sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Saiu o resultado da UFBA 2011!!!
Para os que compartilharam comigo desse sonho, obrigada pela confiança. É muito emociante vê-los lá, sobretudo os que agora vão ter que escolher entre UESB e Federal. Arrasaram!!!!!
Valeu minha combrança na redação e as aulas incessantes...
Aos que não tiveram ainda esse prazer. Não desista!!!
Eu continuo aqui...
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
MAIS QUESTÕES DISCURSIVAS
QUESTÃO DISCURSIVA DE SENHORITA SIMPSON - GABARITO
Questão 04 –
Fui descendo a rua Almirante Salgado um táxi na esquina da rua Laranjeiras. Na Prado Júnior, tomei o outro gim, tônica e comi um bom sanduíche do Cervantes, mastigado com a disposição e a agressividade de um animal.
Ao deitar em minha cama de solteiro, ascética e austera, essa agressividade implodiu num choro silencioso. Por que chorei? Ora, por tudo, num lamento indivisível entre todas as pessoas e acontecimentos que povoavam e povoaram minha existência que se aproximava no limite do crucial dos trinta anos. (Sérgio Santanna, A Senhorita Simpson)
Considerando o relacionamento do narrador-personagem com as mulheres, explique a significação das declarações “ curvado sob o peso da minha solidão” e “ por que chorei? Ora, por tudo”.
Gente, essa questão foi maravilhosa porque permitia ao aluno que leu a obra poder falar sobre os três principais aspectos da novela.
Sobre os relacionamentos cabia contar um pouco sobre a relação com a esposa Antonieta, com as duas empregadas Ana e Lucélia e como Miss Simpson foi que retirou sua marca de sentimentalidade e afetividade. Se vocês se lembraram de Mara Regina, melhor ainda.
Lembrar que aos trinta anos ele estava deixando sua velhice para traz e buscando sua juventude era um aspecto enriquecedor para a questão, mas sobretudo mostrar como ele representa o homem das relações superficiais que quando ele queria amar e relacionamento envolvendo sentimentalidade ele não tinha aceitação por parte das mulheres, sobretudo de Antonieta que o desejou quando ele dissociou sentimento de relação sexual.
UESC - Anulação da questão 05
Gente, a questão 05 trazia o texto de Primeiras Estórias - Famigerado. Porém aparecia como indicação de obra Grande Sertão Veredas. Isso implicaria na resposta já que vocês precisavam da alusão ao texto para responder. Entrem com recurso. É direito de vocês!!!
Recursos
Os recursos quanto à formulação das questões e seus respectivos quesitos e gabaritos deverão ser interpostos até 48 (quarenta e oito) horas após a divulgação do último gabarito.
O(A) candidato(a) interessado(a) em apresentar recurso deverá preencher o formulário padrão e, em seguida, encaminhá-lo ao Protocolo Geral da UESC. Cada recurso deverá ser devidamente justificado.
Não será analisado o Recurso:
- sem assinatura do requerente;
- sem os dados referidos no item acima;
- sem justificativa;
- sem especificação da questão e da prova a qual se refere;
- apresentado em conjunto com outros candidatos, isto é, de forma coletiva;
- entregue após o prazo acima estipulado.
domingo, 16 de janeiro de 2011
ATENÇÃO PARA A ASSINATURA DO E-MAIL E DA CARTA
Como fazer uma carta argumentativa no vestibular
Texto Argumentativo /Persuasivo
2.3.1 Características do texto argumentativo/persuasivo
Além de uma dissertação, a prova de Redação do Vestibular Unicamp propõe também uma carta argumentativa. O que diferencia a proposta da carta argumentativa da proposta de dissertação é o tipo de argumentação que caracteriza cada um desses tipos de texto. Como se viu na seção 2.1.1., o texto dissertativo é dirigido a um interlocutor genérico, universal. Por outro lado, a proposta de carta argumentativa pressupõe um interlocutor específico para quem a argumentação deverá estar orientada. Essa diferença de interlocutores deve necessariamente levar a uma organização argumentativa diferente, nos dois casos. Até porque, na carta argumentativa, a intenção é freqüentemente a de persuadir um interlocutor específico (convencê-lo do ponto de vista defendido por quem escreve a carta ou demovê-lo do ponto de vista por ele defendido e que o autor da carta considera equivocado).
É importante justificar por que se solicita que a argumentação seja feita em forma de carta. Acredite, essa é uma opção estratégica feita em seu próprio benefício. O pressuposto é o de que, se é definido previamente quem é seu interlocutor sobre um determinado assunto, você tem melhores condições de fundamentar sua argumentação.
Vamos tentar exemplificar, mais ou menos concretamente, algumas situações argumentativas diferentes, para que fique claro que tipo de fundamento está por trás desta proposta da Unicamp. Imagine-se um defensor ardoroso da legalização do aborto. Perceba que sua estratégia argumentativa seria necessariamente diferente se fosse solicitado a :
- escrever uma dissertação sobre o assunto, portanto, escrever para o nosso “leitor universal”;
- escrever ao Papa, para demonstrar a necessidade de a Igreja Católica, em alguns casos, rever sua postura frente ao aborto;
- escrever a um congressista procurando persuadi-lo a apresentar um anteprojeto para a legalização do aborto no Brasil;
- escrever ao Roberto Carlos procurando persuadi-lo a incluir, em seu LP de final de ano, uma música em favor da descriminação do aborto.
Você não concorda conosco? Não fica mais fácil decidir que argumentos utilizar conhecendo o interlocutor? É por isso que é tão importante que você, durante a elaboração do seu projeto de texto, procure representar da melhor maneira possível o seu interlocutor, uma vez conhecido. Aliás, nós já dissemos isso na seção 4.1.3 do capítulo 2.
Embora o foco desta proposta seja um determinado tipo de argumentação, o fato de que o contexto criado para este exercício é o de uma carta implica também algumas expectativas quanto à forma do seu texto. Por exemplo, é necessário estabelecer e manter a interlocução, usar uma linguagem compatível com o interlocutor (por exemplo, não se dirigir ao Papa com um jovial E aí, Santidade, tudo em cima?, muito menos despedir-se de tão beatífica figura com Pô, cara, tu é do mal!). Mas que fique bem claro: no cumprimento da proposta em que é exigida uma carta argumentativa, não basta dar ao texto a organização de uma carta, mesmo que a interlocução seja natural e coerentemente mantida; é necessário argumentar.
Retirado de: http://www.convest.unicamp.br/vest99/redacao/item3.html
Como fazer uma narração na redação do vestibular
Narrativa
Quando eu era jovem, desprezava-se o elemento narrativo, chamando-o de “histórinha” e esquecendo-se que a poesia começou como narrativa; nas raízes da poesia está a épica, e a épica é o gênero poético primordial – e narrativo. Na épica encontra-se o tempo; ela tem um antes, um durante e um depois. |
2.2.1 Características do texto narrativo
Quando se solicita uma narrativa em um contexto de exame vestibular, espera-se uma redação em que apareçam de forma articulada os elementos constitutivos desse tipo de texto. Isso porque construir um texto narrativo, como dissemos no capítulo II, não é meramente relatar um acontecimento ou, em outras palavras, não é apenas encarar fatos, produzindo uma história. Você já sabe que sua tarefa não será somente a de construir uma narrativa , mas de fazê-lo para atender à solicitação de um exame vestibular como o da Unicamp, em que habilidades específicas – tais como capacidade para selecionar e interpretar dados e fatos, de estabelecer relações e elaborar hipóteses – estarão sendo avaliadas. Sendo assim, ao ocupar-se da caracterização dos elementos constitutivos desse tipo de texto, você terá de levar em conta algumas exigências/informações da banca que determinam em parte esses elementos e que já são fornecidas na apresentação da proposta. Em suma, a proposta da Unicamp não é somente um estímulo para a criação de um texto narrativo; ela é, isto sim constituída por um conjunto de exigências/informação que devem ser articuladas às caracterizações e desenvolvimentos que o candidato pretende das às categorias do texto narrativo na hora de produzir sua redação. É exatamente pelo fato de que a proposta delimita espaços autorizados para a criação ficcional que os textos narrativos podem ser avaliados segundo critérios objetivos como se faz no Vestibular da Unicamp. A esta altura você ainda sabe de que categorias narrativas nós estamos falando? Claro que sabe, mas sempre é bom recordar: narrador, personagem, enredo, cenário e tempo. Agora o importante é você refletir um pouco sobre o que significa caracterizar e desenvolver essas categorias narrativas. Vamos tentar ajudá-lo nesta tarefa.
