30 anos estar ficando jovem é uma metáfora de adequação a uma
nova forma de vida. Ao rejeitar o
convite da esposa em voltar para casa o
narrador sugere que amadureceu. E, para isso, teve a contribuição significativa
de Miss Simpson ao ser iniciadora do processo das relações sem sentimentos que
acontecerá com Ana e Mara Regina.
Texto I
Desisti. Havia entre eu e meu pai um fosso de gerações.
Servi-me de mais uma dose, cowboy mesmo, para disfarçar a minha mágoa e
perguntei por educação ou falta de assunto:
- E o seu romance, como vai?
- Está tudo aqui, ele informou, apontando para a própria cabeça. Meu pai
era um excelente advogado cível e só estava esperando se aposentar para
escrever um romance autobiográfico. Diziam dele, lá no Tribunal, que nas ações
de divórcio em que representava as mulheres, sempre ficava com os despojos. Sua
atual mulher devia ser um desses despojos.
- Bom, papai, foi só uma passadinha. Amanhã eu tenho de trabalhar.
Texto II
Escrevo tudo isso
por meu pai, tempos depois, procurando assimilar algo do que seria a sua
linguagem. Eu naquele momento reconciliava-me com ele, o compreendia, retomava
a sua obra, destroçava todos os vestígios da armadura com a qual, apesar dele,
minha mãe me revestira.
7. Estabeleça diferenças entre o
pai e o filho
Pedro era diferente do pai no
processo de relacionamento na primeira parte do livro - Não se envolvia
casualmente. Vai entender melhor o pais quando passa por uma modificação de
concepção pós Mis Simpson.
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