Redação Modelo
Na trilha da evolução
Sempre prontos. Tal máxima não se
aplica bem em um mundo supra competitivo que firma a renovação do saber como
ferramenta para alcance do sucesso. Seguindo esse viés, percebe-se que o ethos
de aprender faz parte do curso histórico da humanidade. Porém, a sociedade
pós-moderna abandona o valor subjetivo da aprendizagem ao instituir uma busca
pelo conhecimento guiada, fundamentalmente, por interesses profissionais e
individuais.
Desde a compreensão da dinâmica da
natureza adquirida pelos povos nômades ao exercício de governar nações sob
valores éticos e morais, que a aprendizagem se transformou em mola propulsora
das estruturas sócio-políticas capaz de projetar a sobrevivência e evolução do
homem. Para tanto, o sociólogo Bauman aponta que o homem vive hoje em um mundo
repleto de incertezas, no qual as crises são diárias e as guerras são
imprevisíveis, nessa perspectiva, ter a capacidade de conhecer e interpretar
torna-se uma peça chave para a construção de novos saberes e melhoria da vida
humana. Assim, cabe a máxima de que o saber liberta, e aprender efetivamente é
o caminho pelo qual o homem deve seguir.
Indo adiante nessa reflexão,
percebe-se que os homens do século XXI associam o aprender, essencialmente, à
sua formação intelectual e profissional. Em contrapartida à verdade grega, as
escolas pós-modernas abandonam gradativamente a função de espaços destinados à
formação humanista dos cidadãos. Contraditoriamente à realidade contemporânea,
os centros do saber da Antiguidade objetivavam que alunos estivessem preparados
para a vida. A Unesco, sobre isso, realizou
uma pesquisa entre jovens que entendem a corrida para a universidade não mais
atrelada à busca pelo conhecimento, mas ao prestígio e ascensão social. Dessa
forma, firmamo-nos como uma sociedade que assiste
a falência do valor subjetivo das práticas do aprender e ensinar, visto que,
cobramos que as teorias ensinadas se desmembrem em futuros ganhos materiais e
pecuniários.
Para Eduardo
Galeano, a memória não perde o que merece ser salvo. Dessa
forma, devemos recordar que o ethos de aprender fez-se presente nos momentos
mais decisivos para o destino da humanidade e esse deve prosseguir como guia
das nossas ações através do estímulo propulsionado pelo Estado, dado o seu
caráter abarcativo, e do apoio da sociedade civil a uma educação que promova a
aprendizagem destinada a formação de cidadãos com senso crítico, social e
moral. Só assim o saber será a ponte sobre os abismos da ignorância.
Os quatro Pilares da Educação – UNESCO
Nota
explicativa
Os
quatro pilares da Educação são conceitos de fundamento da educação
baseados no Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional Sobre Educação
para o Século XXI , coordenada por Jacques Delors.
No relatório
editado sob a forma do livro: “Educação:
Um Tesouro a Descobrir” de 1999 e reeditado pela Editora Cortez (tendo parte da 7ª edição, de 2012,
como base para este fichamento), a discussão dos “quatro pilares” ocupa todo o
quarto capítulo, onde se propõe uma educação direcionada para os quatro tipos
fundamentais de educação: aprender
a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros, aprender a ser, eleitos como os
quatro pilares fundamentais da educação.
Um dos maiores desafios para a
educação será a transmissão, de forma maciça e eficaz, da informação e da
comunicação adaptadas à civilização cognitiva (pois estas são as bases das
competências do futuro). Simultaneamente, compete ao ensino encontrar e
ressaltar as referências que impeçam as pessoas de ficarem ilhadas pelo número
de informações, mais ou menos efêmeras, que invadem os espaços públicos e
privados. Assim como, orientar os educandos para projetos de desenvolvimento
individuais e coletivos.
