Empatia
como conduta padrão
Se a medicina fosse comparada ao corpo humano, a
tecnologia seria seu membro inferior – parte imprescindível para sua caminhada
– que tem como um dos objetivos a extensão da vida, e como único destino a tão
temida morte. Essa última é uma constante no dia a dia do acadêmico de
medicina, que por não saber lidar com os sentimentos desencadeados por ela,
deixa de exercer uma medicina humanizada. Com relação a isso, importa analisar
as causas dessa situação e os benefícios proporcionados por uma mudança de
perspectiva, afinal morte faz parte do ciclo da vida.
Os estudantes da área médica ao iniciarem o cuidado da
vida, se vêem expostos a situações muito dolorosas, como a pobreza e a morte.
Essas circunstâncias afetam o psicológico de todos os papéis envolvidos,
principalmente, o desses acadêmicos, visto que na rotina dos mesmos essa
realidade é mais frequente, fazendo com que eles “criem” interiormente um
distanciamento afetivo como mecanismo de defesa. Tal realidade, em conjunto com
a tecnificação da prática médica, aproximou a medicina da doença e afastou do
doente, prejudicando a imagem destes na sociedade, já que esses sucessivos
distanciamentos provocam um outro distanciamento na relação médico-paciente que
deve ser estabelecida.
Essa situação, no entanto, poderia ser modificada se
esses universitários fossem instruídos não a fugir dos sentimentos
desencadeados pela morte, mas a aprender a lidar com eles desde o início de
suas formações. A mudança seria extremamente benéfica tanto para os indivíduos
quanto para o enfermo. Basta perceber que o ilusório sentimento de impotência
despertado no íntimo desses estudantes que faz com que eles se tornem
indiferentes aos seus pacientes e se distanciem de casos críticos por medo do
óbito, deixariam de existir, e dariam lugar para a formação de um médico
holístico, capaz de ouvir, amparar e aliviar a dor, tornando a passagem mais
leve, o que resgataria a imagem do médico amigo perdida no decurso do tempo.
Tem-se, portanto, a percepção de que as escolas médicas
devem criar programas nas universidades que façam com que o óbito seja encarado
não como fim da vida, mas como parte dela, fazendo da empatia a conduta padrão.
Dessa forma, esse sentimento poderá invadir e preencher o interior do “corpo”
médico, promovendo o cuidado e o amor ao próximo até o último suspiro daqueles
que precisam.
Um dia
que vale a pena
Do caminhar para a
morte à um caminho em prol da longevidade, na contemporaneidade discute-se a
inter-relação entre a morte e a medicina. Nesse contexto os médicos do amanhã
em suas formações não são instruídos a encarar um estágio tão natural quanto a
vida: a morte.
Enfrentar a morte de um paciente é algo frequente na
futura profissão de um estudante de medicina. Com isso, saber encará-la e ver
como parte da vida é fundamental para não tornar tal evento uma frustração.
Nesse sentido, um aprendiz deve estar ciente que é em vão, frustar-se com uma
doença incurável, tendo em vista que o propósito da medicina é cuidar de
pessoas e não de doenças isoladamente. E, que na vida só se morre uma vez, esse
momento único requer todo o cuidado e atenção de um profissional capacitado.
Por outro viés, todo homem é sabedor da sua finitude.
Contudo, não se nega o fato de que a morte é simétrica à tristeza e que além de
cuidar do enfermo, deve-se haver um cuidado com o sofrimento. Para isso, as
unidades de ensino precisam se preocupar em fazer com que a condução da
situação seja a mais humana e sensata possível, em função dos envolvidos. É
preciso construir nos seguidores de Hipócrates uma visão eclesiástica onde há
tempo para tudo, inclusive para morrer.
É preciso, portanto, a construção de grades acadêmicas
que ultrapassem dados epidemiológicos e se resumam no tecnicismo e em um modelo
fadado de formação. Para além disso, o estudante deve atingir o lado mais
humano e sensível do profissional. Afinal,
a morte é um dia que vale a pena viver.
Redações produzidas pelos alunos do Curso de Redação da prof. Mara Rute
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