domingo, 14 de outubro de 2018

4 pilares da Educação da UNESCO - Tema de Redação Enem


Redação Modelo

Na trilha da evolução

             Sempre prontos. Tal máxima não se aplica bem em um mundo supra competitivo que firma a renovação do saber como ferramenta para alcance do sucesso. Seguindo esse viés, percebe-se que o ethos de aprender faz parte do curso histórico da humanidade. Porém, a sociedade pós-moderna abandona o valor subjetivo da aprendizagem ao instituir uma busca pelo conhecimento guiada, fundamentalmente, por interesses profissionais e individuais.
           Desde a compreensão da dinâmica da natureza adquirida pelos povos nômades ao exercício de governar nações sob valores éticos e morais, que a aprendizagem se transformou em mola propulsora das estruturas sócio-políticas capaz de projetar a sobrevivência e evolução do homem. Para tanto, o sociólogo Bauman aponta que o homem vive hoje em um mundo repleto de incertezas, no qual as crises são diárias e as guerras são imprevisíveis, nessa perspectiva, ter a capacidade de conhecer e interpretar torna-se uma peça chave para a construção de novos saberes e melhoria da vida humana. Assim, cabe a máxima de que o saber liberta, e aprender efetivamente é o caminho pelo qual o homem deve seguir.
           Indo adiante nessa reflexão, percebe-se que os homens do século XXI associam o aprender, essencialmente, à sua formação intelectual e profissional. Em contrapartida à verdade grega, as escolas pós-modernas abandonam gradativamente a função de espaços destinados à formação humanista dos cidadãos. Contraditoriamente à realidade contemporânea, os centros do saber da Antiguidade objetivavam que alunos estivessem preparados para a vida.  A Unesco, sobre isso, realizou uma pesquisa entre jovens que entendem a corrida para a universidade não mais atrelada à busca pelo conhecimento, mas ao prestígio e ascensão social. Dessa forma, firmamo-nos como uma sociedade que assiste a falência do valor subjetivo das práticas do aprender e ensinar, visto que, cobramos que as teorias ensinadas se desmembrem em futuros ganhos materiais e pecuniários.
          Para Eduardo Galeano, a memória não perde o que merece ser salvo. Dessa forma, devemos recordar que o ethos de aprender fez-se presente nos momentos mais decisivos para o destino da humanidade e esse deve prosseguir como guia das nossas ações através do estímulo propulsionado pelo Estado, dado o seu caráter abarcativo, e do apoio da sociedade civil a uma educação que promova a aprendizagem destinada a formação de cidadãos com senso crítico, social e moral. Só assim o saber será a ponte sobre os abismos da ignorância.
Os quatro Pilares da Educação – UNESCO
Nota explicativa
Os quatro pilares da Educação são conceitos de fundamento da educação baseados no Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional Sobre Educação para o Século XXI , coordenada por Jacques Delors.
No relatório editado sob a forma do livro: “Educação: Um Tesouro a Descobrir” de 1999 e reeditado pela Editora Cortez (tendo parte da 7ª edição, de 2012, como base para este fichamento), a discussão dos “quatro pilares” ocupa todo o quarto capítulo, onde se propõe uma educação direcionada para os quatro tipos fundamentais de educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros, aprender a ser, eleitos como os quatro pilares fundamentais da educação.

Um dos maiores desafios para a educação será a transmissão, de forma maciça e eficaz, da informação e da comunicação adaptadas à civilização cognitiva (pois estas são as bases das competências do futuro). Simultaneamente, compete ao ensino encontrar e ressaltar as referências que impeçam as pessoas de ficarem ilhadas pelo número de informações, mais ou menos efêmeras, que invadem os espaços públicos e privados. Assim como, orientar os educandos para projetos de desenvolvimento individuais e coletivos.
Para dar resposta ao conjunto das suas missões, a educação deve organizar-se  em torno de quatro aprendizagens fundamentais, que ao longo da vida humana, serão pilares do conhecimento: aprender a conhecer (adquirir instrumentos de da compreensão), aprender a fazer (para poder agir sobre o meio envolvente, aprender a viver juntos (cooperação com os outros em todas as atividades humana), e finalmente aprender a ser (conceito principal que integra todos os anteriores).  Estas quatro vias do saber, na verdade, constituem apenas uma, dado que existem pontos de interligação entre elas.
Geralmente, o ensino se apoia apenas em um dos pilares: aprender a conhecer, e em menor escala, no aprender a fazer. Os outros dois pilares ou são negligenciados, ou são subentendidos como prolongamentos naturais dos dois primeiros. A Delors (2012) entende ensino estruturado a fim de que a educação surja como uma experiência global a ser concretizada ao longo de toda a vida, tanto no plano cognitivo quanto no prático (pg 74).