Comecemos pelo narrador. A afirmação mais óbvia que se pode fazer a respeito desta categoria é a de que toda história precisa ser contada por “alguém”; esse “alguém” que conta a história em um texto narrativo é chamado de narrador. Ao se dizer que é o narrador quem conta a história em um texto narrativo, se está dizendo que é através dele que tomamos conhecimento do enredo, das características das personagens, da descrição dos cenários etc. Da mesma forma é igualmente importante atentar para as decorrências da escolha de um narrador. Quer ele seja fixado previamente pela proposta da banca, quer ele seja escolhido por você, há que se tomar muito cuidado com as conseqüências dessa determinação. Por exemplo, o grau de consciência que esse narrador pode ter das características (no caso, de personagens ou de cenário), ações, motivações etc., envolvidas na trama. Como você já sabe, esse grau de consciência depende muito de qual dos dois tipos de foco narrativo for adotado: narrador em 1ª ou 3ª pessoa. Se for em 3ª, ele pode saber tudo, se for em 1ª, depende da sua atuação dentro do enredo.
Sobre as personagens, é muito importante pensar no que significa caracterizá-las, de fato. Você certamente já imaginou fisicamente algumas delas (altura, cor dos cabelos, dos olhos, etc.), mas uma boa caraterização de personagens não pode levar em consideração apenas aspectos físicos. Elas têm de ser pensadas como representações de pessoas, e por isso sua caraterização é bem mais complexa, devendo levar em conta também aspectos psicológicos de tipos humanos. E isso, por sua vez, deverá estar sempre presente na sua cabeça quando você for trabalhar as ações das personagens dentro da trama que está criando. Ou seja, como acontece com as pessoas, o comportamento delas é em grande parte determinado por tais características psicológicas.
A presença obrigatória de elementos de cenário dentro de um texto narrativo não tem função de testar a capacidade do candidato de produzir trechos descritivos, descritivizados, ou sabe-se lá quais outras preciosidades de nomenclatura criadas a esse respeito. Na verdade, os cenários em uma narrativa devem ter uma função determinada no texto, ou seja, devem manter com a trama uma relação significativa. Explicando: o cenário não é apenas um palco onde as ações se desenrolam, mas deve integrar-se aos demais elementos da narrativa, por exemplo ao sustentar a presença de personagens, ao motivar ações específicas, ao fornecer indícios (pistas) sobre determinados acontecimentos etc.
Assim como as personagens representam pessoas e os cenários, espaços físicos (naturais, ambientais, geográficos etc.), o tempo numa narrativa representa, justamente... o tempo. Óbvio? Deveria ser, mas grande parte dos problemas de verossimilhança dentro de textos narrativos são derivados da maneira como freqüentemente se lida com essa categoria, tempo. É muito comum, nas redações de vestibular ou não, o autor perder de vista o fato de que ele deveria estar, ficcionalmente, representando o transcurso de existência, de ações possíveis, no tempo. E ações e existências “consomem” tempo, na vida real. Portanto, por que não o fariam também no espaço ficcional? A orientação aqui, para se dar uma, é bastante simples: atenção para a maneira como os fatos, acontecimentos e ações das personagens se articulam no plano temporal, ou, em termos mais simples, atenção para o fato de que acontecimentos e ações têm, necessariamente, uma duração.
Pulamos o enredo? Na verdade, não. Apenas deixamos para comentá-lo no final – e de passagem –, por um lado porque é dele que você certamente tem a idéia mais bem formada (o enredo é a própria história); por outro, porque ele simplesmente não existe sem a caraterização e o desenvolvimento dos outros quatro elementos: o enredo é resultado da atuação das personagens em determinadoscenários, durante certos períodos de tempo, tudo isso contado, para o leitor, por um narrador.
Retirado de: http://www.convest.unicamp.br/vest99/redacao/item3.html
Dissertação no vestibular da UESC
2.1. Dissertação
2.1.1. Característica do texto dissertativo
Quando se pede a alguém que disserte por escrito sobre um determinado tema, espera-se um texto em que sejam expostos e analisados, de forma coerente, alguns dos aspectos e argumnetos envolvidos na questão tematizada. Não há escrita sem leitura, sem reflexão, sem a adoção de um ponto de vista e, pode-se mesmo dizer, sem um desejo, por parte de quem escreve, de se manifestar a respeito de um determinado tema. Assim, é especialmente importante que, em uma dissertação, sejam apresentados e discutidos fatos, dados e pontos de vista acerca da questão proposta. Ora, para que você consiga desincumbir-se dessa tarefa de forma adequada (especialmente em uma situação como a de um exame vestibular em que há uma certa tensão, o tempo é controlado...), a Unicamp coloca à sua disposição, sob a forma de uma coletânea, diversos elementos que devem ser levados em conta para a discussão do tema proposto. Garantimos, assim, que você não tenha de “partir da estaca zero”, para construir sua redação. Essa é uma função importante da coletânea de textos que acompanha o tema para dissertação. (Essa coletânea, como vimos no capítulo anterior, tem também o objetivo de avaliar a sua capacidade de leitura, interpretação e seleção de informações).
Do que foi dito acima, você deveria concluir imediatamente que escrever um texto dissertativo não é apenas tecer comentários impessoais sobre determinado assunto, tampouco limitar-se a apresentar aspectos favoráveis e contrários e/ou positivos e negativos da questão.
Mas vamos tentar ajudá-lo um pouco mais, uma vez que tal conclusão pode não ser tão imediata assim. Consideremos duas instruções que muito freqüentemente acompanham “definições” de dissertação: (1) que nela não se deve “falar” em 1ª pessoa; (2) que devem, em um texto dissertativo, ser apresentados argumentos favoráveis e contrários à(s) idéia(s) sobre a(s) qual(is) se está escrevendo.
A primeira das “instruções” é, de fato, pertinente, mas costuma-se exagerar o seu valor – esse cuidado não é suficiente para garantir que se está, realmente, dissertando. Sempre será verdade que enfraquecem a força do texto dissertativo expressões como eu acho que e na minha opinião, mas o problema está muito mais no caráter opinativo e no “achismo” nelas contido do que no uso da 1ª pessoa do singular. Contudo, saiba que a postura mais adequada para se dissertar é mesmo escrever impessoalmente, como se autor daquele texto fosse o próprio bom senso, a própria lógica, a razão,ou ainda, a verdade. Da mesma forma, uma dissertação não se dirige a um interlocutor específico ou a um grupo deles; dirige-se, isto sim, a um “leitor universal”, algo que poderia ser definido como: todos os seres humanos alfabetizados e dotados de raciocínio.
Quanto à Segunda “instrução”, essa sim é um completo equívoco. Em uma dissertação, deve-se defender uma tese, ou seja: organizar dados, fatos, idéias, enfim, argumentos, em torno de um ponto de vista definido sobre o assunto em questão. Uma dissertação deve, na medida do possível, concluir algo. Portanto, não tem cabimento ficar simplesmente elencando argumentos favoráveis ou contrários a determinada idéia. Só se trazem ao texto argumentos contrários à tese defendida para destruí-los, para anulá-los... e, mesmo isso, quando for pertinente fazê-lo.
