terça-feira, 25 de junho de 2013

Tema Redação Bahiana 2013 - SAÚDE MENTAL DOS MÉDICOS - RESPEITO AOS LIMITES‏ - Gabriel Gomes

Limiar

              A linha tênue entre o equilíbrio e a sandice é um desafio no exercício da Medicina. Se por um lado a possibilidade de salvar vidas atribui ao médico características dignas a um herói, por outro, o constante desgaste emocional frente à natureza estressante da profissão faz dele uma suscetível vítima da própria virtude. Nesse contexto, ressalta-se a necessidade de um alerta para a saúde psíquica dos médicos, tendo em vista que a lucidez é imprescindível na dinâmica dessa profissão.
                De fato, a medicina é uma arte sublime. No entanto, este profissional, é apenas um homem comum que saiu da própria caverna em busca do entendimento acerca do corpo humano. Nessa perspectiva, a Medicina descrita por Hipócrates continua a ser iluminada pela fusão entre razão e emoção. Essas luzes do conhecimento, no entanto, tornam-se instrumentos de risco, ao passo que potencializam a obsessão pelo saber inerente ao Homem. Nesse sentido, médicos como Mengele, considerado louco por muitos estudiosos por cometer atrocidades para fins científicos, são exemplos de que a compulsão pela ciência médica pura, em detrimento da prática humanística, manifesta-se como sinônimo de insanidade.
               Em contrapartida, os riscos psíquicos também estão presentes na excessiva dedicação à profissão. Recentemente, uma pesquisa do Departamento de Ciências Médicas da Universidade de São Paulo constatou que cerca de cinquenta por cento dos médicos brasileiros apresentam vulnerabilidades à doenças psíquicas. Dentre eles, mais da metade utilizam álcool ou outras drogas a fim de potencializar o corpo para as longas jornadas de trabalho e estudo, subjugando a máxima latina “mens sana in corpore sano”. Assim, tornam-se algozes da própria existência e põem em xeque a capacidade de exercer o sacerdócio da cura.

            Desse modo, Medicina é um paradoxo entre a totalidade do ser e as limitações humanas. Portanto, a prática médica deve aliar-se à sanidade daquele que a exerce. Tendo em vista que todo excesso racional ou emotivo, torna-se prejudicial à sua plenitude. Afinal, até a virtude necessita de limites.

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