1- Aprender a conhecer
Esta aprendizagem deve ser encarada como um meio e uma finalidade da vida humana (já que a educação deve ser pensada e planejada para ocorrer em todas as fases da vida). Simultaneamente ela visa não tanto à aquisição de um repertório de saberes codificados, mas antes, o domínios dos próprios instrumentos do conhecimento. É um meio, porque pretende que cada um aprenda a compreender o mundo que o cerca, pelo menos na medida em que isso lhe é necessário para viver dignamente. Finalidade, porque seu fundamento é o prazer de compreender, de conhecer, de descobrir.
A tendência para prolongar a escolaridade e o tempo livre deveria levar os adultos a apreciar, cada vez mais, as alegrias do conhecimento e da pesquisa individual. O aumento dos saberes, que permitem compreender melhor o ambiente sob os seus diversos aspectos, favorece o despertar da curiosidade intelectual, estimula o sentido crítico e permite compreender o real, mediante a aquisição de autonomia a capacidade de discernir.
(DELORS, Jacques 2012 pg 74)
Como o conhecimento humano é múltiplo evolui infinitamente, torna-se cada vez mais inútil tentar conhecer tudo. No entanto, a especialização (até para os futuros pesquisadores) não deve excluir a cultura geral. Esta cultural geral é entendida como uma abertura para outras linguagens e a outros conhecimentos. Fechado em sua própria ciência, o especialista corre o risco de se desinteressar pelo que fazem os outros. A formação cultural implica na abertura a outros campos de conhecimento e, assim, pode operar fecundas sinergias entre as disciplinas.
Aprender para conhecer pressupõe, antes de tudo, aprender a aprender, exercitando a atenção, a memória e o pensamento. O exercício da memória é um antídoto necessário contra a submersão pelas informações instantâneas difundidas pelos meios de comunicação social, já que, somos sobrecarregados de conhecimentos superficial e de consumo imediato. Também, se devem combinar, tanto no ensino como na pesquisa, dois métodos muitas vezes apresentados como antagônicos: o dedutivo e o indutivo. Dependendo da disciplina ensinada, um método terá mais destaque do que o outro, no entanto, o encadeamento de ambos se faz necessário.

2- Aprender a fazer
Aprender a conhecer e aprender a fazer estão, em larga medida, indissociáveis. No entanto, a segunda aprendizagem está mais estreitamente ligada à questão da formação profissional.
Nas sociedades assalariadas que se desenvolvem a partir do modelo industrial ao longo do século XX, a substituição do trabalho humano pelas máquinas tornou cada vez mais imaterial e acentuou o caráter cognitivo das tarefas. Aprender a fazer não deve limitar o ensino apenas a uma tarefa material bem definida.

Da noção de qualificação à noção de competência
O progresso técnico modifica, inevitavelmente, as qualificações exigidas pelos novos processos de produção. As tarefas puramente físicas são substituídas por tarefas de produção mais intelectuais ou mentais, como o comando de máquinas, a sua manutenção e sua vigilância, ou por tarefas de concepção, de estudo e de organização, à medida que as máquinas também se tornam mais “inteligentes”, e que o trabalho se “desmaterializa” (pg 76). Qualidades como a capacidade de comunicar, de trabalhar com os outros, de gerenciar e de resolver conflitos, tornam-se cada vez mais importantes. E essa tendência torna-se mais forte devido ao desenvolvimento do setor de serviços.

A “desmaterialização” do trabalho e a importância dos serviços entre as atividades assalariadas
A “desmaterialização” da aprendizagem aumenta economia voltada para o setor de serviços. Esse setor altamente diversificado define-se, sobretudo, pela negativa: seus membros não são nem industriais nem produtores agrícolas e, apesar da sua diversidade, têm em comum o fato de não produzirem bens materiais. Muitos serviços definem-se principalmente em função das relações interpessoais a que dão origem. O desenvolvimento do setor terciário exige, pois, cultivar qualidades humanas que as informações tradicionais não transmitem, necessariamente, e que correspondem à capacidade de estabelecer relações estáveis e eficazes entre as pessoas(pg 77).  Agora, as relações interpessoais mostram-se cada vez mais importantes para a solidificação de uma educação que traga a criticidade ao educando.

3- Aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros
Esta aprendizagem, sem dúvida, representa um dos maiores desafios da atualidade. O mundo atual está repleto de violência, em oposição à esperança que alguns têm no progresso da humanidade.  Sobre isto, Delors (2012) nos orienta:
É de se louvar a ideia de ensinar a não violência na escola, mesmo que apenas constitua um instrumento, entre outros, para se combater os preconceitos geradores de conflitos.  A tarefa é árdua porque, naturalmente, os seres humanos têm a tendência de supervalorizar as suas qualidades e as do grupo a que pertencem, e a alimentar preconceitos em relação aos outros. Por outro lado, o clima geral de concorrência que atualmente caracteriza a atividade econômica no interior de cada país e, sobretudo no nível internacional, tende a dar prioridade as espirito de composição e ao sucesso individual. De fato, essa competição resulta, na atualidade, em uma guerra econômica implacável e em uma tensão entre os mais e os menos favorecidos, que divide os países do mundo e exacerba as rivalidades históricas. É de se lamentar que a educação contribua, por vezes, para alimentar esse clima, devido a uma má interpretação da ideia de emulação.
(DELORS, Jacques 2012 pg 79)
A educação deve utilizar duas vias complementares. Primeiramente a descoberta progressiva do outro. Num segundo nível, e ao longo de toda a vida, a participação em projetos comuns, tendo este método o intuito de evitar ou resolver os conflitos latentes.
A descoberta do outro
A educação tem como missão transmitir conhecimentos sobre a diversidade da espécie humana, assim como, conscientizar as pessoas sobre as semelhanças e interdependências que existem entre todos os cidadãos do planeta.
Uma vez que a descoberta do outro passa, necessariamente, pela descoberta de si mesmo, e pelo fato de que deve dar à criança e ao adolescente uma visão ajustada do mundo, a educação, seja ela fornecida pela família, pela comunidade ou pela escola, deve, antes de mais nada, ajudá-los a descobrir-se a si mesmos.
(DELORS, Jacques 2012 pg 80)
A tática de ensinar aos jovens a adotar a perspectiva de outros grupos étnicos ou religiosos, pode evitar atritos que produzem o ódio entre adultos. Assim como, o ensino da historia das religiões ou dos costumes pode servir de referencia vantajosa para futuros comportamentos.
Tender para objetivos comuns
As diferenças e até mesmo os conflitos interindividuais tendem a reduzir-se quando os jovens trabalham conjuntamente em projetos motivadores (o desporto é um ótimo exemplo disso). Neste caso, estamos valorizando a coletividade em detrimento à individualidade. Outra alternativa bastante viável é a inserção de jovens em projetos de ajuda social.
4- Aprender a ser
A educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa – espirito, corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, reponsabilidade pessoal e espiritualidade. Todo o ser humano deve receber uma educação que lhe dê ferramentas para o despertar do pensamento crítico  e autônomo, assim como para formular seus juízos de valor e ser autônomo intelectualmente.
Mais do que nunca a educação parece ter como papel essencial, conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensamento, o discernimento, os sentimentos e a imaginação de que necessitam para desenvolver os seus talentos e permanecerem, tanto quanto possível, donos de seus próprios destinos (pg 81).
A diversidade de personalidades, a autonomia e o espirito de iniciativa, até mesmo o gozo pela provocação, são suportes da criatividade e da inovação.  O que poderia parecer apenas como uma forma de defesa do indivíduo perante a um sistema alienante ou considerado como hostil, é também por vezes a melhor oportunidade de progresso para as sociedades (pg 81).
Na escola, a arte e a poesia deveriam ocupar um lugar mais importante do que aquele lhes é concedido, em muitos países, por uma espécie de ensino tomado mais utilitarista do que cultural. Além disso, a preocupação em desenvolver a imaginação e a criatividade deveria também revalorizar a cultura oral e os conhecimentos retirados da experiência da criança e do adulto.
(…)
Esse desenvolvimento do ser humano, que se realiza desde o nascimento até a morte, é um processo dialético que começa pelo conhecimento de si mesmo para se abrir, em seguida, à relação com o outro. Nesse sentido, a educação é, antes de mais nada, uma viagem interior, cujas etapas correspondem à da maturação contínua da personalidade.
(DELORS, Jacques 2012 pg 82)

Pistas e recomendações
Abaixo, seguem na íntegra as pistas e recomendações indicadas por Delors (2012). Elas, basicamente, sintetizam o significado de cada pilar.
  • A educação ao longo de toda a vida baseia-se em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.
  • Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientemente vasta, com a possibilidade de trabalhar em profundidade um pequeno número de matérias. O que também significa: aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo de toda a vida.
  • Aprender a fazer, a fim de adquirir, não somente uma qualificação profissional, mas  de uma maneira mais ampla, competências que tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Mas também aprender a fazer, no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho que se oferecem aos jovens e adolescentes; quer espontaneamente, fruto do contexto local ou nacional; quer formalmente, graças ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho.
  • Aprender a viver juntos desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências — realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos — no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz.
  • Aprender a ser, para melhor desenvolver a sua personalidade e estar à altura de agir com cada vez maior capacidade de autonomia, de discernimento e de responsabilidade pessoal. Para isso, não negligenciar na educação nenhuma das potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar-se.
  • Numa altura em que os sistemas educativos formais tendem a privilegiar o acesso ao conhecimento, em detrimento de outras formas de aprendizagem, importa conceber a educação como um todo. Esta perspectiva deve, no futuro, inspirar e orientar as reformas educativas, tanto em nível da elaboração de programas como da definição de novas políticas pedagógicas.


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