Retirado de : http://www.convest.unicamp.br/vest99/redacao/item3.html
sábado, 15 de janeiro de 2011
UESC - SENHORITA SIMPSON E O CONTO EM 25 BAIANOS
UESC - QUESTÃO DISCURSIVA
“Não que parecesse olhar ou enxergar de propósito. Parava quieta, não queria bruxas de pano, brinquedo nenhum, sempre sentadinha onde se achasse, pouco se mexia. — "Ninguém entende muita coisa que ela fala..." — dizia o Pai, com certo espanto. Menos pela estranhez das palavras, pois só em raro ela perguntava, por exemplo: - "Ele xurugou?" — e, vai ver, quem e o quê, jamais se saberia. Mas, pelo esquisito do juízo ou enfeitado do sentido. Com riso imprevisto: — "Tatu não vê a lua..." — ela falasse. Ou referia estórias, absurdas, vagas, tudo muito curto: da abelha que se voou para uma nuvem; de uma porção de meninas e meninos sentados a uma mesa de doces, comprida, comprida, por tempo que nem se acabava; ou da precisão de se fazer lista das coisas todas que no dia por dia a gente vem perdendo. Só a pura vida.”
1. Com base no trecho acima e na totalidade da estória comente sobre a singularidade de Nhinhinha e sobre seu olhar para as coisas. Para isso tome como ponto de partida a sua relação familiar.
UESC - Cuidado com o tempo!
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Recordações do Escrivão Isaias Caminha (Lima Barreto)
Primeiras Palavras:
OQue bom que estamos solidificando nossa relação!
Faltam poucos dias para o vestibular do UESC e sei que para alguns é muito pouco tempo ... fica aquela sensação de que ainda falta estudar muita coisa... Relaxe e continue fazendo o que você pode, buscando ultrapassar um pouco os seus limites.
Fernando Pessoa disse: A minha parte é feita, o por fazer-se é só com Deus. Então faça a sua parte e deixe o resto com quem pode mudar destinos.
Tem sido uma honra compartilhar esses preciosos estudos com você!
Mara Rute Lima
A história
Esse livro pertence ao gênero romance tradicional - único no processo da UESC. A trama é simples, trata-se de um jovem do interior que sonha em ser doutor ( como forma de melhorar de vida e limpar-se da condição de “azeitonado”) e para isso vai para o Rio de Janeiro. Lá, presencia a dura realidade de uma cidade preconceituosa e cruel. Peregrina durante muito tempo passando até necessidade. Consegue um emprego no jornal, mas sua melhoria de vida não se relaciona ao estudo e sim as relações que estabelece e a segredos que passa a guardar. Termina a história percebendo que a cidade lhe corrompeu e, sobretudo que os valores vigentes não são os de estudo e mérito.
1. A abertura do livro é feita por Isaias que se lembra da educação que recebeu na infância e já claramente estabelece uma distinção entre a relação com o pai – padre instruído e sua mãe, leiga. De que maneira se percebe no livro a influência do pai como maior que a mãe?
Leia o trecho:
Passava por um largo descampado e olhei o céu. Pardas nuvens cinzentas galopavam, e, ao longe, uma pequena mancha mais escura parecia correr engastada nelas. A mancha aproximava-se e, pouco a pouco, via-a subdividir-se, multiplicar-se; por fim, um bando de patos negros passou por sobre a minha cabeça, bifurcado em dois ramos, divergentes de um pato que voava na frente, a formar um V. Era a inicial de “Vai”. Tomei isso como sinal animador, como bom augúrio do meu propósito audacioso. No domingo, de manhã, disse de um só jato à minha mãe:
— Amanhã, mamãe, vou para o Rio.
2. Com base no trecho acima comente sobre a visão de Isaias e a realidade encontrada no Rio de Janeiro.
E seu tio Valentim – quase um pai, conseguiu para Isaias o que considerava elemento fundamental para a vida no Rio: uma carta do coronel Belmiro para o deputado Castro que ele ajudou a eleger. Na carta pedia para que o deputado providenciasse um trabalho para Isaias. Aqui o narrador deixa antever a sensação de poder do coronel. Porém, quando Isaias chega ao Rio Isaias percebe que a carta não tem validade alguma e que ele não é sequer bem recebido pelo deputado. Esse inclusive lhe manda voltar num dia em que sabe que não vai estar. Logo, as impressões primeiras sobre sua vida no Rio se desfazem e ele vivencia um Rio de Janeiro cruel e não acolhedor como esperava que fosse. O leitor também percebe um coronel que já não tem poder na sociedade do século XX.
3. O livro aborda um tema constante na obra de Lima Barreto: o do preconceito racial. Assinale a alternativa que não contenha um trecho que permita antever isso:
a) “Ah! Seria doutor! Resgataria o pecado original do meu nascimento humilde, amaciaria o suplício premente, cruciante e onímodo de minha cor...”
b)” Doutor, como passou? Como está, doutor? Era sobre-humano!...”
c) “ Não tenho pejo em confessar hoje que quando me ouvi tratado assim, as lágrimas me vieram aos olhos.”
d) “ Entretanto, isso tudo é uma questão de semântica: amanhã, dentro de um século, não terá mais significação injuriosa.”
e) “ se me esforço em fazê-lo literário é para que possa ser lido, pois quero falar das minhas dores e dos meus sofrimentos ao espírito geral eno seu interesse, com a linguagem acessível a ele.
“O trem parara e eu abstinha-me de saltar. Uma vez, porém, o fiz; não sei mesmo em que estação. Tive fome e dirigi-me ao pequeno balcão onde havia café e bolos. Encontravam-se lá muitos passageiros. Servi-me e dei uma pequena nota a pagar. Como se demorassem em trazer-me o troco reclamei: "Oh! fez o caixeiro indignado e em tom desabrido. Que pressa tem você?! Aqui não se rouba, fique sabendo!" Ao mesmo tempo, a meu lado, um rapazola alourado reclamava o dele, que lhe foi prazenteiramente entregue. O contraste feriu-me, e com os olhares que os presentes me lançaram, mais cresceu a minha indignação. ... Mesmo de rosto, se bem que os meus traços não fossem extraordinariamente regulares, eu não era hediondo nem repugnante. Tinha-o perfeitamente oval, e a tez de cor pronunciadamente azeitonada”.
4. Machado de Assis em suas obras e também em Papéis Avulsos ressalta a questão do título como importante na sociedade. Explique como tal questão aparece nas obras de Machado e de Lima Barreto respectivamente.
“ Escrevendo estas linhas, com que saudades me não recordo desse heróico anseio dos meus dezoito anos esmagados e pisados! Hoje... É noite.
Descanso a pena. No interior da casa, minha mulher acalenta meu filho único. A sua cantiga chega-me aos ouvidos cheia de um grande acento de resignação. Levanto-me, vou à varanda. A lua, no crescente, banha-me com meiguice, a mim e a minha humilde casa roceira. Por momentos deixo -me ficar sem pensamentos, envolto na fria luz da lua, e embalado pela ingênua cantilena de minha mulher. Correm alguns instantes; ela cessa de cantar e o brilho do luar é empanado por uma nuvem passageira. Volto às minhas reminiscências: vejo o bonde, a gente que o enchia, os sofrimentos que me agitavam, a rua transitada...
Os meus desejos de vingança fazem-me agora sorrir e não sei por que, do fundo da minha memória, com essas recordações todas, chega-me também a imagem de uma pesada carroça, com um grande lajedo suspenso por fortes correntes de ferro, vagarosamente arrastada sobre o calçamento de granito, por uma junta de bois enormes, que o carreteiro fazia andar com gritos e ferroadas desapiedadas...”
5. A partir do trecho acima e considerando a totalidade da obra comente sobre as características do narrador nessa obra.
6. Quando Isaias vai procurar o deputado Castro na câmara o narrador revela a admiração que esse tem pelos legisladores em seguida mostra a grande decepção que terá depois da visita a que se deve sua decepção?