Para dar resposta
ao conjunto das suas missões, a
educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais,
que ao longo da vida humana, serão pilares do conhecimento: aprender a conhecer (adquirir
instrumentos de da compreensão), aprender
a fazer (para poder agir sobre o meio envolvente, aprender
a viver juntos (cooperação com os outros em todas as atividades humana), e
finalmente aprender a ser (conceito
principal que integra todos os anteriores). Estas quatro vias do saber,
na verdade, constituem apenas uma, dado que existem pontos de interligação
entre elas.
Geralmente,
o ensino se apoia apenas em um dos pilares: aprender a conhecer, e em menor
escala, no aprender a fazer. Os outros dois pilares ou são negligenciados, ou
são subentendidos como prolongamentos naturais dos dois primeiros. A Delors
(2012) entende ensino estruturado a fim de que a educação surja como uma
experiência global a ser concretizada ao longo de toda a vida, tanto no plano
cognitivo quanto no prático (pg 74).
1- Aprender
a conhecer
Esta
aprendizagem deve ser encarada como um meio e uma finalidade da vida humana (já que a
educação deve ser pensada e planejada para ocorrer em todas as fases da vida).
Simultaneamente ela visa não tanto à aquisição de um repertório de saberes
codificados, mas antes, o domínios dos próprios instrumentos do
conhecimento. É um meio, porque pretende que cada um aprenda a compreender o mundo
que o cerca, pelo menos na medida em que isso lhe é necessário para viver
dignamente. Finalidade, porque seu fundamento é o prazer de compreender, de
conhecer, de descobrir.
A
tendência para prolongar a escolaridade e o tempo livre deveria levar os
adultos a apreciar, cada vez mais, as alegrias do conhecimento e da pesquisa
individual. O aumento dos saberes, que permitem compreender melhor o ambiente
sob os seus diversos aspectos, favorece o despertar da curiosidade intelectual,
estimula o sentido crítico e permite compreender o real, mediante a aquisição
de autonomia a capacidade de discernir.
(DELORS,
Jacques 2012 pg 74)
Como o conhecimento
humano é múltiplo evolui infinitamente, torna-se cada vez mais inútil tentar
conhecer tudo. No entanto, a especialização (até para os futuros pesquisadores)
não deve excluir a cultura geral. Esta cultural
geral é entendida como uma abertura para outras linguagens e a outros
conhecimentos. Fechado em sua própria ciência, o especialista corre o risco de se
desinteressar pelo que fazem os outros. A formação cultural implica na abertura
a outros campos de conhecimento e, assim, pode operar fecundas sinergias entre
as disciplinas.
Aprender
para conhecer pressupõe, antes de tudo, aprender a aprender, exercitando a
atenção, a memória e o pensamento. O exercício da memória é um
antídoto necessário contra a submersão pelas informações instantâneas
difundidas pelos meios de comunicação social, já que, somos sobrecarregados de
conhecimentos superficial e de consumo imediato. Também,
se devem combinar, tanto no ensino como na pesquisa, dois métodos muitas vezes
apresentados como antagônicos: o
dedutivo e o indutivo. Dependendo da disciplina ensinada, um método terá mais destaque do que
o outro, no entanto, o encadeamento de ambos se faz necessário.
2-
Aprender a fazer
Aprender
a conhecer e aprender a fazer estão, em larga medida, indissociáveis. No
entanto, a segunda aprendizagem está mais estreitamente ligada à questão da
formação profissional.
Nas sociedades assalariadas que se
desenvolvem a partir do modelo industrial ao longo do século XX, a substituição
do trabalho humano pelas máquinas tornou cada vez mais imaterial e acentuou o
caráter cognitivo das tarefas. Aprender
a fazer não deve limitar o ensino apenas a uma tarefa material bem definida.
Da
noção de qualificação à noção de competência
O progresso técnico
modifica, inevitavelmente, as qualificações exigidas pelos novos processos de
produção. As tarefas puramente físicas são
substituídas por tarefas de produção mais intelectuais ou mentais, como o comando
de máquinas, a sua manutenção e sua vigilância, ou por tarefas de concepção, de
estudo e de organização, à medida que as máquinas também se tornam mais
“inteligentes”, e que o trabalho se “desmaterializa” (pg 76).
