sexta-feira, 8 de maio de 2015

Tema de redação Bahiana 2015.1 - Redação Modelo Acadêmico de Medicina Frente à morte

Empatia como conduta padrão
            Se a medicina fosse comparada ao corpo humano, a tecnologia seria seu membro inferior – parte imprescindível para sua caminhada – que tem como um dos objetivos a extensão da vida, e como único destino a tão temida morte. Essa última é uma constante no dia a dia do acadêmico de medicina, que por não saber lidar com os sentimentos desencadeados por ela, deixa de exercer uma medicina humanizada. Com relação a isso, importa analisar as causas dessa situação e os benefícios proporcionados por uma mudança de perspectiva, afinal morte faz parte do ciclo da vida.
            Os estudantes da área médica ao iniciarem o cuidado da vida, se vêem expostos a situações muito dolorosas, como a pobreza e a morte. Essas circunstâncias afetam o psicológico de todos os papéis envolvidos, principalmente, o desses acadêmicos, visto que na rotina dos mesmos essa realidade é mais frequente, fazendo com que eles “criem” interiormente um distanciamento afetivo como mecanismo de defesa. Tal realidade, em conjunto com a tecnificação da prática médica, aproximou a medicina da doença e afastou do doente, prejudicando a imagem destes na sociedade, já que esses sucessivos distanciamentos provocam um outro distanciamento na relação médico-paciente que deve ser estabelecida.
            Essa situação, no entanto, poderia ser modificada se esses universitários fossem instruídos não a fugir dos sentimentos desencadeados pela morte, mas a aprender a lidar com eles desde o início de suas formações. A mudança seria extremamente benéfica tanto para os indivíduos quanto para o enfermo. Basta perceber que o ilusório sentimento de impotência despertado no íntimo desses estudantes que faz com que eles se tornem indiferentes aos seus pacientes e se distanciem de casos críticos por medo do óbito, deixariam de existir, e dariam lugar para a formação de um médico holístico, capaz de ouvir, amparar e aliviar a dor, tornando a passagem mais leve, o que resgataria a imagem do médico amigo perdida no decurso do tempo.

            Tem-se, portanto, a percepção de que as escolas médicas devem criar programas nas universidades que façam com que o óbito seja encarado não como fim da vida, mas como parte dela, fazendo da empatia a conduta padrão. Dessa forma, esse sentimento poderá invadir e preencher o interior do “corpo” médico, promovendo o cuidado e o amor ao próximo até o último suspiro daqueles que precisam.

Um dia que vale a pena
             Do caminhar para a morte à um caminho em prol da longevidade, na contemporaneidade discute-se a inter-relação entre a morte e a medicina. Nesse contexto os médicos do amanhã em suas formações não são instruídos a encarar um estágio tão natural quanto a vida: a morte.
            Enfrentar a morte de um paciente é algo frequente na futura profissão de um estudante de medicina. Com isso, saber encará-la e ver como parte da vida é fundamental para não tornar tal evento uma frustração. Nesse sentido, um aprendiz deve estar ciente que é em vão, frustar-se com uma doença incurável, tendo em vista que o propósito da medicina é cuidar de pessoas e não de doenças isoladamente. E, que na vida só se morre uma vez, esse momento único requer todo o cuidado e atenção de um profissional capacitado.
            Por outro viés, todo homem é sabedor da sua finitude. Contudo, não se nega o fato de que a morte é simétrica à tristeza e que além de cuidar do enfermo, deve-se haver um cuidado com o sofrimento. Para isso, as unidades de ensino precisam se preocupar em fazer com que a condução da situação seja a mais humana e sensata possível, em função dos envolvidos. É preciso construir nos seguidores de Hipócrates uma visão eclesiástica onde há tempo para tudo, inclusive para morrer.
            É preciso, portanto, a construção de grades acadêmicas que ultrapassem dados epidemiológicos e se resumam no tecnicismo e em um modelo fadado de formação. Para além disso, o estudante deve atingir o lado mais humano e sensível do profissional.  Afinal, a morte é um dia que vale a pena viver.

Redações produzidas pelos alunos do Curso de Redação da prof. Mara Rute 

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