7. Assinale a alternativa que não contenha um trecho em que haja a presença da metalinguagem:
a) “Penso — não sei por quê — que é este meu livro que me está fazendo mal... E quem sabe se excitar recordações de sofrimentos, avivar as imagens de que nasceram não é fazer com que, obscura e confusamente, me venham as sensações dolorosas já semimortas?”
b) “Talvez mesmo seja angústia de escritor, porque vivo cheio de dúvidas, e hesito de dia para dia em continuar a escrevê-lo. Não é o seu valor literário que me preocupa; é a sua utilidade para o fim que almejo”
c)“ Se me esforço por fazê-lo literário é para que ele possa ser lido, pois quero falar das minhas dores e dos meus sofrimentos ao espírito geral e no seu interesse, com a linguagem acessível a ele.”
d) É este o meu propósito, o meu único propósito (...)Confesso que os leio, que os estudo, que procuro descobrir nos grandes romancistas o segredo de fazer. Mas, não é a ambição literária que me move o procurar esse dom misterioso para animar e fazer viver estas pálidas Recordações.
e) Com elas, queria modificar a opinião dos meus concidadãos, obrigá-los a pensar de outro modo; a não se encherem de hostilidade e má vontade quando encontrarem na vida um rapaz como eu e com os desejos que tinha há dez anos passados. Tento mostrar que são legítimos e, se não merecedores de apoio, pelo menos dignos de indiferença”.
Sobre ele mesmo e sua personalidade ele vai propondo ao leitor:
“O caminho na vida parecia-me fechado completamente, por mãos mais fortes que as dos homens. Não eram eles que não me queriam deixar passar, era o meu sangue covarde, era a minha doçura, eram os defeitos de meu caráter que não sabiam abrir um. Eu mesmo amontoava obstáculos à minha carreira; não eram eles...
Não seria tolice, pusilanimidade escondida fazer repousar a minha felicidade na presteza com que um qualquer deputado atendesse um pedido de emprego? Era possível tê-los sempre à mão para os dar ao primeiro que aparecesse?
As condições de minha felicidade não deviam repousar senão em mim mesmo — conclui... Mas não era só isso que eu via. O que me fazia combalido, o que me desanimava eram as malhas de desdém, de escárnio, de condenação em que me sentia preso.”
8. A partir do trecho acima trace a personalidade de Isaias Caminha:
Um tema importante no livro, senão o mais importante é o tema do jornalismo. Como ele é produzido, a mediocridade que o cerca, o poder da mídia sobre a sociedade, a defesa de interesses pessoais. Segue em seguida algumas das importantes reflexões que o livro faz a esse respeito:
“Pagou sim, apressou-se em responder Plínio de Andrade; mas um dos empregados da livraria disse-lhe insolentemente: Você paga este sobre a Grécia, que queria levar agora e também o romance francês que levou anteontem... A Imprensa! Que quadrilha! Fiquem vocês sabendo que, se o Barba-Roxa ressuscitasse, agora com os nossos velozes cruzadores e formidáveis couraçados, só poderia dar plena expansão à sua atividade se se fizesse jornalista. Nada há tão parecido como o pirata antigo e o jornalista moderno: a mesma fraqueza de meios, servida por uma coragem de salteador; conhecimentos elementares do instrumento de que lançam mão e um olhar seguro, uma adivinhação, um faro para achar a presa e uma insensibilidade, uma ausência de senso moral a toda a prova... E assim dominam tudo, aterram, fazem que todas as manifestações de nossa vida coletiva dependam do assentimento e da sua aprovação... Todos nós temos que nos submeter a eles, adulá-los, chamá-los gênios, embora intimamente os sintamos ignorantes, parvos, imorais e bestas... Só se é geômetra com o seu placet, só se é calista com a sua confirmação e se o sol nasce é porque eles afirmam tal coisa... E como eles aproveitam esse poder que lhes dá a fatal estupidez das multidões! Fazem de imbecis gênios, de gênios imb ecis; trabalham para a seleção das mediocridades, de modo que...”
—Oh! Caminha! Onde tens andado? Que tens, rapaz?
Era Gregoróvitch Rostóloff. Falei, contei-lhe a vida. Os seus olhos de conta mais se arredondaram de
desconfiança; mas, depois de duas ou três perguntas, de examinar-se o vestuário e algumas palavras de consolo, ao
despedir-se, assim me convidou:
—Aparece-me logo, à noitinha, na redação do O Globo.
9. Qual a importância dessa cena para a vida de Isaias Caminha?
“De tal maneira é forte o poder de nos iludirmos, que um ano depois cheguei a ter até orgulho da minha posição. Senti-me muito mais que um continuo qualquer, mesmo mais que um continuo de ministro. As conversas da redação tinham-me dado a convicção de que o doutor Loberant era o homem mais poderoso do Brasil; fazia e desfazia ministros, demitia diretores, julgava juizes e o presidente, logo ao amanhecer, lia o seu jornal, para saber se tal ou qual ato seu tinha tido o placet desejado do doutor Ricardo. Participar de uma redação de jornal era algo extraordinário, superior, acima das forças comuns dos mortais; e eu tive a confirmação disso quando, certa vez, na casa de cômodos em que morava, dizendo-o ao encarregado que trabalhava na redação do O Globo, vi o pobre homem esbugalhar muito os olhos, olhar-me de alto a baixo, tomar-se de grande espanto como se estivesse diante de um ente extraordinário. As raparigas que residiam junto a mim, lavadeiras e costureiras, criadas de servir, apelidaram-me “o jornalista”, e mesmo quando vieram a ter exato conhecimento da minha real situação no jornal, continuei a ser por esse apelido conhecido, respeitado e debochado”.
Depois revela como eram as relações no jornal ...
“Quando se tratava de per si com qualquer dos empregados do jornal, ficava-se admirado que a folha se imprimisse e se escrevesse diariamente. Floc tinha em pouca conta Losque: um bufão, dizia ele; Bandeira desprezava Floc: um eunuco; e todos como que pareciam querer entredevorar-se até aos ossos. Entretanto, quando um fazia anos, a seção competente gemia e os adjetivos mais ternos e mais camaradários não eram poupados. De seção para seção, a guerra era terrível. A revisão dizia que a redação era analfabeta; a tipografia acusava ambas de incompetentes; e até a impressão que não lia nem via originais tinha uma opinião desfavorável sobre todas três.
A redação não perdoava a menor falha da revisão. Às vezes, eram os originais defeituosos; em outras, havia descuido ou a pretensão fazia emendar o que estava certo; mas sempre as reclamações choviam por parte dos redatores, dos colaboradores e dos repórteres.
O livro trata de uma questão interessante que permeava o contexto em que foi produzida a obra: a reforma do Rio de Janeiro para não perder da argentina - tida como européia. Sem planejamento resolvemos reformar o Rio e, para ilustrar essa ação meio louca ele conta do projeto dos sapatos obrigatórios .
Questão
“ O motim não tem fisionomia, não tem forma, é improvisado. Propaga-se, espalha-se, mas não se liga. O grupo que opera aqui não tem ligação alguma com o que tiroteia acolá. São independentes; não há um chefe geral nem um plano estabelecido. Numa esquina, numa travessa, forma-se um grupo, seis, dez, vinte pessoas diferentes, de profissão, inteligência, e moralidade. Começa-se a discutir, ataca-se o Governo; passa o bonde e alguém lembra: vamos queimá-lo. Os outros não refletem, nada objetam e correm a incendiar o bonde.
No jornal exultava-se. As vitórias do povo tinham hinos de vitórias da pátria. Exagerava-se, mentia-se, para se exaltar a população. Em tal lugar, a polícia foi repelida; em tal outro, recusou-se a atirar sobre o povo. Eu não fui para casa, dormi pelos cantos da redação e assisti à tiragem do jornal: tinha aumentado cinco mil exemplares. Parecia que a multidão o procurava como estimulante para a sua atitude belicosa. O serviço normal da folha fazia-se com atividade. Os repórteres iam aos lugares perigosos, aos pontos mais castigados pela polícia, corriam a cidade em tílburis. Nem os revisores nem os seus suplentes faltavam à chamada; outro tanto sucedia com os tipógrafos e os outros operários.
