Uma tragédia sobre rodas
A elevada densidade demográfica presente principalmente nas metrópoles brasileiras ocasionou o aumento do tráfego de veículos. Essa esfera caótica configura-se pela alta carga de agressividade e violação das leis, disseminando acidentes e mortes com frequência diária. A parte da responsabilidade do Estado, a eclosão dessa mazela tem em sua base a cultura do brasileiro em dispor do espaço público como propriedade privada.
O excedente populacional evidenciado nos centros urbanos demarcou a superlotação e desordem do trânsito brasileiro. Diante da constante incidência de desastres, a atuação do governo consagra-se como ideal para manter e fiscalizar as estradas. Contudo, mais do que a carência de teorias e leis adequadas, o centro desse impasse encontra-se no próprio cidadão. Sobre esse pressuposto, o Código de Trânsito Brasileiro seria uma ferramenta efetiva para a melhoria desse sistema, mas sua existência é meramente teórica. Na prática, a população tem preferência na criação de um legislativo baseado na imprudência.
Partindo desses aspectos, percebe-se que o comportamento do brasileiro no transito reflete sua relação histórica e cultural com o espaço público. O automóvel é usado como instrumento de poder, dominação e divisão social, prática comum no Brasil de formação escravagista e aristocrática. Assim, o condutor age segundo suas próprias vontades, realizando apenas seus interesses, independentemente de violar as normas impostas ou inviabilizar os direitos dos outros cidadãos.
O trânsito caótico é uma guerra contemporânea em que o ser humano consagra-se como vítima de si próprio. A atuação exclusiva do Estado não promoverá as mudanças necessárias, já que há uma dependência mútua da participação ativa da sociedade brasileira. Para um futuro diferenciado, o espaço de convivência no Brasil precisa ser visto pelos cidadãos como pertencente a todos.
Tráfego aprimorado
A relação histórica e cultural do brasileiro com o espaço público reflete seu comportamento no trânsito. Como consequência dos processos de reformulação pelos quais as cidades passam para receber seus bilhões de habitantes, o modelo inadequado de transporte urbano do país traz diversos custos para a população brasileira.
A alta carga de agressividade e a violação das leis são uma das maiores causas do grande número de acidentes e mortes registrados no país em que o tráfego é cada vez mais caótico. Esses índices trágicos podem ser atribuídos principalmente à função da ineficiência das esferas políticas na manutenção do sistema e das esferas culturais da sociedade. O velho “jeitinho brasileiro” de “fechar”, “cortar” mostra que a disposição do espaço público para o brasileiro é visto como algo que pertence individualmente a cada um e não como um local de convivência coletiva que na prática deve ser respeitado.
Em justaposição, a procura por alternativas para o transporte é um dos desafios que as metrópoles brasileiras precisam enfrentar. O empreendimento de ações em torno de um projeto de desenvolvimento urbano, agregando à população e aos órgãos interessados traria maior eficiência urbana. Isso implica, no contexto brasileiro, atribuir prioridade a uma rede de transportes democrática integrada por modos complementares, a exemplo da cidade de Curitiba que tem um planejado sistema de tráfego.
A ineficácia do transporte e do trânsito brasileiro são consequências tanto histórico-sociais quanto da urbanização das cidades. Frente a essa conjuntura, a definição de normas gerais referentes aos mesmos, bem como os seus planejamentos e fiscalizações são essenciais, além do aprimoramento do exercício atribuído aos órgãos e entidades, principalmente nas atividades de formação do condutor responsável.
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