Qualidades como a capacidade de comunicar, de trabalhar com os outros, de
gerenciar e de resolver conflitos, tornam-se cada vez mais importantes. E essa
tendência torna-se mais forte devido ao desenvolvimento do setor de serviços.
A
“desmaterialização” do trabalho e a importância dos serviços entre as
atividades assalariadas
A
“desmaterialização” da aprendizagem aumenta economia voltada para o setor de
serviços. Esse setor altamente diversificado define-se, sobretudo, pela
negativa: seus membros não são nem industriais nem produtores agrícolas e,
apesar da sua diversidade, têm em comum o fato de não produzirem bens
materiais. Muitos serviços definem-se principalmente em função das relações
interpessoais a que dão origem. O
desenvolvimento do setor terciário exige, pois, cultivar qualidades humanas que
as informações tradicionais não transmitem, necessariamente, e que correspondem
à capacidade de estabelecer relações estáveis e eficazes entre as pessoas(pg 77). Agora,
as relações interpessoais mostram-se cada vez mais importantes para a solidificação
de uma educação que traga a criticidade ao educando.
3-
Aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros
Esta aprendizagem, sem dúvida,
representa um dos maiores desafios da atualidade. O mundo atual está repleto de
violência, em oposição à esperança que alguns têm no progresso da
humanidade. Sobre isto, Delors (2012) nos orienta:
É de
se louvar a ideia de ensinar a não violência na escola, mesmo que apenas
constitua um instrumento, entre outros, para se combater os preconceitos geradores
de conflitos. A tarefa é árdua porque, naturalmente, os seres humanos têm
a tendência de supervalorizar as suas qualidades e as do grupo a que pertencem,
e a alimentar preconceitos em relação aos outros. Por outro lado, o clima geral
de concorrência que atualmente caracteriza a atividade econômica no interior de
cada país e, sobretudo no nível internacional, tende a dar prioridade as
espirito de composição e ao sucesso individual. De fato, essa competição
resulta, na atualidade, em uma guerra econômica implacável e em uma tensão
entre os mais e os menos favorecidos, que divide os países do mundo e exacerba
as rivalidades históricas. É de se lamentar que a educação contribua, por
vezes, para alimentar esse clima, devido a uma má interpretação da ideia de
emulação.
(DELORS,
Jacques 2012 pg 79)
A educação deve utilizar duas vias complementares. Primeiramente a
descoberta progressiva do outro. Num segundo nível, e ao longo de toda a vida,
a participação em projetos comuns, tendo este método o intuito de evitar ou
resolver os conflitos latentes.
A
descoberta do outro
A educação tem como missão transmitir
conhecimentos sobre a diversidade da espécie humana, assim como, conscientizar
as pessoas sobre as semelhanças e interdependências que existem entre todos os
cidadãos do planeta.
Uma
vez que a descoberta do outro passa, necessariamente, pela descoberta de si
mesmo, e pelo fato de que deve dar à criança e ao adolescente uma visão
ajustada do mundo, a educação, seja ela fornecida pela família, pela comunidade
ou pela escola, deve, antes de mais nada, ajudá-los a descobrir-se a si mesmos.
(DELORS,
Jacques 2012 pg 80)
A tática de ensinar aos jovens a adotar a perspectiva de outros grupos
étnicos ou religiosos, pode evitar atritos que produzem o ódio entre adultos.
Assim como, o ensino da historia das religiões ou dos costumes pode servir de
referencia vantajosa para futuros comportamentos.
Tender
para objetivos comuns
As diferenças e até mesmo os
conflitos interindividuais tendem a reduzir-se quando os jovens trabalham
conjuntamente em projetos motivadores (o desporto é um ótimo exemplo disso).