Toda essa abnegação era para garantir os seus mesquinhos empregos. Um pobre tipógrafo, que morava para a Saúde, onde o transito se fazia com os maiores perigos, ficou todos os três dias no jornal. Temia ser morto por uma bala pedida. Houvera muitas mortes assim, mas os jornais não as noticiavam. Todos eles procuravam lisonjear a multidão, mantê-la naquelas refregas sangrentas, que lhes aumentava a venda. Não queriam abater a coragem do povo com a imagem aterradora da morte. A polícia atirava e não matava; os populares atiravam e não matavam. Parecia um torneio... Entretanto eu vi morrer quase em frente ao jornal um popular. Era de tarde. O pequeno italiano, na esquina, apregoava os jornais da tarde: Notícia! Tribuna! Despacho!” ( Memórias do Escrivão Isaias Caminha)
Na canção O Salto o Rappa diz: “Aos jornais eu deixo meu sangue como capital e às famílias um sinal”
10. É possível estabelecer uma clara relação entre o trecho acima e a canção? Justifique.
A construção de um herói
O homem que acaba de morrer não era um homem vulgar. No domínio de sua difícil arte, era uma notabilidade respeitada. Para nós, era muito mais: era um amigo, um dedicado e leal amigo a quem muito devíamos e prezávamos. Todos os que mourejam nesta tenda de trabalho, certamente não hão de esquecê-lo e não há nenhum que não tenha recebido um favor, uma alegria, uma satisfação de suas mãos.
O público que nos lê, não sabe o quanto esta vida de jornalista é esgotante e ingrata; não sabe que soma de energia ela exige e como nos tira os melhores momentos de ócio e os melhores minutos de prazer. Vivemos por assim dizer para os outros; e quem vive para os outros, é claro que muito pouco pode viver para si.
Charles de Foustangel atravessava a nossa vida como um anjo protetor; dele, tirávamos alguns raros instantes de alegria no meio das agruras que nos cercam. Era de ver como ele sabia desenvolver um menu, como imaginava um ‘quitute’ inédito, um prato saboroso, que verve especial punha nos nomes com que os batizava e que raros gozos eles traziam aos nossos paladares fatigados por esses hotéis detestáveis que nos impingem solas duríssimas por bifes de grelha. Quantas ocasiões não fomos nós de mau humor para a mesa de jantar, enervados, sem vontade de trabalhar, com a encomenda do artigo, da reportagem, da crônica para o dia seguinte e sem coragem para fazê-los, e nos levantávamos, graças à brandura do seu tempero e a eurritmia dos seus molhos, satisfeitos, solertes, cheios de novas energias!
......
Todos os jornais se referiram ao inditoso Charles de Foustangel e alguns abriram subscrições para socorrer a família do cozinheiro. Fora do convívio jornalístico, as manifestações de pesar não foram menores: o Centro dos Estudantes passou um telegrama de pêsames ao presidente da República Francesa e ao cortejo do enterro concorreram mais de cinqüenta carros, levando perto de uma centena de pessoas, entre as quais altas patentes do Exército e Marinha, diretores de repartições, homens da bolsa, literatos aclamados, revolucionários temidos e um capitão do Estado Maior, representando o presidente da República.
..............................
Seguiam-se-lhe as caleças, as vitórias e coupés, transportando a alta administração, civil e militar, as finanças, as letras e a revolução profissional, em tocante homenagem ao grande homem que era o cozinheiro do doutor Ricardo Loberant, diretor-proprietário d'O Globo.
Questão
11. Qual é o juízo crítico que se pode estabelecer do texto acima?
Adelermo, antes que tomássemos qualquer providência, entrou. Correu ao telefone para avisar o diretor. O doutor Loberant não estava; tinha saído às dez horas para o jornal. A polícia fora avisada e era preciso que ele o fosse também. Onde estaria? Veio o Rolim. Adelermo e ele cochicharam. O redator de plantão chamou-me.
— Caminha! Tu vais aí a um lagar e do que vires não dirás nunca nada a ninguém. Juras?
— Juro.
— Vais à casa da Rosalina, procurar o doutor Loberant... É preciso discrição, hein? O Rolim não pode ir, tem que ficar aqui, para o que der e vier... Vai! Mas não fales nada, nunca!
— Entra, custe o que custar, recomendou-me Adelermo ao sair, e deu-me dinheiro.
12. Qual a importância disso para a vida de Isaias? Justifique
O final...
Chegamos afinal a uma casa. Lembrei-me da minha casa paterna. Era o mesmo aspecto, baixa, caiada, uma parte de tijolos, outra de pau-a-pique; em redor, uma plantação de aipins e batata-doce. Deram-nos água, ofereceram-nos café e continuamos para o Galeão que estava próximo. Quando chegamos à praia, o dia tinha agonizado de todo. Fomos a uma venda, pedimos algumas latas de sardinha, pão e vinho. Fomos servidos em velhos pratos azuis com uns desenhos chineses e as facas tinham ainda aquele cabo de chifre de outros tempos. À vista deles, dos pratos velhos e daquelas facas, lembrei-me muito da minha casa, e da minha infância. Que tinha eu feito? Que emprego dera à minha inteligência e à minha atividade? Essas perguntas angustiavam-me.
Voltamos de bote para a ponta do Caju. Durante a viagem a angústia avolumou-se-me. As pás dos remos, caindo nas águas escuras, abriam largos sulcos luminosos de minúsculas estrelas agrupadas e todo o barco vogava envolvido naquele estrelejamento, deixando uma larga esteira fosforescente.
Lembrava-me da vida de minha mãe, da sua miséria, da sua pobreza, naquela casa tosca; e parecia-me também condenado a acabar assim e todos nós condenados a nunca a ultrapassar.
A italiana conversava com o remeiro sobre a pesca. Ela conhecia a vida e fazia perguntas nítidas
Saltamos do bonde, no Campo de Sant'Ana, eu e Leda tomamos um carro; o diretor continuou para o jornal.
Em vão ela me fazia falar. Respondia-lhe por comprazer. Lembrava-me... Lembrava-me de que deixara toda a minha vida ao acaso e que a não pusera ao estudo e ao trabalho com a forca de que era capaz. Sentia-me repelente, repelente de fraqueza, de falta de decisão e mais amolecido agora com o álcool e com os prazeres... Sentia-me parasita, adulando o diretor para obter dinheiro.
Às minhas aspirações, àquele forte sonhar da minha meninice eu não tinha dado as satisfações devidas.
A má vontade geral, a excomunhão dos outros tinham-me amedrontado, atemorizado, feito adormecer em mim com seu cortejo de grandeza e de força. Rebaixara-me, tendo medo de fantasmas e não obedecera ao seu império.
O carro atravessara o Largo da Lapa e o seu caminho foi interrompido por uma aglomeração de populares.
Da caleça, pude ver o que havia. Era uma mulher das muitas que povoam o largo e proximidades, que ia entre dois soldados. Recordei-me que já tinha visto aquela fisionomia. Esforcei-me por lembrar. A minha vida começou a desfilar e quando cheguei à casa da italiana, lembrei-me que era a amante do Deputado Castro.
Perguntei então a mim mesmo por que não casara aquela rapariga, por que não vivera dentro dos costumes tidos por bons. Não achei resposta, mas julguei-me, não sei por quê, um pouco culpado pela sua desgraça.
O carro chegou e eu saltei para ajudar Leda a apoiar-se. Paguei ao cocheiro e, na calçada, e a perguntou-me:
— Não entras?
— Não, obrigado.
Insistiu várias vezes, mas recusei. Vim vagamente a pé até ao Largo da Carioca, sem seguir um pensamento.
Vinha triste e com a inteligência funcionando para todos os fados. Sentia-me sempre desgostoso por não ter tirado de mim nada de grande, de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um outro qualquer. Tinha outros desgostos, mas esse era o principal. Por que o tinha sido? Um pouco devido aos outros e um pouco devido a mim. Encontrei Loberant:
— Então? perguntou maliciosamente.
— Deixei-a em casa.
— Pois se eu me tinha separado de vocês de propósito... Tolo! amos tomar cerveja...
Antes de entrar, olhei ainda o céu muito negro, muito estrelado, esquecido de que a nossa humanidade já não sabe ler nos astros os destinos e os acontecimentos. As cogitações não me passaram... Loberant, sorrindo e olhando-mecom complacência, ainda repetiu:
— Tolo!
Todos os Santos, Rio de Janeiro — 1908
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
I - Juca Pirama
REVISÃO UESC/ 2011
Juca – Pirama
Por: Mara Rute Lima
Primeiras Palavras:
Essa é a primeira obra que vamos trabalhar juntos e é preciso ter em mente a importância dela no contexto de construção da literatura brasileira. Ela representa a primeira tentativa de construção do herói nacional no momento em que estávamos nos transformando em nação. Entender Juca –Pirama isolado de seu contexto literário (Romantismo) e dos objetivos de seu autor ( Gonçalves Dias – 1º geração romântica) é deixar passar elementos essenciais na construção dessa obra.
Diferente do que vocês imaginam o livro Juca Pirama só tem de difícil a forma, não muito comum a nós. Para facilitar sua compreensão antes de ler o livro leia esse resumo da história. Assim você se localizará melhor quando estiver fazendo sua leitura.
Trata-se de um índio que foi pego pela famosa tribo Timbira. A tribo era antropofágica e por isso comia a carne dos seus inimigos para adquirir sua força ou sua sabedoria. A tribo permitia que o prisioneiro cantasse seus feitos. Juca - Pirama o desconhecido inimigo não parecia alegre com sua morte e isso ficou mais bem revelado quando esse, no seu canto de morte, conta do seu pai fraco e cego que precisava dele. Pede para não morrer naquele momento e que depois de cuidar do seu pai voltaria. O chefe dos Timbiras toma a atitude de soltá-lo por não querer com a carne dele enfraquecer sua tribo já que tomou Juca como um covarde. Juca a princípio imaginou que o chefe o tivesse compreendido.
Volta depois de ter ficado mais ou menos um dia prisioneiro e quando tocado por seu pai esse percebe que seu filho tinha passado pelo ritual. Não querendo a desonra para sua tribo leva seu filho de volta para morrer. Lá ouve o chefe dizer que ele era covarde e que tinha chorado em presença da morte. O pai canta então um canto de maldição para o filho que para provar sua honra, começa a guerrear com os outros da tribo. Ao ver tal atitude o chefe percebe a coragem do moço e decide matá-lo. O pai chora, mas são lágrimas de alegria e não de desonra.
Quem conta tudo e um velho que diz ter estado no momento do acontecimento.
Pronto, agora você já conhece a história. É preciso lembrar, porém que não é o enredo somente o objeto de questão da prova, assim vamos pensar possíveis questões além da história para o vestibular...
1. Macunaíma (Mário de Andrade) é uma construção de herói que tenta corrigir o índio que os românticos apresentaram como herói.
2. O índio do Romantismo é diferente do índio do Quinhentismo. Relações de semelhanças e diferenças.
3. A prosa indianista de José de Alencar – Iracema, O guarani e Ubirajara.
4. Qual a situação do índio hoje?
5. O índio do texto é típico herói romantizado, perfeito, sem mácula que desperta bons sentimentos no
homem burguês leitor. Perceber os elementos da burguesia presentes no texto
“ I –Juca – Pirama” integra o livro Últimos Cantos e deve ter sido escrito entre 1848 e 1851, ano da publicação de Últimos Cantos, ou seja cerca de 161 anos atrás.
I-Juca-Pirama[1]
I
No meio das tabas de amenos verdores, [2]
Cercadas de troncos — cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d’altiva nação;
...
São todos Timbiras, guerreiros valentes!
Seu nome lá voa na boca das gentes[3],
Condão de prodígios, de glória e terror!
As tribos vizinhas, sem forças, sem brio[4],
As armas quebrando, lançando-as ao rio,
O incenso aspiraram dos seus maracás:
Medrosos das guerras que os fortes acendem,
Custosos tributos ignavos lá rendem,
Aos duros guerreiros sujeitos na paz[5].
No centro da taba se estende um terreiro,
Onde ora se aduna o concílio guerreiro
Da tribo senhora, das tribos servis:
...
Derramam-se em torno dum índio infeliz.
Quem é? — ninguém sabe: seu nome é ignoto,
Sua tribo não diz: — de um povo remoto
Descende por certo — dum povo gentil;[6]
....
II
O prisioneiro, cuja morte anseiam,
Sentado está,
O prisioneiro, que outro sol no ocaso
Jamais verá[7]!
.....
Que tens, guerreiro? Que temor te assalta
No passo horrendo?
Honra das tabas que nascer te viram,
Folga morrendo[8].
Folga morrendo[9]; porque além dos Andes
Revive o forte,
Que soube ufano contrastar os medos
Da fria morte.
III
Vem a terreiro o mísero contrário;
Do colo à cinta a muçurana desce:
"Dize-nos quem és, teus feitos canta,
"Ou se mais te apraz, defende-te." Começa
O índio, que ao redor derrama os olhos,
Com triste voz que os ânimos comove[10].
IV
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Aos golpes do imigo[11],
Meu último amigo,
Sem lar, sem abrigo
Caiu junto a mi!
O velho no entanto
Sofrendo já tanto
De fome e quebranto,
Só qu’ria morrer!
Não mais me contenho,
Nas matas me embrenho,
Das frechas que tenho
Me quero valer[12].
Eu era o seu guia
Na noite sombria,
A só alegria
Que Deus [13]lhe deixou:
Em mim se apoiava,
Em mim se firmava,
Em mim descansava,
Que filho lhe sou.
Ao velho coitado
De penas ralado,
Já cego e quebrado,
Que resta? — Morrer.
Enquanto descreve
O giro tão breve
Da vida que teve,
Deixai-me viver!
Não vil, não ignavo,
Mas forte, mas bravo,
Serei vosso escravo:
Aqui virei ter.
Guerreiros, não coro
Do pranto que choro[14]:
Se a vida deploro,
Também sei morrer.
V
Soltai-o! — diz o chefe. Pasma a turba[15];
Os guerreiros murmuram: mal ouviram,
Nem pode nunca um chefe dar tal ordem!
...
Timbira, diz o índio enternecido,
Solto apenas dos nós que o seguravam:
És um guerreiro ilustre, um grande chefe,
Tu que assim do meu mal te comoveste[16],
...
— És livre; parte.
— E voltarei.
— Debalde.
— Sim, voltarei, morto meu pai.
— Não voltes!
É bem feliz, se existe, em que não veja,
Que filho tem, qual chora: és livre; parte!
— Acaso tu supões que me acobardo,
Que receio morrer!
— És livre; parte!
— Ora não partirei; quero provar-te
Que um filho dos Tupis vive com honra,
E com honra maior, se acaso o vencem,
Da morte o passo glorioso afronta.
— Mentiste, que um Tupi não chora nunca,
E tu choraste!... parte; não queremos
Com carne vil enfraquecer os fortes.
VI
— Filho meu, onde estás?
— Ao vosso lado;
Aqui vos trago provisões; tomai-as,
As vossas forças restaurai perdidas,
E a caminho, e já!
— Tardaste muito!
Não era nado o sol, quando partiste[17],
E frouxo o seu calor já sinto agora!
— Sim demorei-me a divagar sem rumo,
Perdi-me nestas matas intrincadas,
Reaviei-me e tornei; mas urge o tempo[18];
...
— Mas tu tremes!
— Talvez do afã da caça....
— Oh filho caro!
Um quê misterioso aqui me fala,
Aqui no coração; piedosa fraude
Será por certo, que não mentes nunca!
...
E com mão trêmula, incerta
Procura o filho, tateando as trevas
Da sua noite lúgubre e medonha.
Sentindo o acre odor das frescas tintas,
Uma idéia fatal ocorreu-lhe à mente...
...
Recua aflito e pávido, cobrindo
Às mãos ambas os olhos fulminados,
Como que teme ainda o triste velho
De ver, não mais cruel, porém mais clara,
Daquele exício grande a imagem viva
Ante os olhos do corpo afigurada.
...
— Tu prisioneiro, tu?
— Vós o dissestes.
— Dos índios?
— Sim.
— De que nação?
— Timbiras.
— E a muçurana funeral rompeste,
Dos falsos manitôs quebraste a maça...
— Nada fiz... aqui estou.