Neste caso, estamos valorizando a coletividade em detrimento à individualidade.
Outra alternativa bastante viável é a inserção de jovens em projetos de ajuda
social.
4- Aprender
a ser
A educação deve contribuir para o
desenvolvimento total da pessoa – espirito, corpo, inteligência, sensibilidade,
sentido estético, reponsabilidade pessoal e espiritualidade. Todo o ser humano
deve receber uma educação que lhe dê ferramentas para o despertar do pensamento
crítico e autônomo, assim como para formular seus juízos de valor e ser
autônomo intelectualmente.
Mais do que nunca a educação parece
ter como papel essencial, conferir a todos os seres humanos a liberdade de
pensamento, o discernimento, os sentimentos e a imaginação de que necessitam
para desenvolver os seus talentos e permanecerem, tanto quanto possível, donos
de seus próprios destinos (pg 81).
A
diversidade de personalidades, a autonomia e o espirito de iniciativa, até mesmo
o gozo pela provocação, são suportes da criatividade e da inovação. O que
poderia parecer apenas como uma forma de defesa do indivíduo perante a um
sistema alienante ou considerado como hostil, é também por vezes a melhor
oportunidade de progresso para as sociedades (pg 81).
Na
escola, a arte e a poesia deveriam ocupar um lugar mais importante do que
aquele lhes é concedido, em muitos países, por uma espécie de ensino tomado
mais utilitarista do que cultural. Além disso, a preocupação em desenvolver a
imaginação e a criatividade deveria também revalorizar a cultura oral e os
conhecimentos retirados da experiência da criança e do adulto.
(…)
Esse
desenvolvimento do ser humano, que se realiza desde o nascimento até a morte, é
um processo dialético que começa pelo conhecimento de si mesmo para se abrir,
em seguida, à relação com o outro. Nesse sentido, a educação é, antes de mais
nada, uma viagem interior, cujas etapas correspondem à da maturação contínua da
personalidade.
(DELORS,
Jacques 2012 pg 82)
Pistas
e recomendações
Abaixo, seguem na íntegra as pistas e
recomendações indicadas por Delors (2012). Elas, basicamente, sintetizam o
significado de cada pilar.
- A
educação ao longo de toda a vida baseia-se em quatro pilares: aprender a
conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.
- Aprender
a conhecer, combinando uma cultura geral,
suficientemente vasta, com a possibilidade de trabalhar em profundidade um
pequeno número de matérias. O que também significa: aprender a aprender,
para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo de
toda a vida.
- Aprender
a fazer, a fim de adquirir, não somente uma
qualificação profissional, mas de uma maneira mais ampla,
competências que tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a
trabalhar em equipe. Mas também aprender a fazer, no âmbito das diversas
experiências sociais ou de trabalho que se oferecem aos jovens e
adolescentes; quer espontaneamente, fruto do contexto local ou nacional;
quer formalmente, graças ao desenvolvimento do ensino alternado com o
trabalho.
- Aprender
a viver juntos desenvolvendo a compreensão do outro e a
percepção das interdependências — realizar projetos comuns e preparar-se
para gerir conflitos — no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão
mútua e da paz.
- Aprender
a ser, para melhor desenvolver a sua personalidade
e estar à altura de agir com cada vez maior capacidade de autonomia, de
discernimento e de responsabilidade pessoal. Para isso, não negligenciar
na educação nenhuma das potencialidades de cada indivíduo: memória,
raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para
comunicar-se.
- Numa
altura em que os sistemas educativos formais tendem a privilegiar o acesso
ao conhecimento, em detrimento de outras formas de aprendizagem, importa
conceber a educação como um todo. Esta perspectiva deve, no futuro,
inspirar e orientar as reformas educativas, tanto em nível da elaboração
de programas como da definição de novas políticas pedagógicas.
https://blogdonikel.wordpress.com/2014/05/06/os-quatro-pilares-da-educacao-jaques-delors-fichamento/
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