— Nada! —
Emudecem;
Curto instante depois prossegue o velho:
— Tu és valente, bem o sei; confessa,
Fizeste-o, certo, ou já não fôras vivo!
— Nada fiz; mas souberam da existência
De um pobre velho, que em mim só vivia....
— E depois?...
— Eis-me aqui.
VII
"Por amor de um triste velho,
Que ao termo fatal já chega,
Vós, guerreiros, concedestes
A vida a um prisioneiro.
Ação tão nobre vos honra,
Nem tão alta cortesia
Vi eu jamais praticada
Entre os Tupis, — e mas foram
Senhores em gentileza.
"Eu porém nunca vencido,
Nem nos combates por armas,
Nem por nobreza nos atos;
Aqui venho, e o filho trago.
Vós o dizeis prisioneiro,
Seja assim como dizeis;
Mandai vir a lenha, o fogo,
A maça do sacrifício
E a muçurana ligeira:
Em tudo o rito se cumpra!
E quando eu for só na terra,
Certo acharei entre os vossos,
Que tão gentis se revelam,
Alguém que meus passos guie;
Alguém, que vendo o meu peito
Coberto de cicatrizes,
Tomando a vez de meu filho,
De haver-me por pai se ufane![19]"
Mas o chefe dos Timbiras,
Os sobrolhos encrespando,
Ao velho Tupi guerreiro
Responde com tôrvo acento:
— Nada farei do que dizes:
É teu filho imbele e fraco!
Aviltaria o triunfo
Da mais guerreira das tribos
Derramar seu ignóbil sangue:
Ele chorou de cobarde;
Nós outros, fortes Timbiras,
Só de heróis fazemos pasto. —
...
VIII[20]
"Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
...
"Um amigo não tenhas piedoso
Que o teu corpo na terra embalsame,
Pondo em vaso d’argila cuidoso
Arco e frecha e tacape a teus pés!
Sê maldito, e sozinho na terra;
Pois que a tanta vileza chegaste,
Que em presença da morte choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és."
IX
Isto dizendo, o miserando velho
A quem Tupã tamanha dor, tal fado
Já nos confins da vida reservara,
Vai com trêmulo pé, com as mãos já frias
Da sua noite escura as densas trevas
Palpando. — Alarma! alarma! — O velho pára!
O grito que escutou é voz do filho,
Voz de guerra que ouviu já tantas vezes
Noutra quadra melhor. — Alarma! alarma!
...
Ele que em tanta dor se contivera,
Tomado pelo súbito contraste,
Desfaz-se agora em pranto copioso[21],
Que o exaurido coração remoça.
...
Era ele, o Tupi; nem fora justo
Que a fama dos Tupis — o nome, a glória,
Aturado labor de tantos anos,
Derradeiro brasão da raça extinta,
De um jacto e por um só se aniquilasse.
— Basta! Clama o chefe dos Timbiras,
— Basta, guerreiro ilustre! Assaz lutaste,
E para o sacrifício é mister forças. —
O guerreiro parou, caiu nos braços
Do velho pai, que o cinge contra o peito,
Com lágrimas de júbilo bradando[22]:
"Este, sim, que é meu filho muito amado!
"E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,
"Corram livres as lágrimas que choro,
"Estas lágrimas, sim, que não desonram."
X
Um velho Timbira, coberto de glória,
Guardou a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi!
E à noite, nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Dizia prudente: — "Meninos, eu vi!
"Eu vi o brioso no largo terreiro
Cantar prisioneiro
Seu canto de morte, que nunca esqueci:
Valente, como era, chorou sem ter pejo;
Parece que o vejo,
Que o tenho nest’hora diante de mi.
"Eu disse comigo: Que infâmia d’escravo!
Pois não, era um bravo;
Valente e brioso, como ele, não vi!
E à fé que vos digo: parece-me encanto
Que quem chorou tanto,
Tivesse a coragem que tinha o Tupi!"
Assim o Timbira, coberto de glória,
Guardava a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi.
E à noite nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Tornava prudente: "Meninos, eu vi![23]".
QUESTÕES
Trecho I
As tribos vizinhas, sem forças, sem brio[24],
As armas quebrando, lançando-as ao rio,
O incenso aspiraram dos seus maracás:
Medrosos das guerras que os fortes acendem,
Custosos tributos ignavos lá rendem,
Aos duros guerreiros sujeitos na paz[25].
Trecho II
Os outros dois o Capitão teve nas naus, aos quais deu o que já ficou dito, nunca mais aqui apareceram -- fatos de que deduzo que é gente bestial e de pouco saber, e por isso tão esquiva. Mas apesar de tudo isso andam bem curados, e muito limpos. E naquilo ainda mais me convenço que são como aves, ou alimárias montesinhas, as quais o ar faz melhores penas e melhor cabelo que às mansas, porque os seus corpos são tão limpos e tão gordos e tão formosos que não pode ser mais!. ( A carta de Pero Vaz de Caminha)
1. Os trechos pertencem a momentos na história literária brasileira em que o índio aparece como elemento constitutivo de nossa nacionalidade. De que maneira os textos devem ser tomados como distintos?
Leia o trecho abaixo da obra I Juca – pirama para responder ao questionamento proposto.
No centro da taba se estende um terreiro,
Onde ora se aduna o concílio guerreiro
Da tribo senhora, das tribos servis:
Os velhos sentados praticam d’outrora,
E os moços inquietos, que a festa enamora,
Derramam-se em torno dum índio infeliz.
2. Justifique a infelicidade do índio apresentando elementos que estejam presentes no poema.
No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos — cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d’altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.
São rudos, severos, sedentos de glória,
Já prélios incitam, já cantam vitória,
Já meigos atendem à voz do cantor:
São todos Timbiras, guerreiros valentes!
Seu nome lá voa na boca das gentes,
Condão de prodígios, de glória e terror!
As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,
As armas quebrando, lançando-as ao rio,
O incenso aspiraram dos seus maracás:
Medrosos das guerras que os fortes acendem,
Custosos tributos ignavos lá rendem,
Aos duros guerreiros sujeitos na paz.
3. a) O trecho acima apresenta a descrição do grupo que aprisionou ou do grupo a que pertencia Juca-Pirama?
b) Transcreva versos que comprovem a descrição como seguidora do ideal apresentado por Gonçalves Dias na Primeira geração Romântica.
c) O que se poderia entender do verso “ seu nome lá voa na boca das gentes”?
Quem é? — ninguém sabe: seu nome é ignoto,
Sua tribo não diz: — de um povo remoto
Descende por certo — dum povo gentil;
Assim lá na Grécia ao escravo insulano
Tornavam distinto do vil muçulmano
As linhas corretas do nobre perfil.
4. As impressões que os guerreiros tiveram de Juca- Pirama estavam certas? Justifique.
Que tens, guerreiro? Que temor te assalta
No passo horrendo?
Honra das tabas que nascer te viram,
Folga morrendo.
Folga morrendo; porque além dos Andes
Revive o forte,
Que soube ufano contrastar os medos
Da fria morte.
5. a) Qual seria a resposta de Juca – Pirama para a resposta acima?
b) É correto afirmar que o valor apresentado acima difere do nosso modelo social? Justifique.
"Dize-nos quem és, teus feitos canta,
"Ou se mais te apraz, defende-te." Começa
O índio, que ao redor derrama os olhos,
Com triste voz que os ânimos comove.
6. A resposta para esse questionamento constrói o canto IV do poema Juca-Pirama. Releia-o e apresente uma resposta para os questionamentos acima.
"Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
7. Apresente maldições construídas pelo pai para o filho e justifique o motivo das maldições.
Assim o Timbira, coberto de glória,
Guardava a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi.
E à noite nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Tornava prudente: "Meninos, eu vi!".
8. Qual a importância dessa personagem na história?
9. Comente sobre a construção poética presente na Obra.
10. Juca Pirama nos dá uma visão mais próxima do índio, ligado aos seus costumes, convenhamos dizer que ainda é muito idealizado e moldado ao gosto romântico. Apresente elementos do romantismo presentes na construção do índio.
11. Os Modernistas do primeiro tempo do Brasil propõem um manifesto denominado de Antropofágico. É possível assemelhar o ideal desses escritores com a antropofagia proposta em I- Juca- pirama?
12. Em sua segunda viagem ao Brasil, Staden partiu de Castela rumo ao Novo Mundo, alcançando o Brasil a 24 de Novembro. Depois de violentos enfrentamentos com indígenas e passar por fortes tempestades, o seu navio naufragou próximo a São Vicente. Ele e seus companheiros sobreviveram e Staden foi contratado como artilheiro pelos colonos portugueses para o Forte de São Filipe da Bertioga.
Enquanto caçava sozinho, Staden foi feito prisioneiro por uma tribo Tupinambá que o conduziu a Ubatuba. Desde o início ficou claro que a intenção dos seus captores era devorá-lo. Pouco tempo depois, os tupiniquins aliados dos portugueses atacaram a aldeia onde ele era mantido prisioneiro. Mesmo cativo, e não tendo escolha, lutou ao lado dos tupinambás. Seu desejo era tentar fugir para unir-se aos atacantes. Mas, estes, vendo que a luta era inútil, logo desistiram. Foi resgatado pelo navio corsário francês Catherine de Vetteville, comandado por Guillaume Moner, depois de mais de nove meses aprisionado.
Observe um trecho de seu relato:
As mulheres fazem bebidas. Tomam as raízes de mandioca, que deixam ferver em grandes potes. Quando bem fervidas tiram-nas (...) e deixam esfriar (...) Então as moças assentam-se ao pé, e mastigam as raízes, e o que fica mastigado é posto numa vasilha à parte.
Acreditam na imortalidade da alma(...)."
Observe a imagem:
12. É possível estabelecer uma relação entre o texto de Hans Staden a imagem e o poema I Juca –pirama? Justifique.
13. observe a imagem em seguida assinale a alternativa que faz uma real correspondência entre o texto e a imagem:
01. “Também eu, valente que sou, já amarrei e matei vossos maiores”.
02. “O prisioneiro, apesar de não ignorar que a assembléia se reúne para seu sacrifício, longe de mostrar-se pesaroso, enfeitava-se todo de penas e salta e bebia como um dos mais alegres convivas.”
03. “era ele agarrado por dois ou três dos personagens mais importantes do bando e sem que opusesse a menor resistência, era amarrado pela cintura com cordas de algodão ou de fibra de árvore.”
04. “os prisioneiros julgavam-se felizes por morrerem assim, publicamente, no meio de seus inimigos, não revelando nunca o mínimo pesar.”
05. “Começava o prisioneiro a atirar projéteis com todas as suas forças contra os que ali se reuniam em torno dele.”
14. Pode-se afirmar que noções como “fraqueza”, “não dignidade”, “falta de nobreza”, “impureza” são renegadas na poética romântica indianista no Brasil. Isso ocorreu devido:
01) à necessidade de se desenvolver e moldar o sentimento de nacionalismo no Brasil da época, que acabava de se tornar independente.
02) à tentativa de compensar os índios mortos pelos primeiros colonizadores europeus, resgatando seus valores primitivos.
03) ao fato de os escritores da época se oporem à corrente do “mal do século”, com seu sofrimento amoroso e culto à idealização.
04) ao desejo de se igualar as principais raças do Brasil da época: portugueses (nobreza), negros (força) e índios (dignidade guerreira).
05) ao esforço de se criar um movimento literário forte, que anulasse os escritores árcades, com suas tentativas fracassadas de independência.
Texto I
A CARTA DE CAMINHA
Carta ao Rei de portugal
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha
(Pero Vaz de Caminha)
Texto II
AS MENINAS DA GARE
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que nós a muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha.
(Oswald Andrade – Poesia Pau-Brasil)
15. Assinale a alternativa que melhor explique as semelhanças e/ou diferenças entre os textos.
01. Os textos são iguais, portanto não é possível estabelecer distinção ente eles.
02. Os textos guardam diferenças tênues percebidas pelo título. O primeiro é dirigido ao rei de Portugal e o segundo para as meninas da gare.
03. Os textos apresentam visões de mulheres brasileiras em tempos distintos. No primeiro são as inocentes índias no segundo as prostitutas da estação de trem.
04.. São diferentes porque foram escritos por pessoas diferentes.
05. Oswald usa o texto de Pero Vaz para criticar a visão que os portugueses tiveram da mulher brasileira.
QUESTÃO 16
Leia este poema:
Papo de índio
Veio uns ômi di saia preta
cheiu di caixinha e pó branco
qui êles disserum qui chamava açucri
Aí êles falaram e nós fechamu a cara
depois êles arrepitirum e nós fechamu o corpo
Aí êles insistiram e nós comemu êles.
CHACAL. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de (Org.).
poetas hoje. 6. ed. Rio de Janeiro: Aeroplano
Editora, 2007. p. 219.
UFMG (Adaptada) - REDIJA um parágrafo dissertativo, indicando três características desse poema que permitem reconhecê-lo como possuidor de elementos presentes na obra I- Juca –pirama de Gonçalves Dias.
[1] O que há de ser morto. O que é digno de ser morto.
[2] Observe que o autor, consciente que os leitores não conhecem o ambiente, antes de apresentar os “atores” apresenta o local. Tente transpor em suas palavras como seria esse lugar.
[3] Fica famoso. Conhecido
[4] Foram derrotadas
[5] Preparados para a guerra, mas são pacíficos
[6] Observe que há índios pacíficos e guerreiros, não correspondendo à primeira impressão que teve Caminha. No Quinhentismo.
[7] Prova que o narrador conhece o desfecho da história. Que é onisciente.
[8] Essa é uma das muitas expressões que remetem a antropofagia do texto.
[9] Além dessa , existem outras expressões que demonstram o prazer com a morte. Tente localizá-las.
[10] Observe que a resposta para esses questionamentos é o canto IV. Leia tendo em mente que você precisa responder: O que ele diz sobre si mesmo? Qual é a sua história?
[11] A supressão dessa e de algumas sílabas ( na verdade português arcaico) no texto tem caráter meramente estético. Não nos esqueçamos que além da preocupação com a história, Gonçalves Dias também produz um poema com variados cantos que se relacionam com a narrativa. Inclusive na questão sonora. Pesquise um pouco sobre o assunto. Há muita musicalidade haja visto o título [ Cantos ] por isto esteja atento para as medidas poéticas [ decassílabos e alexandrinos ] isto poderá ser tema de questão no vestibular. Lembre-se porém que a marca do Romantismo é a liberdade formal e que essa forma poética não se aplica a todos os românticos.
[12] Não para guerrear, mas para encontrar alimento para o pai.
[13] A presença do Deus cristão e não de Tupã só comprova que há no texto o índio, mas o autor, como a maioria dos românticos da época, reproduzem o herói medieval cheio de valores como ética, respeito à família, religião cristã...
[14] Ele diz não ter vergonha do seu pranto, mas seu choro envergonha a tribo Timbira e seu pai.
[15] Turba era a multidão de índios que nunca tinham visto algo semelhante.
[16] Vale lembrar que o motivo que fez o chefe soltá-lo não foi comoção. Ele não queria “ com carne vil” enfraquecer os fortes.
[17] Essa medida de tempo é usada pelo pai porque é cego.
[18] Note que aqui o filho mente
[19] Na morte do filho, outro índio cuidaria dele. Perceba que o pai não está aqui revelando desamor pelo filho, mas honrando uma prática cultural de sua tribo. Assim como em Caramuru – a invenção do Brasil faz Paraguaçu e Moema.
[20] Na leitura desse canto tente propor pelo menos uma lista de dez maldições pregadas pelo pai. Eu começo: ser rejeitado, não ter amor, não ter amigos leais...
[21] O pai chora
[22] O pai também chora, mas seu choro não envergonha. Porque chora porque agora seu filho “é digno de ser morto.”
[23] Além de nos apresentar o narrador da história, traz autenticidade a ela. Quem conta, conta uma história verdadeira.
[24] Foram derrotadas
[25] Preparados para a guerra, mas são pacíficos